quinta-feira, 28 de novembro de 2013

UM FINAL DE SEMANA EM HYDE PARK DE ROGER MICHELL

HYDE PARK ON HUDSON, REINO UNIDO/2007, 98 MIN. COMÉDIA HISTÓRICA
ELENCO:
BILL MURRAY – FRANKLIN D. ROOSEVELT
LAURA LINNEY – MARGARET “DAISY” SUCKLEY
SAMUEL WEST –REI GEORGE VI
OLIVIA COLMANA – RAINHA ELIZABETH
OLIVIA WILLIANS – ELEANOR ROOSEVELT
Esta ótima comédia histórica enfoca uma prima de sexto grau do presidente americano Franklin Roosevelt, que morando na mesma cidade que sua mãe, no campo, onde tinha uma casa, acaba sendo sua confidente e a pessoa mais próxima dele por um longo tempo.  Esse trabalho foi baseado em seus diários e recortes pessoais, encontrado quando ela já estava morta. Foi feito também, pela BBC, uma novela radiofônica. Daisy, como era chamada, morava com a tia perto da casa de campo da mãe de Franklin Roosevelt, um casarão grande, desconfortável e um tanto feioso. Em 1939, portanto no início da Segunda Guerra Mundial, é convidada por Sara Delano a visitar seu primo de sexto grau, que não via há anos. Ambos se apaixonam e passam a viver um amor bonito e delicado. Esforçando-se para não assustar Daisy, caminha com cuidado nessa conquista. Arrebatada por sua figura e charme cede às suas tentativas. Ocorre que nessa mesma época o rei George VI e sua esposa, rainha Elizabeth, decidem ir aos Estados Unidos por apenas um fim de semana, a fim de costurar uma aliança para a Inglaterra, que se encontrava em extremas dificuldades. Apesar do tema tão árido e triste, o diretor Roger Michell, focando nas conquistas amorosas do presidente, consegue um filme leve e divertido.  Daisy ficou  íntima da casa que ninguém mais notava sua presença tão assídua.  A preparação do casal real para essa viagem, pois seria a primeira vez que um rei visitaria sua ex-colônia, é muito divertida pelo temor da acomodação rústica da casa, pelas gafes frequentes, pela gagueira que o atemorizava e pelo fato de irem fazer um piquenique com cachorro-quente, delícia mais conhecida da época naqueles rincões. Nesse ínterim Franklin, que era paraplégico, faz vários passeios com seu carro adaptado com a linda Daisy, mostrando-lhe uma casa na colina que diz ter construído para ela quando ele se fosse. Sua esposa, Eleanor, é totalmente independente, muito inteligente e ativa, participando intensamente do programa de direitos humanos. Uma secretária, a eficiente Sara, também não o deixa sem ajuda. Então temos um presidente rodeado por mulheres especiais. Quando da chegada do casal real, tudo é bastante informal, destacando a simplicidade americana para uma vida sem protocolos. No dia do jantar, Daisy não participa, mas é convidada para o piquenique. Todos esses detalhes fazem do filme um espetáculo leve e muito interessante. Sobre a vida amorosa de F.D.R. aprenderemos bastante. Um filme imperdível para quem curte documentários e comédias bem feitas. Todos os detalhes do filme são verídicos, bem interpretados, o cenário perfeito e um diretor que não brinca em serviço, como os artistas ingleses, em sua grande maioria. Roger Michell nasceu em 5 de junho de 1956, na África do Sul, vivendo na Síria e Tchecoslováquia, pois seu pai era diplomata.  Ganhou vários prêmios importantes com outros filmes, tendo sido diretor de 007, por alguns anos. Nas fotos poderão comparar as tiradas na época com as atuais.  



segunda-feira, 18 de novembro de 2013

BLUE JASMINE DE WOODY ALLEN

BLUE JASMINE, EUA/2013, 98 MIN.
ELENCO:
KATE BLANCHETT – JASMINE
ALEC BALDWIN – MARIDO
SALLY HAWKINS – GINGER (IRMÃ)
PETER SARSGAARD

