segunda-feira, 28 de outubro de 2013

OS BELOS DIAS DE MARION VERNOUX

LES BEAUX JOURS, FRANÇA/ 2013, 94 MIN. COMÉDIA
ELENCO:
FANNY ARDANT – CAROLINA
LAURENT LAFITTE - PROFESSOR DE INFORMÁTICA
PATRICK CHESNAIS - MARIDO
JEAN-FRANÇOIS STÉVENIN
Essa interessante comédia, que só poderia ser francesa, foi baseado no livro Une Jeune Fille aux Chevaux Blancs de Fanny Chesnel, que é a roteirista do filme e discute um triângulo amoroso. A diretora Marion Vernoux escolhe como heroína a formosíssima musa da Nouvelle Vague, Fanny Ardant, que em hipótese alguma perdeu sua beleza e encantamento. Ela faz o papel de uma avó, aos sessenta anos, casada, com duas filhas nos seus trinta e tantos anos e dois netos. Essa dentista, agora aposentada, ganha das filhas um cupom para frequentar um clube de terceira idade chamado Les Beaux Jours. Mas elas não conheciam, mesmo, o potencial dessa mulher. Para esse enredo só uma pessoa que, mesmo na terceira idade, continuasse bela, cheia de vida e com um corpo perfeito como Fanny. Lá chegando não gosta do ambiente e sai, prometendo a si mesma não mais voltar. Contudo, com um problema no seu computador e não sendo dessa geração mais antenada com computadores, resolve ir tirar suas dúvidas com o professor de informática de lá, um homem da idade de suas filhas. Rola entre eles uma atração, a qual ela faz questão de manter acessa, uma vez que já não se considerava capaz de sentir mais algo semelhante. Ele, com grande facilidade, entra nesse jogo de sexualidade casual, pois era hipersexualisado e qualquer mulher bonita era uma  chance. Mas Caroline não é só bela, é refinada, aumentando sua atração. Ela continua frequentando as aulas e faz grandes amigos. Conflitos, pela diferença de idade, aparecerão desde o princípio da trama e ambos sabem que aquilo pode acabar de uma hora para outra. Caroline, todavia, rejuvenesce e um intenso brilho no olhar se instala. Ela torna-se descuidada, uma fatalidade, pois morava na pequena cidade portuária de Calais, onde todos se conheciam. Obviamente o romance não acaba em um “happy end” para ela, mas o sentimento e a capacidade de desejar ardentemente tornam sua vida muito melhor. Ótima comédia, mas atenção sessentonas que desejam um lindo gato! Isso não funciona para qualquer uma, há de se ser bela ou poderosa e ter uma ótima cabeça para o desfecho, sempre deficitário para a mulher. Com os homens isso ainda é bem diferente!


terça-feira, 22 de outubro de 2013

OS SUSPEITOS DE DENIS VILLENEUVE

PRISIONERS, EUA/2013, 153 MIN., THRILLER
ELENCO:
HUGH JACKMAN – DELLER DOVER
TERRENCE HOWARD – PAI AFRODECENDENTE
JAKE GYLLENSHAAL – DETETIVE LOCKI
PAUL DANE – ALEX JONES
MELISSA LEO – HOLLY JONES (TIA DE ALEX)
ANNA E JOY - MENINAS
O diretor canadense, Denis Villeneuve, aproveita-se de um tema, infelizmente corriqueiro nos dias atuais e escrito por Aaron Guzikowski, para nos envolver por quase duas horas em uma trama desesperadora. O assunto é o sequestro e molestamento de menores. O ponto de vista da história parte dos pais e da polícia, mas é muito interessante que se pense também nos motivos que levam alguns adultos a raptarem e abusarem de crianças. Tudo fica ainda mais terrível e dramático, pois são pessoas doentes e cruéis e vê-se que o diabo, na maioria das vezes, não está confinado em uma única pessoa ou ações. Num pacato e gelado bairro da Pensilvânia dois amigos, com filhos e esposa, confraternizam-se na casa de um deles, no dia de Ação de Graças. Está muito frio, chovendo, mas Dover leva um veado que caçara com seu filho adolescente para o almoço. É um homem tenso que venerava o pai, cujo conselho principal era “estar sempre preparado para o que viesse”, mesmo no dia a dia. Isso Keller Dover passa ao filho no início da trama. Tornar-se-ia realmente um bom conselho, uma vez que sua filha de seis anos e sua amiga desaparecem durante aquela tarde, nesse dia especial. Com muita gente a procura delas, não há vestígios e os casais se desesperam de maneiras diferentes. O atormentado e religioso Dover havia visto um jovem com deficiência mental, dirigindo e estacionando seu trailer perto das casas. Não encontrando as meninas, seguem para a casa da tia do jovem a qual afirma que ele não representava o menor perigo, pois tinha idade mental de 10 anos. Nesse ínterim entra o principal personagem do filme, o detetive Locki, o ótimo Jake Gyllenshaal, que vai atuar como um filtro dos dados e excessos que serão cometidos. Os pais de Joy mostram-se mais serenos e fortes emocionalmente, em contradição aos de Anna. Sua mãe fica de cama a custa de calmantes e o pai enverada para o suplício de Alex Jones, uma vez que fora o último a ver as meninas. Trancafiado, é torturado por Keller Dover para horror dos outros pais e para ele mesmo, pois sua consciência e devoção não o deixam pensar e agir com clareza. Essa é quase a metade do drama que terá vários outros elementos aterradores, prendendo o espectador na cadeira.  Um clássico do gênero, talvez tenha a chance de obter algum prêmio com esse grande elenco.  Para quem gosta desse tipo de filme é imperdível.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

