segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET DE MARTIN SCORSESE









HUGO, EUA, 2011, 126 MIN.

ELENCO:
HUGO CABRET – ASA BUTTERFIELD
INSPETOR – SACHA BARON COHEN
PAI – JUDE LAW
GEORGES – BEN KINSLEY
FILHA ADOTIVA ISABELLE – CHLOË GRACE MORETZ
Nesta belíssima obra, com roteiro baseado no livro homônimo de Brian Selznick, Martin Scorsese oferece aos amantes das artes, especialmente do cinema, um presente genial com seu primeiro 3D. Não por acaso, junto com O Artista, é um dos filmes com maior número de indicações para o Oscar de 2012. Trata-se de uma homenagem ao brilhante Georges Méliès, ilusionista francês e um dos precursores do cinema, que usava imaginação fértil e cenários incríveis para criar mundos fantásticos em seus filmes de puro entretenimento, chegando ao número de mais de 500. Ela será contada através do menino órfão, Hugo Cabret, que vive numa estação de trem em Paris dos anos 30. Quando da morte de seu pai viúvo em um acidente, que lhe passara a profissão familiar de relojoeiro e lhe deixara um autômato quebrado de herança, passa a viver com um tio alcoólatra, que desaparece, deixando sob sua responsabilidade a manutenção do enorme relógio da estação de trem. Sempre temendo parar em um orfanato ou ser descoberto sozinho, vive de pequenos roubos e é perseguido pelo inspetor do local (Sacha Baron Cohen). Garoto apaixonado por mecânica, como o pai, vê o mundo como uma grande máquina da qual faria parte, pois nelas nada vem a mais ou é desperdiçado. Acredita que todos nós temos um propósito, como nas engrenagens. Na estação há uma loja de consertos e brinquedos, cujo dono é um senhor idoso e mal humorado que lhe flagra na tentativa de furto de peças pequenas. Hugo é obrigado a dar-lhe tudo que tem nos bolsos, incluindo um pequeno caderno de anotações de seu pai para fazer com que o autômato funcione. Tudo é sequestrado pelo senhor George, mas ele segue-o até sua casa, quando conhece sua filha adotiva, Isabelle, que irá ajudá-lo a descobrir os mistérios que envolvem suas vidas. Ambos são órfãos e formam uma sólida amizade. Os efeitos de 3D são ótimos e dão muito ritmo e emoção ao filme. Entre as façanhas das crianças, poderemos ver trechos de filmes de Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd e o primeiro filme dos irmãos Lumière. O preferido de Hugo e seu pai era A Viagem à Lua de 1902, clássico do cinema mudo, colorido, produzido e dirigido por Georges Méliès. Ocasionalmente em uma biblioteca cinematográfica, é surpreendido pelo professor de cinema, René Tobard, que acaba descobrindo que seu grande ídolo ainda vive. O final é magnífico e surpreendente. Filme impecável em todos os quesitos rendeu a Scorsese o Globo de Ouro. Programa adorável, cuja principal intenção é de diversão e cultura sobre essa época tão mágica.

