quarta-feira, 30 de maio de 2018




A CÂMERA DE CLAIRE DE SANG-SOO HONG
COREIA DO SUL, 2017, 69 MIN., COMÉDIA DRAMÁTICA.

ELENCO:
ISABELLE HUPPERT – CLAIRE – PROFESSORA DE MÚSICA
MIN-HEE KIM – MANHEE - JOVEM
JANG MI HEE – NAM – CHEFE
JIN-YOUNG – JUNG-SO WANROO - DIRETOR

Neste filme de elenco excelente, o protagonismo e a linguagem competem. Eles têm igual importância, uma vez que o diretor, Sang-Soo Hong, que já apresentou nove trabalhos em Cannes, se diverte com isso e tem um ótimo resultado. A linguagem é metalinguagem com todas as explicações desnecessárias para que se entenda o diálogo, mas para dar ênfase a ele e os três protagonistas têm igual importância. A história é contada em planos longos e com tempo suficiente para questionamentos como é hábito nos filmes orientais. Durante um festival de cinema em Cannes, Manhee é a competente funcionária de Nam, que se vê forçada a pedir demissão de seu cargo, uma vez que sua chefe a pressiona para que aja desse modo. O motivo dado é totalmente abstrato, uma questão de falta de “honestidade” inerente ao caráter da moça. Em um café as duas mulheres conversam sobre isso, contudo a mais velha não consegue dar uma explicação plausível, deixando a jovem desorientada. Não querendo voltar imediatamente para Seul, decide passear pelo litoral de Cannes e aproveitar os dias de sol. Ao acaso encontra a professora de música, Claire, que perambula pela cidade fotografando estranhos com sua Polaroid. Claire se encanta com a beleza de Manhee e acabam ficando amigas, depois de fotografá-la. Enquanto isso, sabemos que o diretor de cinema ficara muito aborrecido com sua demissão e questiona Nam, sua atual amante. Durante os passeios de Claire com Manhee, as fotos tiradas por ela são mostradas e aí está a chave de seu misterioso afastamento da equipe de direção. Claire havia encontrado o casal oriental em um restaurante e pede para tirar uma foto dele, mas Nam pede para ser também fotografada, pois Claire afirma que após uma fotografia a pessoa jamais será a mesma. O motivo da demissão fora bem torpe e Nam recebe de seu amante o mesmo tratamento que dera a Manhee. As fotos de Claire vão determinar o presente e futuro de sua nova amiga e mostra como as relações humanas são sutis. Imperdível.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

ESPLENDOR DE NAOMI KAWASE




HIKARI, JAPÃO, FRANÇA, 2017, 101 MIN., DRAMA.

ELENCO:
AYAME MISAKE – MISAKO
MASATOSHI NAGASE – NAKAMORI (FOTÓGRAFO)

Naomi Kawase, neste belíssimo filme, mostra opostos como a paixão com urgência costurada com a calma e paciência, a escuridão contra a luz alaranjada do sol abrasador e este quando se põe desperta a vontade impossível de querer alcançá-lo antes que suma atrás das montanhas. É um filme sobre a cegueira. Ela se interessou pelo assunto, quando um de seus filmes foi audiodescrito para deficientes visuais. Mostra que a imagem não é tudo em um filme, pois há de haver momentos para reflexões e não somente descrições como em um quadro sendo observado em um museu. Misako é uma jovem que está sendo treinada para fazer audiodescrições em filmes para cegos. Antes de ir para os cinemas comerciais, há um processo em que alguns deficientes julgam o trabalho, antes de finalizá-lo completamente. Entre seus colaboradores existe um fotógrafo famoso, cujo avô também o era, e não concorda com o excesso de narrativas. Ele é o mais duro de todos. Sabendo que sua visão estava sumindo, a garota se interessa por ele, pois seu pai também havia sumido, deixando a esposa com problemas mentais à sua espera. Nakamori, apesar de quase cego ou por isso mesmo, anda com sua Rolleiflex sempre pendurada em seu pescoço, fotografando pelo som e pela exígua visão. Através desses dois personagens diferentes em quase tudo, principalmente idade e experiência, a diretora constrói um filme sensível e com belíssimas imagens sobre o relacionamento conturbado desse casal, que com habilidade e imaginação consegue chegar a um ponto de total encontro e amor. Os diálogos são importantíssimos, porquanto deles podemos absorver verdadeiras lições de vida e afeto, como quando ele diz que podia perceber seu coração batendo, mesmo sem tocá-lo e sentir seu amor. Ganhou indicação no festival de Cannes para melhor intérprete feminina. Muito suave ao contrário da maioria dos últimos filmes em cartaz. Imperdível!!!

quinta-feira, 10 de maio de 2018

CIGANOS DA CIAMBRA DE JONAS CARPIGNANO




A CIAMBRA, ITÁLIA, EUA, FRANÇA, SUÉCIA, ALEMANHA, BRASIL, 2017, 120 MIN., DRAMA

ELENCO:
PIO AMATO – ELE MESMO
KOUDOUS SEIHON - AYIVA
DAMIANO AMATO – ELE MESMO

Pio é um adolescente romani (cigano) que cultiva uma imagem de adulto, fumando desbragadamente, bebendo e tentando concretizar vários pequenos planos delituosos, que aprendera com seu irmão mais velho. Ele vive no bairro de Ciambra, na Calábria, sul da Itália. Essa região portuária é comandada pela perigosa máfia italiana ‘Ndrangheta. Perto do local onde habita fica o estabelecimento ocupado pelos imigrantes africanos, que chegam à Itália e  são marginalizados pelos próprios ciganos. Contudo o melhor amigo de Pio é Ayiva, um africano adulto que o protege. Após a prisão de seu pai e irmão, ele passa a tomar conta da enorme família, onde existe, apesar de tudo, um sentimento de solidariedade. Pio é o foco do filme, assim como seus parentes, todos com os seus nomes verdadeiros. É o retrato de um jovem que, apesar de sua coragem, ainda não sabe bem com ser um homem. Frequenta bares e nightclubs com desenvoltura, tendo uma rotina delituosa bem difícil e perigosa, trazendo alguns trocados para casa. Seus irmãos menores, ainda nos seus quatro ou cinco anos, fumam e bebem como ele, tendo todos vidas desregradas. Quase no final do filme existe uma cena que tipifica bem sua fase ainda infantil, quando é saudado calorosamente pelos africanos. O mais triste desse longa é que não é totalmente ficcional, pois existe na realidade essa família desorganizada e o garoto Pio, que vive por essas paragens tão ardilosas. A vida difícil mostra que não terá futuro. O jovem diretor dessa obra tem 34 anos, nasceu nos Estados Unidos e vive na Itália. Foi selecionado pelo  país como representante de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2018 e ganhou prêmios em Cannes. Martin Scorsese é produtor do filme. Triste, excelente e imperdível!!