SERRA PELADA DE HEITOR DHALIA

BRASIL/2013, 100 MIN. DRAMA
ELENCO:
JULIANO CAZARRÉ – JULIANO
JÚLIO ANDRADE – PROFESSOR
WAGNER MOURA – RICO
MATHEUS NACHTERGAELE – DOUTOR
SOPHIE CHARLOTTE – PROSTITUTA
Este ótimo filme de proporções cenográficas quase nunca vistas no Brasil descreve o maior garimpo a céu aberto do mundo, do qual foram extraídos 30 toneladas de ouro. Situado no sul do Pará, em plena selva amazônica, nos anos 80 atraiu milhares de aventureiros que queriam enriquecer rapidamente. Foi explorado quase a exaustão e hoje é um lago de 200 metros de profundidade, ainda contendo minerais preciosos. Heitor Dhalia aproveitou-se de um fato comentadíssimo Brasil a fora para elaborar uma obra de grande relevância. Nos anos de extração do ouro no local, dois amigos Juliano, solteiro, e o Professor, casado com uma mulher para dar a luz, não veem perspectiva para suas vidas e resolvem partir para o sul do Pará a fim de enriquecer, mesmo sem saber ao certo como aquilo funcionava. É uma obra de grande violência na qual irão emergir nossos heróis que terão suas vidas e personalidades transformadas. Ao chegarem observam, naquele formigueiro humano, que havia uma hierarquia. “Os formigas”, recém-chegados e sem dinheiro, é que farão o trabalho pesado de carregar nas costas sacos de 30 quilos de lama morro acima, dos quais serão extraídas as pepitas de ouro. Esses barrancos são de propriedade de empresários, pessoas imorais e com dinheiro, que ficarão com a maior parte do lucro. Era uma terra sem dono e sem lei, onde a morte violenta era a predominância. Lá havia homens gananciosos, exploradores, explorados, bichas brutais, prostitutas, muita bebida, armas e drogas. Um mundo a parte de tudo! Com mais formação do que a maioria, esses amigos-irmãos, dão-se bem e logo conseguem guardar algum dinheiro. Mas o local muda a visão de Juliano, que ao cometer o primeiro assassinato para salvar o amigo, fica deprimido, pois gostara do que fizera. A partir daí a violência e sede de poder o dominará completamente, mostrando um lado muito cruel que não conhecia. O Professor queria ficar rico para dar uma vida melhor à filha e à esposa.  Juliano poder! Bom de contas e raciocínio, Julio Andrade, é o cérebro do negócio. Cada vez ganhando mais Cazarré conseguirá, com outros assassinatos, tornar-se o dono do barranco corrompendo a si mesmo e a sua amizade com o velho amigo. Mas esse lugar apavorante não tem rei por muito tempo e as coisas vão mudando de mão, até vermos um Wagner Moura, semi-calvo e de bigodinho, num ótimo trabalho, dando as cartas nas cenas finais. Nachtergaele e Sofhie também em ótima performance. Gazarré é a alma do filme, com suas expressões enigmáticas e uma excelente atuação. Júlio Andrade também não fica atrás dos outros artistas, que compõem um quadro verdadeiramente assustador. Nessa época da ditadura militar, isso representava uma opção de ganhar dinheiro, mas com enormes perdas morais e sociais. Ótimo filme do diretor Heitor Dhalia, que também é responsável pelo roteiro com Vera Egito. Com dificuldades logísticas para ser filmado inteiramente no norte, uma antiga mineração de Mogi das Cruzes, em São Paulo, foi adaptada e as cenas de cabarés e prostíbulos foram feitas em Belém. Um longa metragem que poderia representar o Brasil em qualquer festival internacional.  Diretor de O Cheiro do Ralo, Dhalia faz grandes trabalhos psicológicos. O filme é imperdível. É o nosso Le Capital Caboclo, que está comentado neste blog.