A DAMA DE FERRO DE PHYLLIDA LLOYD








THE IRON LADY, REINO UNIDO, 2011, 105 MIN.
ELENCO:
MERYL STREEP – MRS. THATCHER
JIM BROADBENT – MR. THATCHER
OLIVIA COLMAN
ALEXANDRA ROACH – MARGARET JOVEM
A ótima Phyllipa Lloyd e a roteirista Abi Morgan fazem um trabalho excelente na cinebiografia de uma das personagens mais controversas da política mundial do século XX, Margareth Thatcher, a primeira e única mulher a ser primeira-ministra da Inglaterra, na década de oitenta, simbolizando o acesso feminino ao poder de uma das maiores potências do mundo. O filme foca, de maneira muito humana, o lado pessoal da protagonista em uma idade já bem avançada e com um início de demência mental. Entretanto, o melhor deste filme intrigante é a atriz Meryl Streep, que merecidamente já angariou sua décima sétima indicação ao Oscar. Ela se deu por inteira na intepretação da personagem, fazendo com que confundamos uma com a outra. Devemos muito a ambas como epítetos femininos e feministas. O filme usa do tradicional flashback para entendermos melhor sua trajetória. Menina de origem humilde aprendeu a retidão e perseverança com seu pai, cursando com bolsa de estudos a famosa universidade inglesa de Oxford, que lhe recusou o título de honoris causa. Quando ainda bem jovem tinha a mais firme convicção de que a política seria sua vida, chegando a casar-se com um bem sucedido comerciante, Denis Thatcher, que de certa forma garantiu sua ascendência ao partido conservador. Conseguiu eleger-se membro do Partido em 1951, foi Ministra da Educação e integrada ao tesouro. Finalmente, muito respeitada, em 1979 vai morar no famoso endereço da Downing Street. Suas batalhas foram múltiplas, diárias, como ela mesma diz. Ser mulher e tendo conseguido quebrar a barreira da imobilidade social inglesa, tornou-se firme, arrogante, consciente de seus deveres. Os homens, entretanto, não a poupavam, o que Lloyd mostra de maneira sútil, focando um par de sapatos azul e femininos dentre muitos masculinos. Esse artifício será usado em várias circunstâncias. Sua voz era altíssima e teve de fazer aulas para dominá-la. Além do mais era considerada uma mãe e esposa arrogante, apesar de seu ótimo casamento com Denis. Ao se eleger não cedeu quando da greve dos mineiros de carvão, tendo beneficiado bastante o país, mesmo para os mais humildes. Na Guerra das Malvinas, simplesmente mandou que afundassem o navio General Belgrano. Foi reeleita em 1983 e 1987. Ocorre que com a determinação de que a Europa seria unificada e haveria uma única moeda circulante, rejeitou firmemente a ideia, pois acreditava na dominância alemã e na quebra de assuntos econômicos que dominavam na Inglaterra. Saiu viva de um ataque do IRA , quando vários membros do partido foram mortos. Finalmente fez uma coalizão entre Inglaterra, Rússia e Estados Unidos. Os pontos políticos não são os preponderantes no filme, mas sim sua figura como mulher, mãe e companheira. Enfim uma mulher humanizada, já bem idosa e quase solitária. Programa imperdível, mesmo para as pessoas que não se simpatizavam com a Dama de Ferro, apelido dado pelos russos, que tão bem lhe caiu.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O ARTISTA DE MICHEL HAZANAVICIUS







THE ARTIST, FRANÇA/BÉLGICA 2011, MIN. COMÉDIA.
ELENCO:
JEAN DUJARDIN – GEORGE VALENTIN
BERENICE BEJO – PEPPY MILLER
JOHN GODMAN – PRODUTOR
Este gracioso filme do diretor Michel Hazanavicius levou quase 12 anos para ser completado. É uma bela peça que faz uma HOMENAGEM ao cinema mudo, uma SAUDAÇÃO ao cinema falado e um BRINDE com champanhe ao musical. Pessoas, como eu, que jamais assistiram a uma “fita muda”, irão se surpreender. Não há falas, mas sim legendas que explicam os acontecimentos. Entretanto a mímica facial e corporal deve ser mais pesada. É uma trama ingênua que conta a relação do mais famoso astro de Hollywood, Valentino, e sua reação ao cinema falado. Adorado por todos é acidentalmente beijado no rosto por uma jovem bonita e astuta, quando da estreia de seu último filme. As notícias dos jornais logo imprimem: “Who is that girl?” (Quem é esta jovem?). O produtor não gosta da brincadeira, tampouco a mulher de Valentin. Decidida a ser uma grande atriz ela faz de tudo para ser contratada pela Kinographic, com uma pequena ajuda de George Valentin que sugere uma pinta falsa acima da boca, para ser diferente das outras. Logo vemos uma belíssima cena em que a casaca e a cartola do astro estão penduradas em um cabide e ela se aproxima e nos induz a pensar que está sendo abraçada por ele. Ao ver a cena o astro se apaixona por ela. Isso se passa nos anos de 1927. Talentosa, logo consegue outros papéis, até que em 1929 surge o cinema falado. Está mais do que preparada para isso, assim como outros atores jovens. Entretanto Valentin não aceita a novidade e se isola, produzindo mais um filme mudo, que estreia nos cinemas junto com o de Peppy Miller, já consagrada atriz, que dança muito bem. Valentin também gosta do sapateado e é exímio nesse quesito. Suas finanças e sua vida particular vão de mal a pior, mas é ajudado por alguém. Morando em um quartinho e sempre com seu fiel cachorro, um jack russel, passa por muitas aflições. Porém a jovem heroína terá uma saída para ele, que é aceita e aplaudida por todos, inclusive pelo vilão. Já estamos em 1932, com a indústria cinematográfica a todo vapor e um lugar garantido para ambos. Bom programa para os curiosos ou saudosistas dos filmes simples e agradáveis de serem vistos. Está indicado para receber vários prêmios no Oscar e já ganhou outros tantos, desde a sua exibição no Festival de Cannes.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

