sábado, 29 de novembro de 2008

REDE DE INTRIGAS De Ridley Scott




























Primeira cena: O principal chefe de um grupo terrorista mais recente do que a Al Qaeda, está transmitindo, por meio de vídeos caseiros, uma mensagem para seus seguidores apelando para a destruição dos ocidentais, que os feriram com sangue e eles deveram derramar seu sangue também, até que desapareçam da fase da terra. Um atentado é realizado em Sheffield, outro em Manchester, Inglaterra, naqueles instantes com centenas de feridos. No quartel general da CIA, seu homem mais importante, Ed Hoffman (ótimo Russel Crowe) está em frente a um telão, em uma sala equipada com a mais alta tecnologia, vendo e rastreando todos os passos de seus inimigos e de seu principal agente no Iraque, Roger Ferris (excelente Leonardo Di Caprio), que esta tentando ganhar um luta inglória contra o terrorismo. Ele fala árabe fluentemente, veste-se como um muçulmano e constata o porquê da superioridade dos inimigos. Apesar da falta de tecnologia, a guerra está se arrastando pelo método empregado: trocas pessoais de informações por escrito, fanatismo religioso e obstinação em vencer o ocidente. Ferris é ótimo no que faz, contudo é teleguiado, literalmente, por seu chefe, que estando com a família nos estados Unidos, não se separa jamais de um fone de ouvido, com o qual determina cada passo a ser dado pelo agente. Ferris propõe que façam o mesmo que os orientais, ou seja, não sejam um alvo fácil e organizado, com o eram, pois estavam sempre agindo com previsibilidade e método claro. Sendo enviado para Amã, pois outros atentados ocorreriam, comunica-se diretamente com o chefe da inteligência jordaniana, Hani (Mark Strong), que se considera no mesmo nível de sua majestade. Para que sejam parceiros e sócios era preciso que a confiança mútua fosse total, sem mentiras e dados ocultos, pois isso custaria caro a Ferris. Concordando com as exigências, descontrola-se por vezes, pois Hoffman, de seu confortável escritório com ar condicionado, ou da escola dos filhos, contradiz muitas das ações de seu agente, a fim de pegar o chefe terrorista, que já explodira várias pessoas, inclusive, no mercado de flores de Amsterdã. As informações e contra informações são o principal empecilho na boa execução dos planos de Ferris, que não sabe exatamente o que ocorre nos bastidores americanos e jordanianos. Após muita reflexão ele elabora um plano para pegar Al Salim, pois apesar de nunca declarar sua autoria nos atentados e se manter incógnito, era um homem culto, que estudara em ótimas escolas, inclusive nos estados Unidos, onde completara um PHD. Sendo assim, Ferris supõe que tenha um ego muito elevado e que se eles cometessem um falso atentado terrorista, divulgando o nome de um testa de ferro, que não saberia de sua posição e assim, se sentido insultado Al Salim comunicar-se-ia com essa célula terrorista e seria, talvez, descoberto e preso. Durante uma de suas missões suicidas, na Jordânia, precisamente em Amã, Ferris é mordido por cães raivosos e levado a uma clínica para que tome vacinas contra raiva. A enfermeira que o atende é enigmática e linda! Obviamente que um pouco de romance não poderia faltar. Volta a tomar as injeções e a convence de conversarem a sós por uns instantes. Os dois se gostam desde a primeira vez, e ambos estão se divorciando. Um pequeno “romance” se é o que podemos dizer, se inicia. TUDO, absolutamente TUDO, que ele faz é visto pelas câmeras americanas, com diversas imagens de satélite, que podem ser aproximadas quantas vezes sejam necessárias. O testa de ferro escolhido é um arquiteto jordaniano e muçulmano, Omar Sadiki, homem que gosta de dinheiro e freqüentador de uma igreja da Consciência Universal, ou algo parecido com esse nome. Ele e um advogado de terceiro escalão da Al Qaeda, serão as iscas para detonar o paradeiro de Al Salim. Omar é contratado por Ferris para ir ao Kuait, a fim de realizar uma obra, que seria o chamariz. O nome da operação é Ninho de Figo e será realizada na Turquia. O local a ser detonado é Incirlik Air Base, onde seriam colocados mortos não resgatados, como se fossem soldados que haviam sido explodidos junto com as bombas. O esquema dá certo e várias mensagens de e-mail, em teclado árabe, são enviadas para o computador de Omar, por membros da Al Qaeda. Desnorteado, some, mas é aprisionado por um grupo terrorista. Os americanos já sabem onde está Al Salim, pois havia comido a isca ao ver um noticiário pela televisão. Contudo Ferris, um pessoa ética, quer resgatá-lo e protegê-lo, mas antes que consiga, ele seria aprisionado. Ao sair de um local é seguido por terroristas e seqüestrado por homens de Al Salim. Hoffman acha que todas essas mortes e torturas são totalmente normais, pois aquilo era uma guerra. UMA GUERRA? Só para os árabes e os soldados americanos, pois para os agentes da CIA, não passava de um jogo de videogame. Ferris é abandonado por Hani, que lhe declara que fora traído e sozinho é elevado para o meio do deserto, para ser trocado pela jovem Aisha, que havia sido seqüestrada pelos árabes, em troca de sua pessoa. Deixado em baixo de um sol causticante, no deserto de pedras, é circundado por quatro carros de Al Salim, que dirigindo em círculos em volta do jovem, provocam uma massiva poeira, que impossibilita a visão dos satélites americanos. Saindo cada carro em uma direção diferente, Hoffman “despede-se” de Ferris, pois não sabia qual dos carros seguir! Ele é brutalmente flagelado por Al Salim e seu grupo, pois sendo o principal agente da CIA no oriente médio, querem que lhes forneçam informações. Seus dedos são quebrados com martelados e seu corpo colocado em uma cama com um enorme prego, sua cabeça atingida diversas vezes. Subitamente ouvem-se tiros de metralhadora e Ferris é resgatado por Hani, o chefe da inteligência jordaniana. Ele é que havia seguido o carro certo e salvo, apesar da mazelas, sua vida. Mas ele também havia seqüestrado a enfermeira, para que servissem de isca para achar Al Salim, o qual agora já era seu prisioneiro. Hoffman quer que Leonardo volte para os Estados Unidos ou continue como agente secreto, caso contrário estaria voltando as costas à sua pátria, desse modo seria deixado por conta própria e esquecido. Todavia sua escolha é bem outra. Claro, o bom moço permanece em Amã perto de sua amada, que já se encontrava solta e trabalhando com seus doentes. Imagens de satélites são mostradas até que fiquem pretas e longínquas. FIM!
Sobre o filme
Os atores são muito convincentes, principalmente Crowe, DiCaprio e o ator inglês Strong. A história inverossímil nos atrai, mas é uma colossal bobagem, que não define o que é realmente uma guerra terrorista, como a que temos hoje em dia. É um filme para pessoas suscetíveis, pois apesar das mortes e flagelos, os atores aparecem no dia seguinte com um leve roxo nos olhos e alguns pontos no rosto. Francamente a maquiagem poderia ter sido bem melhor. Como diversão é de primeira linha. Baseado no romance Body of Lies, de David Ignatus. Vários atores árabes fazem parte do ótimo elenco.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