terça-feira, 15 de outubro de 2013

TERRA FIRME DE EMANUELE CRIALESE


TERRAFERMA FRANÇA, ITÁLIA/2011. 88 MIN. DRAMA
ELENCO:
FILIPPO PUCILLO –
DONATELLA FINOCCHIARIO –
MIMMO CUTICCHIO -

Esse ótimo filme sobre humanismo e política social, dirigido pelo sensível Crialese fala de um tema atualíssimo, o paradeiro de imigrantes africanos vindos de ex-colônias europeias. Foi indicado à disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012 e ganhou um prêmio no Festival de Veneza, merecidamente. Mundo Novo do mesmo diretor já abordava o tema da imigração, mas para a América. Hoje em dia, com tantos transtornos políticos no continente africano, são eles que buscam refúgio na Europa para fugir da guerra, morte e inanição. O quadro pintado por Crialese é recente e parece um documentário sobre a indignação de Emanuele ao ver no noticiário um barco à deriva com 79 imigrantes ilegais, que ficaram no mar por quase um mês e 76 chegaram mortos. Todavia, Timnit, uma mulher sobrevivente que não quis contar sua historia pessoal ao diretor, narrou fatos do acidente fornecendo material para o diretor fazer esse trabalho, segundo o Estadão. O nome de Lampedusa, o ponto mais próximo da África, não é citado, mas a narrativa é bem parecida com o que vem ocorrendo nessa ilha. A história é contada sob o ponto de vista de uma família, cujo chefe, um senhor de setenta e tantos anos, continua trabalhando como pescador para sustentar a família. Nas primeiras cenas vemos o Mar Mediterrâneo cristalino e em um canto à esquerda um barco de pesca com rede. Um dos pescadores é Filippo, neto do de Ernesto, que feliz dança e canta na proa, depois de uma pesca bem sucedida. Próximas cenas, toda a família, trajando preto e com flores brancas nas mãos seguem até o porto em procissão com um padre, jogando-as na água. Era uma homenagem ao filho que havia morrido há três anos no mar, deixando a mulher viúva e o filho de 17 anos. Essas pessoas vivem da pesca e do turismo durante o verão, quando chegam centenas de turistas para aproveitar essa ilha paradisíaca. A casa é transformada pela nora em uma pensão para estrangeiros, com comida italiana caseira e passeios de barco. Tudo corre bem aparentemente, todavia o atual governo italiano proíbe que qualquer pessoa ajude esses imigrantes ou mesmo os socorra da morte dentro do mar. Testemunhando a esse episódio a família tem outra lei a seguir. Ele e seus pares adotam a “lei maior do mar”, que não permite que nenhum náufrago fique sem auxílio. E durante o longa alguns botes aparecerão, com pessoas desesperadas para chegar à terra firme. Vários nativos pensam no seu sustento e no turismo, outros não. Filippo, sua mãe e avô, irão imiscuir-se em momentos dramáticos por possuírem compaixão e humanidade, apesar dos pesares e abrigarão uma mulher grávida e seu filho adolescente, além de ajudar outros a saírem da água. O filme segue essa temática e nunca deixa de nos envolver e nos interessar sobre a próxima cena. Trabalho magnífico, com uma fotografia de primeira e cenários maravilhosos. Imperdível. Isso se passa no sul da Sicília.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O CAPITAL DE COSTA GRAVAS