OS DESCENDENTES DE ALEXANDER PAYNE







THE DESCENDANTS, EUA, 2011, DRAMA, 115 MIN.
ELENCO:
GEORGE CLOONEY – MATT KING
AMARA MILLER
SHAILENE WOODLY
JUDY GREER

Esse drama familiar, estrelado pelo talentoso George Clooney que acaba de ganhar o prêmio de atuação do Globo de Ouro e indicado a cinco categorias para o Oscar, passa-se no Havaí. Há cento e cinquenta anos, uma princesa nativa desobedece a seu pai e casa-se com um banqueiro ariano e formam uma família miscigenada típica da época, cuja saga é contada nesse interessante filme. Nos tempos atuais, Matt King, advogado e milionário, é bisneto do primeiro casal e herdeiro, junto com vários primos, de uma porção considerável de terras naquele arquipélago, que estão para ser vendidas a um resort por uma fortuna. Os nativos não gostam da idéia, mas estão impotentes, pois a decisão é de Matt, eleito pela família como inventariante. Com um casamento desgastado, está às voltas com suas filhas de 10 e 17 anos. Ambas estão consumidas internamente pelo relacionamento com a mãe que, após um acidente, está em estado vegetativo e à espera da morte. Clooney tem de absorver os problemas das filhas, tentar ajudá-las e dar conta da mulher em coma. É uma tarefa bastante difícil, uma vez que não tinha convívio diário com as meninas. Ao buscar a adolescente em uma escola interna em outra ilha, depara-se com uma menina alcoolizada e revoltada. O motivo é que vira a mãe traindo o pai. Ela não reluta em dizer a verdade a ele e sua reação é saber quem é o amante e não o motivo da traição. Em decorrência dessa obstinação ele dedicará sua energia para descobrir o nome dessa pessoa e o que ela faz para ele ter sido preterido pela esposa. O filme que começara calmo e um tanto morno, adquire outro ritmo, desvendando segredos e comportamentos diversos. Da metade para o final os sentimentos de ódio e raiva vão sendo assimilados e finalmente veremos que a meta principal, a venda das terras, a satisfação aos amigos e familiares, a descoberta do amante e sua família, será o que menos conta, mas a consciência e decisão pessoal de cada um dos membros desse clã. Bom roteiro, com belas paisagens do Havaí e uma percepção singular – enquanto os ânimos estão acirrados o céu está continuamente cinza, após a libertação, o dia amanhece ensolarado e belo. O talentoso Payne dirigiu também Sydeways de 2004.

PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN DE LYNE RAMSAY








WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN, 112 min.
REINO UNIDO – EUA/2011, DRAMA