Este último trabalho de Woody Allen, quase aos oitenta anos, é realmente um filme genial. Diria uma tragicomédia, um tributo respeitoso a Streetcar Named Desire (Um bonde chamado desejo). Kate Blanchett é a alma do filme, na pele de uma milionária, uma princesa do Park Avenue, que levou um pontapé do marido contraventor, preso e suicida. O filme começa com essa elegantíssima mulher, voando em direção a São Francisco, o que por si só já é um declínio de casta social, na primeira classe de um avião. Conversa sem parar com a idosa passageira ao seu lado, que está em um misto de incredulidade e pavor com que ouve. Descendo do jato vai diretamente para a casa de sua irmã, Ginger, ambas adotadas, que tem um namorado mecânico e dois filhos endiabrados.  A gorjeta que dá ao taxista é grande, assim com sua bagagem de várias malas Louis Vuiton. Ginger não se conforma como uma mulher falida pode viajar de primeira classe. Mas para Jasmine, classe é classe. Woody Allen começa, a partir daí, com flashbacks para contar a vida anterior da irmã falida. Era casada com um milionário fraudulento, que além de acabar com o dinheiro deles e de amigos, acabara com os únicos duzentos mil dólares de Ginger, prêmio ganho em um sorteio. A confusão no pequeno apartamento em São Francisco é previsível, já que se trata de pessoas de outro mundo e educação. Alcoólatra, ela está sempre com um drinque muito forte em mãos, tomando calmantes (típico de Allen) e à beira de um ataque de nervos, se é que já não passou dessa linha. Continua falando sozinha no meio da rua e é obrigada a trabalhar com um dentista sebento. Depois de algumas complicações e vários trechos de sua vida de princesa, a pobre Jasmine, que não tirava seu casaquinho Chanel branco do corpo e nem os sapatos e bolsas caríssimas, como se fossem uma armadura contra qualquer eventualidade, acha-se totalmente deslocada. No desenrolar do filme parece que ambas se darão bem, mas somente a fresca e realista Ginger consegue dar um rumo em sua modesta vida. Allen escolhe um destino bem mais cruel para a heroína, que não passava de uma mulher com vista grossa para a desonestidade do marido, a fim de manter uma vida invejável em New York. Creio ser essa a mensagem do filme, não olhar ou saber de nada, desde que estejamos no time que está ganhando. Kate Blanchett dá grande humanidade a seu personagem, pois acabamos nos compadecendo com seu sofrimento. Blue Moon é a música tema.

domingo, 10 de novembro de 2013

CAPITÃO PHILLIPS DE PAUL GREENGRASS

CAPTAIN PHILLIPS, EUA/2013, 134 MIN. DOCUDRAMA
ELENCO:
TOM HANKS – CAPITÃO PHILLIPS
BARHAD ABDI – MUSE, O MAGRO
FAYSAL AHMED – NAJEE
MAHAT M. ALI - ELMI
CATHERINE KEENER – ESPOSA DO CAPITÃO

