quarta-feira, 26 de setembro de 2018

UMA QUESTÃO PESSOAL DE PAOLO E VITTORIO TAVIANI




UNA QUESTIONE PRIVATA, ITÁLIA, 2018, 85 MIN., DRAMA.

 ELENCO:
LUCA MARINELLI – MILTON
LORENZO RICHELMY - GIORGIO
VALENTINA BELLÉ – FULVIA

Baseado em uma das obras primas da literatura italiana, Una Questione Privata de Beppe Fenoglio, os irmãos Taviani diregem um longa de grande força quanto à época, Segunda Guerra Mundial, e emoção. Em 1943 o jovem militar, Milton, resolve, durante um grande nevoeiro, região de langhe no sul do Piemonte, revisitar a casa de sua namorada, Fulvia, com seu melhor amigo de infância e também membro da Resistência italiana, Giorgio. O edifício surge repentinamente atrás da névoa e ele pede à antiga zeladora do local para entrar na casa e relembrar sua amada. Enquanto o faz, sozinho, ela começa a contar a história deles e de seu amigo, quando Milton já havia entrado para o exército, insinuando que Giorgio e Fulvia mantiveram um affair enquanto estava na guerra. Com uma personalidade bastante poética e apaixonada, deixa-se influenciar pela conversa e começa uma volta ao passado, agora cheio de amargura e desconfiança, precisando descobrir a verdade. Com isso, desliga-se mentalmente do conflito, pensando somente na possível traição, deixando-o completamente desconcentrado e pesaroso pelo profundo amor que ainda sentia. Porém os problemas da batalha continuam e os fascistas tem maior poderio bélico e de homens, matando os resistentes e camponeses como moscas. As cenas nas montanhas são belíssimas, com fotografias impecáveis e situações dolorosas, como a que envolve uma menina pequena e sua família. Giorgio é levado pelos fascistas e Milton tenta trocá-lo por um prisioneiro inimigo, não para salvá-lo, mas para questioná-lo e aquietar seus sentimentos. O filme é comovente do início ao fim com voltas ao passado recente, tecendo o comportamento de Milton até que consiga se controlar, devolver o ocorrido para o passado e seguir o futuro. Belo filme com música tema de O Mágico de Oz, grande sensibilidade na direção. Muito bom.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

BENZINHO DE GUSTAVO PIZZI




BENZINHO, BRASIL, 2017, 97 MIN., DRAMA.

ELENCO:
KARINE TELES – IRENE
ADRIANA ESTEVES – IRMÃ SÔNIA
OTÁVIO MÜLLER – MARIDO
KONSTANTINOS SARRIS – FERNANDO

Este belíssimo filme do cotidiano de uma família de classe média baixa é um presente. O diretor, Gustavo Pizzi e Karine Teles assinam o roteiro primoroso. A família é muito unida e um verdadeiro amor perpassa pelos seus membros. A figura central é Irene, que com sua capacidade facial mostra seu amor e sua dor. Irene é mãe de quatro filhos: dois adolescentes e dois meninos pequenos gêmeos, que na vida real são seus filhos. Ela tem uma rotina que evidencia o trabalho interminável das mulheres dessa classe social e o quanto são heroínas anônimas. Não tem um minuto para si mesma, cuidando dos filhos e da casa, fazendo marmitas, vendendo lençóis e ainda realizando seu sonho de completar o supletivo no ensino médio. Tudo é intenso para essa personagem, mesmo quando seu filho mais velho, Fernando, de 17 anos é chamado para jogar handball como profissional na Alemanha. Tendo apenas 20 dias para poder ter um destino melhor, Irene não está preparada para a separação. Além do marido sonhador, com planos nada factíveis, ela hospeda a irmã Sonia e seu filho, fugidos de um marido drogado e truculento. A casa deles está caindo aos pedaços, mas não podemos deixar de achar graça quando a porta quebra e eles optam por entrar e sair pela janela da sala. O dinheiro para emancipar o rapaz de 17 anos é muito para eles e a burocracia grande. Vemos o olhar de felicidade de Irene, quando alguns obstáculos parecem impedir a ida do jovem para a Alemanha. A mãe trabalha tanto que muitas vezes tem crises de exaustão e uma delas a leva para o chão da cozinha, sem forças para reagir. Não é só o trabalho físico que a tenta derrubar, mas principalmente a responsabilidade de cuidar de tantas pessoas. O amor, confiança e compaixão delas fazem com que sigam em frente e não há cenas piegas ou desagradáveis para mostrar todo sofrimento. Ótimo roteiro, muito sólido, atuações do elenco fora da média e a  direção de Pizzi fazem com que nos encantemos verdadeiramente pelo longa. Absolutamente imperdível. Abriu o festival Sundance de cinema.