QUEIME DEPOIS DE LER De Joel e Ethan Coen









Este é mais um dos filmes sensacionais dos irmãos Coen. Depois do pesadíssimo Os Fracos Não têm Vez, voltam à comédia, mas que tipo de comédia? Humor negro? Humor paranóico? Humor maníaco ou assassino? É um pouco de tudo isso e ainda se identifica com filme de espionagem. Primeira cena, passos decididos no mármore de um corredor da CIA. Confiante entra um dos seus analistas, Osbourne Cox (John Malkovitch) e para sua surpresa é despedido por ter problemas com bebida. Arrasado e sem emprego resolve escrever um livro de “Memórias” sobre a corporação. Casado com uma fria e infiel médica (Tilda Swinton) tem seus dados copiados por ela em um disquete, para agilizar um processo de divórcio. Ela é amante de um funcionário do tesouro americano, Harry (George Clooney), o qual por sua vez, apesar de casado com uma escritora, é mulherengo, hipocondríaco, e meio psicótico. Esse disquete vai parar, por vias indiretas, em uma academia de ginástica, onde trabalham Linda (Frances McDormond) e o garoto bobalhão Chad (Brad Pitt). Totalmente duros e precisando de dinheiro, ela, para fazer uma plástica estética, e ele, pela grande oportunidade de aventura e faturar algo, resolvem chantagear Cox. Não dando o resultado que esperavam, partem para o que ela chama de plano B, pois não desistiria facilmente. As cenas que se seguem a esta estória atrapalhada, são de pessoas que não deveriam se encontrar e se encontram e caminhos que não deveriam coincidir e coincidem. Porém, como marca registrada dos diretores, cenas de violência inesperada e sem sentido pipocam. A audiência pode ter certeza de grande divertimento, apesar desses detalhes brutais, pois não fazem nenhum sentido real e a estória é muito bem conduzida e amarrada. Na cena final, vemos parte dos Estados Unidos, através da visão do Google Earth e uma música que avacalha os agentes da Cia. Com este time de atores espetaculares e os grandes diretores, não se pode esperar nada menos que uma comédia inteligente e um ótimo entretenimento. Brad Pitt, como personal trainer que masca chicletes e dança ao som de um Ipode, está ótimo! Frances McDormond é sempre genial em qualquer papel, mas nesse filme ela se supera. Clooney é impagável representando um sujeito paranóico e doente por mulheres. Tilda Swinton nos arrepia de frio só em olhá-la e Malkovitch segue em seus papéis de homens problemáticos. A trama toda é uma crítica à posição americana atual, diante do terrorismo, da banalidade, do agir sem pensar, da frivolidade. Mas esse comportamento não se restringe apenas aquele país, infelizmente está globalizado.

