terça-feira, 29 de setembro de 2015

UM SENHOR ESTAGIÁRIO DE NANCY MEYERS



      
THE INTERN, EUA, 2015, 121 MIN., COMÉDIA
ELENCO:
ROBERT DE NIRO – BEN
ANE HATHAWAY – JULES
ANDERS HOLM – MATT
Esta é uma das deliciosas comédias de Nancy Meyers que abordam a meia-idade, a velhice e a aposentadoria como Alguém Tem que Ceder de 2003 e Simplesmente Complicado de 2009. Agora escolhe como protagonista o ótimo Robert de Niro (Ben), que consegue construir qualquer papel com seu talento único. Ele é um viúvo de 70 anos, que se casou por amor e estabeleceu um belíssimo casamento de mais de 40 anos, quando a esposa faleceu. Muito bem situado financeiramente, não aguenta mais a rotina de levantar, sair, ler o jornal e não produzir mais nada. Por acaso, lê um anúncio que procura estagiários sêniores para uma empresa que vende roupas pelo computador, criada pela jovem Jules (Ane Hathaway). Ela é hiperativa, criativa, pragmática e em pouquíssimo tempo, um ano e meio, conseguiu que sua firma se transformasse em grande sucesso.  Respondendo ao anúncio, várias pessoas apresentam-se, mas Ben, sempre elegante, de terno e gravata, um lenço de linho bem passado no bolso, é o escolhido pelos colegas de Jules, pois o funil é grande. Ele exemplifica a “velha escola” e como todos na firma se vestiam de maneira mais do que casual, traz curiosidade para seus colegas. É escalado para servir a chefona, que nem se lembra mais dessa ideia maluca. Encostado em um canto, vai fazendo amizades com seus jovens companheiros e em pouco tempo ganha a confiança de todos. Boa praça, não liga quando tem de substituir o motorista de Jules e passa a frequentar sua casa por alguns momentos. Lá conhece o marido, um rapaz muito bem sucedido profissionalmente, que vendo o acontecimento espetacular da mulher, se oferece para fazer os serviços domésticos, como cuidar da comida, roupas e levar a filhinha para a escola e deixar a esposa correr solta. As outras mães não conseguem perdoá-la por ser bem sucedida. Com o passar dos dias a convivência entre patroa e estagiário, sempre baseada no cavalheirismo, honestidade e experiência de longos anos de trabalho, vai se tornado cada vez melhor e ele pode até opinar em coisas que só a idade e maturidade lhe permitiriam. Ótimo enredo, apesar de parecer já bastante batido. Contudo o desempenho de Robert, a leveza de Ane e a segurança de Nancy na direção e roteiro garantem um programa muito bom e acima da média para o tema.  

