segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A FILHA DO PAI DE DANIEL AUTEUIL




LE FILE DU PUISATIER, FRANÇA/2011, 107 MIN., DRAMA

ELENCO:

DANIEL AUTEUIL – CAMPONÊS

KAD MERDAD

NICOLAS DUVAUCHELLE - JACQUES

ASTRID BERGÈS-FRISBEY – FILHA DO CAMPONÊS – PATRÍCIA

 

Este leve e delicado filme é muito apropriado para a época de Natal mesmo não sendo um tema natalino.  Foi adaptado do romance La Fille du Puisatier, escrito por Marcel Pagnol (1895-1974). Daniel Auteuil, um dos melhores atores franceses, faz sua estreia como diretor, adaptador e protagonista com grande competência. A história é singela; passa-se antes do início da segunda Guerra Mundial, em uma pequena cidade, onde vivem Daniel Auteuil, um posseiro viúvo, e suas cinco filhas. Uma delas, a belíssima Astrid, é sua favorita, pois cuida das crianças, teve uma educação esmerada e leva todos os dias o almoço para o pai. Numa dessas caminhadas, Patricia conhece o aviador Jacques, por quem se apaixona. Ele admira sua beleza, mas não pensa em casamento. Obrigado a partir rapidamente para a II Guerra, deixa a família rica e esnobe, que o idolatra, pois é filho único. A cidade é pequena e todos se conhecem. Eis que após sua partida, Patricia descobre que está grávida e como é muito honesta, resolve pedir ajuda ao pai.  São cenas muito comoventes, visto que para um viúvo com a responsabilidade de educar suas filhas acha que falhou. Contudo resolve levar sua prole, muito bem arrumadinha, juntamente com a jovem de 18 anos e grávida, para contar a verdade à família do noivo, que os maltratam fazendo com que batam em retirada. No meio do caminho de volta, pede a Patricia que vá viver com sua tia, para não envergonhar as menores. Ela parte e tem um lindo menino, que era o sonho antigo de seu pai: ter um filho. Com muita relutância vão conhecer o bebê, que já tem cerca de quatro meses e é lindo e risonho. Muito emocionado, resolve encarar a comunidade e voltar a cuidar de toda a família. Nesse ínterim, os outros avós ficam sabendo que o filho morrera e resolvem visitar o neto e pedir desculpas para a família do poceiro. A situação não é favorável para ninguém, principalmente para os avós paternos. Contudo a meiga Patricia aceita o convite deles e leva o garoto algumas vezes para que possam conviver juntos. Há uma séria disputa sobre o sobrenome, pois deveria ser o mesmo da mãe solteira, do pai, do avô e bisavô. No terço final há uma reviravolta que possibilitará a alegria de todos e um ponto final na disputa do sobrenome do bebê. Claro que tudo acaba muito bem para os jovens, pois é um romance delicado e para todas as idades.

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

A NEGOCIAÇÃO DE NICHOLAS JARECKI



ARBITRAGE, DRAMA (EUA-POLONIA) 2013, 107 MIN.

ELENCO:

RICHARD GERE – ROBERT MILLER

BRIT MARLING – BROOKE MILLER

SUSAN SARANDON – ELLEN MILLER

Nicholas, jovem diretor talentoso de 33 anos, tem como pai um filantropo conhecido, Jarecki, dando a ele todo o combustível necessário para este filme, que faz uma interessante crítica sobre o mundo dos negócios, desde a bolha imobiliária americana que ainda produz seus efeitos até hoje. Escolhendo um elenco de primeiríssima, com Richard Gere interpretando de maneira espetacular o bilionário Robert Miller, que já nasceu para esse mundo, com pais muito realistas. Susan Sarandon é sua bela esposa, que dirige uma sociedade filantrópica com o nome da família Miller. O casal tem dois filhos, o rapaz que não dá para esse ramo, e sua filha, Brooke Miller, que herdou do pai a sagacidade para os negócios, sendo jovem e muito correta em suas ações.  As primeiras cenas mostram o nível de sofisticação de Robert, discutindo em seu jato particular um negócio de minas de cobre, que comprara dos russos, mas que andava, no momento, mal das pernas. Ele precisa vender esse negócio urgentemente por uma quantia vultosa, pois o rombo está prestes a ser descoberto pela auditoria e sua assistente, Brooke. Depois vislumbramos sua casa magnífica, seus filhos e netos e principalmente sua amante possessiva, uma pintora francesa sem talento. Tudo isso em seguida, para perdermos o fôlego, já não bastasse o dinheiro que devia e a venda que não se concretiza, pois o comprador ora quer comprar, ora não. Ao sair com a Mercedes da namorada, sofre um acidente de carro e ela morre. Sua vida vira do avesso, pois já não bastassem os problemas atuais terá de se safar do crime de assassinato. Para isso “usa”, esse é o termo, o filho negro de um antigo chofer, que lhe é completamente fiel. Havia um investigador de polícia que há tempos estava atrás desses grandes conglomerados por fraudes e resolve que esta é uma excelente oportunidade para colocá-los atrás das grades. As cenas que se seguem são muito bem dirigidas e elaboradas, dando-nos uma visão geral de como funciona esse universo em que uma mentira, não é pecado, desde que não seja descoberta. Todavia Brit Marling descobre o desfalque do pai que adorava e é apoiada por sua mãe, Susan Sarandon, que no final dá um show de interpretação, mostrando ser melhor negociadora do que o marido, uma vez que deseja preservar a unidade familiar e o futuro da filha. Richard Gere e Susan Sarandon mostram estar envelhecendo da melhor forma possível, desempenhando personagens críveis e autênticos. Belo trabalho da equipe de Nicholas Jarecki.

