segunda-feira, 29 de novembro de 2010

VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS DE WOODY ALLEN









YOU WILL MEET A TALL DARK STRANGER – EUA/ESPANHA, 2010 98min.
ELENCO:
Alfie – Antony Hopkins
Helena - Gemma Jones
Sally – Naomi Watts
Roy – Josh Brolin
Greg – Antonio Bandeiras

Falo para pessoas que apreciam o trabalho do genial Woody Allen. Ele volta às suas tramas mais favoritas: amor, traição, sensualidade, desapontamento. Essa estória, porém, tem um vigor diferente, de um homem no alto de seus 75 anos e produzindo como nunca. Contada por um narrador, apresenta-nos um casal de idosos Gemma (Jones) e Alfie (Hopkins) que, após mais de quatro décadas de casamento, o marido, já setentão, descobre que ainda tem muita energia para gastar, indo à academia, “clareando os dentes e escurecendo a pele”. Quer aproveitar ao máximo os anos finais de sua vida, mas não ao lado de Helena, que mais realista encontra-se feliz com seus quilos a mais e suas rugas. Desnorteada e não se dando bem com os muitos comprimidos que toma vai à cata de uma cartomante charlatã, aconselhada pela filha. A linda Sally (Naomi Watts) e seu marido escritor de um só sucesso, Roy, que é motorista de carro por não querer exercer sua profissão de médico, estão entrando em uma crise conjugal, pois são sustentados por Helena e o parco salário de Sally. Roy espera a resposta de uma boa editora a respeito de seu último manuscrito que levara anos para escrever. Também participa de um grupo de pôquer, com homens de sua idade, sendo um deles grande admirador de literatura que acaba de terminar seu primeiro romance, o que irá dar o que falar. Sally passa a trabalhar em uma galeria de artes renomada, enquanto espera abrir a sua própria. Contudo ela se apaixona por seu chefe (Bandeiras) e começa a se irritar com Roy. Em suma o casal idoso e o jovem atravessam uma crise de desamor e busca de um novo alento. Alfie encontra-se com uma garota de programa, com menos da metade de sua idade e casa-se com ela, para choque da família e problemas para sua saúde pela quantidade de Viagra ingerida. Roy, descontente, conhece através da janela de seu apartamento uma jovem indiana e passa a sair com ela. Helena, por sua vez, acreditando na cartomante, conhece um senhor viúvo, gordo, baixo e careca, e tem certeza de que ele é o homem do título do filme. O narrador vai encaixando as cenas para que você não se perca e siga exatamente o raciocínio de Allen. São cenas divertidas e emocionantes ao mesmo tempo, pois são tragédias do cotidiano de todos nós. Paixões, desilusões, encontros e desencontros que nos magoam e fragilizam. O entremeio não poderia ser mais afinado e o final absolutamente real, principalmente sob a ótica irônica desse grande escritor. Alfie, obviamente, se dá mal e o jovem casal terá de ralar muito para conquistar um lugar ao sol. Rir-se de si mesmo e ver-se nas condições desses atores encerra uma maneira de enfrentar a vida sem tanta amargura, à La Woody Allen, pois a respeito de relacionamentos esgotados e filhos problemáticos ele tem muita tarimba.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A VIDA DURANTE A GUERRA DE TODD SOLONDZ









LIFE DURING WARTIME, ESTADOS UNIDOS, 2009 98 minutos
ELENCO:
Shirley Henderson - Joy
Allison Janney – Trish
Alley Sheedy
Dylan Riley Snyder – Timmy
Ciarán Hinds – Bill
Michael Lerner – namorado de Trish
Chris Marquette - filho mais velho

