quarta-feira, 22 de abril de 2009

SINÉDOQUE, NOVA YORK de CHARLIE KAUFMAN

















Este bom drama psicológico é dirigido e escrito por Charlie Kaufman e estrelado por Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener e Samantha Mortop.
O drama gira em torno de Caden Cotard (ótimo Philip), um dramaturgo judeu, que se encontra deprimido vivendo com sua mulher Adele (Catherine Keener), uma famosa pintora de miniaturas, que também infeliz foge para a Alemanha, com sua filha de 4 anos. Ele havia recebido o premio Mac Arthur, por sua peça anterior, e isso significava muito dinheiro para ser investido em uma obra prima. Caden decide que a peça deverá ser espetacular e realista, desvendando seu eu interior. Aluga um armazém em Manhattan e dentro dele monta um cenário, que recria uma réplica de Nova York. O trabalho deverá ser totalmente honesto e, para elaborar o texto, pede aos atores que vivam partes de suas vidas de maneira real. Será um trabalho a muitas mãos. Com o abandono de Adele, solitário, não consegue desviar-se dos encantos da linda Hazel (excelente Samantha Morton), pela qual se sente atraído. Mas o relacionamento não deslancha e acaba casando-se com sua atriz predileta, Claire, que representa sua mulher nessa peça-viva. Para seu personagem é admitido Sammy, que se torna muito real. Caden Cotard passa de deprimido a hipocondríaco e sua saúde torna-se muito frágil, assim como sua mente. Não consegue completar seu trabalho e à medida que os anos passam sua arte passa a ser a sua própria vida, compactada e sem tempo, onde ele não se desvencilha de seus personagens e de seu passado. São momentos que requerem atenção do espectador, pois delírios e realidade se entrelaçam continuamente. Caden tem pavor da morte e ela o acompanha durante sua existência em figuras queridas que vão desaparecendo. A sombra de sua mulher se faz presente em sua mente, zombando de seus atos. Tudo vai se deteriorando até que a célebre atriz Millicent Weens, tome seu lugar e leve os acontecimentos a um desfecho plausível.

sábado, 11 de abril de 2009

VALSA COM BASHIR de ARI FOLMAN








































Esse extraordinário documentário autobiográfico de Ari Folman, feito deliberadamente em forma de desenho animado, nos mostra os horrores da Guerra do Líbano, em 1982. O filme inicia-se com uma matilha de cachorros de olhos flamejantes e coléricos correndo em direção a um apartamento onde mora um jovem. Isso é um sonho recorrente de Boaz, que muito incomodado, procura um amigo dos tempos de guerra, o cineasta Ari Folman, para desabafar. Intrigado por ele não ter ido a um psiquiatra, Boaz confessa-lhe que os cineastas fazem coisas maravilhosas. Chegam à conclusão que esses cachorros significavam os 26 cães que fora obrigado a matar em um ataque à Beirute, pois eles latiam para chamar a atenção da população sobre a chegada de inimigos. O filme tem o objetivo de nos mostrar as conseqüências terríveis que a violência e a guerra podem causar na memória desses jovens soldados. Aos 19 anos Folman é enviado para a Guerra contra o Líbano e participa de um massacre conduzido pelos israelenses contra os palestinos militares e civis. Ari simplesmente não se lembrava de nada e, durante esses anos que já se passaram, sequer tentou saber a razão de sua amnésia. Instigado por Boaz, ele procura um psiquiatra amigo para saber o motivo desse fato e descobre que a mente compartimenta fatos muito traumáticos e os tranca para que não sejam lembrados. Intrigado, vai à busca de seus companheiros de guerra, mas cada um, também como defesa, lembra-se somente de alguns episódios, como o massacre de uma família inteira em um velho Mercedes ou quando Ari alvejou uma criança que iria atirar um projétil contra eles em uma floresta. São apenas fragmentos lembrados por seus companheiros, que como ele não conseguiram lidar com tanta crueldade. A narrativa é entrecortada por essas reminiscências individuas. À medida que o filme prossegue, sabemos que uma falange cristã havia massacrado 3000 palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, com o respaldo de Israel, em retaliação ao assassinato de Bashir Gemavel. Esses jovens soldados, quase adolescentes, atiravam em tudo sem ter idéia do que estavam fazendo e sempre altamente atemorizados pelo medo da morte tão precoce. Era o que viam diariamente. Esse episódio aterrorizante é que causou sua perda de memória, pois sendo filho de judeus que estavam condenados em Auschwitz, carregava consigo essa síndrome de culpa, por estar repetindo o comportamento nazista alemão. Quando a história vai se aproximando do final, vemos o jovem Folman com uma metralhadora nas mãos observando velhos, mulheres e jovens palestinos mortos ou mutilados, em pilhas de corpos despedaçados. Quando a câmera chega perto do rapaz o filme passa a ter imagens normais de um documentário com cenas fortíssimas de sofrimento e dor. Pobres jovens soldados de qualquer país, que são obrigados a matar e morrer ou a ficar mutilados por causas que, na maioria das vezes, não acreditam. O filme é uma conclamação contra as guerras.
Este é um filme peculiar por ser um documentário feito em desenhos animados. Enfoca posições diferentes de diversos combatentes e declarações muito pessoais de personagens importantes dos dois lados.
Valsa é uma combinação de animação em Flash, animação clássica e 3D- completados com fotocópias de objetos. A Valsa refere-se ao soldado Frenkel que dispara a esmo sua metralhadora no centro de Beirute. O filme ganhou o Cesar de Melhor Filme Estrangeiro, Globo de Ouro, Critics Choice Awards, British Independent Film Awards e Melhor Diretor, Melhor Filme e Melhor Roteiro em Israel. Informações sobre técnicas e premios do Jornal da Tarde.