Esse espetacular docudrama dirigido pelo inglês Greengrass é um dos melhores filmes do ano.  Seu pai era da marinha mercante e seu irmão é historiador. Somando todos esses fatos e ao seu sucesso em Voo United 93 e  A Supremacia Bourne temos, agora, um filme arrepiante e revelador do estado em que se encontra a Somália, depois de anos de guerra civil e domínio de corruptos que obrigam seus pescadores desnutridos a tornarem-se piratas ferozes, apesar da subnutrição, no ano de 2009. O que conta, aqui, é a sobrevivência, pois ao contrário seriam mortos em seu próprio país.  O filme começa com o capitão se preparando cuidadosamente para mais uma viagem perigosa à África, levando alimentos para esses povos, inclusive os somalis, por serem águas altamente pirateadas. Para alguns países prejudicados por acordos comerciais e por receberem esgoto dos grandes navios, tornaram-se paupérrimos, com os melhores trechos de suas águas exclusivas para pesca das nações ricas e ficando com peixes miúdos e sem valor. Philiphs sabe desses problemas e tenta manter um foco de precisão para evitá-los e, quando de sua partida em direção ao Chifre da África. Conversa com sua esposa sobre a família e a preocupação com um dos dois filhos que não queria estudar. Ao mesmo tempo vemos os magérrimos somalis tomando as mesmas decisões, porém em sentido contrário, pois queriam atacar um navio que viajasse sozinho, grande e com carga valiosa. No radar identificam o cargueiro Maersk Alabama e dois grupos de quatro  rapazes é escolhido para fazer a abordagem. Não levam comida, mas ervas para mascar e dar maior lucidez. Impensável pela disparidade de tamanho e tecnologia, os somalis armados de rifles AK-47 e nada mais, vão para cima do navio mercante, mas são obrigados a voltar, pois o motor de sua pequena embarcação de madeira falhara, mas não pensam em desistir, pois seria impensável voltar sem nada. No retorno o imprevisível acontece, dois jovens e um adolescente se aproximam do navio e conseguem desembarcar no convés, deixando a tripulação apavorada, uma vez que estavam desarmados. Escondendo-se na casa de máquinas, somente os três rapazes e o capitão com seu auxiliar irão começar a mais eletrizante mediação. O líder, o espetacular Barkhad Abdi, na pele de Muse, o Magro, sabe o que faz e exige o máximo de diplomacia do experiente capitão que poderia ser seu pai. São momentos longos e tensos, pois eles a princípio levam vantagem contando com a lei da sobrevivência e não ter nada a perder. Aos poucos o drama se intensifica de tal maneira que a Marinha dos Estados Unidos é forçada a entrar em ação. Fica a desproporção do navio e todo o auxílio dos americanos, por terra e ar e uma casquinha de nós cor de laranja, onde acabam ficando os jovens que levam como refém o capitão. Trechos de diálogos muito curtos, mas derradeiros são trocados entre esses 4  homens do mar. Muse se mostra destemido, inteligente e intrépido, afrontando o veterano Philiphs. Isso foi baseado no livro do próprio capitão “A Captain’s Duty”, onde narra essas cenas inesquecíveis. Abdi chegou aos Estados Unidos através do Iêmen, instalando-se em Minnesota, onde quer ser diretor de cinema. Arrastou consigo os outros astros negros do filme. Esse rapaz de 28 anos não fica nada a dever ao desempenho espetacular de Tom Hanks. O filme faz questão de mostrar a impossibilidade de progresso na Somália, ocorrido com acordos que inviabilizam a pesca ou outras atividades no país, além dos crimes altamente arriscados, fazendo com que uma enorme soma em dinheiro seja entregue para libertar as embarcações. Absolutamente imperdível e provavelmente irá lucrar vários prêmios em festivais internacionais.    

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

PEDALANDO COM MOLIÉRE DE PHILIPHE LE GUAY

ALCESTE À BICYCLETTE, FRANÇA, 2011, 104 MIN., COMÉDIA.
ELENCO:
FABRICE LUCHINI  - SERGE TANNEUR
LAMBERT  WILSON – GAUTHIER VALENCE
MAYA SANSA – FRANCESCA
Essa inteligente comédia francesa tem como pano de fundo a peça “O Misantropo” de Moliére, a qual é ensaiada por dois grandes atores e esse texto clássico importante penetra todo o filme, dando um toque de classe, sobre o que se espera da humanidade de uma maneira geral, tanto naquela época como hoje. A peça trata de diálogos entre dois amigos, Alceste, o filantropo do título, um homem exageradamente contra tudo e seu amigo Philinte, que tenta leva-lo à razão. O filme começa com um ator de televisão e cinema muito bem sucedido, Gauthier Valence, que deseja dirigir e atuar sua primeira peça de teatro como diretor. Pensa em Serge Tanneur, um grande ator que no final de sua carreira resolve largar tudo e ir morar em uma casa em Île de Ré, herdada de um tio. Tornara-se um eremita e, depois de seis anos, recebe a visita do amigo convidando-o a encenarem o texto de Moliére, considerado seu melhor trabalho. Serge imediatamente descarta a possibilidade, uma vez que considera o meio artístico um lugar horrível, onde só teve grandes decepções. Aos poucos Gauthier o convence de ao menos lerem o texto por quatro dias, para que ele pense melhor. O resultado é o esperado, pois Serge atira-se ao personagem Alceste de corpo e alma. Ocorre que esse personagem era também o preferido de Gauthier, mas bolam um plano em que eles se alternariam toda semana, dando oportunidade para que os dois o representassem. Serge é muito parecido com Alceste e o faz à perfeição, exigindo muito de seu amigo, a quem resolve zombar, criando uma verdadeira guerra de egos. Exemplo? Em uma fala em que Alceste está decepcionado com a qualidade dos homens ao seu redor e da humanidade, terá de responder: Sim, sinto um ódio “medonho” pela humanidade, mas Gauthier, menos purista, sempre usa outro adjetivo que não medonho, irritando profundamente o amigo. Entre esses ensaios conhecemos a ilha, uma bela mulher italiana que se envolve com eles e até uma jovem atriz pornô. Isso traz vida a Serge, mas diminui a qualidade da comédia. Tudo acertado, só falta avisar seu agente em Paris para que dê prosseguimento ao espetáculo. No terço final do filme há uma reviravolta muito interessante e o desfecho será bastante curioso, no mínimo. Diálogos rápidos e inteligentes permeiam esse filme com cenas bastante densas tiradas da peça. Belo trabalho do diretor e ótimo desempenho dos artistas, com um roteiro interessante e mais crítico do que das comédias atuais. O filme Aventuras de Moliére, 2007, já havia sido representado por Fabrice Luchini o que facilitou o seu desempenho e o ajudou na manipulação do roteiro, junto ao diretor.


