terça-feira, 22 de dezembro de 2015

LABIRINTO DE MENTIRAS DE GIULIO RICCIARELLI




LABYRINTH DES SCHWEIGENS, 2014, ALEMANHA, 124 MIN., DRAMA
ELENCO:
ALEXANDER FEHLING – JOHANN RADMANN
GERT VOSS – PROMOTOR- CHEFE
JOHANNES KRISCH – SIMON KIRSCH

Em 1958, na Alemanha entorpecida pelo pós-guerra, um jovem promotor (ótimo Alexander Fehling) de Frankfurt encontra-se entediado com sua posição, pois tratava de infrações de trânsito, quando surge um jornalista que descobrira que um oficial veterano de Auschwitz estava dando aulas em uma escola primária da região. Os outros promotores mais experientes saem de perto, pois sabiam que nada aconteceria, pois eram todos ex-soldados a mando de Hitler e estavam perdoados, a não ser em casos de assassinato. Auschwitz para essa nova geração nascida nos anos 30 era somente um campo de prisioneiros de guerra, nada mais do que isso. Vários jovens são interrogados, mas nunca haviam ouvido esse  nome, não sabiam o que significava, inclusive Radmann, cujo pai lutara na guerra e estava desaparecido há vários anos.  Obstinado, aceita o caso e é estimulado pelo promotor-chefe (excelente Gert Voss) a começar a resolver esse verdadeiro labirinto, no qual poderia se perder.  Começa examinando o caso de Simon, amigo do jornalista, que reluta muito em dizer o que se passara naquele campo. Finalmente sabe que ofereceu as filhas gêmeas a Mengele, o médico do lugar, pois estariam a salvo. Mal sabia que ele fazia experiências atrozes com gêmeos, abrindo-os vivos e examinando seus cérebros. O início do processo é bastante demorado, além de sozinho os judeus sobreviventes tinham medo de falar sobre o assunto. Aos poucos o caso vai tomando força, com a ajuda da embaixada americana, que colocara seu imenso arquivo de guerra ao dispor do promotor. Seria um trabalho hercúleo pelos milhares de processos. Conseguindo ajuda, através do promotor-chefe, de mais um funcionário e o pessoal da embaixada vai percorrendo o terrível labirinto de mortes e flagelos que deixam a todos enojados. Com uma linda namorada vai levando sua vida com certas dificuldades, até que se tornam tão atrozes que ele começa a beber para poder continuar em frente. Isso o leva a uma degradação física e psicológica muito importante, fazendo com que as pessoas se afastem dele, com exceção do jornalista. Ao descobrir, através da fútil mãe, que seu grande ídolo, o pai, também era soldado da SS entra em profunda depressão, passando a desprezar todo e qualquer alemão mais velho que tivesse vivo durante aqueles anos.  Depois de ser convidado pelo amigo jornalista a visitar o campo de Auschwitz, na Polônia, percebe que, além do campo gramado e algumas barracas, o verdadeiro significado do lugar era as milhares de vidas perdidas e seus sofrimentos. Recompondo-se, depois de anos de trabalho profícuo e árduo, começa, em 1963, o julgamento dos acusados considerado o maior da Alemanha em toda a existência da nação. Uma grande parte foi punida com penas pesadas, pois não demonstraram o menor arrependimento pelo que tinham feito. Antes dos créditos finais vemos o destino desses promotores e de alguns acusados como Mengele, que fugira para Argentina depois Brasil, morrendo aqui e Eichmann em seu julgamento final, encontrado também na Argentina. Ótimo trabalho que representará a Alemanha como melhor filme estrangeiro durante o Oscar de 2016. Só poderia ter sido dirigido por esse italiano brilhante, naturalizado alemão, que conduz o longa com maestria e polidez. Imperdível! Uma peça importantíssima para a história da Alemanha. Atenção, a primeira foto é sempre do diretor, as duas
seguintes são de Eichmann e Mengele.

domingo, 20 de dezembro de 2015

MIA MADRE DE NANNI MORETTI





MIA MADRE, ITÁLIA, FRANÇA, 2015, 108 MIN. DRAMA
ELENCO:
MARGHERITA BUY – MARGHERITA
JOHN TURTURRO – ATOR ÍTALO-AMERICANO BARRY HUGHINS
GIULIA LAZZARINI – MÃE
NANNI MORETTI – GIOVANI - IRMÃO


Neste longa do sensível diretor Nanni Moretti, que gosta de questionamentos em geral,  nos traz reflexões que vivenciou com a morte de sua própria mãe. Temos como foco duas mulheres bem diferentes. Margherita, diretora de cinema às voltas com um longa-metragem que está sendo rodado, tem a mãe hospitalizada por uma pneumonia. Sempre em débito com seu trabalho, sua filha adolescente e seu antigo casamento não dá conta de realizar nada até o fim e com acerto. Fragilizada, encontra-se sempre em seu limite. Já sua mãe, uma professora de latim, culta e otimista, é seu oposto. Sabe o que quer, preocupa-se com seus alunos e sua neta, que precisa estudar latim, mas não encontra utilidade nisso. Ela é referência máxima de valorização da vida para seus ex-estudantes e como mulher erudita, independente e sábia que gosta de ouvir e dar conselhos assertivos. Margherita recebe ajuda do irmão, Giovani, que tem mais flexibilidade e saber do que ela, o discreto Moretti, que é sua grande ajuda no hospital. Durante a internação da mãe vemos a desintegração da protagonista como pessoa, que ainda tem que lidar com o desagradável ator ítalo-americano, Barry Hughins, que só causa problemas com seu estrelismo. Confrontada entre esses problemas e alguns devaneios de sua mãe, por conta dos fortes medicamentos, é a imagem da fraqueza e desânimo, apesar de ser ótima atriz. Depois de tomarem a decisão de que ela deveria morrer em casa, as coisas parecem voltar mais ao normal, pois  a “madre” encarrega-se das próprias medicações, seu balão de oxigênio e ainda estuda com a neta. Será um fim digno. Após sua morte, um diálogo curto e memorável ocorre na cena final. Em um flashback, a filha pergunta em que ela está pensando, pois na cama do hospital está calada e pensativa, mas ela responde: “No amanhã.” Mensagem mais otimista é impossível de se pensar. Um alívio a tantos sofrimentos e dúvidas expostos durante a filmagem.  Bom filme.








quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

OLHOS DA JUSTIÇA DE BILLY RAY





SECRET IN THEIR EYES, EUA, 2015, 111 MIN., SUSPENSE
ELENCO:
JULIA ROBERTS – JESS COOPER
NICOLE KIDMAN – PROMOTORA CLAIRE
CHIWETEL EJIOFOR – RAY KASTEN

Adaptação do livro de Eduardo Sacheri serviu como roteiro para o ótimo longa argentino O Segredo de Seus Olhos (2009) e ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010. Juan José Capanella, diretor do filme argentino, é o produtor executivo do novo trabalho, mantendo o suspense e qualidade de seu filme anterior. Este longa americano se desloca para pós 2001, Estados Unidos, que com o atentado terrorista ficou armado até os dentes contra outros assaltos. Os três personagens principais haviam trabalho juntos, 13 anos antes, para desvendar um estupro seguido de morte, que envolvia a policial Jess Cooper e sua filha. O caso fora encerrado sem ser desvendado.  Nos dias atuais, aparece Ray Kasten, já afastado da polícia, com a notícia de ter encontrado o assassino, através de fotografias, onde o suspeito não tira os olhos da jovem. Claire e Jess haviam sido promovidas e ficam felizes em ver o antigo colega do FBI. Claire havia sido a paixão não declarada de Ray e, agora promotora, dá permissão para que o caso seja reaberto. O filme segue com reviravoltas incríveis, mas continuam sem localizar o estuprador e assassino por mais que se esforcem e que tenham pistas críveis. A continuação de um romance ainda paira sobre Claire e Ray, mas nada de concreto acontece. Jess não concorda com a investigação, pois declara que desde então não tivera mais vida própria e se encontra totalmente abatida e envelhecida. Ninguém poderia sequer pronunciar o nome da filha, inclusive seus antigos amigos do FBI. Com idas ao passado e cenas atuais você vai compreendendo como ocorreu o crime. Quase no terço final, temos uma revelação apavorante que torna claro o motivo de tanto desespero por parte de Jess Cooper. Ótimo filme, com atuações espetaculares desses três grandes astros. A trama corre solta sem que você possa tirar os olhos da tela. Imperdível. Ótima direção.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O CLÃ DE PABLO TRAPERO



EL CLAN, ARGENTINA, ESPANHA, 2015, DOCUDRAMA
ELENCO:
GUILLERMO FRANCELLA – ARQUIMEDES PUCCIO - PAI
PETER LANZANI – ALEJANDRO – FILHO
Neste espetacular filme, passado na Argentina no fim dos anos setenta e começo dos oitenta, Pablo Trapero, diretor do magnífico Abutres, nos conta uma história dramática que abalou os argentinos na época. Conta a história de um chefe de família e sua mulher, que têm cinco filhos, três rapazes e duas garotas, vivendo em um bairro famoso de Buenos Aires. A família é aparentemente bem constituída, com o pai preocupado com a educação dos filhos. Ele é um ex-colaborador da ditadura que dominou o país por anos. Agora tem uma rotisserie e também é contador. Pacato, varre sempre a calçada de sua loja nas primeiras horas da manhã. Seu primogênito é um astro do rúgbi em sua escola e adorado pelos colegas. Ocorre que toda essa calma e tradição é apenas um disfarce, pois Arquimedes é o mais vil e frio sequestrador e assassino que se possa imaginar, auxiliado pela mulher e por Alejandro. Começa com o sequestro de um colega de classe de Alejandro, muito rico, que é algemado e maltratado, ficando trancado no banheiro da casa. As refeições são oferecidas pela mãe. Os outros filhos ouvem os barulhos e lamentos, mas não ousam falar qualquer coisa. Um deles, Maguilla, está viajando e o pai sente sua falta para auxiliar nos raptos. A primeira vítima é morta, apesar de a família ter pagado pelo resgate. Arquimedes conta com a ajuda de antigos membros da ditadura. Sua mulher é tão impiedosa quanto o marido. O filho ausente volta, mas o mais novo sai de casa, na tentativa de se afastar de tudo. Um dos muitos sequestros sanguinários não dá muito certo, pois a família da vítima se recusara a pagar a quantia exigida, a não ser com certeza de que estivesse realmente viva. As cenas têm uma precisão incrível e os desempenhos de Guillermo e principalmente de Peter são espetaculares. Indo para o final, a atitude de um dos filhos se altera e são finalmente descobertos pela polícia. Final dramático com explicações do destino de cada um dos personagens antes dos créditos finais. Imperdível pelo roteiro, direção e interpretações de cada uma dessas personalidades verídicas. Realmente o cinema argentino é de ponta com apresentações ótimas. Esse filme foi escolhido para o Oscar de melhor filme estrangeiro com todo mérito. Parabéns a PabloTrapero. Ganhou a palma de prata em Veneza.