terça-feira, 28 de abril de 2015

O DANÇARINO DO DESERTO DE RICHARD RAYMOND




DESERT DANCER, INGLATERRA, 2014, 98 MIN. DOCUDRAMA
Atenção Spoiler
ELENCO:
REECE RITCHIE – AFSHIN GHAFFARIAN
FREIDA PINTO - ELAHEH
Esse ótimo filme enfoca aspectos do Irã, contando a vida de Afshin Ghaffarian, um bailarino frustrado com a repressão cultural, que deixou seu país em 2009. Começa com ele sendo surrado nas areias do deserto. A cena seguinte volta 10 anos, mostrando sua infância. Desde pequeno queria ser dançarino, apesar dos conselhos de sua mãe que teme a “política moral” do país que pune com a morte quem a desobedecesse. Pequeno é espancado nas mãos por estar dançando em classe. Contudo um mentor diz que o país é como dois mundos paralelos e o envia a um grupo clandestino de artes que abriga meninos e meninas como ele. Voltando ao presente, cursa, em Teerã, uma universidade onde encontra vários amigos que pertencem ao submundo da arte, revoltados contra o regime de intolerância. Alguns bastante drogados com a heroína fornecida pelo próprio governo para entorpecer esses jovens subversivos. Mahmoud Ahmadinejad tenta sua reeleição e possuía vários espiões infiltrados, os babas. O encontro com os estudantes oposicionistas desperta ainda mais seu sonho de se tornar um bailarino profissional e ter sua companhia de dança, mesmo que secreta. Os dissabores desse grupo serão imensos e as frustações maiores ainda. Conhece uma fantástica jovem dançarina, Elaheh,  que havia aprendido com a mãe,  primeira dançarina durante o Irã livre. Um grande amor nasce e a jovem lhe transmite tudo que sabe. Dispostos a fazer uma exibição no deserto e se libertarem, os dançarinos e alguns estudantes rumam para um local isolado. A encenação é belíssima, parecendo um episódio bíblico sobre a formação do homem por Deus, mas o espetáculo é quase abortado pelos babas. Um de seus amigos, ator, vai representar oficialmente o Irã em Paris e tem passaporte e bilhete. Será o diretor do grupo. Não podendo ir, oferece seu lugar para Afshin, que relutante aceita a oferta. Sua dança é moderna e muita expressiva, vindo da alma, representando seus conflitos e afetos. Já em Paris, no palco com a casa cheia, não consegue esquecer sua pátria, desmascarando-se diante de todos com uma apresentação onde é o oprimido e o opressor ao mesmo tempo. A coreografia de Akram Khan é devastadora. Ele ainda vive na França e seus companheiros continuam a atuar clandestinamente. Muito triste e revelador. Ótimo e tocante.

terça-feira, 21 de abril de 2015

NÃO OLHE PARA TRÁS DE DAN FOGELMAN




DANNY COLLINS, EUA, 2015, 103 MIN., COMÉDIA.
ELENCO:
AL PACINO – DANNY COLLINS
ANNETTE BENING – MARY
BOBBY CANAVALE – FILHO
JENIFFER GARNER – SAMANTHA
CHRISTOPHER PLUMMER - FRANK
No início do filme os créditos informam que o filme foi levemente baseado na vida de um astro de rock das antigas, Steve Tilston de 65 anos, muito badalado nos anos 70, mas contando mais com seu carisma e não tanto com suas canções. Passou décadas sem compor músicas novas, mas tem com o apoio tanto de uma mulherada mais velha como mais nova. Al Pacino, em ótimo desempenho, será Danny, um cantor envelhecido por muito álcool, drogas e mulheres, que adora carrões, muita farra e mora em uma mansão com uma jovem desmiolada. Seu agente, Frank, dá-lhe de presente de aniversário, uma carta muito antiga assinada por John Lennon e sua mulher, que ao ouvirem seu álbum, sugerem que tenha uma vida honesta e pragmática, pois seria com certeza um grande sucesso e gostariam de falar com ele. Muito emocionado e surpreso, Danny, que não estava nada feliz com sua vida, resolve dar uma drástica reviravolta profissional e principalmente pessoal, indo atrás de seu passado, cancelando seus shows. Se a carta tivesse sido entregue no momento exato não seria quem era, acredita ele. Com uma Mercedes esportiva vermelha vai para o hotel Hilton de New Jersey, a procura de sua família. No hotel é muito bem recebido pelos empregados, todos seus fãs, mas não tanto por Mary, a gerente do hotel, uma mulher divorciada, sem família e durona. Contudo uma química forte irá surgir entre esse casal. Encontrando a casa do filho, é recebido por um jovem grávida com uma menina agitada de 7 anos, Hope, sua neta. O filho não estava, mas Samantha aconselha que vá embora, pois não será bem recebido. Danny resolve enfrentar o que viesse pela frente, a fim de poder reparar um erro antigo. A nora e a adorável neta gostam de seu jeito peculiar, mas o filho não consegue aceitá-lo. Ele está doente e a filha é hiperativa. No decorrer da trama, seguimos um caminho de alegrias e tristezas que conferem um tom interessante e de certo suspense para a narrativa.  O que fica mais claro é a intensa relação entre Al Pacino e Annette Bening. O final é previsível e feliz, pois se trata de um filme tipicamente americano. O diretor é conhecido por vários sucessos no cinema e na televisão.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