 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

NA TERRA DO AMOR E DO ÓDIO DE ANGELINA JOLI



IN THE LAND OF BLOOD NA HONEY,EUA/2011, 127 MIN., DRAMA

ELENCO:

ZANA MARJANOVIC – ARTISTA PLÁSTICA

BORIS LER – CORONEL

Angelina Joli tem um belíssimo trabalho neste drama, talvez por ser considerada durona e principalmente talentosa. Esse é um filme humanista e aterrador, mesmo, pois denuncia todas as atrocidades cometidas contra os bósnios, quando da dissolução da ex-Iugolávia, sob o ditador Tito e a formação de países independentes. Os sérvios, a fim de se vingarem dos bósnios, os atacam sem a menor piedade ou discernimento. As imagens de Angelina Joli são apavorantes, demonstrando o que passaram todas as mulheres bósnias e suas famílias nas mãos daqueles soldados. Foi o maior conflito armado, com maior número de vítimas desde a Segunda Guerra Mundial, na Europa. Para essa viagem ao passado próximo, ela escolhe um casal de etnias diferentes, que viviam em harmonia até a guerra começar. As primeiras cenas mostram a linda Zana Marjanovic, pintando um autorretrato e depois seguindo para uma casa de dança, onde encontraria seu recente namorado, um jovem sérvio que era coronel. Logo em seguida uma bomba explode o lugar, mas eles sobrevivem e ajudam a cuidar dos feridos e mortos. Os dois são introspectivos, mas parece que irão ter uma convivência amorosa intensa. Depois disso os bósnios são obrigados a deixar suas casas, com a roupa do corpo. Ajla vai parar em um local onde será prisioneira e cuidará, junto com outras jovens, dos oficiais. Ela vira prisioneira de seu próprio namorado. A princípio isso o desagrada, pois não queria ser soldado,  mas é obrigado pelo pai, um general durão, um dos pais da pátria. Ela será sua protegida, mas as decorrências dos acontecimentos funestos faz com que os dois passem a desconfiar um do outro, por deveres patriotas. Ele é obrigado pelo general a ser mais profissional e o coronel depois de matar a primeira pessoa, que relutara tanto, passa a encarar isso com naturalidade e um quê de satisfação. Danjel é obcecado por Ayla e nunca desistirá dela, fazendo sexo e a amando. Ela retribui o sentimento, mas com remorso, pois sua família e amigas não tinham este privilégio e eram constantemente violentadas pelos sérvios. Essas são as piores cenas e as que Joli quer enfatizar, pois são brutalidades contra as mulheres. No terço final o general toma conhecimento do relacionamento deles e obriga que ela pinte um retrato dele; enquanto ela passa o pincel na tela, esse homem duro conta-lhe sobre sua origem humilde e o massacre de sua família inteira pela etnia mulçumana bósnia. O final é traumático, mas Joli, que dirigiu, roteirizou e produziu o filme não teria outra opção.