domingo, 23 de novembro de 2008

A DUQUESA de SAUL BIDD














Um dos mais belos jardins da Inglaterra nos é mostrados e aí, jovens se divertem com jogos típicos da época. A mais bela das moças, é sem dúvida nenhuma Georgiana Cavendish (Keira Kgnithley) de 17 anos. Sua mãe Lady Spencer (Charlotte Rampling) está finalizando um tratado de casamento com o maduro duque de Devonshire (Ralph Fiennes), que a observa pela janela. O sustentáculo dessa união será a vinda de um herdeiro e obediência ao marido. Em um cenário maravilhoso, com centenas de velas ao fundo, eles se casam. Seu único intuito é o nascimento de um menino, que possa ser o sexto Duque de Devonshire. Esse é um homem duro, insensível, poderoso, promíscuo e ditatorial. Sua jovem esposa só tem uma utilidade para ele: “gerar um menino e obediência”, como os cachorros que ele tanto gosta. O castelo onde vão morar é um dos mais belos e conhecidos de toda Europa, pois William era uma dos homens mais importantes, ricos e influentes da Inglaterra, sendo o principal membro do Wig Party. São tempos de mudança na Europa e a liberdade de voto é ansiada por todos. Os Wigs sonham com uma liberdade moderada, o que é descartado por G. (é assim que a chamavam), pois ou é liberdade ou não é. Esse movimento libertário se espalhara da França aos Estados Unidos da América. Eles são freqüentadores assíduos dos salões e da política, que se torna a paixão de G., juntamente com o jogo. Recém casada é obrigada a ficar com Charlotte, filha bastarda de William, mas um amor maternal se aflora com a pequena. Pouco depois ela tem sua própria filha e em seguida outra. Em muitos dos embates políticos que participa, Georgina reencontra Charles Grey (Dominic Couper), que fora se companheiro. Ele pertence ao partido da oposição, Tory Party (conservador), e pretende se eleger na eleição que está prestes a ocorrer. Nesse ínterim, conhece Bess Foster (Hayley Atwell), que se torna sua melhor amiga e amante seu marido. Através dela fica sabendo o que é o verdadeiro ato sexual e o prazer. Bess, mãe de três filhos e separada deles e do marido, vai morar em seu magnífico palácio, Devonshire, coberto por tapetes, paredes de veludo, artes, pratarias e mobílias de qualidade insuperável. Georgina, ignorada pelo marido, passa a ser sufragista, apoiando abertamente Charles Grey e sua causa em prol da liberdade e igualdade e de um “admirável mundo novo.” Ela é a mulher mais linda da Inglaterra e a mais bem vestida, desenhando seus próprios vestidos e chapéus com muitas plumas, pois, como disse a seu marido, esse seria o único modo como uma mulher poderia se expressar, ao contrário dos homens que eram livres para fazê-lo. Sua presença é esperada, tanto nos salões como entre o povo, por sua inteligência e beleza. Contudo Bess, explicando que precisava ficar junto aos filhos, torna-se abertamente amante do duque de Devonshire, e sua presença e a dos filhos são impostas à jovem. Desespera-se, pois a única coisa que realmente possuía era uma amiga, e essa lhe fora tirada por seu cruel marido. O duque não se desculpa de seus atos, pois estava sempre cumprindo o que prometera: abrigá-la e protegê-la, nada mais do que isso. Refugiando-se com a mãe, volta, a pedido desta, a morar em sua casa, tendo que aceitar esse imposto ménage à trois! Inconformada, pede que seus sentimentos por Charles sejam aceitos, assim como ela aceitava o relacionamento adúltero entre os dois. O duque se enfurece e profere que com ele não há acordos, só há ordens a serem cumpridas. Estuprando-a, exige que tenha um filho e o obedeça. O garoto nasce, enquanto ela está em uma casa de campo para descansar, em companhia de Bess. Wiliiam fica feliz e lhe dá de presente uma letra, com um alto valor, para suas filhas (não nossas). Bess articula, nos bastidores, encontros entre os dois jovens amantes, que partem para Baths, uma cidade linda famosa por suas águas termias (foi fundada pelos romanos). Lá ela engravida de Charles, mas é obrigada pelo duque e sua mãe a voltar para Londres e cuidar de suas filhas, pois se não o fizesse seria impossibilitada de vê-las e o jovem Grey seria banido completamente da política inglesa para sempre. Nesse quase final de filme ela já se entregara à bebida e ao fumo. O duque ao saber de sua gravidez obriga-a a morar no interior do país, ter seu filho e entregá-lo, imediatamente a família Grey. Charles quer casar-se com ela, mas não consegue, pois ela teria que abandonar os filhos e ele a política. Depois do nascimento do bebê, uma menina, ela corajosamente, com a ajuda de Bess, dá a filha ao avô, General Grey, que leva a criança. Tempos depois, quando G. já voltara a freqüentar os salões a pedido do duque, ele lhe confessa que, apesar de suas atitudes duras com ela, a amava, em um gesto pouco familiar a ele. Um pequeno roçar da mão de G. nos mostra que ela concordara com a situação. Georgina volta a viver em uma “suposta tranqüilidade”, mas morre aos 48 anos. Bess casa-se com o duque de Devonshire, com as bênçãos de Georgina, e Charles Grey é eleito primeiro ministro da Inglaterra.