AS MARAVILHAS DE ALICE ROHRWACHER





LE MERVIGLIE, ITÁLIA, SUIÇA, ALEMANHA, 2014, 110 MIN., DRAMA
ELENCO:
ALEXANDRA LUNGU – GELSOMINA
SAM LOUVYCK – WOLFGANG (PAI)
ALBA ROHRWACHER – ANGÉLICA (MÃE)
Este é o terceiro filme que posto, tendo como protagonistas personagens adolescentes e todos ótimos. As Maravilhas ganhou o Grande Prêmio do Júri em Cannes, 2014. Este é o segundo longa de ficção da diretora, irmã da atriz Alba Rohrwacher, que homenageia o neorrealismo italiano com uma tremenda segurança e beleza. Trata-se de uma família muito pobre de apicultores que mora em um casarão abandonado na Toscana, em meio a uma linda paisagem. Gelsomina é a filha mais velha, adolescente de 14 anos, mas a chefe do clã. Na casa vivem as quatro filhas do casal Angélica e Wolfgang, mais uma amiga. Ele é um alemão duro, congelado no passado, brutal no tratamento de trabalho com as meninas, mas que não decide nada sem a anuência de Gelsomina. Ela é uma garota sempre séria e concentrada no dever de ajudar o pai a recolher as colmeias de abelhas das árvores floridas e ainda cuidar de suas três irmãs menores que só obedecem a ela. É uma líder natural, mas tem seus sonhos de adolescente como melhorar sua situação, escolher outra profissão e, apesar de muito tímida, conhecer outras pessoas e lugares. Com pouco dinheiro, vendem o produto do trabalho em feiras locais. Contudo, surge a oportunidade de ganhar um dinheiro extra quando hospedam um garoto alemão, que vivia em um reformatório e teria a chance de se regenerar e cancelar sua prisão. Wolfgang gosta da ideia de ter um menino para ajudá-lo, mas sua mulher preocupa-se com as meninas. Tudo fora resolvido sem consultar a família, como era seu feitio. Os produtores de um programa de TV chegam ao local para escolher dentre os moradores aqueles que melhor representassem as origens “etruscas” e as tradições do campo daquela região. Ao vencedor dariam um bom prêmio em dinheiro. As garotas observam as gravações e Gelsomina se encanta com a profissão e com a apresentadora. As meninas realizam um trabalho pesado, fora da lei, pois são muito pequenas, mas a família tem suas regras próprias e o genitor não tem intenção de mudá-las. Tudo segue como ele planeja até que Gelsomina resolve, por conta própria, fazer a inscrição para o concurso e ganhar como os melhores fabricantes de mel da região e talvez o grande prêmio final. Quando a pequena irmã de 10 anos se machuca gravemente no trabalho e vão parar no hospital com a amiga da mãe, pois os pais haviam se ausentado, o segredo de trabalho irregular é quase desvendado. Nesse mesmo dia, chega a casa o juiz do concurso que, finalmente, escolhe o mel deles como sendo o melhor da região. Todos os fazendeiros fantasiados embarcam para uma ilha onde ocorrerá a finalíssima e uma festa.  A partir daí Gelsomina e o garoto tomam suas próprias decisões, devido a um incidente envolvendo a amiga e o adolescente. No fim do filme a câmera passeia longamente pela casa com excelentes imagens e a conclusão da trama é deixada quase em aberto para o espectador. As atuações, fotografia e filmagem são excepcionais.