O MORDOMO DA CASA BRANCA DE LEE DANIELS

THE BUTTLER, EUA/2013, 132 MIN., DRAMA
ELENCO:
FOREST WITAKER – CECIL GAINES
OPRAH WINFREY – SRA. GAINES
CUBA GOODING JR.

Esse drama aborda a luta pelos direitos civis dos negros em uma América fortemente racista dos tempos de Eisenhower e notadamente nos anos 50 e 60, quando eles determinam que já havia passado do tempo para que fossem considerados verdadeiros cidadãos americanos. O filme tem como pano de fundo um mordomo, inspirado em Eugene Allen, que no ano de 2008 recebeu do The Washington Post um magnífico artigo. O trabalho todo tem a visão negra da América e é bastante tenso. Cecil Gaines nascera no Sul dos Estados Unidos. Seus pais e ele trabalhavam em uma plantação de algodão, quando esse menino vê o dono da fazenda estuprar sua mãe e matar seu pai por defendê-la. É entretendo recolhido como “house nigger”, um termo pejorativo fortíssimo, pela avó do rapaz e aí aprende toda a eficiência de um servil empregado ou garçom. Na juventude resolve sair pelo mundo, o que não foi fácil, e passando fome quebra a vitrine de uma confeitaria para comer. Por sorte é descoberto pelo gerente negro, que não só o contrata, mas ensina a coisa que maior valor terá em sua trajetória – era necessário ter duas faces diante dos brancos, uma servil e outra séria, mas essa só entre eles para reivindicar a posição real de trabalhadores, enfim homens livres. Depois desse emprego ele é indicado para um hotel de luxo em Washington, onde forma uma família com sua mulher Glória, Oprah Winfrey em ótima atuação, e dois filhos educados com esmero e dedicação. Tem um bom carro e sua casa é de classe média. Quando vai para a Casa Branca, torna-se um dos melhores em seu meio, chegando a se aposentar como “maitre d’hotel”.  Seu primogênito é rebelde e não segue as regras de sobrevivência ensinadas pelo pai, indo fazer faculdade em Fisk, onde se une a outros jovens que liderariam Os Panteras Negras e se envolveriam com King, coisa que Cecil certamente gostaria de ter feito. Ele havia começado com Einsenhower, tendo passado por vários presidentes até Nixon. Sabia de muitas coisas e ouvia os grandes segredos que não revelava à sua insatisfeita esposa. Podemos ver alguns fatos importantes como o assassinato de Martin Luther King em Menphis, 1968, que julgava os servidores domésticos uma peça chave na política de direitos humanos, o homicídio de Kennedy até Nixon, cuja mulher é representada pela classuda Jane Fonda. É um episódio da história americana tenso e interessante, O filme termina perto de 2010 quando morreu, mas ainda pode ver Barak Obama, um negro, eleito para a presidência dos Estados Unidos, no dia da morte de Glória. Há alguns críticos de cinema, bastante respeitados por mim e por todos, que não gostaram da abordagem feita pelo diretor. É ver para conferir! Ótimo programa.