Sobre o filme.
Os atores são muito bons, principalmente Rampling e Fiennes. Keira está lindíssima e continua competente em seus trabalhos de época. Não é um filme espetacular, mas é adorável de ser visto e compreendido, com imagens deslumbrantes dos palácios e castelos ingleses. Os problemas abordados são ainda muito atuais. Houve melhoras políticas, sociais e feministas, mas não chegamos ainda a um consenso, nem de leve em minha opinião, satisfatório.
Sobre Georgina Cavendish, duquesa de Devonshire.
Viveu entre 1757 e 1806. Foi a primeira esposa do riquíssimo William Cavendish, 5°duque de Devonshire. Entre seus descendentes está princesa Diana, que teve uma vida amorosa conturbada e infeliz como a sua. Georgina era notabilizada por sua beleza e o grande círculo político que freqüentava. Era ativista política e em 1784, durante a eleição geral, e mais de cem anos antes do voto feminino ser aceito, havia rumores que trocara beijos por votos a favor de Charles. Certa vez, um irlandês ao vê-la exclamou: “Amo e lhe abençôo, minha Lady, deixe-me ascender meu cachimbo no brilho dos seus olhos!” Casou-se aos 17 anos, teve dois abortos de meninos e duas filhas e um filho, que morreu solteiro! Com Charles teve outra menina em 1792. Georgina visitava sua filha, Eliza Courtney, freqüentemente, às escondidas. Eliza deu o nome de sua mãe para a filha. Morreu aos 48 anos e seu marido casou-se, sob sua benção, com Bess. Era conhecida por sua paixão de jogar, deixando um grande débito. BEM FEITO!
Reparem na mudança do conceito de beleza. A pintura é a imagem verdadeira.