HOTEL ARTEMIS DE DREW PEARCE




ESTADOS UNIDOS, REINO UNIDO, 2018, 93 MIN., SUSPENSE.


ELENCO:
JODIE FOSTER – JEAN THOMAS
SOFIA BOUTELLA - NICE
DAVE BATISTA – EVEREST
STERLING K. BROWN – WAIKIKI

Protagonizado pela ótima Jodie Foster bastante envelhecida pela maquiagem, este longa de ficção científica passa-se em um futuro não tão distante. O diretor inglês escolheu Los Angeles como cenário. Quando um criminoso perigoso é ferido não pode ir a um hospital qualquer, então temos o Hotel Artemis, chefiado pela competente Nurse Jean Thomas, uma ex-médica alcoólatra. O local fica em um edifício decadente, mas com equipamentos de ponta da época. O filme começa com uma rebelião na cidade de Los Angeles por falta de água. A cidade encontra-se destruída e incendiada com os cidadãos clamando por água. Justamente nesse tumulto, uma quadrilha resolve assaltar o cofre de um banco, mas o roubo não dá certo e um deles fica gravemente ferido. É quando conhecemos o famoso Hotel Artemis. Lá só entram bandidos de alta periculosidade e que pagam mensalidades pontualmente. O homem ferido precisa de um transplante de fígado e ele é imediatamente processado em um computador em terceira dimensão! Todos os comandos são feitos pela voz e os medicamentos curam quase que instantaneamente os feridos e doentes. Jean Thomas, já uma senhora, tem um ajudante fiel e fortíssimo, Everest, que faz um trabalho e tanto. Jean tem um trauma em sua vida que a levou a esse lugar onde, longe das ruas, se sente segura e útil. Uma bela jovem francesa também está lá internada, mas seu objetivo secreto é matar o chefão do crime na cidade. Esse Hotel tem regras rígidas e os fatos vão se sucedendo em ritmo de suspense e deixe-se levar por eles, pois a diversão fica maior. Com competente elenco é divertido para o gênero. Bom filme, distração garantida.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

FERRUGEM DE ALY MURITIBA





FERRUGEM
BRASIL, 2018, 105 MIN., DRAMA.