domingo, 5 de abril de 2009

SEGREDOS ÍNTIMOS de Avi Nesher


















Este ótimo drama ambientado em uma comunidade judaica ortodoxa, dirigido por Avi Nesher, consegue com delicadeza expor os problemas femininos dentro dessa religião monoteísta. A jovem Naomi (Ania Bukstein) chora a morte de sua mãe e mora com o pai, um rabino conservador, que deseja casá-la com um de seus alunos. Naomi, extremamente inteligente e conhecedora dos livros sagrados judaicos, quer adiar seu casamento e tornar-se rabina, coisa impensável no judaísmo, que relega a uma classe muito inferior todas as mulheres, como um todo sem valor ou discernimento. Convencendo seu pai, segue para um seminário na cidadezinha de Safed, a fim de aprofundar seus estudos religiosos. Divide seu quarto com mais três garotas, uma delas a quase marginal Michelle (Michal Shtamler), francesa e fumadora incontrolável. Entre as duas surge uma amizade profunda de respeito e admiração, apesar de uma ser a antítese da outra. Veremos, no decorrer do filme, que os problemas feministas são o foco dele. Nesse seminário só existem garotas, monitoradas por uma supervisora, que fará de tudo para que elas tenham uma posição melhor dentro da sociedade do que as mulheres de sua época. Uma bela senhora madura (Fanny Ardant) será um ponto importante na história. Auxiliada por essas duas jovens, que descobrirão seu segredo, torna-se dependente delas. Saíra de uma prisão por ter assassinado seu amante, um pintor, com o qual tivera um relacionamento pesado e masoquista. Com o decorrer dos dias elas irão se envolver com essa pessoa, que implora por uma remissão de seus pecados, pois sendo doente terminal tem medo de morrer sem antes se reconciliar com Deus. Através de um ritual cabalístico Naomi monta um tikun, baseado em Santo Ari, para purificá-la através da água. Isso feito ela passa a sentir-se melhor, desejando terminar o cerimonial de maneira que possa salvar sua alma. Naomi, ao ver um retrato dela com seus dois filhos, observa que usava um crucifixo, sendo portanto católica. Apesar disso resolvem ajudá-la, contando com a colaboração das outras duas companheiras de quarto. Ocorre um incidente dentro de uma caverna e elas são descobertas e banidas pelo rabino local. Anteriormente, durante um feriado, as garotas experimentam um novo tipo de relacionamento que irá afastar uma da outra. Naomi assume seu papel sem medo, mas a transgressora Michelle percebe que gostaria de se casar com um jovem judeu farmacêutico (o adorável Adir Miller), clarinetista, que conhecera durante seus estudos. O final é muito bem estudado e planejado, nos oferecendo a possibilidade de refletir e conhecer os assuntos apresentados, em um contexto pouco visto em filmes sobre o judaísmo. As jovens não queriam renunciar de suas convicções religiosas, contudo gostariam de ter uma participação efetiva e pessoal no mundo moderno, mudando um pouco a roda dos paradigmas já pré estabelecidos há mais de dois mil anos.
O script perfeito foi escrito por Nesher em parceria com a famosa roteirista e feminista Hadar Galron, judia ortodoxa.