sábado, 22 de novembro de 2008

FELIZ NATAL de SELTON MELLO











Um dia de sol, uma cortina banhada por cores avermelhadas que balança, e atrás uma copa de árvore. Um pátio repleto de carros velhos e um jovem acompanhado do cachorro. Ele lava bem as mãos e depois faz amor com sua companheira, sob o chuveiro. Depois sai e viaja até um casarão repleto de pessoas e muito iluminado. Quem atende é um garoto de 7 anos, que o chama de tio Caio. Ele é Bruno, levando-o para ver a família que comemora uma festa: FELIZ NATAL! ... Esta é uma narrativa, pesada, sobre diversos fatores comuns em famílias irregulares. Caio (ótimo Leonardo Medeiros) é um rapaz sofrido e extremamente contido, que resolve visitar sua família, na noite de natal, a fim de se depurar, de se redimir de seu passado conturbado e encontrar, talvez, outro enfoque para sua vida. Há muitos anos não os via, pois estivera afastado de seus parentes e de seus amigos, por motivos pessoais. A primeira pessoa que vê é a cunhada, mas seu foco é a mãe (excelente Darlene Glória), uma bela senhora alcoólatra e viciada em drogas. Seu irmão Theo (primoroso Paulo Guarniere) o observa, sempre com um sorriso nos lábios e olhos brilhantes e sensíveis. É o tipo de homem que carrega seu destino com aceitação e tolerância. Seu pai (Lúcio Mauro em perfeita atuação) é o mais perfeito cafajeste, que demonstra em seu rosto marcado e enrugado, seu cinismo. A trama é muito bem elaborada e descrita com calma, para que você absorva todas as suas nuances que vão do claro ao mais escuro tom de qualquer palheta de cores. Vários fatores são tratados nesse filme: disfunção familiar, dependência em drogas pesadas, desejo de restauração pessoal, remorso, intolerância paterna e fatalidade. Caio mora em uma pequena cidade e é dono de um ferro velho, tendo a companheira que o satisfaz. Theo é casado, esteio da família, morando em uma grande casa, e sustenta seus parentes mais próximos sem nenhuma lamentação, ao contrário com resignação! A visita de Caio causa um grande mal estar entre os familiares que vêem no que ele foi, o próprio espelho de suas vidas mal construídas e deterioradas. As crianças são os observadores e seguidores atentos dessas mazelas familiares. Todos guardam cuidadosamente seus segredos inconfessáveis e suas cóleras mudas, principalmente nosso herói. Ele, entretanto, quer se redimir de seu passado, para poder ter a paz de espírito que almeja alcançar. Os dois primeiros terços do filme nos dá essa noção global da peça, com cenas emocionantes como o encontro dos dois irmãos para tratar de dinheiro, e a “preparação” de Mércia, a drogada, para um espetáculo terrível, que é assistido por seu neto. Porém acontecem, talvez, mais dois clímaces, que nos preparam para o final do filme, que não ocorre, causando no espectador atento um cansaço, pela tensão em que se posiciona. Finalmente vemos a mesma cortina, tingido de tons avermelhados, com a mesma copa da árvore, e uma das crianças relembrando as atitudes dos mais velhos. A cortina balança e a cena termina. Outra cortina translúcida, do mesmo tom, se fecha rapidamente, com o cotidiano familiar dos moradores do ferro velho, que é visto através da transparência do cortinado. É um final aterrador, mas que arremata as tragédias desses personagens delirantes!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona de Woody Allen







Aviso aos navegantes: o filme todo é narrado!





