segunda-feira, 27 de junho de 2011

POTICHE – A ESPOSA TROFÉU DE FRANÇOIS OZON










POTICHE, FRANÇA/2010, 103 MIN.
ELENCO:
CATHERINE DENEUVE – SUZANNE PUJOL
FABRICE LUCHINI – ROBERT PUJOL
GÉRARD DEPARDIEU – LIDER SINDICAL – BABIN

Essa ótima farsa plastificada, dirigida pelo talentoso, jovem e eclético diretor francês François Ozon, baseada em uma peça de teatro com grande sucesso na França - Potiche de Barillet e Grédy- vem ilustrar o comportamento da década de setenta, quando era visível o movimento de emancipação feminina. A quase setentona, bela e talentosa Catherine Deneuve, no papel de uma mulher aparentemente resignada à vida familiar, descende de uma família riquíssima que possuía uma fábrica de guarda-chuvas no interior da França. Fora iniciada por seu avô e desenvolvida pelo pai, que era amado pelos funcionários por sua elegância e diligência como patrão. Suzannne, contudo, deixa para o marido, o rústico Robert Pujol (ótimo no papel), o comando da fábrica que vai mal. A primeira cena nos mostra a essência da década: vem uma Susanne saltitante vestida com um abrigo vermelho, colado ao corpo, com bobs na cabeça e um lencinho transparente cobrindo-os. Observa os pássaros, os bichinhos e anota tudo em um caderninho que tem sempre à mão. Mal amada pelo marido é ótima esposa e mãe de um casal de filhos já adultos. Robert Pujol, que trai a mulher descaradamente, sofre um infarto pelo mau humor e pelo fato de ter sido sequestrado pelos operários que entraram em greve reivindicando melhores salários e condições de trabalho. Sem pestanejar ela será a nova presidente, enquanto seu marido se recupera. Elegantíssima ao extremo de perua, chega à fabrica e, lembrando de seu pai, trata os funcionários com fidalguia, desarmando-os e atendendo a seus pedidos. Leva consigo seus filhos para ajudá-la. O trio se sai muitíssimo bem e os negócios vão de vento em popa. Nesse ínterim, a nova presidente é obrigada a conversar com o prefeito-deputado e líder sindical, o ótimo Gerard Depardieu. Babin e ela haviam tido um caso romântico quando eram jovens e isso aguça o desejo entre eles, mas é logo descartado quando ele passa a saber que Catherine continuava a ser uma espécie de Bela da Tarde, filme em que brilhou no papel de uma adultera. Agora inimigos, têm que dar sequência ao próprio trabalho. Seu desempenho na fábrica é tão bom, que o filho infeliz resolve sair do armário e ter uma vida mais normal. Contudo o desenrolar da comédia vai a tal ponto que ela se vê obrigada a renunciar da direção, devolvendo-a ao marido, e partir para uma carreira solo, na política. Os dois geniais atores serão confrontados. Comédia inteligente e leve cutuca os adversários da política francesa contemporânea nas últimas eleições e homenageia a independência feminina em todos os aspectos. Programa muito divertido e atual. Ia me esquecendo, o filme também é quase um musical.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

MEIA –NOITE EM PARIS DE WOODY ALLEN
















MIDNIGHT IN PARIS, ESTADOS UNIDOS, /ESPANHA/FRANÇA, 2011
ELENCO:
OWEN WILSON – GIL
RACHEL MCADAMS
MARION COTILLAND
MICHAEL SHEEN
KATHY BATES

Esse é um dos melhores filmes de Wood Allen, nesta sua temporada fora de New York. Ele se revela um sonhador e admirador do passado: com a música, literatura e pintura estancadas até os anos 1940. A trilha sonora, belíssima, é da época do blues e jazz com músicas do gênio Cole Porter. Tudo corre perfeitamente bem durante as encenações e temos sempre um leve sorriso no rosto de bem estar e alegria. Gil, Owen Wilson, como o mais perfeito alter ego de Allen, vai para Paris com sua noiva pretensiosa, Inez, (papel de Rachel McAdams) e seus insuportáveis pais. Viajante do tempo, Gil é um roteirista de sucesso em Hollywood, porém seu sonho é tornar-se um romancista vivendo em Paris. Inez não quer nem pensar em morar na cidade. Contudo ele desejaria escrever na companhia de Scott Fitzgerald, sua mulher Zelda, Ernest Hemingway e a excelente Gertrude Stein, papel de Kathy Bates. Conhecer Picasso e Dali era também um sonho. À meia-noite, em um dado momento de saudades do passado que não viveu, chove mansinho e chega um carro antigo, com passageiros bebendo champanhe e eles o convidam para uma noitada em Paris. Para seu encantamento eram os personagens literários que mais apreciava, passando a interagir com eles por dias seguidos. Estimulado pelo másculo Hemingway, chega mesmo a mostrar sua novela para Gertrude Stein que gosta do romance e lhe dá dicas fantásticas de como aperfeiçoá-lo. Não há uma explicação de como isso ocorre como em um conto de fadas. Simplesmente ele está nessa época e tem noção de sua viagem ao passado. Apaixona-se pela estonteante Adriana (Marion Cotilland), entretanto ela está envolvida com um passado ainda mais longínquo, os anos de 1890. Odiava os anos 1920, por serem fúteis, e fica em sua era predileta. Essa é uma fantasia romântica leve, genial e Allen nos ensina a percorrer o tempo que se desejar. Gil, transitando entre os dois períodos, acaba ficando em seu presente com um muito bem equalizado final feliz. Ótimo programa!!!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