ELENCO
TILDA SWINTON – EVA
JOHN C. REILEY – PAI
EZRA MILLER – KEVIN

Baseado no romance homônimo de Lionel Shriver, esse espetacular drama psicológico nos coloca em estado permanente de tensão e temor. Dirigido por Lyne Ramsay com segurança impecável, apresentado em flashbacks e com a cor vermelha como fio condutor, conta a história macabra da família de Eva Khatchadourian, com a belíssima e dolorida atuação da impecável Tilda Swinton. Nas primeiras cenas é focalizada, ao longe, uma multidão de pessoas seminuas e cobertas por um líquido vermelho sangue. A câmera se aproxima e vemos Eva dentre a multidão, levantada por homens e depois colocada desesperada no chão. Na cena seguinte ela está em uma cama e restos de comida com molho vermelho espalhados no chão. Seria um sonho? Ela se levanta e fica em frente à sua casa, coberta de tinta vermelha que atinge também seu carro. A partir desse presente, voltaremos, aos poucos, dezoito anos na narrativa. Eva espera um filho, mas não era o momento certo para ela. John Reiley, como marido, fica exultante e aguarda sua chegada com ansiedade. Moram em Nova York e gostam do trabalho que fazem. Voltamos ao presente e Eva está à procura de um emprego em uma pequena cidade americana. Magra e consumida pelo sofrimento consegue um lugar para trabalhar em uma agência de turismo. A cidade a hostiliza, chegando a levar uma bofetada de uma moradora, mas não reage. Sua postura corporal é de culpa sem fim e estranhamento de si mesma. Voltando, porque o filme funciona dessa maneira, vemos seu parto e os primeiros anos da vida de seu filho Kevin. Bebê que não para de chorar, criança manipuladora e má, segue até os nove anos usando fralda, deliberadamente, e maltratando sua mãe até o limite da exaustão. Com o pai é carinhoso e doce. Impossibilitados de continuar vivendo em Nova York e buscando ajuda médica, os pais resolvem mudar para uma linda casa no interior, a fim de que o garoto tivesse mais espaço e liberdade. Esse é um contraste deliberado, acentuando a vida atormentada dos habitantes da casa, com a beleza do imóvel contemporâneo, limpo e com uma atmosfera de paz. Eva odeia a casa e o lugar. Os anos vão se passando e, em uma crise de desespero, a mãe força o filho para o chão, quebrando seu braço. Essa reação violenta ele entende e aprecia, passando a fazer as coisas próprias de sua idade. O que mais gosta na mãe é quando ela lê para ele o clássico infantil de Robin Hood, que era um mestre do arco e flecha. Difícil de ser agradado e muito irônico é nesse esporte que vai encontrar alguma satisfação, com apoio do pai que acaba dando-lhe de presente o arco mais moderno e poderoso que encontrara. Seu hobby passa a ser exercitar-se no jardim da casa, sempre mirando o alvo, que atinge sem a menor dificuldade O tempo presente apresenta sempre Eva com suas dificuldades de relacionamento e no trabalho e a qualquer visão familiar, volta ao passado. Grávida pela segunda vez tem uma menina adorável. Depois de algum tempo o irmão, agora, com seus 16 anos não facilita em nada as coisas e sente ciúmes doentio da irmã, que virá a ser sua primeira vítima, em uma brincadeira proposital que acabará muito mal. Eva, apesar de angustiada e amedrontada com o adolescente, tenta aproximar-se dele, mas é rechaçada em qualquer tentativa de afeto. Aproximando-se do final do filme, você ainda não saberá o motivo do repúdio que recebe de todas as pessoas. Ele chega de maneira violenta e assustadora. Um ato horrível, típico das escolas americanas, ocorre e o responsável pela tragédia é o belo filho de Eva, Kevin. Depois de preso, Eva volta sozinha para casa e assim permanecerá até o final da história. É um filme realmente chocante, mas profundo e muito verdadeiro enfatizando o aspecto psicótico de alguns jovens homens. O desempenho de Ezra Miller e Tilda Swinton é espetacular. Certamente esse filme será agraciado com diversos prêmios durante o Oscar. Ela poderia ganhar como melhor atriz. Justiça seria feita. A trilha sonora é importantíssima para manter o clima de suspense e algumas imagens destorcidas fazem toda a diferença.

