terça-feira, 31 de janeiro de 2017

ATÉ O ÚLTIMO HOMEM DE MEL GIBSON





HACKSAW RIDGE, EUA, 2016, 139 MIN. BIOGRAFIA.
ELENCO:
ANDREW GARFIELD  – DESMOND DOSS
TERESA PALMER -  DOROTHY
HUGO WEAVING – TOM DOSS

Indicado em seis categorias do Oscar, esse filme de Mel Gibson marca sua volta triunfante à direção de cinema, depois de 10 anos de ostracismo. Conta a biografia de um personagem quase desconhecido da Segunda Guerra Mundial, o pacifista Desmon Doss. O filme passa a metade desenvolvendo a vida desse jovem convicto de sua religião e que leva a série o mandamento de Não Matarás. Quando menino quase mata o irmão em uma briga, quando o acerta com um pedaço de tijolo. Na fase da juventude terá um problema gravíssimo com o pai violento e alcoólatra, ex-herói da Primeira Guerra Mundial. É talvez o filme mais dilacerante em cartaz. Dirigido com rigor e fibra começa com a fase amorosa do herói, quando se apaixona por uma enfermeira e estuda com afinco para ser paramédico na guerra, pois estava chocado com a situação de Pearl Harbor. Baseado na Constituição alista-se, entretanto avisa que não poderá pegar um rifle sequer, por ser adventista, mas poderá fazer muito no campo de batalha,  salvando seus companheiros. É motivo de chacota, bullying e chamado de covarde por todos. Enfrenta uma corte marcial, mas é considerado apto para o combate, graças ao pai que tanto odiava e que interfere por ele. A partir daí o filme muda de rumo e Mel Gibson vem com toda força, mostrando os horrores da guerra contra o Japão, na Batalha de Okinawa, com cenas chocantes de carnificina, membros destroçados, vidas perdidas e soldados quase crianças comidos por ratos. Doss será fundamental nessa batalha, pois corajoso na linha de frente, sempre terá plasma, morfina e muitas palavras de solidariedade. Apesar  de muito magro e alto é tremendamente forte, carregando em uma só batalha mais de 80 soldados em suas costas até que estejam seguros para que os médicos salvem suas vidas, valendo-lhe a mais alta condecoração militar dos Estados Unidos. É um filme pungente e bastante angustiante. Nos créditos finais teremos depoimentos de participantes dessa batalha, inclusive do próprio Doss, que é muito parecido com Andrew Gardfield em ótimo desempenho, com um semblante de ingenuidade misturado com coragem e fé. Absolutamente imperdível.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

MANCHESTER À BEIRA MAR DE KENNETH LONERGAN




MANCHESTER BY THE SEA, 2016, EUA, DRAMA
ELENCO:
BEN AFFLECK – LEE CHANDLER
MICHELLE WILLIAMS – EX-MULHER DE LEE
LUCAS HEDGES - PATRICK CHANCLER, SOBRINHO DE LEE

Kenneth Lonergan, o diretor americano de 54 anos, faz um trabalho espetacular sobre a tristeza infinita, com grande simplicidade em Manschester by the Sea, que já ganhou prêmios e vai concorrer ao Oscar de melhor ator e diretor. O filme é conciso, com cores invernais e caracterizações contidas, principalmente do herói, Ben Affleck, extraordinário nesse papel. Nas primeiras cenas vemos em um barco, há exatos 10 anos, Partrick e seu pai, mais o tio querido, Lee. Eles têm uma camaradagem masculina típica e parecem estar bem felizes, com o Lee amolando o garoto sobre um possível ataque de tubarões. Tudo é riso, felicidade e entendimento nessa família. Nas cenas seguintes começa verdadeiramente o filme, que nos é, digamos, descascado a facão, aos poucos, pela dureza das circunstâncias. Lee trabalha como zelador em Boston, congelada no inverno, fazendo bicos como encanador, eletricista, enfim um faz-tudo no condomínio onde trabalha. Fechadíssimo e lindo é motivo de elogios da classe feminina, mas não move um músculo da face ou corpo. Uma pessoa aparentemente muito infeliz que não vê razão para nada nessa vida. Sem esperar, recebe uma carta de sua cidade natal, avisando que seu irmão mais velho havia falecido e ele precisava seguir imediatamente para lá, pois no testamento deixara seu filho sob a guarda do tio, uma vez que a mãe era alcoólatra, casada com outro homem em uma cidade desconhecida. Joe Sabia que ia morrer e assim tenta resgatar o futuro do irmão que de lá partira há tantos anos. Quando chega, encontra Patrick já um adolescente alto e cabeça dura como o resto da família Chandler. Patrick gosta da escola onde estuda, tem uma banda e namora duas meninas ao mesmo tempo. Lee, de cara não quer ser o guardião do rapaz e expressa claramente esse sentimento. Os diálogos transcorrem muito contidos, devagar e sem mostrar sentimentos acalorados. Ficamos intrigados por esse comportamento tão inesperado. Nada será explicado de maneira suave a terminar em um final feliz. A história será desvendada aos trancos. Obviamente acontecera algo muito sério, alguma tragédia sem limites, para tal ressentimento e contenção, uma vez que não consegue conversar nem com a ex-esposa. O filme traz várias cenas do passado para que possamos, aos poucos, ir descobrindo o presente sem futuro. E não é logo que esse mistério será aberto aos espectadores, mas já quase no terço final, como uma bofetada no rosto. Lee sofre de uma dor tão profunda que confessa ao sobrinho não ser capaz de superá-la ou amenizá-la, fora um corte definitivo em sua vida. O final surpreendente fica um pouco em aberto e quem sabe um dia ele poderá se reconciliar consigo mesmo. Ben Affleck e Lucas Hedges apresentam performances impecáveis, mas Affleck está simplesmente divino! Ótimo filme para adultos em idade e maturidade, absolutamente imperdível!