 

INFÂNCIA CLANDESTINA DE BENJAMIN ÁVILA



ARGENTINA, BRASIL, ESPANHA/2011, 112 MIN. DOCUDRAMA

ELENCO:

NATÁLIA OEIRO -  MÃE CRISTINA

ENERNESTO ALTEIRO – TIO BETO

CESAR TRONCOSO – PAI HORÁCIO

TEO GUILHERME ROMERO – JUAN – ERNESTO ESTRADA

 

Há algumas coisas a esclarecer antes do resumo deste ótimo filme. O produtor Luis Puenzo esteve no Brasil para assistir A Infância Clandestina no Festival do Rio, pois seu filme, História Oficial, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Financia seus filmes e de seus filhos, segundo o Jornal Estado de São Paulo. O longa de Benjamin Ávila é coproduzido com o Brasil e representará a Argentina, como melhor filme estrangeiro para o próximo Oscar. O filme aborda um dos piores períodos da política argentina, em 1975, quando da morte de Peron e a subida dos militares ao poder. Foi um dos períodos mais sangrentos da história argentina.  O roteiro aborda a política, assim como o ambiente para as crianças crescerem com pais revolucionários e militantes do Peronismo. Esse filme é uma homenagem a todos que cresceram e viveram nesse período tão conturbado. A história começa com uma jovem família sendo deportada do país e agora em Cuba de Fidel. Ela é formada dos pais, um menino de onze anos, nosso herói, e sua irmãzinha de um ano. Era chegado o momento de voltar para lá e reiniciar as guerrilhas. A família virá separada. Juan e o bebê seguirão com um casal amigo para o Brasil e de lá para uma cidade na Argentina. Ele é duramente treinado a se lembrar de seu novo nome, Ernesto Estrada, nova data de nascimento e esquecer que fala espanhol. Isso já é o bastante para um garoto tão pequeno e vivendo na clandestinidade. Tudo corre como combinado e na Argentina é recebido pelo adorável tio Beto, que será seu confidente e amigo até quando puder. A ele Juan deve sua introdução à puberdade. Seus pais chegam e os quatro vivem em uma casa com uma indústria de fachada, que produz amendoim com chocolate. O irmão de seu pai sempre estará presente, pois também é guerrilheiro, mas de outro naipe, um homem menos voluntarioso, mais humano e feliz, pois para Horácio e Cristina a única felicidade é o peronismo. Há alguns momentos de doçura, em meio da política. Por exemplo, quando Juan conhece uma menina em sua escola e se apaixona por ela. Quer que a mãe conte como foi sua sensação ao saber que amava o pai. Ela e o tio darão sugestões para isso, contudo Cristina ainda não sabe de nada. Na casa existe um esconderijo para o qual Juan e o bebê são enviados várias vezes. Na escola e na rua não pode ter amigos, deve falar baixo e ter um pensamento extremamente conciso, falando o estritamente necessário. Isso o torna mais adulto do que as demais crianças e é essa qualidade que sua namoradinha mais aprecia nele. É diferente dos demais garotos. Um dia na escola, ao final da aula, todos cantam Parabéns a Você e ele se surpreende de ser o homenageado, pois não é seu aniversário, mas sim o do passaporte falso. A partir daí a trama se complica mais ainda, pois os coleguinhas querem um bolo e uma festa.

Contrafeito o pai cede ao irmão e a ele. Desenrolam-se situações aviltantes a partir daí e Juan percebe o quanto sua infância havia sido “usurpada e decididamente sequestrada”. O final é previsto e o paradeiro derradeiro do menino é a casa da avó materna, mas antecedido por tortura mental e quase física. Sua irmã não sabemos onde foi parar. Filme imperdível, pelo roteiro, direção, atuação do formidável Juan (Teo) e seu tio;  fotografia invejável. Será difícil para Selton Melo, com seu magnífico “Palhaço”, competir com um filme político e com crianças adoráveis.

domingo, 2 de dezembro de 2012

O HOMEM DA MÁFIA DE ANDREW DOMINIK



KILLING THEM SOFTLY, EUA/2012/97MIN./POLICIAL

ELENCO:

BRAD PITT – JACKIE

JAMES GANDOLFINI – MICKEY

BEN MENDELSOHN – JOVEM LADRÃO

SCOOT MACNAIRY – JOVEM LADRÃO

RAY LIOTTA – MARKIE

RICHARD JENKINS - ADVOGADO

 