Direto ao assunto! Como uma trama quase tolinha pode nos oferecer um filme bonito e engraçado, quando bem dirigido e estrelado por atores de primeiro escalão. O diretor é o sempre talentoso Woody Allen e os atores são as maravilhosas Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penelope Cruz e o ótimo Javier Bardem (muito rejuvenescido). Duas jovens americanas, amigas de longa data, vão para Barcelona por dois meses, durante o verão. A maravilhosa casa havia sido cedida por uma amiga da mãe de Vicky, Judy. Cristina vai a fim de se encontrar, pois só tinha certeza daquilo que não queria e Vicky para seu mestrado de língua catalã, pois se apaixonara, aos 14 anos, pela obra de Gaudi. Vicky (Rebecca Hall) está com casamento marcado, é pragmática e quer ter sua vida sob total controle. Cristina (Scartett Johansson) escreve poemas, fez um filme de doze minutos e possui uma mente bem aberta e libertária. Logo o chegarem vão jantar em um restaurante típico e acolhedor, quando são abordadas por Juan Antonio (Bardem), um conhecido pintor divorciado, que encantado pela beleza das moças, propõe-lhes um fim de semana em Oviedo, sua cidade natal para um ménage a trois. Chocada Vick recusa-se a participar, mas acompanha Cristina na aventura amorosa. Scarlett, Bardem e Rebecca, passam um dia glorioso, visitando a belíssima cidade, mas à noite só o primeiro casal vai para o quarto. Ambos desejam ser o mais franco possível nessa situação. Contudo quando o clima está no ápice, Cristina sente-se mal e adivinhem.... Vai vomitar, pois sofria de úlcera, que piorara, com tanto vinho!! Acamada, sobram Vick e Juan para desfrutar o dia que restara. Ele é um ótimo anfitrião, mostrando-lhe a cultura catalã e após um jantar maravilhoso, acabam fazendo amor ao relento! Isso será o divisor de águas na vida de Vick, que por uma noite com ele não consegue esquecê-lo e passa a não ter o controle que imaginava sobre seus sentimentos. Na volta Vick está muda e Cristina se desculpa sem parar pelo constrangimento que dera! Cristina, dois dias depois recebe um convite de Juan e os dois mostram-se ser o par perfeito. Ela vai morar com ele, como todo artista espanhol gostava: ter a musa bem perto para inspirá-lo! Vick, na casa de Judy e seu marido, recebe um chamado de Doug, seu noivo, sugerindo-lhe que se casem em Barcelona e depois, em Nova York, darão um grande festa. Ela emudece e fala por monossílabos, incerta de que isso fosse o que queria, mas finalmente ele voa para lá e acontece o matrimônio. Quando Cristina e Juan já estão totalmente entrosados e apaixonados, chega quem? Claro! Maria Elena (Penélope Cruz), ex-mulher de Juan que havia tentado suicídio e passaria a morar com eles! As duas belezas se confrontam: uma de escaldante luz e de loiro a outra de ardor negro, com cabelos e olhos escuros. As duas são incendiárias, mas Scarlett é mais racional. Maria Elena é a típica suicida, mas um gênio em tudo que faz, pois Bardem havia tirado muita coisa de seu talento e colocado em suas telas. Aos poucos as mulheres se aceitam e tornam-se amigas íntimas, pois Elena reconhecera em Cristina um talento para a fotografia, que ela não sabia que possuía em tão alto grau. Os três formam um conjunto amoroso impecável, que só era assim pela presença de Cristina, a luz loira de olhos azuis. Nesse passar de tempo, o casamento de Vick é um verdadeiro desastre para ela, pois não consegue parar de comparar os dois jovens tão diferentes. Doug, um típico americano bem-sucedido e consumista, e Juan, um artista libertino e sensível. Os quatro se encontram para um almoço e, surgindo uma oportunidade, Vick confessa que esperara uma despedida por parte de Juan, mas ele não quisera interferir em sua decisão de se casar. Com uma rotina amarga Vick, um dia, surpreende Judy, sua anfitriã, beijando um jovem rapaz na sacada. Judy tenta explicar-se e diz que seu casamento apesar de bom, era só isso bom, mas sem paixão. Ela sonhava com algo especial e nunca tivera coragem de partir, por medo, por não ficar mais protegida pelo ótimo Mark. A verdade é que as duas têm exatamente a mesma história de vida! Bem, nesse meio tempo, apesar do luminoso relacionamento entre as livres idéias, Cristina questiona a sua posição naquela casa e resolve partir de lá e ficar duas semanas em Paris, antes de voltar para New York, e repensar sua vida. Maria Elena, que estivera totalmente apaixonada por ela, não aceita a decisão e insulta Cristina, descontrolada e ferida. Juan reage de outra maneira, mais civilizada e tolerante com o desejo de outra pessoa. Contudo... Esses dois gênios brilhantes passam a se massacrar, como antes, e ela arruma a mala, com já fizera diversas vezes, e parte! Bardem encontra-se só, de novo. Judy resolvera dar uma festa em sua mansão para aproximar Vick e Juan e realmente atinge seu intento. Os dois, em uma “Belíssima Tarde em Barcelona” (Título do próximo filme) se encontram e um novo amor aflora entre eles! Em sua casa Juan recebe Vick, para momentos de amor intenso, mas eis que... Eis que... Maria Elena entra e, com uma pistola atira na mão de Vick, a qual furiosa profere que os dois são loucos e que ela jamais poderia viver daquele modo ensandecido! Judy e Mark passeiam pelo cais, de mãos dadas, mas ela não conseguira fazer com que Vick vivesse seu antigo e distante sonho de amor. O filme vai se encerrando com os três jovens, descendo pela escada do avião, Cristina e Doug ilesos e Vick com a mão enfaixada. Em New York eles continuam como estavam no começo do filme. O casal estruturado e completamente previsível e Cristina tendo certeza somente do que não quer!