Esse impressionante filme do diretor judeu-americano, nascido em 1959, Todd Solondz é quase um soco no estômago. Famoso por seus trabalhos que satirizam e provocam a classe média americana, como o premiado Felicidade, A Vida Durante a Guerra não é diferente. Focado no judaísmo e suas complexidades de religião, sucesso e culpa, ele faz um paralelo entre a guerra terrorista e o ato de perdoar e esquecer. O filme começa com personagens singulares, em atitude e aparência, e assim vai até seu final. Trish está separada do marido Bill, um pedófilo que se comprazia em molestar crianças e espionar os amigos de seu primogênito, agora cursando antropologia na universidade. Ele está saindo da prisão depois de anos e tentará inserir-se na sociedade. Sua mulher tem mais dois filhos pequenos em casa, um garoto de 13 anos, prestes a comemorar o barmitzvah e uma garotinha. Longe do marido, encontra um homem, também judeu e divorciado, com quem matem um relacionamento amoroso “normal” e está feliz por tê-lo como exemplo para os filhos. Ocorre que Timmy, em plena puberdade, está confuso com sua sexualidade e responsabilidade, querendo ter certeza de que não é gay, pois fora zombado na escola. Sua mãe conversa sobre intimidades impróprias com ele, mas isso não o assusta. Bill vai à procura do filho mais velho para esclarecer seu distúrbio e inadequação, depois desaparece. Para o jovem Timmy parece ser mais correto simplesmente ESQUECER-SE das violências do que PERDOAR E NÃO ESQUECER JAMAIS. São diálogos difíceis que permeiam as falas dos personagens. Timmy é o personagem mais aguçado dessa história. Finalmente, temos a desconcertante tia Joy, que trabalha na recuperação de assassinos e estupradores, sempre dialogando cheia de culpas, com amores passados e já mortos. O novo amor de Trish, apesar de compreensivo e um homem mais velho, comete uma gafe com Timmy e se vê em uma situação muito delicada. As cores e cenários do drama lembram os plastificados anos sessenta. Ótimo filme para quem aprecia situações conflituosas, soluções difíceis e reflexão.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

MINHAS MÃES E MEU PAI DE LISA CHODOLENKO





THE KIDS ARE ALL RIGHT (EUA, 2010) 106 minutos
ELENCO:
Annete Bening – Nic
Julianna Moore – Jules
Mia Wasikowska – Joni
Josh Hutcherson – Laser
Mark Ruffalo – Paul

Esta ótima comédia dramática tem a direção segura da americana Lisa Chodolenko, nascida em 1964, Califórnia, diretora, escritora de cinema e televisão. Esse é seu quarto longa. O inteligente filme foca uma família muito bem estruturada formada por duas lésbicas, Nic, médica obstetra e pragmática e Jules, arquiteta que nunca exerceu sua profissão, ficando com a direção da educação dos filhos e da casa. Um típico casal que poderia bem ser heterossexual. Nic é a chefe da casa, trabalhando duro e resolvendo os problemas mais graves e Jules é encantadora e paciente, mas também frustrada por não trabalhar com um projeto definitivo, no que é mais ou menos incentivada pela companheira. Tudo vai bem com as crianças (The Kids are all Right), que sabem que foram frutos dos óvulos das mães com um mesmo doador de espermas, Paul, que na época tinha 19 anos e era bonito, sadio e estudando Relações Internacionais. Ocorre que o mais jovem, Laser, é adolescente e quer conhecer a sua origem paterna. Sua irmã, a inteligente e estudiosa Joni, tem 18 anos, só tira A levels e irá dentro de pouco tempo sair de casa para estudar em uma universidade. Com essa idade pode encontrar a origem de seu pai, agora um homem maduro e dono de um restaurante natural, preocupado com o meio-ambiente. Ele é solteiro e até certo ponto irresponsável. Ao conhecer seus filhos fica absolutamente encantado com eles e logo surge um relacionamento quase diário entre os três, o que não agrada nem um pouco Nic, uma mulher que sabia o que queria e via um perigo para sua família com essa intromissão. Jules, mais carente, gosta do rapaz e entre eles rola um clima amoroso, já que ela está projetando o seu jardim. As coisas vão tomando um caminho muito rápido, pondo a relação das duas mulheres em perigo. Paul encantara-se com Jules. Nic percebe e vai atrás do possível desastre. Os filhos vão sendo arrastados pelos acontecimentos e uma séria desavença entre os quatro emerge. Apesar das muitas risadas, o filme é pontilhado por diálogos muito competentes e verdadeiros entre esses personagens tão humanos. No terço final, tem-se a impressão de que as coisas não voltarão mais ao lugar, mas o amor e a cumplicidade do casamento fala mais alto e o fim é bastante crível e alinhado. Esse filme mostra com honestidade e sem apelações um relacionamento entre lésbicas, que, diga-se de passagem, é muito carinhoso. Os problemas e soluções encontrados por essas duas mulheres são adaptáveis a qualquer tipo de relação de uma família contemporânea, onde essas ocorrências são cada vez mais comuns. Essa diretora recebeu muitos aplausos por seu filme e provavelmente ganhará algum prêmio. Indicado para qualquer opção sexual. Ótimo.