É ótimo. É aterrador e obscuro. O tempo é péssimo, chove continuamente, a época é da futura posse de Barack Obama e a situação econômica dos Estados Unidos a pior desde os idos dos anos vinte, durante a depressão do século passado. O formidável diretor de “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford”, em seu segundo longa, baseando-se no livro Cogan’s Trade, usa toda sua habilidade e criatividade para “colar” o espectador na cadeira durante 97 minutos. Uma frase do ótimo Bred Pitt define o filme: A América não é um povo, a América é negócios. E realmente, o crime transformou-se em um negócio muito bem gerenciado e calculado. Nas primeiras cenas vemos um jovem fumando à espera de outro, imundo, puxando um bando de cachorros de raça. O diálogo é hermético, mas ficamos sabendo que o dono de uma lavanderia de fachada, quer roubar o mafioso Markie, dono de uma loja de jogos clandestinos de carteado, frequentado pelas piores e mais violentas pessoas. Esse Markie já havia forjado um roubo em sua própria loja e um segundo seria, obviamente, atribuído a ele também. Seria seu fim.  Os jovens Ben Medelshon e Scott McNairy, com máscaras de nylon e armas improvisadas, farão o serviço, mas estão assinando a própria sentença de morte. A partir desse momento, com diálogos da pior qualidade, Jackie (Brad Pitt), um matador profissional, será contratado por um oponente, a fim de por ordem nas coisas, auxiliado pelo advogado Jenkins, que verá as possibilidades de saírem limpos de todos os crimes. Markie será espancado quase até a morte, assim como o obeso e viciado em sexo, Gandolfini (espetacular), em cenas inesquecíveis pela sua realidade, bem longe da violência romântica dos filmes de máfia de apenas algumas décadas atrás. O interessante agregador da história é que sempre veremos televisores ligados, com discursos dos oponentes políticos para livrar o país da ruína financeira, encaixando-se perfeitamente com as ações dos contraventores e as trovoadas que se sucedem. É tudo muito sombrio e carregado com essa película, que requer muita atenção do espectador para não se perder em tantas armadilhas, carnificinas e revanches executadas com a precisão e habilidade de um importante conglomerado global. Os artistas não deixam dúvidas quanto ao talento e esse diretor neozelandês certamente trará muita intranquilidade à plateia.  Ótimo programa!!! Se quiser conferir "O asssasinato de Jesse James.."
busque, neste blog, 21 de agosto de 2008.

 

 

 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

CURVAS DA VIDA DE ROBERT LORENZ



TROUBLE WITH THE CURVE, EUA/2012, DRAMA, 101 MIN.

ELENCO:

CLINT EASTWOOD – GUS

AMY ADAMS – MICKEY

JUSTIN TIMBERLAKE – JOHNNY

Este filme é dirigido por Robert Lorenz, companheiro de Clint em outros longas, e roteirizado pelo estreante Randy Brown. Decidido a não atuar mais depois de Gran Torino em 2008, volta atrás e interpreta o homem viúvo  ranzinza de outros trabalhos.  Gus, bem convincente, é um olheiro de beisebol, que apesar da idade e da visão totalmente prejudicada por um sério problema, continua na ativa e deve seguir para Carolina do Norte, a fim de achar novos talentos para o time com que trabalha. Nisso é infalível e melhor do que os computadores que relatam a atuação de todos os jovens jogadores. Isso não é para ele que prefere assistir o desempenho desses atletas. Gus tem uma filha advogada, de 33 anos, que é muito bem sucedida. Contudo o relacionamento entre eles não é bom.  A pedido de um velho amigo (John Goodman), ela acompanha o pai para ajudá-lo e convencê-lo a ir a um especialista. Até esta parte do filme tudo corre muito bem, mas a partir daí vem uma barriga mal resolvida, que só tomará uma reta no final do filme. Chegando à pequena cidade, Clint encontra um ex-atleta contundido e famoso, Johnny, que agora também é olheiro para outra equipe. Surge uma interação entre esses personagens que desvendarão aos poucos alguns sérios problemas existentes entre eles, inclusive a viuvez. Trouble with the Curve (problema com a “tacada” curva) nome do título é o que enseja a decisão do velho Gus. Bom programa para tarde ou para quem é fã do esporte e do artista como eu. Sai um tanto decepcionada. 

 

domingo, 18 de novembro de 2012

E AGORA, AONDE VAMOS? DE NADINE LABAKI


 
ET MAINTENAT ON VA OÙ? TRAGICOMÉDIA, /2011, 110 MIN.