domingo, 9 de novembro de 2008

sábado, 8 de novembro de 2008

LA LEONERA de Pablo Trapero







Sem dúvida Leonera é um dos filmes mais comoventes de 2008. O título que quer dizer, local onde se mantêm os leões ou as leoas, é perfeito e felizmente não foi traduzido. Na abertura uma música folclórica infantil é cantada e de certo modo define o rumo da película. O foco principal são as desventuras de Júlia (excelente Martina Gusman), jovem universitária de 23 anos, que amanhece em seu apartamento com corpos ensangüentados e esfaqueados. Vivia com dois rapazes Nahuel e Ramiro (Rodrigo Santoro) e após uma briga Nauhel é morto. Ela, principal suspeita do assassinato, é enviada a uma prisão para mulheres grávidas e mães condenadas. Grávida revolta-se contra o sistema carcerário e as condições que a levaram a uma gestação indesejada e a essa situação limite. Contudo, após o parto sente-se vinculada fortemente ao filho Tomas e a uma das prisioneiras. O filme enfoca diversos assuntos complexos e delicados como justiça, solidão, medo, relacionamentos familiares disfuncionais e lesbianismo. É um drama pesado, mas escrito e dirigido com leveza e ternura. Algumas cenas, certamente, não serão esquecidas por quem as vir, e nos farão repensar alguns conceitos preestabelecidos. A maternidade é discutida sob vários ângulos, assim como o abuso e abandono infantil. Enfatiza, também, a condição da mulher atual e latina, sobretudo que necessita ser uma guerreira para sobreviver com seus filhos. No elenco temos ainda Eli Medeiros, ótima como mãe de Julia e a perfeita Laura Garcia, como Marta. O filme é encerrado ao som de um maravilhoso tango. Vale e muito o ingresso.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