ELENCO:
TIFFANY DOPKE - TATI
GIOVANNI DI LORENZI – RENET
ENRIQUE DÍAZ – DAVI, PAI DE RENET
CLARISSA KISTE - MÃE
SPOILER

O argumento do filme é bem atual, bullying virtual de assuntos pessoais que podem desmontar a vida de uma pessoa.  O tema foi baseado na experiência de Aly como professor de ensino médio. Aqui, o sensível diretor baiano, radicado em Curitiba, foca uma jovem de seus 16 anos, Tati, estudante de uma escola aristocrática, porém moderna. Ela tinha um relacionamento forte com um antigo namorado. Ambos estudam no mesmo lugar. Algum tempo depois, ela se interessa por outro rapaz do colégio. Uma “paquera” começa entre eles e obviamente o celular está sempre presente nisso. Quando vão visitar um aquário ela mexe no aparelho e há um vídeo que não quer que ele veja. Coisa pessoal e boba, diz. Durante um passeio à noite, Tati perde o celular e todos os outros amigos começam a procurá-lo, em vão. Desesperada teme pelo vídeo que não havia apagado, mas seu ex-namorado sim. Durante os dias que se seguem sua vida vira de cabeça para baixo. A escola toda sabia do que se tratava e resolve hostilizá-la com risadas e piadas. Suas amigas lhe dão suporte afetivo, mas o medo é que seus pais venham a descobrir o ocorrido. Temerosa não dormia à noite, planejando algo para sair dessa enrascada sem saída para uma menina ainda imatura. O colégio reage obrigando todos os alunos a deixarem seus celulares na porta da escola, com dois empregados, a fim de por um fim ao drama da menina. Estando na fila é reconhecida pelo funcionário que lhe dá um risinho malicioso. O “riso” foi o gatilho para concretizar seus planos. Em um corredor vazio, na frente da câmera de segurança da escola, pega uma arma do pai e faz o que segundo ela deveria ser feito. Uma grande tragédia. Essa é a primeira parte do filme e o título Ferrugem, segundo Aly, é a corrosão interna da vida e da personalidade de Tati. Na segunda parte, o professor de biologia, pai do rapaz que estava com ela no dia do desparecimento do celular, está na praia com os filhos. É uma família disfuncional e a mulher separada dele aparece repentinamente, desencadeando uma série de conflitos e reações do professor e seu filho. Com a presença dela o jovem vai mudando seu comportamento e as coisas começam a  ser esclarecidas. Os fatos são fortes e suas consequências também. Além do Festival de Gramado, o longa fez estreia mundial de cinema independente em Sundance. Imperdível pela força do roteiro, atuação dos atores, fotografia e mensagem importantíssima que é transmitida.


sábado, 8 de setembro de 2018

AS HERDEIRAS DE MARCELO MARTINESSE




LAS HEREDERAS, PARAGUAI, ALEMANHA, 2018, 98 MIN., DRAMA.

ELENCO:
ANA BRUN – CHELA
MARGARITA IRÚN – CHIQUITA
ANA IVANOVA – ANGY

Este filme venceu três categorias no Festival de Berlim e foi premiado como o melhor longa estrangeiro no Festival de Gramado. Um drama sensível, abrangendo totalmente o universo feminino com suas questões e turbulências. Duas mulheres lésbicas (isso fica bem sutil) na casa do sessenta anos sobrevivem na bela mansão de Chela, vendendo os bens de sua casa para se manterem. Os compradores querem tudo, até as orquídeas da casa, causando um grande mal estar a Chela, que procura permanecer fora das negociações feitas por Chiquita e depois uma empregada doméstica. Ela possui o carro de seu pai, um belíssimo Mercedes que também está à venda. Chela está em crise profunda de depressão não saindo sequer da cama, enquanto Chiquita toma conta de tudo, dirigindo a casa com firmeza. Quando Chiquita é presa por não pagar suas dívidas que eram muitas, Chela é obrigada a tomar conta de si e da casa, com a ajuda de uma serviçal contratada por sua amante. Uma vizinha rica e bem idosa gosta de jogar cartas com suas amigas e decide procurar os serviços de Chela, pedindo que a leve de carro até o local. Isso desperta a atenção das outras senhoras e de Angy, mulher mais jovem, decidindo usar seus serviços. Constrangida a princípio, é estimulada por sua vizinha a cobrar como um táxi. Algum dinheiro extra vai entrando e ela ressurge como uma pessoa calma, paciente que agrada a todos. Sua vida muda completamente, além de se interessar por Angy, que também pede seus favores com o carro. Torna-se outra pessoa, mais confiante e decidida. Com o tempo Chiquita sai da prisão para desconforto total de sua companheira, arranjando um comprador para o Mercedes. O final é muito interessante e reconfortante. Belo filme sobre mulheres idosas, de meia idade e mais jovens, com suas angustias e paixões que as afligem ainda nos dias de hoje. Ana Brun está excelente em seu papel, impecável. Apesar de o diretor ser homem, conhece bem o universo feminino. O longa também pode ser visto como a história do país. Recomendadíssimo para quem gosta do tema.