quinta-feira, 30 de julho de 2015

A LIÇÃO DE KRISTINA GROZEVA E PETER VALCHANOV






UROK, BULGÁRIA, GRÉCIA, 2014, 105 MIN., DRAMA
ELENCO:
MARGARITA GOSHEVA – PROFESSORA NADEZHDA
IVAN BURNEV –
IVANKA BRATOEVA –
Este é um ótimo filme dirigido e roteirizado por Kristina Grozeva e Peter Valchanov. Discute problemas de ordem moral e pessoal e como eles afetam nossos preceitos de vida, dependendo de circunstâncias que podem ocorrer em nossas vidas.  Nadezhda vive em uma pequena cidade da Bulgária e é professora de ensino médio em uma escola distante de sua casa. Casada com um homem que gosta de beber e sem trabalho, eles têm uma filha pequena, cuja saúde não está boa, porém é cuidada pelo pai que a ama. Sua casa apesar de modesta é confortável e na calçada está sempre estacionado um trailer velho que o marido quer vender, mas não há como, pois se encontra em péssimo estado. Muito rigorosa, depara-se, na sala de aula, com o roubo de dinheiro de uma garota de sua classe e faz o impossível para que o ladrão apresente-se, pois será questionado. Ninguém aparece e o fato rende mais um pouco de lições de moral.  Seu rosto é sempre impassível e seu andar decidido. Outro impasse ocorre logo em seguida, quando chegando a sua casa, depara-se com um oficial de justiça, pois seu marido não pagara um empréstimo no banco e a casa iria a leilão. Desesperada conversa com o pai da menina, mas em vão, ele não tem condições de arranjar o dinheiro e continua depressivo e bebendo. Agora começa sua batalha para arranjar a quantia, indo mesmo até a casa de seu rico pai viúvo, com quem não mais falava há anos e, apesar de ser humilhada, nada consegue. Vários são os riscos inimagináveis que corre para proteger sua família e é, então, que se vê acossada a fazer tudo que considerava vulgar e sórdido. O filme se desenvolve em uma atmosfera de medo e coerção que o espectador poderá muito bem se identificar. O tempo dessa estória é rápido e angustiante, não dando para tirar os olhos da tela. Depois da metade do filme assistiremos a queda gradativa de suas regras de vida e o incrível meio de sua salvação, surpreendentemente ligando-se com o princípio da trama. Ótimo filme, com excelentes atuações e um roteiro instigante. Imperdível.

domingo, 19 de julho de 2015

UMA NOVA AMIGA DE FRANÇOIS OZON







UNE NOUVELLE AMIE, FRANÇA, 2014, 107 MIN., DRAMA
ELENCO:
ROMAIN DURIS – DAVID
ANAÏS DEMOUSTIER – CLAIRE
ISILD LE BESCO – LAURA
RAPHAEL PERSONNAZ – GILLES
Inspirado em um conto da inglesa Ruth Rendell, este angustiante drama de François Ozon não fica atrás de seus mais conhecidos filmes como O Tempo que Resta, Sob a Areia ou Dentro de Casa. Sempre ponderando o mais íntimo dos personagens, muitas vezes com problemas de gênero, analisa neste ótimo trabalho a questão tão atual do cross-dressing. O drama inicia-se com a morte de Laura, que está sendo preparada para o caixão pelo próprio marido, David, um homem sensível e fiel. Após o enterro, Claire, sua amiga inseparável de infância, ao falar algumas palavras na igreja, promete cuidar do viúvo e do bebê. Laura morrera de uma doença terminal deixando uma menina de poucos meses para trás, afilhada da amiga e seu marido, Gilles. Pouco tempo depois do enterro, arrasada, vacila em visitar o viúvo, mas decidida a fazê-lo leva um tremendo choque, assim como a plateia. Vemos no sofá, uma mulher dando a mamadeira para a criança e ela é justamente seu pai, David, vestido com as roupas de Laura e uma peruca. Assustada tenta fugir, mas ele a faz compreender que assim o bebê sentiria o cheiro da roupa da mãe e passaria melhor. Confessa também que antes de se casar gostava de se vestir de mulher e que Laura nada tinha contra isso. Todavia durante todo o tempo de casado não sentira a menor necessidade do cross-dressing. Isso será o segredo unindo desses dois amigos. Auxiliando David em sua nova opção de gênero e com o bebê, passam a levar uma vida paralela que agrada a ambos. O filme tem um roteiro tenso, mas com momentos de graça, contudo a figura tão masculina de Romain Duris é um incômodo constante, não convence como mulher com sua altura e seus traços tão nitidamente masculinos. Talvez tenha sido escolhido para o papel por esse motivo. É interessante e prende a atenção, mas nos agoniza ao mesmo tempo, pois esperamos sempre por uma descoberta desagradável. François Ozon é homossexual assumido e gosta de refletir sobre esses problemas que para muitos ainda é um tabu. Ótimo programa. Prestem atenção quase no terço final no sonho de Claire, será que ela também tinha algum problema?




