sexta-feira, 30 de abril de 2010

TUDO PODE DAR CERTO de WOODY ALLEN









WHATEVER WORKS


A D O R Á V E L. Essa é uma deliciosa, doce, saborosa fatia de bolo fofo. Aqui temos Woody Allen retornando a New York, depois de vários filmes brilhantes encenados na Europa. O roteiro, típico dos anos setenta, foi escrito há três décadas quando morava por lá. Seu personagem principal e alter ego é o insuportável e arrogante físico, quase ganhador do Premio Nobel de Física, Boris Yellnikoff (Larry David). Essa personalidade pedante e aposentada mora sozinho em Manhattan, em um apartamento de segunda classe. Professor de xadrez para crianças,tem poucos amigos, também intelectuais, que aturam seu péssimo humor e sua certeza de que a humanidade não tem qualquer salvação pela mediocridade das criaturas que aqui habitam. Era especializado em física quântica (dê a interpretação que quiser). Ao contar sua história, no início do filme, olha para a câmera e desfia um rosário de lamentações e impropérios para a audiência. Isso se repetirá durante a filmagem. Uma linda garota interiorana e católica, Melodie St.Ann Celestial (bela e convincente Evan Rachel Wood) mudará suas estruturas. Fugida de casa é acolhida pelo físico que a princípio não quer tê-la em casa, por estar totalmente isolado do mundo. Melodie, infantil e otimista, não exige nada e não se importa com sua própria ingenuidade e falta de experiência, aceitando de bom grado as interpretações e orientações de uma mente, dita genial, para um cérebro vazio de informações, pronto para absorver tudo. Inacreditavelmente é ela que se apaixona por ele, com um final feliz. No decorrer da trama seus pais reaparecem do nada e mudam completamente de opinião, credo e ponto de vista sobre a vida, em contato com uma cidade tão rica de sensações e oportunidades como The Big Apple. Também Melodie mudará, ficando mais sofisticada com os ensinamentos de seu guru, que nem sempre consegue compreender. Outros parceiros surgirão. Todos os personagens passarão por uma forte alteração provando que a sorte e casualidade são muito mais fortes e importantes do que se possa imaginar, para a felicidade das pessoas. O forte desse filme são os diálogos irônicos e inteligentes, marca registrada do autor. Mais um ponto positivo para Woody Allen e seus fãs.
Curiosidade – Na saída do filme uma senhora octogenária russa de vivos olhos azuis informou-me que gostara muito do filme: “É a realidade”. “Viajei muito pelo mundo e conheci inúmeros judeus, eles são assim mesmo. Gosto dos filmes de Allen, mas não dele como pessoa, pois o conheci na Big Apple, quando morava lá. Não é agradável”. Foi interessante, sem dúvida, essa opinião, com forte sotaque russo, que eu mal conseguia seguir.

sábado, 17 de abril de 2010

VIDAS QUE SE CRUZAM DE GUILLERMO ARRIAGA







Se vc é sócio do Clube Pinheiros vote no Ivan Castaldi. Ótima pessoa!

THE BURNING PLAIN (baseado em experiências pessoais)

O drama desse roteirista premiado, nascido no México, estréia sua carreira como diretor. Escreveu com Iñárritu os ótimos Amores Brutos e 21 Gramas. Essa é uma história que, como outros filmes em cartaz, nos mostra a saga de duas famílias influenciadas pelo comportamento de seus pais. A originalidade do filme está mais em sua narrativa não linear. Um trailer explode e pega fogo, matando quem estava lá. Há cenas de luto e dor e também de choque e exasperação. Os ocupantes eram uma linda mulher, Gina, (ótima Kim Basinger) e seu amante. Neste drama, o romance de Gina marcará para sempre o destino de sua filha Mariana (excelente Charlize Theron, na fase de Sylvia) e de sua neta Maria. Depois de passar por uma séria cirurgia e ser, de certo modo ser rejeitada pelo marido, essa mulher com três filhos se envolverá com um homem, Nick, (Joaquim de Almeida) que é também casado com dois filhos adolescentes. Ambos morreram carbonizados e colados um ao outro. Uma grande curiosidade apossa-se de seu filho e da lindíssima Mariana (Jeniffer Lawrence - premio de melhor atriz), os quais terão suas vidas entrelaçadas, a fim de descobrirem o que havia de fato entre essas duas pessoas tão queridas. O giro no tempo que o filme faz é exatamente para esclarecer os mistérios presentes. Mariana, que de certa forma toma o lugar da mãe na guarda dos irmãos, se sente incomodada com suas atitudes e resolve ver o que está ocorrendo com Gina. Obviamente descobre e tenta separar esse casal adúltero. Com sua imaturidade passa a seguir de perto sua mãe e ver cenas para as quais não estava, absolutamente, preparada. Sua fascinação pelo garoto é imediata e eles iniciam um tórrido romance. Quando isso é descoberto a repulsa das duas famílias é igual. Sentem-se afrontadas. Nos caminhos da narração vemos que existe uma mulher fria, Sylvia, que despudoradamente foge de si mesma, mantendo relações sexuais com vários homens, sem nunca amá-los. Sylvia é uma espécie de continuação de Mariana, que não conseguira sobreviver ao peso de seu amor juvenil. Maria, o resultado disso, vive com o pai, que é piloto de monomotor, e em circunstâncias especiais conhece sua mãe, tentando refazer sua família. Um grande drama encerra essas ligações, o que nos prende ao enredo bem construído. Segundo o jornal Estado de São Paulo, Arriaga considera que esse filme é realmente dele, pois testemunhara um incêndio quando criança, que o inspirou a fazer a obra. Havia muitas discussões entre ele e Iñárritu quanto à autoria dos filmes. Essa obra obteve duas indicações e um premio para Jennifer Lawrence.

