sábado, 31 de outubro de 2015

DHEEPAN - O REFÚGIO DE JACQUES AUDIARD

DHEEPAN, FRANÇA, 2015, 109 MIN., DRAMA
ELENCO:
JESUTHASAN ANTONYTHASAN – DHEEPAN
KALIEASWAR I  SRINIVASAN – YALINI
CLAUDINE VINASITHAMBY – ILLAYALL

Este é mais um filme espetacular do diretor Jacques Audiard que fala de temas profundos como seu ótimo Ferrugem e Osso. Agora o tópico é bem atual, pois trata de um impactante registro dos refugiados do Sri Lanka para seu país, com críticas à França pela forma como acolhe seus imigrantes. O drama discorre com grande força a necessidade de pertencimento e posse de uma família por parte dos personagens, que deixaram tudo para trás, a maioria da vezes parentes mortos. Começamos vendo uma bela paisagem de algum país tropical desértico, com areia branca e várias palmeiras e tamareiras mexendo ao vento e uma enorme cabeça de elefante típico dessas regiões. Quando a imagem chega mais perto, vemos que se trata de um grupo de soldados cremando seus amigos e uniformes, pois a guerra civil no Sri Lanka chegara ao fim e esses guerrilheiros teriam de retomar a vida civil. Um deles, Dheepan, resolve ir para a França e começar vida nova. Ao mesmo tempo a jovem de 26 anos Yalini está vagando pelo campo de refugiados, a fim de encontrar uma criança que pudesse passar por sua filha e seguir para a Inglaterra, onde tinha uma prima. Na fila de embarque do navio encontram Dheepan, o qual aconselha que se juntem a ele e formem uma família fictícia, pois seria mais fácil a imigração. Temos então o clima perfeito, três estranhos que nunca haviam se encontrado e agora são pai, mãe e filha de nove anos. Durante o desembarque no porto da França, inventam uma história e são aceitos, com passaportes falsos, e enviados ao subúrbio decrépito de Le Pré-Saint-Gervais. Aí, Dheepan consegue emprego como zelador de quatro prédios em um conjunto habitacional. No minúsculo apartamento a “família” se instala, mas a menina sente mais afinidade pelo falso pai do que pela fria e amargurada Yalini. Habilidoso e experiente vai conquistando a confiança das pessoas e deixando a área mais limpa e conservada. Yalini consegue trabalhar como faxineira no Bloco D, onde ficavam bandidos e traficantes de drogas. Ela cuidará de um homem com visíveis sinais de problemas cerebrais causados por uma colisão entre traficantes. A menina, muito inteligente, vai para a escola e logo passa a ensinar francês para os “pais”. Esse arranjo agrada os três, pois eram carentes de afeto e aos poucos uma intimidade vai nascendo entre eles. Ocorre que um dia o chefe de uma facção rival chega e desestabiliza a área, causando grande violência e troca de tiros. Durante a mais cruel delas, no Bloco D, enquanto o jovem chefe desabafa a Yalini que seu pai estava morto, seu tio que ela cuidava, quase morto, e que ele também seria assassinado, há um intenso tiroteio que elimina os dois bandidos e deixa Yalini completamente descontrolada. Pedindo ajuda ao parceiro, Dheepan também entra em estado de choque, revive seus momentos de guerra, incorporando seu antigo papel, massacrando o que tem pela frente até chegar a ela, quando precisa ser tirado a força de seu estado quase hipnótico. Com essa narração final a flor da pele, nos sensibilizamos com a sina desses refugiados, alijados de tudo e traumatizados pelas guerras em seus países. O filme foi vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano. Imperdível! O ator principal, além de excelente, é também escritor. As atuações das duas atrizes são igualmente impressionantes. Imperdível!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

SICARIO: TERRA DE NINGUÉM DE DENIS VILLENEUVE



SICARIO, EUA, AUSTRÁLIA, 2015, 121 MIN., SUSPENSE

ELENCO:

EMILY BLUNT – KATE MACER

JOSH BROLIN – MATT GRAVER

BENICIO DEL TORO – ALEJANDRO

KATE MACY –

Esse filme dirigido pelo ótimo Denis Villeneuve foi indicado para a Palma de Ouro em Cannes. Sicario significa desde os tempos romanos, assassinos de aluguel. Trata-se de uma envolvente história que tem Phoenix, nos Estados Unidos e Juárez, no México, como palco da trama a cerca de contrabando pesado de drogas entre esses países. Começa com a agente líder de uma equipe do FBI, Kate (exímia atiradora), que atua em sequestros. Durante a operação de resgate dos reféns, descobrem vários corpos emparedados na casa. Uma cena dantesca, já no início da película. A partir dessa revelação ela é escolhida para integrar uma equipe junto a uma força-tarefa, a fim de desbaratar o chefe principal do tráfico de drogas, que tem um parceiro morando nas proximidades. Calculam que pegando a principal cabeça em Juárez, México, a quadrilha não mais se sustentaria. Veremos, durante o desenrolar do filme, o amadurecimento e mudança de comportamento dessa jovem advogada, que tem sua vida pautada pela honestidade e por fazer tudo estritamente dentro da lei. Para começar ela terá de optar em ser voluntária, pois os outros também são, e agem de acordo com as necessidades do momento e não com um plano traçado. O ambiente é o mais caótico e machista possível, sendo deixada sem informações a maioria das vezes. Ótima atiradora terá de seguir seus companheiros atuais nas mais incríveis e audaciosas situações. Estão à procura de um túnel, por onde passam as drogas e os chefões, que era a antiga rota dos emigrantes ilegais que chegavam aos Estados Unidos. Para descobrirem o local não poupam atitudes extremas de violência e desrespeito aos direitos humanos. Ela se rebela várias vezes, mas se vê forçada a trilhar a estrada desses homens brutais. Com perícia conseguem descobrir o exato local e a moradia suntuosa do chefão. Seu parceiro passa a ser o ótimo Benicio Del Toro, na pele de um agente que joga dos dois lados, com o intuito de vingar as mortes brutais de sua mulher e sua filha que foram vítimas do cartel mexicano. Kate, nas cenas finais, terá de extrapolar todos os seus limites éticos para que a missão seja concluída. Bom roteiro, boas interpretações que não deixam você tirar os olhos da tela. 

 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015





PONTE DOS ESPIÕES DE STEVEN SPIELBERG
BRIDGE OF SPIES, EUA, 2015, 141 MIN., DRAMA
ELENCO:
TOM HANKS – JAMES BRITT DONOVAN (JIM)
MARK RYLANCE – RUDOLF IVANOVICH ABEL
Quando acabei de ver esse importante filme do talentoso Steven Spielberg, tive a impressão de que havia assistido a uma das melhores propagandas políticas dos Estados Unidos. Contudo não foi bem assim, pois a história, inspirada em fatos reais, e protagonizada pelo formidável Tom Hanks é um drama e um suspense de tirar o fôlego. Ambientado em 1957, durante a Guerra Fria, um famoso advogado, James Donovan, é recrutado em seu escritório pelo governo a fim de defender um espião russo (ótimo Mark Rylance), que acabara de ser preso. Seria condenado culpado, indo parar na cadeira elétrica, mas o país, alma da liberdade e igualdade para todos, precisava de um julgamento, mesmo que de fachada para punir o inimigo, em uma época em que os comunistas eram execrados por todos. Ocorre que Donovan é um personagem muito forte, que exala honestidade e confiança no que faz e não agrada o juiz, pois intui que se Abel fosse somente para a cadeia poderia criar um precedente importante, caso algum americano também fosse preso, assim poderiam ser trocados e não simplesmente executados. Um laço de confiança une advogado e cliente para horror da população, que o queria fora do jogo definitivamente. Os americanos desenvolveram, na mesma época, uns aviões que voariam em altíssima altitude, com câmaras fotográficas superpotentes para fotografar o lado russo. Os pilotos são escolhidos e enviados para a missão, mas não teriam proteção do país, tratava-se de espionagem. A Alemanha estava em plena ebulição, com a divisão de Berlim e duas partes e com uma política complexa. O muro estava sendo construído para que ninguém mais tivesse acesso a Berlim livre. Um estudante é pego na tentativa de atravessá-lo e é levado para a cadeia. Nesse ínterim, um dos jovens pilotos é abatido no ar e cai de paraquedas na Berlim oriental. Ambos estão presos e sem esperanças. O governo americano decide que Donavan irá até a Alemanha, a fim de resolver esse impasse, já que se mostrara um ótimo negociador nesse caso e em outros anteriores. Isso tudo regado do maior sigilo, nem a família poderia saber de sua missão. O roteiro mostra-se envolvente favorecendo não a ação de guerra, mas a disputa diplomática e táticas de inteligência. É inverno, a temperatura baixíssima e neva sem parar, mas os presos estão em situação extremamente preocupante, tanto do lado físico como psicológico. A decisão de troca tem várias reviravoltas que vão sendo contornadas por Donavan e finalmente chega-se a um acordo: o capitão russo pelo jovem estudante e pelo aviador. Dois contra um não é um número fácil para os comunistas e as negociações vão longe. Finalmente, em uma ponte, eles seriam trocados, mas não juntos, em momentos diferentes que irão arrancar surpresas do público. Apesar da patriotada é um filme imperdível, pelas atuações, ambientações e desempenho de Tom Hanks, que como o vinho, quanto mais velho vai ficando, fica ainda melhor. Ótima história da Guerra Fria, escolhida entre tantas outras e roteirizada pelos ótimos irmãos Cohen.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