sábado, 13 de novembro de 2010

RED-APOSENTADOS E PERIGOSOS DE ROBERT SCHWENTKE





RED, EUA/2010 111 minutos - AÇÃO
ELENCO:
BRUCE WILLIS- FRANK MOSES
JOHN MALKOVICH- MARVIN BOGGS
HELEN MIRREN- VICTORIA
MORGAN FREEMAN- JOE MATHESON

Esse delicioso filme de ação reúne atores mais velhos e consagrados, da pesada, como Morgan Freeman, John Malkovich, Helen Mirren e o mais “garoto” de todos, Bruce Willis. Frank Moses, aposentado, mora em uma pacata cidade e paquera por telefone uma jovem, que não o conhece. Os telefonemas são quase diários e divertem os dois. Numa véspera de Natal, em que somente sua casa não tinha nenhuma alusão à data, recebe a visita de homens encapuzados que tentam matá-lo, mas sua reação é espetacular, pois trabalhara para a CIA, desde os idos dos anos sessenta, e acaba, usando inúmeras artimanhas, com esse grande grupo de assassinos. De imediato procura a garota com quem conversava, a qual quase tem um ataque com sua aparência, e a leve consigo, a fim de protegê-la, pois tem certeza de que se trata de uma perseguição aos ex-agentes. Em seguida encontra Joe, agora com oitenta anos e com um câncer no fígado. Logo localizam o aloprado Marvin Boggs e finalmente a bela, elegantíssima e romântica Victoria. O inimigo é nada menos do que o vice-presidente dos Estados Unidos, que, como queima de arquivo por seu comportamento na guerra contra a Guatemala, decide apagar todos que ali haviam estado. Porém esse magnífico grupo, que eram os melhores de seu tempo, mais a mocinha e um ex-agente secreto russo que virara de lado, fazem a CIA de gato e sapato. Em cenas eletrizantes, engraçadas e cheias de ação veremos como esses vovôs se comportam diante dos sofisticadíssimos métodos atuais. Pura diversão, imperdível.
RED significa- retired and extremely dangerous

sábado, 6 de novembro de 2010

JOSÉ & PILAR DE MIGUEL GONÇALVES MENDES







(BRASIL–ESPANHA–PORTUGAL/125 MINUTOS)

