sábado, 7 de agosto de 2010

O ESTRANHO EM MIM DE EMILY ATEF








DAS FREMDE IN MIR, ALEMANHA 2008

Existe um tipo de tabu entre as mulheres grávidas e seus familiares - a depressão pós-parto. Esse é um tema do qual ouvimos falar, mas ninguém o discute. É como se não existisse e as mulheres que são acometidas por essa enfermidade não verbalizam ou comentam por medo de serem mal interpretadas. Contudo em menor ou maior grau ela ocorre muito mais comumente do que se imagina. Emily Atef, a sensível diretora alemã formada em Berlim pela Universidade de Cinema e Televisão, aborda esse delicado tema com muita propriedade e afinação. O filme começa com uma jovem cambaleando no meio de um bosque, que cai prostrada no chão. A partir da cena seguinte podemos entender sua história. Um jovem casal, Rebecca Seidel (estupenda Susanna Wolff) e Julian Seidel (ótimo Johann von Bülow) esperam seu primeiro filho - uma decisão mútua, consciente e cheia de expectativas aprazíveis. Moram em uma casa agradável e são muito felizes. Ao dar a luz, Rebecca passa por uma séria transformação íntima – é como seu filho fosse um estranho, um empecilho para sua vida e felicidade. Torna-se apática, cansada e atormentada com aquele pequeno ser que depende dela para as mais ínfimas necessidades. Não consegue amamentá-lo, sequer encará-lo. Seu desespero é tanto que quase chega a afogá-lo durante o banho. Ocorre que seu marido, um promissor profissional, trabalha muito e como as outras pessoas que os rodeiam, não percebe que algo está muito errado com sua mulher. Ela não se queixa, mas seu abatimento é aparente e assustador. Voltando para a primeira cena, ela resolvera fugir e talvez morrer. Sua sina é narrada aos poucos, com uma belíssima direção e com diálogos e cenas que nos levam a compreender o porquê de sua decisão e da seriedade de sua depressão. Essa jovem forte e feliz transformara-se em um fardo para o marido, que com a ajuda da irmã deverá ficar com o filho e criá-lo do melhor modo possível. Isso interfere no seu trabalho e relacionamento com os familiares. Rebecca gostaria, nesse momento, de voltar a ser criança e tratada pela sua mãe ausente, que mora no Canadá. Levada a uma clínica psiquiátrica por Lore, é vagarosamente conduzida pelo psiquiatra e a psicoterapeuta a relacionar-se com seu filho. É um aprendizado longo, duro e sofrido, compartilhado por outras mães com problemas semelhantes. Seu marido compreende sua posição melhor do que os outros personagens, porque a ama, mas teme pela segurança do filho que poderia ser ameaçado pela própria mãe. Emily Atef mostra as fortes sensações da protagonista, no entanto não diminui os sentimentos das outras figuras paralelas. Todos sofrem com isso, mas ninguém notara que ela estava entrando em uma crise que poderia custar sua vida e de seu filho. Esse é um dos aspectos que a diretora quer enfatizar com seu trabalho. O drama transcorre com muita humanidade e com uma dinâmica psicológica muito bem conduzida e planejada. Esse belo filme recebeu 7 prêmios internacionais e 5 indicações. O desempenho de Susanne Wolff é magnífico e a diretora tirou de seu corpo e expressão o que de melhor poderia. Johann interage com primazia junto à protagonista. No encerrar da trama você tem a impressão de que tudo o que se passou foi verdadeiro.