J.EDGAR DE CLINT EASTWOOD













J.EDGAR, EUA/2011, 137 MIN. BIOGRAFIA
ELENCO:
LEONARDO DICAPRIO
NAOMI WATTS – HELEN GANDY
JOSH LUCAS

Clint Eastwood, aos quase oitenta e dois anos, oferece um excelente trabalho de pesquisa sobre esse personagem tão controverso, no amor e no ódio da política americana. J. Edgar foi o fundador do Bureau de Investigações Americano, em 1924, o conhecido F.B.I dos tempos atuais. Lá esteve por 44 anos, independentemente de quem fosse o presidente da república. Em 1919, quando jovem era um personagem ágil, inteligente e ambicioso influenciado por sua mãe que queria que fosse nada menos do que um herói e admirado pelas mulheres. O filme narra sua trajetória como funcionário da Justiça americana através dele mesmo, já velho, interpretado pelo estupendo Leonardo DiCaprio, em uma atuação espetacular. Ele dita para um funcionário do F.B.I. as várias fases de sua carreira. Durante sua juventude era totalmente contra o comunismo bolchevista e ardoroso defensor da democracia, único regime que garantiria a segurança de sua pátria. Com cenas documentais vemos que consegui vencer essa etapa, exilando estrangeiros radicais, e a cada dia ganhava mais crédito junto ao seu chefe. Depois lutou, durante a Lei Seca, contra os mafiosos que desordenavam a nação. Finalmente consegue que suas idéias sejam postas em prática, como não violar as cenas de crimes e manter um arquivo nacional com as digitais de todos os cidadãos para que os processos fossem mais facilmente resolvidos e as pessoas identificadas nacionalmente. Mantinha também um arquivo confidencial, guardado pela sua secretária, Helen Gandy (Naomi Watts) a quem pedira em casamento, mas recebera um não, mas será fiel a ele até que abandone o carga. Aí estava a vida de todos os políticos e inimigos pessoais. Além disso, oficializou a escuta telefônica através de grampos, que vieram ajudar a elucidar inúmeros crimes. Todo poderoso com relação aos gângsteres, entretanto, não conseguiu salvar o bebê sequestrado do famoso aviador Charles Lindbergh, que resolvera negociar diretamente com os criminosos. Sua carreira era formada de altos e baixos, com uma disposição inacreditável para o trabalho e passando por cima de tudo e todos para resolver suas pendências, tanto profissionais como pessoais, pois era uma pessoa extremamente controversa. No início de sua carreira como onipotente chefe do Bureau, conhece o seu segundo no F.B.I., Clyde Tolson (os gêmeos de A Rede Social) por quem se apaixona e mantém um relacionamento de 44 anos da maneira mais discreta possível, entretanto como um casal. Esse era um amor verdadeiro e quando, já idoso, seu belíssimo parceiro de alta posição social fica paralisado, vítima de um acidente vascular, ele continua a amá-lo e cuidá-lo de maneira casta e verdadeira. Clint mostra de forma genial o desenrolar psicológico desse homem tão singular, que engordando muito com os anos que se passam, cai vítima de seu estilo de vida e de suas obsessões. Ótimo documentário. A atuação de Leonardo DiCaprio e o trabalho de maquiagem são geniais, assim como performances excelentes de todo o elenco.

A SEPARAÇÃO DE ASGHAR FARHADI








JODAEIYE NADER AZ SIMIN – IRÃ – 2011, DRAMA, 123 MIN.
ELENCO:
SIMIN – LEILA HATAMI
NADER – PEYMAN MOADI
TERMEH – SARINA FARHADI
RAZIEH – SAREH BAYAT


Inacreditavelmente, o diretor Asghar Farhadi conseguiu que a censura permitisse a exibição desse drama familiar, assistido por milhares de pessoas no Irã. Um casal e sua única filha de 11 anos haviam decidido partir do país para tentar nova vida. Depois de conseguirem os vistos com muita dificuldade, Nader decide que não poderá mais viajar por causa de seu pai idoso e muito doente. As primeiras cenas ocorrem em frente a um juiz que não concede o divórcio requerido por Simin, para que possa partir com a filha. Ela irá morar com a mãe, temporariamente, e Termeh escolhe ficar com o avô e o pai, homem dedicado a filha e gentil com todos. Contudo ele precisa contratar uma doméstica, Razieh, para cuidar do idoso e fazer os serviços domésticos. Depois do primeiro dia isso se mostra impossível, pois é muito trabalho e ela teria de tocar o senhor para cuidá-lo. Sendo extremamente religiosa não poderia aceitar essa condição e além do mais carrega sua filha de quatro anos com ela e está grávida de outro bebê. Todo o sacrifício fora programado em segredo para ajudar seu marido desempregado e temperamental. O divórcio em si parece ser sem grandes consequências, mas não em um país islâmico e com regras do Corão, que são manipuladas conforme a situação. A presença de Razieh vai provocar uma série de tumultos, mentiras e desentendimentos, principalmente porque ela é empurrada porta a fora e, tendo um aborto, acusa o patrão de maus tratos e quer uma indenização. A filha muito sensível e Simin, decidida a não ceder a qualquer tipo de chantagem emocional, sofrerão muito durante esse tumulto, que exigirá uma grande compreensão e maturidade de ambas. Um processo será iniciado e junto com ele veremos as complicações para que se desvende a verdade sobre o caso e a vida particular de cada um desses personagens. Asghar Farhadi consegue fazer uma história de apelo universal, com excelente elenco, ganhando o Globo de Ouro e cotado para o Oscar como melhor filme estrangeiro. A filha do diretor na vida real, Sarina Farhadi mostra-se um elemento importantíssimo na obra, com sua sensível atuação. O filme ganhou o Urso de Ouro e o Urso de Prata para o quatro protagonistas. Imperdível! São 120 minutos de suspense e descobertas.