BREATHE OU RESPIRE DE MÉLANIE LAURENT




BREATHE, FRANÇA, 2014, 91 MIN., DRAMA.
ELENCO:
LOU DE LAAGE – SARAH
JOSÉPHINE JAPY – CHARLIE
CAROLE FRANCK – MÃE DE SARAH
Baseado na novela de mesmo nome de Anne Sophie Brasma e muito bem dirigido por Mélanie Laurent foi exibido em 2014 no Festival de Cannes e no Contemporary World Cinema em Toronto, recebendo ao todo cinco nominações. A diretora entra profundamente no mundo sensível e às vezes amargo do fim da adolescência. Trata-se de um drama íntimo sobre a amizade obsessiva entre duas garotas muito diferentes. Charlie, pacata e um pouco tímida,  tem dois melhores amigos, sentindo-se feliz, apesar do relacionamento conturbado entre os pais, pois sua mãe o ama muito e perdoa qualquer falta dele, para irritação da filha. Sarah, esfuziante e muito sedutora, começa a estudar na classe de Charlie e logo se enturma com todos e passa a ser sua a melhor amiga. Sarah também tem um lar disfuncional que esconde e conta histórias interessantes e picantes sobre sua vida, tornando-se ainda mais atraente para os colegas. Durante um feriado, Charlie segue com a amiga e sua mãe para um acampamento, quando passa a perceber que ela mente compulsivamente. Todavia já está muito envolvida e obcecada por ela, física e amorosamente. A garota passa a fazer bullying com Charlie, principalmente na escola. Seus colegas e amigos não se conformam com a atitude passiva da garota. Como a mãe, não reage por amor, até que uma noite as duas sozinhas em casa passam a discutir a relação. Charlie é humilhada ao máximo, reagindo desta vez. O desfecho é totalmente inesperado. Um filme de tomadas longas, sem muitos diálogos além do necessário e com um final completamente avassalador. Ótimo longa com atuações maravilhosas e competente direção. Um filme intimista. Imperdível para quem gosta do gênero.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

VIVER É FÁCIL COM OS OLHOS FECHADOS DE DAVID TRUEBA




VIVIR ES FÁCIL COM LOS OJOS CERRADOS, ESPANHA, 2013, 108 MIN.
ELENCO:
JAVAIER CÁMARA – ANTONIO
NATÁLIA DE MOLINA – BELÉN
FRANCESC COLOMER – JUANJO
O longa foi escolhido pela Espanha para concorrer ao Oscar de 2015 como melhor filme estrangeiro, não levou nada, mas ganhou o Goya, no próprio país, considerado o Oscar espanhol. Foi premiado como melhor longa-metragem, roteiro, direção, ator (Javier Cámara), atriz revelação (Natália de Molina) e, finalmente, trilha sonora. Inspirado em um personagem real, o filme, ambientado em 1966, conta a história de Antonio San Román. Ele, um  homem gordinho, quase calvo, usa óculos e dá aulas de inglês em uma escola jesuíta de Albacete, ensinado o idioma baseando-se em músicas dos Beatles, de quem é grande fã. John Lennon está rodando um filme em Almería e o que mais deseja é encontrá-lo. Usando um carro velho de sua família, pega dois adolescentes como caronas, pois gosta de jovens dessa idade com quem trabalha e cai na estrada. Ela está grávida de três meses e o garoto brigou com o pai contumaz e violento. Logo nas primeiras cenas, já vemos as bofetadas que levam no seu dia a dia. Terrível. Bondoso, com grande coração e ciente que chegara a hora dos espanhóis pararem de ter medo do regime ditatorial do país, comandado pelo general Franco, torna-se uma ótima influência para essa dupla de garotos com famílias disfuncionais. Ocorre que ver Lennon, que agora pensava em ser ator e largar a banda, não será nada fácil. Hospedados em um hotel caindo aos pedaços e com o dono também acostumado à violência, educando sozinho um filho da idade dos dois garotos, com paralisia cerebral, condói-se deles e resolve ajudá-los. Almería é um vilarejo há alguns quilómetros do local, mas existe um forte esquema de segurança para que a equipe do filme, Como Eu Ganhei a Guerra, não seja importunada. O carro velho e as mazelas dos meninos não impedirão que continuem tentando. Sabendo que partes do filme eram exibidas em um cinema da região, conseguem entrar no local e Antonio deixa um bilhete para um dos diretores que deveria ser entregue ao pop star. Voltando no dia seguinte aos trancos e barrancos, Antonio descobre que John Lennon o receberia em seu trailer. Com muito trabalho no set, Belén consegue um bico como cabeleireira e todos se enturmam muito bem. A ocasião fora importantíssima para Antonio, que grava, em seu gravador caseiro, a nova canção composta pelo cantor, Strawberry Fields Forever. Um dos versos é exatamente o título do filme, Living is easy with eyes closed. Imperdível, esse singelo filme que mais parece uma fábula sobre o Bem. Nos créditos finais ficamos sabendo que a partir desse momento, as letras das músicas dos Beatles sempre seriam inseridas nos discos. Essa era a maior dificuldade de Antonio, que não conseguia traduzir tudo para seus alunos.