MINHAS TARDES COM MARGUERITTE de JEAN BECKER









La Tetê en Friche FRANÇA/2010 81 minutos
ELENCO:
GÉRARD DEPARDIE - GERMAIN
GISÈLE CASADESUS – MARGUERITTE
PATRICK BOUCHITEY

Esse saboroso filme estrelado por Gérard Depardie e Gisèle Casadesus fala de uma história de amor, desses que duram até a morte de um deles. Trata-se de um afeição em que não dizem “eu te amo”, mas sabem que se amam intensamente, como diz o protagonista. É um romance raro entre um homem na casa dos cinquenta anos com uma mulher de 95, bela e frágil. Ele é uma pessoa rústica, vagarosa que fala palavrões, é analfabeto funcional e vive com a mãe idosa e esclerosada. Ela é cientista, culta, devoradora de livros e bastante solitária, vivendo em um lar para idosos. O primeiro encontro entre eles ocorre na pequena cidade onde vivem, em uma minúscula praça de um só banco, enquanto ele conta os pombos que são seus amigos e ela lê a Peste de Albert Camus. É um amor a primeira vista. Germain encanta-se com sua admirável e frágil figura, com uma mente poderosa e repleta de palavras que davam mais sentido à vida; e Margueritte se sente atraída por sua sensibilidade e bondade. Iniciam uma “amizade premiada” em que ambos ganham com ela. A senhora lê trechos de livros clássicos e ele os interpreta muito bem, com seu senso de imaginação totalmente realista, sem abstrações. Percebendo que é dono de uma memória auditiva notável, Margueritte insiste que prossigam nas leituras, com trechos selecionados de diversos escritores. Aos poucos Germain vai se transformando em outro homem, mais falante e seguro uma vez que passa a possuir um vocabulário bem mais extenso e sofisticado, surpreendendo seus amigos mais íntimos e a bela jovem que é sua namorada. Na infância Germain nunca foi amado pela mãe, uma espécie de vadia, e por ninguém mais, pois fora vítima de bullying na escola e dentro de casa. O diretor usa flash-backs para melhor explorar essa visão do protagonista, sempre comparando o presente com seu passado. Ao perder a mãe descobre que, sim, fora amado. Ela deixara a casa em que moravam como locatários, comprada sem que soubesse, e uma caixa de lata que falava sobre sua primeira infância. O final, evidentemente é feliz, depois de algumas alterações na vida de Margueritte. Desse modo você sai do cinema andando nas nuvens de felicidade, contrariando o intento da maioria dos filmes presentes, exibidos nas diversas salas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

NAMORADOS PARA SEMPRE DE DEREK CIANFRANCE







BLUE VALENTINE, EUA, 2010, DRAMA 112 MIN.
ELENCO:
Michelle Williams – Cindy
Ryan Gosling – Dean
Faith Wladyka – Frankie

Esse é um drama pesado, que desenha as famílias modernas constituídas por casais ainda muito jovens, sem qualquer preparo para as responsabilidades de um casamento. É estrelado pela dupla Michelle e Ryan, talentosíssimos. Michelle Williams foi indicada duas vezes para Oscar de melhor atriz, inclusive nesse filme, e ganhadora de outros prêmios. A trama começa com Dean segurando sua filhinha, Frankie, no colo que procurava por sua cadela desaparecida. Seu pai é carinhoso e ela o ama verdadeiramente. Depois temos diversos flashbacks, que nos ajudam a entender o enredo até certo ponto complicado. Derek Cianfrance escreve com Cami Delavigne a história de dois quase adolescentes, que se encontram, por acaso, quando Cindy vai visitar a avó em uma casa de repouso. Foi amor à primeira vista. Ambos pertencem à classe média. Dean, muito inteligente, é músico e compositor, mas no momento trabalha como pintor de paredes. Vem de uma família desestruturada e por essa razão não quer casar-se ou ter filhos, pois não terminara sequer o colegial por achar as aulas desinteressantes. Cindy é enfermeira e fora ótima aluna, pretendo ser médica. Após uma grande paixão, Cindy percebe que está grávida e tenta fazer um aborto. O filme é didático nesse sentido, pois retrata a vida sexual dos adolescentes americanos. Depois de ela desistir do ato, Dean muda de opinião, aceitando casar com a namorada mesmo não sabendo se era realmente o pai do bebê. Sem maturidade o casal vai caminhando para um desgaste afetivo muito grande. Contudo Dean ama sua família, apesar de não se esforçar em ajudar a mantê-la, pois a falta de perspectivas é seu objeto, contanto que viva bem o presente momento. Cindy vê-se sobrecarregada para conduzir financeiramente a família e está totalmente desgastada com o relacionamento, que vê-se que acaba um pouco a cada problema. Ela também teve um péssimo exemplo familiar, pois seus pais não mais se amam e vivem em constantes altercações. Todos esses problemas, tão verdadeiros na atualidade, acabam por minar essa relação. Ótimas interpretações dos três protagonistas, incluindo a menina Frankie de quatro anos. Resumindo, um drama que reproduz uma realidade bem triste e pesada. Belo programa, com excelente direção e roteiro.