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

EU, DANIEL BLAKE DE KEN LOACH



I, DANIEL BLAKE, REINO UNIDO, FRANÇA, BÉLGICA,2016 

DRAMA
ELENCO:
DAVE JOHNS – DANIEL BLAKE
HAYLEY SQUIRES – KATIE


Com sua segunda Palma de Ouro em Cannes, Ken Loach denuncia nesse intenso filme a condição entre o estado e os cidadãos da classe média baixa do Reino Unido. Gira em torno dessa comunidade mais pobre, que mora mal, tem empregos de baixa qualificação educacional e recebe muito pouco do governo, que não se preocupa muito com eles, mas impõe uma enorme burocracia em suas vidas. Daniel é um carpinteiro de 69 anos, viúvo, que sofreu um grave ataque cardíaco e não está podendo trabalhar. Sua médica acha que está progredindo, mas precisará ficar ainda alguns meses descansando para poder voltar à ativa. O serviço de seguridade social não concorda com o parecer e obriga esse cidadão a passar pelos maiores vexames de sua vida. Longe  dos computadores, pois sempre usara um lápis atrás da orelha, é um técnico perfeito em sua área, mas péssimo em tecnologia. No gabinete da seguridade é cravejado de perguntas inoportunas e tolas, que não têm nada a ver com sua doença. Descontente com o tratamento que Katie e seus dois filhos também estão tendo no mesmo lugar, arruma encrenca a fim de defendê-los e todos são expulsos pela polícia do local. Katie perdeu seu direito ao apartamento social em Londres e foi deslocada para New Castle, onde não conhecia ninguém. Os dois se tornam amigos, ajudando a reformar sua casa, pois é um faz-tudo, olha as crianças para ela procurar emprego e os entretêm com carinho. Uma amizade sincera e sem segundas intenções nasce entre esses indivíduos que só contavam com uma rede humanitária de proteção. Todos se amparavam como podiam pela rigidez do governo. Isso é bem verdade, até entre as pessoas de classes mais elevadas, pois convivo com elas. A ajuda humana é total e as ligações individuais as mais sinceras. O filme fala para o coração e tem grandes semelhanças com que ocorre nesse nosso Brasil no quesito burocracia e mau atendimento. Mesmo assim, lá a moradia e condições gerais são muito melhores, seria nossa classe média, média. Imperdível, com atuações comoventes e situações engraçadas e bizarras!!


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O APARTAMENTO DE ASGHAR FARHADI