AMIZADE
AMOR
CUMPLICIDADE
Essas palavras definem o relacionamento entre o gênio, por vezes incompreendido, José Saramago e Pilar Del Rio. JOSÉ & PILAR de Miguel Gonçalves Mendes nos convida a participar do cotidiano entre este grande escritor português, ateu e comunista convicto, e sua mulher, a jornalista espanhola Pilar Del Rio 28 anos mais jovem do que ele. O documentário levou quatro anos para ser realizado e a vida do casal, com intermináveis viagens, entrevistas prolongadas, noites de autógrafos e inúmeras palestras, é apresentada sem pressa ou invasão da intimidade. O que fica mais patente é o amor que se formou entre eles, ao longo de mais de duas décadas. Saramago considerado por ele mesmo um homem um tanto melancólico e austero foi, na verdade, um marido jovial, sensual e contestador. O filme começa em Lanzarote, uma ilha vulcânica espanhola, quando o casal constrói em sua casa uma colossal biblioteca com tomos de todas as partes do mundo. Ele está sentado em frente ao computador, esperando que abra e a platéia esperando ler frases espetaculares, mas o que aparece é um jogo de paciência, para evitar o Altzeimer! Seu livro, neste momento, é Viagem do Elefante, que caminha, caminha, a vida toda... sem saber para onde vai e porque vai. Finalmente, será morto e esfolado com sua pata decepada que servirá como porta-sombrinha ou bengalas, em um local da Áustria. Um ato de estupidez e total inutilidade. Saramago, com suas sentenças curtas e bem colocadas, nos fala da decepção com a humanidade, da vida, do cosmo, da ausência de Deus, das religiões e principalmente da morte, que para ele é apenas o fim. Nasce-se, cresce-se, depois vem a morte e mais nada. Não tinha medo dela tampouco do pecado, que só servia para subordinar alguém à sua vontade. Para ele o pecado também não existia. No amor ele acreditava, na bondade e na sua missão de escritor, que começara sem deliberação alguma, aos sessenta anos. Para ele tudo na vida lhe aconteceu demasiado tarde. “Pilar, Pilar,” chama sempre, “ela era o seu pilar” e a abraça com afeto. Essa mulher jamais deixará de ajudá-lo, apoiá-lo e conduzi-lo ao lugar que merecia, até que conseguisse o prêmio Nobel de Literatura. Foi sua companheira, enfermeira e auxiliar nas inúmeras viagens maçantes que fizeram ao redor do mundo, a fim de divulgar sua obra ímpar. Ela era feminista, autoritária e firme, conferindo-lhe juventude e felicidade. Sim, sua vida foi feliz. Vemos também a doença que quase o ceifou, enquanto escrevia Viagem do Elefante e a coragem que demonstrou para sobreviver e acabar seu romance. Debilitado, mas já fora de perigo, continua sua saga; agora um homem fisicamente fragilizado, jamais psicologicamente. Ele dizia que escrevia os romances e Pilar escrevia a vida. Essa fusão ibérica de Espanha e Portugal entre eles nos dá conta da sensação de pertencimento que diferentes pessoas possam ter em uma relação honesta e franca. O documentário iniciou-se em 2006 e foi até 2009. O escritor que nasceu em 1922 morreu em junho de 2010, depois da montagem de José & Pilar. Nada foi modificado. Filme imperdível para os amantes de sua literatura ou não.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A SUPREMA FELICIDADE DE ARNALDO JABOR






BRASIL 2010, 125 minutos
ELENCO:
Marcos Nanini
Mariana Lima
Dan Stulbach
João Miguel
Jayme Matarazzo
Elke Maravilha
Maria Flor



Este é um filme saudosista que se passa no bairro da Lapa, Rio de Janeiro, nas décadas de quarenta e cinquenta. É uma história bem REGIONAL, que falará à geração dessa época.
A película reflete a personalidade e caráter do conhecido articulista Arnaldo Jabor. Em 1946, pouco após o final da segunda Guerra Mundial, um jovem casal mora em um sobrado na Lapa. Ele é piloto da FAB e ela uma mulher bonita, inteligente e fiel dona de casa. Com sua chegada tem muitos planos para contar, principalmente a decisão de voltar a trabalhar e proporcionar uma vida mais agradável ao filho e a eles. Ocorre que Dan Stulbarch, na pele de seu marido, é um homem machista, inseguro e infiel, que jamais permitiria que sua esposa saísse de casa para ajudá-lo. Ela tem que se conformar com a decisão do marido, aliás, como faziam quase todas as mulheres dessa geração. Resignada cuida bem de Paulinho, um menino de oito anos, que ela adora e o faz de confidente. Para o garoto isso é um peso grande, por ser criança e se solidarizar com a mãe. Sua válvula de escape é seu avô, Marco Nanine, um liberal boêmio e sábio, que havia se casado com um ex- prostituta polaca, Elke Maravilha, em ótimo desempenho. Seu avô é quem apresenta a vida pândega e noturna do Rio, suas prostitutas e as alegrias e amarguras da vida para o neto. Marco Nanini representa o espírito desse trabalho. Seria, talvez, seu melhor desempenho, sem excessos ou caricaturas. É um alegre boêmio e ponto final. O pai torna-se um homem amargurado profissionalmente, descontando na família sua infelicidade e enveredando-se no mundo da bebida e prostituição. Vemos cenas tristes e até chocantes, como o assassinato de uma prostituta por um marinheiro. Pedrinho cresce junto com os colegas de escola e torna-se adolescente. Nessa fase conhece uma garota, réplica da Marylin, por quem se apaixona. Contudo não é feliz com sua família quase esfacelada e sua mãe fragilizada. O filme pretende ser um retrato do que ocorria nessas duas décadas, que preparariam as mulheres para uma revolução feminista, pois se mostrava absolutamente imperativo. Paulinho sempre contando com o avô, depois de tantos atropelos, ajusta sua vida. Os figurinos de época são bons, a decoração das casas e os objetos também. Para os nostálgicos de hoje e de ontem é um apropriado programa.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