ELENCO:

NADINE LABAKI – DONA DO BAR

CLAUDE BAZ MOUSSAEBAA

LEYLA HAKIM

A ótima e bela diretora de Caramelo de 2007 nos brinda com essa ótima comédia dramática, roteirizada por ela, que aborda e homenageia o esforço pela paz de mulheres em uma pequena aldeia libanesa, que poderia ser qualquer país do mundo. O filme começa com várias mulheres de preto, unidas, caminhando ao som de uma bela música. Todas estão de preto e carregam um terço, enrolado na mão direita, que batem no peito a uma cadência sincopada. É um espetáculo de coreografia moderna. O cenário são montanhas áridas e sem vegetação. Estancam repentinamente, em frente a um cemitério. Lá depositam flores brancas nos túmulos de jovens que morreram em embates pelo país. Logo depois um amontoado de adolescentes tenta instalar uma antena clandestina para receberem sinais de rádio e da única televisão existente, a do prefeito. Assim começa essa bela história sobre a necessidade de concordância entre os povos árabes. A festa pela primeira transmissão de televisão é acompanhada por todos os habitantes, enquanto uma pobre cabrita, Brigitte, é assada como símbolo de sacrifício pela entrada deles no século XXI. Boquiabertos assistem a um filme, que se torna apimentado para crianças, e o controle remoto muda para vários outras emissoras, mas as que os homens preferem é a de notícias sobre guerra entre cristãos e mulçumanos. As mulheres passam a se levantar e falar alto, encenando uma grande discussão até que aquilo termine. Esse vilarejo possui as comunidades cristãs e mulçumanas vivendo em harmonia, sendo o padre e o imã grandes amigos. A igreja e a mesquita estão distantes a poucos passos. As armas haviam sido enterradas em um local secreto e a serenidade reinava. A própria diretora, no papel de uma dona de bar católica, flerta e gosta de um pedreiro mulçumano, sendo correspondida.  Distante do resto do país, dois garotos, durante a madrugada, vão de lambreta puxando um carrinho de mão, buscar os suprimentos necessários a todos. A história corre bem até que, pelo rádio, os homens ouvem detalhes sobre a guerra e começam a se afrontar. Desesperadas, as mães, irmãs e esposas fazem de tudo para desviar a atenção do fato. Milagres são simulados pelas católicas e quando não veem saída para a situação, todas, cúmplices, acabam apelando por chamar um grupo de dançarinas ucranianas, nada tradicional, para distrair seus maridos e filhos, pois seus próprios corpos eram cobertos por panos pretos e estavam fora de forma. Isso e mais bolinhos de haxixe da mais alta qualidade. As situações são hilárias e comoventes ao mesmo tempo. Sem uma solução, ao terço final, mostram toda sua coragem e determinação e a primeira cena é reintroduzida, agora por um grupo de homens que falam a frase título do filme, que é respondida: para suas mães. Belíssimo trabalho de Nadine Labaki, que apesar de ter seu filme indicado ao Oscar como melhor filme estrangeiro, não ficou entre os cinco finalistas. O tema é muito atual e a cineasta teve como inspiração o seu país sempre nas mãos belicosas do Hesbollah. O longa-metragem muito bem feito, interpretado e dirigido ganhou o principal premio do Festival de Toronto. Imperdível!

                                                                                                                                   

 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

EM NOME DE DEUS DE BRILLANTE MENDOZA


EM NOME DE DEUS DE BRILLANTE MENDOZA

CAPTIVE, FRANÇA, FILIPINAS/2012, 120 MIN. DOCUDRAMA

ELENCO:

ISABELLE HUPPERT

MERCEDES CABRAL

MARIA ISABEL LOPEZ


Brillante Mendoza, diretor filipino indicado ao Urso de Ouro de Berlim depois do aclamado Lola e de diversos curtas e longas-metragens como Kinatay, com o qual ganhou em Cannes o prêmio de melhor diretor, vem agora com um sufocante drama. Baseado em fatos reais, trata-se do sequestro de estrangeiros nas Filipinas por um grupo de islâmicos separatistas. Em maio de 2001 esses homens invadiram bruscamente um resort na ilha de Palawan, durante a noite, e levaram os hóspedes que dormiam para um barco, no meio da escuridão da noite. Alguns se encontravam nus e não puderam pegar nada além de poucas roupas; foi um ato cruel e covarde.  O diretor usa a própria floresta filipina para, com muito empenho e segurança, relatar sua história da maneira mais real possível, com inúmeros incidentes gravíssimos que deixam o público em grande suspense. A única personagem ficcional é a extraordinária Isabelle Huppert, no papel de uma missionária e assistente social que presta serviços humanitários, Thérèse Bourgoine. Ela encontra-se no local, casualmente, junto com uma senhora filipina. Thérèse será o fio condutor da trama, pois é sob seu ponto de vista que veremos os incidentes terríveis em que se encontrarão. Ao partirem para o coração da selva tropical, os sequestradores homenageiam Alá e Osama bin Laden, que orquestraria o ataque das torres gêmeas em Nova York, em 11 de setembro do mesmo ano. A finalidade do ato delituoso era conseguir o máximo de resgate possível para financiarem essa facção criminosa. Mas entre eles nem todos são pessoas de posse e o sequestro alonga-se por vários meses. Em um movimento muito interessante, essas pessoas que estão desprovidas de tudo e à ameaça de rifles e animais selvagens vão tendo obrigatoriamente um convívio diário e uma rotina, que faz com que se conheçam e se julguem melhor. A amiga da assistente social não aguenta e morre, mas Thérèse exige que tenha um sepultamento digno. Depois um dos líderes se apaixona por uma das enfermeiras, que também haviam sequestrado em um hospital, e ela é obrigada a se casar com ele. Outra enfermeira, já casada e com filhos, encontra o mesmo destino. Um americano é morto e todos são constantemente ameaçados. Vagando sem rumo pela floresta, acabam em uma escola e descansam um pouco para seguir viagem. Nesse ponto Thérèse já havia se afeiçoado a um garoto de 12 anos, forçado a participar do grupo muçulmano. Surge uma emocionante amizade entre eles e outros membros. Mas o pior era o desprezo do governo filipino, que os ataca sem descriminação, com a desculpa de pegar os terroristas. Viviam sob saraivadas de balas e ataques aéreos. Os europeus irritam-se com esses fatos. O ataque das torres gêmeas é festejado por eles, para horror de seus reféns. Contudo, em determinado momento as coisas são resolvidas. É uma paisagem angustiante e claustrofóbica por ser coberta de plantas que se fecham no alto, riachos, pântanos e todos os perigos das chuvas torrenciais das Filipinas e a maneira como é filmada por Mendoza. Em cartaz, nesta semana, dois filmes que mexem com os nervos do público e muito bem realizados. O outro é ARGO, também resumido neste blog.

 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012


ARGO DE BEN AFFLECK

ARGO, EUA, 2102, 120 MIN. DOCUDRAMA

ELENCO:

BEN AFFLECK – TONY MENDEZ

JOHN GOODMAN

BRYAN CRANSTON

MICHEL PARKS

Com este ótimo docudrama Ben Affleck conseguiu conquistar a provável indicação de várias estatuetas para o Oscar de 2012. Muito bem dirigido e interpretado, mistura a ficção do filme com documentos da época em que ocorreu, 1979, 1980 e liberados apenas em 1997. O Irã estava em estado de revolução e preocupando o mundo como até hoje com Mahmoud Ahmadinejad, pois seu xá Reza Pahlevi, aliado dos americanos, fora para os Estados Unidos, a fim de tratar um câncer terminal. Nas primeiras cenas, em Teerã, vemos um povo ensandecido, agora sob o controle do islâmico radicalista Khomeini , tentando arrombar a embaixada americana e  enforcar, em solo iraniano, o antigo Xá. São cenas sufocantes e eletrizantes que nos acompanharão até o final. Conseguindo seu intento, fazem reféns seus funcionários, mas seis deles conseguem chegar à Embaixada Canadense, e lá se refugiam, mas por algum tempo, pois o Embaixador também deveria voltar à sua terra.  Affleck, baseou seu trabalho no livro de Tony Mendez,  um dos melhores funcionários da CIA e especialista em exfiltration, responsável pelo resgate, fazendo seu personagem. Consegue um ótimo roteiro colocando o espectador grudado na poltrona e de olho na tela. A CIA escolhe Mendez para a missão e sua ideia, a melhor das piores, prevalece às outras. Tendo amigos em Hollywood, entraria em contato com um amigo produtor e outro maquiador, para forjarem uma filmagem de ficção científica, ARGO, que seria rodado na paisagem árida do Irã. Tudo deveria ter um clima de verdade, caso contrário eles também seriam exterminados pelos iranianos, que estavam enforcando pessoas até em gruas de obras públicas. Uma vez dentro do Irã, ele procura o embaixador e tenta convencer, à duras penas, essas pessoas a terem uma nova identidade e sabê-las de cor, pois seriam certamente interrogados no aeroporto. Sem outra saída plausível, põem-se a caminho da suposta liberdade. Contudo, em um último instante a operação deverá ser abortada. Affleck, em ótimo desempenho, carrega a responsabilidade de seguir adiante com o plano. Momentos de agitação e temeridade são mostrados, tanto em Teerã como dentro da Companhia de Inteligência Americana. O tema mostra-se bem atual, com a preocupação mundial sobre uma possível bomba atômica sendo fabricada no sempre conturbado Irã. A trilha sonora e as imagens em zoom fazem com que o filme seja ainda melhor, e as piadas dos velhos companheiros de Hollywood dão um tom mais ameno a tantos perigos.  Junto aos créditos finais, podemos ouvir um depoimento emocionado do então presidente Carter, que não foi reeleito por ter sido considerado tolerante e fraco diante dessa missão.  Todo o resgate levou 444 dias. Programão! Ben Affleck é democrata e trabalhou para a campanha de Obama.