terça-feira, 8 de setembro de 2015

DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA DE BENOIT JACQUOT






JOURNAL D’UNE FEMME DE CHAMBRE, FRANÇA-BÉLGICA, 2015, 96 MIN., DRAMA
ELENCO:
LÉA SEYDOUX – CÉLESTINE
VICENT LINDON – JOSEPH
Este ótimo filme, dirigido por Benoit Jacquot, também foi anteriormente escolhido por dois diretores geniais, em 1947 Jean Renoir e em 1960 Luis Buñuel. O filme ganha uma interpretação muito especial da belíssima e talentosa Léa Seydoux, Célestine, e uma direção impecável e contemporânea. Baseado em um dos melhores romances do escritor francês Octave Mirbeau (1948-1917), foi publicado na virada do século 19 para o 20, precisamente em 1900. A história fez sucesso na publicação por tocar em um assunto muito recorrente e sério nesse período, a investida imoral da classe dominante, a burguesia, em suas domésticas e “pessoas de casa” como se dizia na época. Também estava para ser encerrado o polêmico caso Dreyfus, um oficial de origem judaica do exército francês, em 1894, dando liberdade ao acusado. Esses componentes tão importantes dão o tom do romance e do filme. Ele começa com a bela Céline, vinda de um emprego em Paris, sendo selecionada por uma agente para trabalhar em uma mansão na Provence (interior). Acostumada com a cidade reluta em aceitar sua nova posição como femme de chambre, mas acaba aceitando o emprego, uma vez que em Paris a situação estava difícil. Por sua grande beleza e requinte é sempre rejeitada e maltratada pelas patroas e assediada pelos patrões, como se fosse uma pequena escrava da casa e da cama. Isso muitas vezes levava as jovens à prostituição.  Agora na casa dos Lanlaires não é diferente, pois o senhor vive cercando-a pelos cantos da casa, fazendo propostas nada decentes. Ele é bonachão, mas sua mulher muito má e com um irritante sino, preso à cintura, nunca para de tocá-lo pedindo a Céline várias tarefas ao mesmo tempo, com tom autoritário. Realmente os empregados não passavam de escravos modernos, dormindo em lugares ultrajantes e comendo uma comida de péssima qualidade e aparência. Faz-nos lembrar do quartinho da empregada Val (Regina Casé), do filme recentemente postado neste blog. O roteiro é distribuído em flashbacks que nos revelam sua jornada na França de então. Já havia morado à beira mar, quando cuidava do jovem tuberculoso, George, tendo sido escolhida por sua avó. Ela o admirava por sua bondade e beleza, mas ao ceder aos seus caprichos, ele sucumbe. Quando tinha apenas 12 anos fora estuprada e desde então essa prática havia se tornado comum, o que rendeu experiência para se safar da situação. Vizinha de um coronel que também assedia sua empregada, passa a ter uma rotina de vida e se compadece da pobre cozinheira, uma jovem gorda e carente de carinho, aceitando as abordagens do patrão em troca de afeto. Existe na casa um homem soturno e que nunca lhe dirige a palavra, Joseph, o jardineiro fascista, que odeia os judeus e trabalha, em troco de dinheiro, com a igreja católica. Ele vem urdindo um plano de liberdade financeira e ao longo do tempo e quando Célestine passa a venerá-lo, enamorado, propõe que ela o siga em seu plano, mas não a pede em casamento, apesar de ter amealhado uma soma considerável de dinheiro. Ela, apesar de apaixonada, resolve refletir sobre o caso e acabam roubando juntos todos os pertences da casa.  Joseph era o braço direito dos patrões e cegamente considerado. O caso é encerrado por falta de provas. Com muita perseverança e paciência o casal consegue, finalmente, a chave para o futuro - uma pousada em uma cidade de porto bastante movimentada. O guarda-roupa é primoroso. A direção, as ótimas atuações e a beleza natural de Léa Seydoux, que nos cativa tanto, torna-o imperdível.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

RICKI AND THE FLASH: DE VOLTA PARA CASA DE JONATHAN DEMME






RICKI AND THE FLASH, EUA, 2015, 101 MIN., COMÉDIA
ELENCO:
MERYL STREEP – RICKIE LEE JONES
KEVIN KLINE – EX-MARIDO
MAMIE GUMMER – MAUREEN
Este filme é uma homenagem à cantora e compositora Rickie Lee Jones, nascida em 1954, com uma longa carreira de mais de três décadas e estilo único de cantar, especialmente em shows ao vivo. Ganhou dois prêmios Grammy e em 1999 foi listada como a trigésima melhor cantora de rock entre 100 mulheres. Rickie (fabulosa Maryl Streep), na trama, está em um ponto maduro de sua vida e, infelizmente, com sua potente voz cantando em bares decadentes com sua banda. Trabalha em uma loja de secos e molhados para manter o orçamento. Entretanto, recebe um pedido de seu ex-companheiro, milionário, para ajudar a filha deles, recém-divorciada e em depressão. Não se viam há muitos anos, pois ela largara os filhos com o pai para apostar firme em sua carreira de roqueira e cantora de música dos famosos Rolling Stones. A ideia do filme é muito boa, visto sua vida complicada, mas o roteiro é fraquíssimo, mesmo para o talento de Meryl. Chegando a casa, percebe que sua filha havia tentado suicídio e que o quadro era muito mais grave do que imaginara. Com dificuldades vai conquistando a jovem, mas seus dois filhos a rejeitam inicialmente. Fatos de sua vida no palco, empunhando uma guitarra Telecaster, vão aparecendo com magníficas canções e um belo vozeirão acompanhado pela sua ótima banda. Essa é a salvação do diretor, pois os diálogos entre os membros dessa família fragmentada, que poderiam ser perturbadores e convincentes, não passam de discussões banais. Ter uma mãe estrela de rock e nada convencional é uma chance e tanto para desenvolver ótimas confabulações, mas infelizmente não é o que ocorre. Vale pelo camaleão Meryl Streep e sua voz. E muito. Curiosidade – Mamie Gummer é filha de Meryl na vida real e nem precisaria ser dito, pois a semelhança é incrível.