LONDON RIVER DE RACHID BOUCHAREB








LONDON RIVER - França/Argélia/Reino Unido, 2009
ELENCO: ELISABETH SOMMERS – BRENDA BLETHYN
OUSMANE - SOTIGUI KOUYATÉ (Premiado no festival de Berlim)

O diretor franco-argelino de >Dias de Glória < (premiado pelo elenco masculino em 2006) mostra com muita segurança e veracidade o preconceito sofrido por imigrantes muçulmanos na Inglaterra e as conseqüências de atentados terroristas para as famílias estrangeiras e inglesas, que perdem seus entes queridos. Mesmo com compaixão, muitas vezes armamos verdadeiras redes de proteção para nos resguardar emocionalmente diante de dramas chocantes, quer seja em desastres naturais ou em atentados terroristas tão freqüentes nesta última década. Neste novo trabalho, Rachid explora a série de atentados ocorridos em Londres, em julho de 2005. O filme se desenrola a partir da fazenda da viúva Elizabeth Sommers que, sozinha, cuida de sua propriedade à beira mar. Sua jovem filha mora em Londres há dois anos e o contacto entre as duas não é muito assíduo, como regra geral na Europa. Pessoas moram sozinhas e não têm muita informação do que se passa com os familiares que se espalham pelo continente. Depois de trabalhar na terra, Mrs. Sommers, já dentro de casa e assistindo televisão, é surpreendida pelas cenas do atentado ao metrô e um ônibus que aconteceram em Londres. Assustada telefona para Jane, mas apesar de vários recados não tem retorno de nenhum deles. Desesperada parte para Londres e, agora sim, começa sua brilhante atuação. Deparando-se em um bairro de árabes onde mora sua filha, seus trejeitos, um misto de superioridade étnica e nojo, ao se aproximar dessas pessoas são bastante convincentes, pois mal consegue acreditar que ela possa conviver entre eles. Ao mesmo tempo o premiado Sotigui Kouyaté, com sua silueta alta, magra e majestosa de africano digno, vai se aproximando cada vez mais dessa senhora inglesa. Ele trabalha na França há 15 anos, como guarda florestal e não vê o filho desde que emigrara. Não o reconheceria mais. O jovem, criado pela mãe na África, fora para Londres a fim de estudar. Ousmane também se encaminha para lá, a fim de localizar o filho, do qual tem apenas uma foto com outros jovens, na mesquita que freqüenta. Rachid faz questão de mostrar a solidariedade e polidez que reina nesse núcleo segregado. Os dois pais acabam se encontrando, pois os filhos eram namorados, para horror de Elizabeth que vê a possibilidade de Jane ter-se tornado muçulmana. A sequência da história desenvolve-se na aceitação desses personagens tão diferentes socialmente e tão parecidos na dor que guardam. O filme encanta pela narrativa incomum e pelas interpretações de seus protagonistas, principalmente deste ator malinês, que no papel de muçulmano convicto, encara as vicissitudes da vida com uma compostura impecável. Suas expressões são tênues e ao mesmo tempo muito profundas. Sotigui morreu em abril, aos 73 anos. Talvez seja um dos melhores filmes do ano.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