terça-feira, 14 de julho de 2015

SAMBA DE OLIVIER NAKACHE E ERIC TOLEDANO








SAMBA, FRANÇA, 2014, 118 MIN., COMÉDIA DRAMÁTICA
ELENCO:
OMAR SY – SAMBA CISSÉ
CHARLOTTE GAINSBOURG – ALICE
TAHAR RAHIN – FALSO BRASILEIRO
Nessa excelente comédia dramática, temos na direção novamente a dupla tão bem sucedida de Intocáveis, premiado filme e um dos maiores sucessos do cinema francês. Agora Nakache e Eric tocam em um assunto de extrema relevância na Europa – a imigração. O ator principal é Omar Sy, premiado em Intocáveis, homem carismático e com grande presença cênica. A protagonista é Charlotte Gainsbourg, uma alta executiva que se encontra trabalhando na imigração como opção de cura para uma séria crise nervosa que sofrera em seu trabalho extenuante. Samba Cissé, senegalês, vive há dez anos na França, lavando louça em um restaurante, onde seu tio também trabalha, mas de maneira legal. Contudo, sem os papéis necessários é preso e vai parar na imigração. Lá conhece a executiva Alice, que o atende e, no mesmo momento, acaba se envolvendo com sua figura envolvente e forte. Samba sai à procura de bicos, principalmente na construção civil, onde conhece o descolado e alegre brasileiro que escolheu sua origem pela simpatia que o país tem pelo Brasil. Terra de sol, samba, carnaval e lindas mulheres. Aconselhado pelo tio, muda seu modo de vestir-se, mas está sempre fugindo da polícia para não ser deportado, trocando constantemente os falsos vistos e empregos. Em um deles, como lavadores de vidraças, seu amigo dá um show a parte, fazendo um strip-tease ao som de “Palco” de Gilberto Gil, para garotas de uma firma, no andaime. A relação de Samba com Alice vai crescendo pelas fragilidades de ambos.  Aparentemente improvável essa ligação tem muito para decolar. A energia contagiante de Sy complementa a insegura executiva. Filme com lindas músicas de Bob Marlin, Gilberto Gil e Jorge Benjor. Imperdível.

sábado, 11 de julho de 2015

O CIDADÃO DO ANO DE HANS PETTER MOLLAND






KRAFTIDIOTEN, NORUEGA, 2014, 116 MIN., COMÉDIA DRAMÁTICA.
ELENCO:
STELLAN SKARSGARD – NILS
BRUNO GANZ – PAPA
BIRGITTE H. SORENSEN –
PAL SVERRE HAGEN – JOVEM CHEFE DA MÁFIA E OSLO
Este é um tremendo filme de ação norueguês, dirigido de maneira cuidadosa por Hans Petter Molland. Filmado inteiramente durante o forte inverno norueguês, tem uma imagem esplêndida, com suas montanhas de pinheiros cobertas de neve assim como as estradas, as casas e tudo o mais. Conta a interessante história de Nils Dickman, um homem introvertido que mora com a mulher em uma casa confortável em seu vilarejo. As primeiras cenas mostram a beleza da paisagem, a espessura da neve que cai e o veículo que Nils dirige, um enorme limpador de neve de última geração, que tira toneladas delas das estradas. Acabara de receber o prêmio de Cidadão do Ano que enche de orgulho sua família e os amigos. Pacato, gosta do que faz. Logo após a homenagem fica sabendo que seu filho único havia sido encontrado morto por uma superdose de cocaína. O enterro é muito triste, principalmente porque Nils não aceita essa versão e tem certeza de que ocorrera um assassinato. Diante da posição inoperante da polícia, resolve achar a verdadeira versão dos fatos e se comporta como um justiceiro implacável. Sua mulher o abandona e só tem a ele mesmo para investigar o ocorrido. Com uma força física descomunal e seu veículo gigantesco acha-se competente para tanto. As mortes vão se enfileirando por ordem de quem deu o último sinal para o assassinato, que fora por engano. Descobre que havia a Máfia de Oslo, contrabandeando cocaína, dirigida por um antigo gângster, que tem como substituto seu filho cruel e pasmem... “vegano”. Sua casa é moderna e belíssima. Está divorciado da mulher e briga pela tutela de seu filho de 12 anos. Tudo ocorria no aeroporto principal, onde operava também a Máfia Sérvia, mas entrando em acordo não colidem e tudo caminhava bem. Mas com as mortas seguidas, o jovem gângster (Pal Hagen do ótimo Kon Tiki) não acredita em coincidência e parte para cima dos sérvios. Nils se desestabiliza e vai procurar conselho com seu irmão, que o alerta do perigo. Seria serviço para um matador profissional. As sequências não são favoráveis e resolve ele mesmo enfrentar a máfia sérvia e norueguesa. Indo atrás de suas vítimas com o poderoso veículo e com cálculos muito bem estabelecidos vai ganhando espaço. As duas máfias se descontrolam e vão uma contra a outra, filho por filho, dente por dente e assim sucessivamente, numa visão grotesca e satírica. O chefe sérvio é o velho Papa, que não descansará até matar o traficante. Mesmo com esse contexto pesado o filme é levado com humor e sátira pelo diretor. As casas são maravilhosas, os hotéis e tudo de uma maneira geral é belo e sórdido. Apesar de onze mortes, que aparecem em uma tela escura com as cruzinhas e o nome de seus mortos, eu diria que é asséptico, uma vez que não vemos cabeças sendo estouradas ou rios de sangue. A neve limpa tudo, até a moral. Final excelente.  Imperdível para quem gosta do gênero.