 

 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012


007 – OPERAÇÃO SKYFALL DE SAM MENDES

SKYFALL, EUA, 2012, 143 MIN. AÇÃO

ELENCO:

DANIEL CRAIG – JAMES BOND

JAVIER BARDEN  - INIMIGO

JUDY DENCH – M

RALPH FINNES – FUTURO M

 Por que Skyfall? É o local onde nasceu Bond, um ambiente inóspito na gelada Escócia, onde seus animais ruivos têm pelos cobrindo os olhos para protegê-los do vento e frio. Parte do final do filme será apresentado lá. Agora ao que interessa. Com esse novo 007 comemoramos, para nosso deleite, os 50 anos da série. Uma vida, com a óbvia troca de atores, mas Daniel Craig sai-se muito bem em um filme com assuntos mais modernos e novas tecnologias. É quase uma guerra cibernética, com personagens importantes bem jovens e que dominam a informática. Craig é quase um tiozinho para eles. Contudo M continua sendo a “velha senhora, cheia de charme e pungente”. Logo nas primeiras cenas vemos Bond, mais morto que vivo, saltar em um vagão de trem cortado pelo meio e arrasar nas cenas seguintes, quando consegue sobreviver a um tiro no fundo de um rio. As cenas são típicas, nada jamais derrubará James Bond e Craig encara com segurança deliciosa esse papel. Seu oponente, Silva (Javier Bardem), com todos os pelos do corpo descoloridos faz uma adequada figura. Ex-agente do Bureau inglês tenta vingança contra M, com a mesma segurança e tenacidade de uma Rita/Nina, em Avenida Brasil. O prédio do quartel-general da inteligência britânica é explodido através de um programa elaboradíssimo de computador. Todavia M não se encontrava lá e James Bond, dado como morto, vai ao encalço dos culpados. M é implacável com seus funcionários, contudo sente que muita gente está morrendo em seu nome. Nesse mundo mais transparente é obrigada a prestar contas em um tribunal e Bond a fazer uma série de testes, dos quais foi reprovado, antes de reiniciar sua carreira de agente secreto. As armas são totalmente diferentes das antigas, menores, menos chamativas, mas muito mais eficientes. O desenrolar dos fatos na mansão Skyfall é muito apropriado e o final da obra bastante convincente. Vivas para o novo Bond, Mr. Craig! Ah, as Bond girls continuam lindas e magérrimas, mas com uma postura mais madura. Fazem a diferença.

 

GONZAGA, DE PAI PARA FILHO DE BRUNO SILVEIRA



BRASIL, 2011, 120 MIN. DRAMA

ELENCO:

OLIVIA ARAUJO

ZEZÉ MOTTA

JOÃO MIGUEL

JÚLIO ANDRADE – GONZAGUINHA

ADÉLIO LIMA – GONZAGA MAIS VELHO

 