FORUSHANDE, IRÃ, FRANÇA, 2016, DRAMA
ELENCO:
SHAHAB HOSSEINI – EMAD – MARIDO
TARANEH ALIDOOSTI – RANA – MULHER
Spoiler


Esse belíssimo filme do impecável diretor Asghar Farhadi, de A Separação, ganhou premio de melhor roteiro e melhor ator no festival de Cannes, com muita justiça. Trata-se da história de um casal erudito e moderno, no Irã atual. Ele é professor de literatura e ator, assim como sua mulher. Ensaiam a peça A Morte do Cacheiro Viajante, de Arthur Miller, onde são o par principal.  As primeiras cenas focam o teatro e o palco com seus pertences, para depois ir aos diversos atores. Em outro momento, Rana e Emad são obrigados a abandonar o edifício onde moram, que ameaça desabar por causa de uma obra ao lado. Focam o trator e já intuímos um roteiro de separações e problemas. Um ator amigo oferece a eles um apartamento abandonado há pouco tempo, em igual estado de decadência pela situação caótica do país. Sem outra opção, mudam para lá e Rana consegue deixá-lo com um ar mais habitável. Nessa mesma noite, depois do espetáculo, vai para casa para tomar banho e relaxar. O marido chegaria em breve. Quando a campainha da porta toca, ela simplesmente abre-a, esperando a chegada do marido. Esse lapso vai desencadear fatos terríveis e inimagináveis na vida dos dois. Tratava-se de um cliente da antiga proprietária, prostituta, o qual ataca brutalmente Rana no chuveiro deixando-a desacordada e muito ferida. Ela não quer dar parte na polícia, pelo preconceito contra as mulheres no país. E também não quer que ninguém, além dos vizinhos que a salvaram, saiba do caso. Entretanto foge do controle deles essa terrível notícia. Já que Rana não irá à delegacia, Emad resolve descobrir sozinho quem atacou sua mulher. É a melhor parte do filme, sua atuação é soberba. Investiga pequenos detalhes, fatos que ouve aqui e ali, volta para o antigo apartamento, a fim de dar uma nova revisão nas coisas e acaba achando o culpado. Esse homem será atraído a esse apartamento e forçado a confessar seu crime de maneira humilhante, mas sem agressões físicas. Quer ir até o fim, pois só assim poderia voltar a ter uma relação normal com a esposa que se encontrava traumatizada e ferida. O lado humano do casal, nesse país tão agressivo e prepotente, é a cereja do bolo desse fantástico filme. Imperdível pelas atuações e o roteiro intrigante. Um dos melhores filmes em cartaz. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

ANIMAIS NOTURNOS DE TOM FORD




NOCTURNAL ANIMALS, EUA, 2016, THRILLER PSICOLÓGICO
ELENCO:
AMY ADAMS – SUSAN MORROW
ARMIE HAMMER – MARIDO
JACK GILLENHAAL – EDWARD SHEFFIELD (EX-MARIDO) E TONY HASTINGS
AARON TAYLOR JOHNSON – RAY MARCUS


SPOILERS
Animais Noturnos, do diretor e estilista Tom Ford, é um filme perturbador que não passa incólume por você. Ou adora ou odeia. Não há meio termo.  Logo no inicio, cenas cruas na inauguração de uma galeria. Mulheres obesas, em nu frontal, dançam sensualmente. A dona da galeria é a riquíssima Susan Morrow, que por si só já é uma obra de arte. Cabelos ruivos longos e impecáveis, uma pele de porcelana e roupas belíssimas. Sua casa é moderna e asséptica como ela. Esse era ou é o mundo do famoso estilista e diretor. O filme tem três camadas, que se interpõem e foi baseado na novela Tony and Susan de Austin Wright. Susan está em fim de casamento com o também belo Armie Hammer, que a trai com outras mulheres. A galerista recebe um manuscrito de seu ex-marido, Edward Sheffield, Nocturnal Animals, dedicado a ela. Sozinha em casa começa a ler o livro. O drama é mostrado como um filme dentro do filme. Trata-se de uma família que sai de férias para o oeste do Texas, à noite, e tem seu carro jogado para fora da estrada por três vigaristas violentos, que acabam por raptar sua mulher e filha adolescente. Sozinho e ferido anda até a cidade vizinha, onde é recebido pelo delegado que está disposto a resolver aquele caso horrível de assassinato, já que seria seu último, uma vez que sofria de câncer no pulmão e estava em fase terminal. À medida que Susan vai lendo sente-se muito envolvida com a história, e vemos a terceira camada do filme, quando os dois se conheceram muito jovens em uma universidade. Ele seria escritor e ela artista plástica. Apaixonados resolvem se casar, apesar da mãe afirmar que seria um erro enorme, já que eram milionários e com a vida segura e Edward apenas um sonhador, um fraco. Apesar disso se unem e depois de alguns anos, ela se aborrece com seu comportamento manso e decide abandoná-lo sem maiores explicações. Após 19 anos de separação, Susan teve notícias dele através desse romance tão contundente e bem escrito. Interessada não consegue largá-lo, pois acha que tem semelhanças com suas vidas. No drama, suas duas queridas mulheres já estavam eliminadas e ele, tentando matar o algoz delas como revanche, recebe golpes de ancinho  dados por Ray Marcus, o mesmo assassino de sua família. Suas últimas palavras para Tony é que era um fraco. Susan se comove com o desfecho e decide marcar um encontro com Edward para um drinque. A novela foi a forma como resolveu se vingar de Susan e o final do encontro também, pois nunca aparecerá para encontrá-la.  É um longa estressante, pois mesmo que não goste não deixará de ficar intrigado. Animais Noturnos foi selecionado para o Leão de Ouro, em Veneza, ganhando o Grand Jury Prize. Ótimo.