UM SEGREDO ENTRE NÓS Direção de Dennis Lee











Esse drama sobre famílias disfuncionais sob o título de Fireflies in the Garden, pobremente traduzido por Um Segredo Entre Nós, é muito bom. As primeiras tomadas são imagens de satélite sobre um belo bairro arborizado, em seguida a periferia e depois campos cultivados. As rodas de um carro aparecem sobre uma estrada molhada pela forte chuva. Ele é dirigido por Charles (Willem Dafoe) que aterroriza um garoto de cerca de doze anos, Michael (excelente Ryan Reynolds quando adulto). Não estão sós no veículo. Aparece o rosto da mãe Lisa (Julia Roberts), que está grávida. Não tolerando a desobediência do filho inteligente e sensível, abre a porta do carro e manda que ele volte a pé para casa! Lisa, uma mulher extremamente submissa e insegura permite o ato, apesar de não concordar com isso. Sua irmã, Jane (excelente Emily Watson quando adulta), é uma garota (ótima Hayden Panettiere) um pouco mais velha que o sobrinho e vai passar uns tempos com eles. O relacionamento entre os dois é perfeito, pois possuem personalidades complementares: ele mais tímido e circunspecto ela mais atirada e realista. Há um lapso de muitos anos no futuro. O filme é feito em flashbacks e o momento atual. O mesmo garoto, que entrara no trigal molhado e desesperado, sai dele já um homem. É Michael adulto e um escritor conhecido. Está indo para a formatura tardia de sua mãe. Sua irmã Ryne dirige o carro. Michael está sem sua mulher Kate, pois estão recentemente separados. Outra cena nos mostra um carro a toda velocidade e Lisa ao lado do marido, sem o cinto de segurança, pois não queria amassar o vestido. O casal está indo também para a casa de Jane, que agora casada com dois filhos pequenos, está à espera da família. Seu filho Christopher, jogando bola, vai para a rua e quase é atropelado pelo veículo em alta velocidade de seu tio. O carro bate em um poste e Charles tem ferimentos leves, mas Lisa é morta instantaneamente. Um funeral é organizado por Michael, aparentemente sob controle, enquanto seu pai está no hospital com Ryne. Flashbacks nos mostram seu relacionamento extremamente conturbado com o pai, um escritor sem muito sucesso e professor universitário. É visto pelo filho como cruel, violento, exigente e grotesco, por tratar sua mãe e a ele com uma exigência neurótica. Durante uma reunião com outros professores pede ao filho que leia um verso escrito pelo próprio garoto, mas ele declama um belo poema de Robert Frost, ganhador do premio Pulitzer, sobre “vaga-lumes no jardim”. Por essa rebeldia, leva o filho para dentro de seu carro, brutalizando-o com palavras e atos, fazendo com que ele fique um longo tempo com duas latas cheias de tintas nas mãos com os braços levantados! Não podendo sair do quarto, também não consegue comer, pois os braços doíam muito pelo esforço feito. Sua mãe, grávida de oito meses, pede-lhe para colocar sua mão na barriga dela e sinta o bebê chutando. Ele se encanta e sugere o nome de Ryne para ele e não Max, desejado por sua mãe. Voltamos para o presente, quando seu pai já saiu do hospital e está fazendo um pequeno discurso durante o velório. A grande e velha casa onde moravam era construída de madeira e Michael ao rever sua esposa, reconcilia-se, fazendo amor no quarto que fica exatamente em cima da sala. O ruído é percebido e todos riem da situação. Após o enterro durante um jantar na casa de Jane, uma cena que ilustra bem sua autoridade, ele reprova a conduta do filho, precisamente como fazia em sua infância, mas agora Michael não fica calado e afronta o pai. O mesmo havia ocorrido durante a gravidez de sua mãe, quando ela descobre que o marido tem uma amante e tenta deixá-lo. O garoto ao vê-la sendo maltratada, avança para o pai, querendo matá-lo! Um acordo de paz é feito por Charles durante a hora de dormir do filho, prometendo mudar sua conduta agressiva. Novamente no presente, durante o velório um jovem crítico literário, colega de seu pai na universidade, senta-se a seu lado e não é visto com bons olhos por Michael, pois dissera que seu último livro não era ficção, mas sim a história de sua vida. Jane recusara-se a lê-lo com medo do conteúdo, pois assim todos ficariam sabendo a verdade. (Qual verdade? Eles tiveram um relacionamento incestuoso na infância? Nada fica muito claro nesse filme, mas as atitudes indicam que sim). O arrogante e detestável Charles pede para os filhos pegarem as coisas de Lisa antes de partirem. Seus filhos procuram cuidadosamente dentro dos bolsos das roupas as contas a pagar, pois era ela quem o fazia. Entrando no closet da mãe Michael se depara com um lugar repleto de vestimentas, sapatos, uma papelada e contas. Ao examiná-las, vê um envelope pardo escrito “Confidencial” e a recorrência de um mesmo número de telefone. Resolve ligar para descobrir quem seria aquela pessoa. No dia seguinte segue para a universidade onde estudara e encontra o crítico literário que era professor de sua mãe. Pergunta-lhe à queima-roupa como era transar com ela. Desconsertado conta como iniciara o caso, há três anos, e que eram muito felizes juntos, mas lamentavelmente ela havia morrido. Michael lhe entrega o envelope pardo e ele pode ler que ela iria se separar do marido, logo que se formasse e iria morar com ele. O jovem escritor agradece por tê-la feito feliz por algum tempo em sua vida tolhida e miserável. Charles, aparentemente, nem por um segundo tem qualquer problema de culpa pela morte da mulher. O afetuoso Christopher se sente culpado pela morte da tia, pois o carro desviara para não bater nele e está em uma crise de consciência muito grave, fugindo de casa! Michael que tinha um temperamento parecido o compreende e lhe explica que foi uma conjunção de fatores que motivou o acidente e o deixa correr livremente pelo trigal, como ele mesmo já fizera inúmeras vezes. Quatro horas depois o menino ainda não chegara e seus pais e Kate partem para procurá-lo, muito aflitos. Apesar de estar com um celular dado por Michael joga-o fora e não se comunica com ninguém. Já é noite e sua mãe se diz desesperada, mas quando Kate tenta acalmá-la, expõe que uma mulher livre não saberia entendê-la. Kate então revela que está grávida, mas seu marido ainda não sabe. Jane pede-lhe que não magoe seu sobrinho, que já sofrera tanto! São interrompidas pela chamada de seu celular. Era Michael que havia encontrado Christopher chorando no túmulo da tia. Nesse terço final de filme ele desanda um pouco, porque as coisas começam a se encaixar para um final feliz, diante de tantos problemas complexos e a relação não resolvida entre pais, filhos e a família. Michael após queimar o manuscrito de seu livro, parte com Kate, feliz porque se tornaria pai e Charles avô. O bebê se chamaria Max, se fosse menino, pois era o nome preferido de sua mãe!!


A atuação dos interpretes é excelente, pois só traz nomes de grande peso artístico. É uma pena que não tenha sido mais bem investigado, pois famílias disfuncionais é um tema atual e muito interessante.
Elenco: Julia Roberts, Ryan Reynolds, Emily Watson, William Dafoe, Carrie-Anne, Hayden Panettiere, Ion Gruffud, Cayden Boyd.