domingo, 19 de abril de 2015

CASA GRANDE DE FELLIPE BARBOSA





BRASIL, 2014, 115 MIN., DRAMA
ELENCO:
THALES CAVALCANTI – JEAN
MARCELLO NOVAIS – HUGO
CLARISSA PINHEIRO – RITA
GENTIL CORDEIRO - SEVERINO

Casa Grande ganhou os prêmios do júri, ator coadjuvante (Marcello Novaes), atriz coadjuvante (Clarissa Pinheiro) e roteiro, no festival de Paulínia em 2014 e vários outros prêmios. Seu jovem diretor e roteirista Fellipe Barbosa, baseou o filme em sua própria vida, dando assim um ar de seriedade e confiabilidade ao trabalho. Trata-se de uma alusão ao livro Casa Grande e Senzala, sendo feliz no título. Jean é um adolescente de 17 anos, muito tímido e vigiado com mãos de ferro pelos pais. Mora em uma bela casa de 1.400 metros quadrados em um bairro nobre do Rio. Hugo, o patriarca, está falido, entretanto não dá sinais de empobrecimento tentando manter o motorista particular dos filhos e mais uma copeira (Clarissa), uma cozinheira e o motorista, Severino. Essa senzala é, na verdade, a maior fonte de compreensão e carinho que o protagonista possui. Ele tem uma irmã caçula, que, claro, considera insuportável. As dívidas de Hugo chegam a um ponto que é impossível continuar com tantos fruncionários, pois deve dinheiro aos amigos, não paga seus empregados, a escola e muitas outras dívidas importantes. A mulher decide ajudá-lo vendendo produtos de beleza a domicílio. Hugo não se comunica com sua família e despede o motorista, avisando o filho que começará a ir de ônibus para o Colégio São Bento, onde estudam apenas meninos de famílias abastadas e poucos bolsistas. Isso será a libertação pessoal de Jean, pois passará a conhecer outras pessoas, apaixonando-se por uma menina que deseja ser engenheira e estuda em escola pública, D. Pedro II. Em casa encontrava consolo no colo da copeira Rita (Clarisse Pinheiro) e aconselhamento com o motorista, que o pai diz estar de férias no Norte. Os temas abordados são bem atuais como o sistema de cotas em universidades públicas, que sua namorada defende com unhas e dentes, apesar de ser ótima aluna e a diferença de classes sócias tão presente no Brasil. Ela se considera parda, mas visualmente é branca. Seu pai é japonês e sua mãe mulata clara. Vive em São Conrado em um modesto imóvel. Durante um churrasco na mansão de Hugo, repleta de obras de arte e uma bela piscina, Jean convida a namorada e um acalorado bate boca se instala. Ela se mostra mais segura que Jean e mais vivida. O garoto vai presta vestibular como a namorada, mas não escolhe a profissão que gostaria de ter, pois é muito ligado a produção musical, coisa que o pai descarta de primeira. Teria de ser advogado e economista, coisas que nem passam por sua cabeça. Com todos os empregados demitidos, pressionado pela família e longe da “Senzala”, chega o dia do exame crucial. Com a cabeça girando a mil, não consegue se concentrar na prova e toma uma resolução que definirá seu futuro – abandona a sala e sai à procura de seus verdadeiros amigos e conselheiros, os ex-funcionários de sua casa que moram na favela. Encontrando essa família, sente que achou o que tanto procurava – amor, compreensão e liberdade. O longa-metragem termina em aberto, como não poderia deixar de ser. Ótimo filme nacional que foge dos estereótipos atuais e fala da inclusão social, amadurecimento e falcatruas.