LE CAPITAL, FRANÇA, 2012, 114 MIN., DRAMA
ELENCO:
GAD ELMALEH – MARC TOURNEUIL
GABRIEL BYRNE – DITTMAR

Costa Gravas gosta de falar sobre temas controversos e políticos. Temos exemplos de Z (1969), Estado de Sítio (1972) e o excelente Missing (1982). Depois de tanto tempo volta aos temas políticos que faz tão bem. O Capital, estrelado pelo ótimo ator Gad Elmaleh, vem com uma crítica severa contra o presente capitalismo desvairado. O jovem Marc Tourneuil esforça-se para ser assistente de um poderoso presidente do banco francês Phenix. Quando seu chefe se afasta do cargo por conta de um câncer, ele é escolhido para suceder-lhe, apesar das críticas do staff. Mas seria por um tempo de aproximadamente dois anos, até que o presidente morresse e finalmente se livrassem dele. Era uma figura menor. Engano. Esse homem ambicioso e pragmático não só manda fazer ternos caríssimos para usar, como faz sua esposa trocar de roupa para seu primeiro jantar como diretor, ela usaria um vestido Dior caro e chique. Sua chegada será para valer. Na verdade, existia um grupo americano de investidores representados por Dittmar (ótimo Gabriel Byrne), que mandava nas grandes decisões, bastante diversas da política econômica francesa, mais antiga e com rígidas castas sociais, segundo o professor Luciano Ramos. Pressionado, faz uma demissão em massa de funcionários e executivos para atendê-los e, mais ainda, precisaria comprar um banco falido no Japão para uma fralde financeira. Desconfiado viaja até aquele país e consegue uma reviravolta, mas continuaria sendo o Robin Hood dos ricos, como o chamavam: roubava dos pobres para ofertar aos ricos. Sua estratégia dará certo e ele ganha muito, auxiliado por uma jovem especialista em mercado asiático, em um lance duvidoso, com a queda das ações. As duas últimas cenas devem ser vistas com cuidado, pois só aí está o desfecho da história. É um roteiro bem atual e intrigante. Outra curiosidade é a forma como ele age e como ele gostaria de agir, com ótimas cenas. O filme foi baseado no livro Le Capital de Osmont.



segunda-feira, 7 de outubro de 2013

ANOS INCRÍVEIS DE MICHEL LECLERC


TÉLÉ GAUCHO, FRANÇA/BÉLGICA, 2012, 108 MIN., COMÉDIA
ELENCO:
FÉLIX MOATI – VICTOR
EMANNUELLE BÉART – APRESENTADORA DE TV
ERIC ELMOSNINO – JEAN LOU
MÄIWENN – YASMINA
SARA FORESTIER – CLARA

Esta comédia foi livremente inspirada em fatos verídicos, Télé Bocal, ocorridos em 1996 na França, e está muito bem cotada pelo público e crítica. Michel Leclerc pinça o jovem Félix Moati, indicado ao Cesar 2013 de revelação masculina, para ser o herói de sua trama. Victor sai da casa dos pais no interior da França para realizar seu sonho de trabalhar em Paris com uma famosa apresentadora, interpretada por Emannuelle Béart. Esse lugar fora arranjado através de um programa diurno de televisão, quando ele acerta a resposta de uma pergunta da comunicadora. Uma bobagem. Apesar de nunca ter filmado tem um tremendo desejo de ser cineasta e fará qualquer coisa para que isso ocorra. Conhece um grupo de pessoas ligadas à arte de periferia, anarquistas de primeira e sem dinheiro que são contra tudo que está ocorrendo no governo de Chirac, incluindo a descriminação de imigrantes ilegais. São pessoas divertidas e sem destino, que fazem qualquer coisa para ter sua imagem na TV e um próprio canal, mesmo sendo pirata, é óbvio. Victor conhece Clara, filha de um agente funerário e esse é seu primeiro grande amor. Misturando tudo, paixão pelo trabalho e amor a primeira vista, temos um caldo no ponto certo para o que julgam ser a contracultura e a revolução. As imagens são feitas em lugares marginais com os tipos mais excêntricos possíveis. Os líderes desse grupo, Yasmina e Jean-Lou são o que há de mais divertido e anárquico na trama. Uma crítica muito bem sucedida daqueles tempos. Ótimo programa.