Além das maravilhosas letras e músicas desse longa, Breno nos mostra a concepção de uma típica família pobre nordestina, nos idos do princípio do século vinte. Exú é a vilazinha onde nasceu Gonzaga em 1912. Filho de pessoas simples, pobres, mas extremamente honradas, passam valores morais para seus filhos. Seu pai era sanfoneiro de primeira linha e tudo que sabia ensinou ao filho. Adolescente, Gonzaga apaixona-se pela filha de um coronel rico e branco. Sendo correspondido é ameaçado e para salvar a família parte de casa sem destino, mas engaja-se no exército, que para ele era ótimo: disciplina, comida e moradia. Lá fica por dez anos sem matar qualquer pessoa. Seu pai vai ao seu encontro, um momento emocionante. Depois disso muda-se para o Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, onde conhece um casal sem filhos que ficam seus amigos. Apaixona-se por uma mulher “adiante de sua época” como diz, e com ela tem o pequeno Gonzaguinha. Sua carreira era bastante errática e necessitava viajar pelo Brasil, a fim de difundir o ritmo novo que havia inventado, uma espécie de baião, que se tornou obrigatório no repertório da época dos anos 50, como mostraram Emilinha Borba e até Carmem Miranda. Até chegar a esse ponto sofreu muito, praticamente abandonou o filho com seus amigos. Todos o adoravam, menos o filho que precisava tremendamente de sua atenção. O filme, aliás, é baseado nas gravações de Gonzaguinha, quando do reencontro amoroso com seu pai. Casou-se mais uma vez com uma mulher prática e que era como um tropeço, “colocava-o sempre para frente”. Com o desenrolar da história, vamos sabendo da razão de cada canção, o momento exato de aflições que geravam letras tão pungentes e o porquê de se vestir como um cangaceiro. Seu filho, criado dez anos no melhor internato do Rio, porém foi para outro lado - o da sua geração. Eram belas músicas de protesto e interiorização de sentimentos, pois estávamos em plena ditadura militar e seu pai era simpatizante dos mesmos. As mágoas e aflições de pai e filho são comoventes e sanadas apenas pouco antes de Gonzagão morrer em 1989.  Menos de dois anos depois perdemos a genialidade do filho, que dera ao pai seu anel de economista, em um trágico acidente de automóvel. Essas são vidas muito sofridas, para Gonzaga pai, entretanto, sempre haveria um novo amanhã com alegria e fortuna. Seu filho foi menos feliz, pela ausência da família, coisa que seu pai gozou até morrer. Eram personalidades diferentes, mas ambas brilhantes, cada uma em seu momento. Breno Silveira já falava de assuntos familiares em seus filmes anteriores – Os filhos de Francisco e À Beira do Caminho, ambos excelentes. A interpretação dos atores que fazem Gonzaga é espantosamente bem feita.

 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

RUBY SPARKS - JONATHAN DAYTON E VALERIE FARIS



RUBY SPARKS, EUA, 2012, 106 MIN. DRAMA ROMÂNTICO

ELENCO:

ZOE KAZAN – RUBY SPARKS

PAUL DANO – CALVIN

ANTONIO BANDERAS

ANNETTE BENING

 Trata-se de uma fantasia psicológica pessoal, pois é como você se vê, e interpessoal, seu relacionamento com outros indivíduos, realizada pelos ótimos diretores do bem sucedido Pequena Miss Sunshine. O filme tem imagens leves e belas, mas na verdade é quase brutal o processo de aceitação feminina na vida do herói sem glamour. O jovem escritor, Calvin, fora um verdadeiro sucesso aos 19 anos, quando publicou seu primeiro livro, depois escreveu contos e agora não consegue se inspirar em nada, indo ao psicanalista para conhecer-se melhor. Ele sugere que esse rapaz, tímido e arredio, tenha um cachorrinho, Scotty, com a finalidade de encontrar pessoas e conversar, além disso, escrever uma única folha sobre alguém que goste do animal.  Scotty, porém, é sem graça e não se relaciona bem com outras pessoas, tal qual seu dono. No início do filme vemos uma moça banhada pelo sol e conversando com alguém. Trata-se de um sonho do protagonista, que consegue dar continuidade a ele em outra noite. A inspiração chega e ele passa a escrever freneticamente sobre a namorada perfeita para ele. Enquanto escreve em uma velha máquina de escrever, cenas idílicas são mostradas na tela. Ele se confessa apaixonado pelo personagem a seu psiquiatra, que não vê qualquer problema com o fato. Depois de poucas semanas, a garota Ruby se materializa e “sparks” brilha em sua cozinha, como sua namorada. Essa virada é fundamental para o desenrolar da história. Primeiro se acha louco, tendo visões, mas as outras pessoas também a veem e sua única saída é acreditar que ela realmente existe e a garota faz exatamente o que ele escreve em suas páginas. Fica uma situação confortável, tornando-o primeiro onipotente com a formação de seu feminino e depois desesperado, pois além de seguir fielmente sua imaginação, ela “ganha vida própria”. Como suportar um papel tão fundamental? As situações complicam-se e quase no terço final ele realmente passa a manipulá-la até que tudo fuja de seu controle. O filme mostra o que parece ser o ideal para muitas pessoas, ser o “exclusivo” roteirista de sua própria vida. Ótimo filme para aqueles que curtem temas psicológicos.