TROPA DE ELITE 2 DE JOSÉ PADILHA

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BRASIL (2010) 118 MINUTOS
Elenco:
Wagner Moura – coronel Nascimento
Irandhir Santos – Fraga (professsor)
André Ramiro – capitão André Matias
Maria Ribeiro – Rosane (ex-esposa de Nascimento)

Esse drama é um “filme denúncia” do que ocorre no momento, já, na Polícia Federal, nos governos estaduais e em Brasília. Deve ter demandado muita investigação, coragem e determinação do diretor, produtor, roteirista e artistas para realizarem um filme tão realista. Não fosse o som prejudicado nas narrativas em off do coronel Nascimento seria genial. É uma história bombástica, que não passará em vão. Ou se concorda ou se discorda, dependendo de suas convicções políticas e dos valores que o formaram ao longo de sua vida. No primeiro Tropa de Elite, premiado com o Urso de Ouro, Padilha debruçou-se sobre o tráfico de drogas, os traficantes e seus braços com a polícia. Seu herói era o jovem Nascimento, capitão do Bope, que agora será promovido a tenente-coronel e, continuando em sua meta de máxima honestidade consigo mesmo, ameaçará as milícias do Rio de Janeiro, engendradas na polícia e na política e com o próprio governador do estado. Esse é um cargo mais burocrático com um homem mais grisalho e desiludido. Seu casamento acabou e seu filho está sendo criado pela mãe e um professor de esquerda (Fraga), protetor dos Diretos Humanos e a favor da reabilitação carcerária. O menino vê-se indeciso com a diferença de atuação dos dois “pais”, que afinal são a favor da lei. As primeiras cenas passam-se no presídio Bangu 1, e pelo rádio Nascimento comanda a tropa de choque que irá seguir suas ordens na tentativa de dizimar uma rebelião de facções criminosas dentro da própria cadeia, que controlavam o tráfico de drogas, pagando pesadas quantias aos chefes das ditas milícias policiais, truculentas ao máximo, uma cópia fiel das máfias. Ele continua muito ligado aos policias do Bope, resguardando que não seja contaminado por policiais corruptos. Contudo, por um erro, a operação não dá certo e seu subordinado preferido, capitão Padilha (André Ramiro) é acusado pela morte de um preso, durante o ofensiva. Seu comandante, assumindo toda responsabilidade, é afastado do Bope e passa a trabalhar na Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro. O enredo é complexo exigindo bastante atenção de quem assiste a esse trabalho. Agora o Bope está mais bem equipado, graças ao novo tenente-coronel, Nascimento, contando com mais aparelhamentos e helicópteros. As cenas que veremos durante toda a exibição são de alta adrenalina, “grudando” o espectador na cadeira. Sandro Rocha, interpretando muito bem o major Rocha, é o que há de mais execrável nesse grupo, tendo vários canais que o ajudam. Esses fatos e personagens, na realidade existem ou existiram, contudo têm seus nomes preservados. As sequências de delitos e corrupção viram lugar comum e o excelente Wagner Moura vê-se em um círculo sem saída, demonstrando um envelhecimento precoce de um personagem direcionado para seu interior e sua consciência. É um trabalho magnífico de atuação e direção. Em meio à luta armada entre as milícias e o Bope, Nascimento vê sua vida privada sendo convulsionada, pois seu filho passa a afastar-se dele e a alinhar-se mais com o padrasto, que requisita sua ajuda e seu trabalho. A ex-mulher está apavorada com o encaminhamento das coisas e roga para que se defenda e procure seu filho adolescente. Quando se imagina que todo o controle está perdido, os dois oponentes unem-se pela mesma causa. Fraga, agora deputado estadual, poderá ser de grande valia, abrindo a CPI das milícias, em 2008, o que realmente aconteceu. No final do filme assistimos uma imagem aérea de Brasília, mostrando o Palácio do Planalto e os poderes legislativo e executivo. Se aí está o problema de segurança do Brasil, só daí poderá vir a solução, através dos votos conscientes da população que deveria politizar-se mais. Esse filme promete salas bem lotadas!