sábado, 3 de abril de 2010

Aproximação ou Disengagement de Amos Gitai







Disengagement: 1.desimpedimento, 2.rompimento

Após três anos, o público brasileiro pode ver esse filme. Amos Gitai gosta de mostrar os conflitos de seu país e esse não é diferente. Imagens escuras em um trem mostram dois jovens – uma palestina e um israelense Uli (Liron Levo) com origens também européias. Em um curto espaço de tempo eles se beijam e fazem amor. Não podem “perder o momento”. Tela escura e créditos. Em outra cena, na França, uma mansão, agora decadente, guarda o corpo de um professor judeu que acabara de morrer. A incrível soprano, Barbara Hendricks, no papel de uma funcionária da casa, canta para velar seu corpo e Juliette Binoche (Ana), no papel de sua filha encontra-se entre debochada e incrédula. Tela escura e novos créditos. Agora começa realmente o filme, depois desse belo Prólogo. Dois irmãos, Uli, adotivo, e Ana vão enterrar o pai, um catedrático francês eminente. Ninguém se importa muito pelo fato em si, pois não era muito compreendido pelos filhos. Ana resolve forjar um testamento para que Uli fique com toda a fortuna do pai, mas ao apresentarem o documento falso são surpreendidos com um testamento real. Seus bens iriam para sua neta, Dana, filha de Ana a qual vivia em um Kibutz em Israel. Ana fica chocada com as fotos, pois não sabia que seu pai conhecia sua filha adolescente, agora professora. Ambos mantinham uma relação feliz e secreta. Sua filha terá que entregar o testamento nas mãos da neta, conforme ditara seu pai, e para isso terá que enfrentar seu passado e suas angustias que a deixavam fragilizada e sem objetivos. A Faixa de Gaza está para ser desocupada pelos judeus e entregue aos palestinos, que há muito esperavam por isso. Ocorre que Uli é soldado israelense e está de partida para o local, a fim de chefiar a desocupação. Portanto os irmãos seguiriam o mesmo destino em suas duas interpretações. A viagem, como se espera, é difícil. Lá eles se separam – Ana busca a filha e Uli treina seus soldados para não serem violentos, pois iriam lidar com seus próprios irmãos. Binoche, em boa representação, aos poucos vai se aproximando de Dana, que por sua vez a reconhece e oferece seu abraço e sentimentos para a mãe envergonhada. Juntas examinam-se, contudo a adolescente é quem dá o primeiro suporte de amor e compreensão. Nascera no Kibutz, quando Ana era muito jovem e fora abandonada. Algumas horas restam para que fiquem unidas nesse local, pois teriam que partir, assim que as ordens fossem dadas. Os jovens nascidos lá e agora com famílias reagem negativamente, pois esse era seu solo, seu norte. Uli faz um grande esforço para que partam sem maiores traumas, mas não é tarefa fácil colocá-los no ônibus para removê-los. Um Epílogo espetacular nos mostra como essas mulheres, que mal se conheceram e já se amavam tanto, serão separadas. O filme aborda mais temas psicológicos do que políticos, o que o torna mais interessante. Veja outra visão em
cinemafalado ou pipocamoderna de Luciano Ramos.