domingo, 19 de maio de 2013

TERAPIA DE RISCO DE STEVEN SODERBERGH



SIDE EFFECTS, EUA/2013, 106 MIN. SUSPENCE

ELENCO:

JUDE LAW – PSIQUIATRA DR. BANKS

ROONEY MARA – EMILY TAYLOR

CHANNING TATUM – MARTIN TAYLOR

CATHERINE ZETA-JONES – PSIQUIATRA

Infelizmente este será o último e ótimo longa de Soderbergh para a telona depois de Contágio de 2011. Diretor de 36 títulos e vários premios, neste filme de suspense, roteirizado por Scott Burns, temos novamente a Big Pharma (indústria farmacêutica) na berlinda, junto com fraudes financeiras e ética médica, tudo bem atual para os muito ricos e felizes a qualquer custo. O filme começa com uma cena de crime, com o assoalho repleto de sangue e uma frágil jovem (Rooney Mara) apavorada. O caso vai parar na policia e o psiquiatra, doutor Banks, é chamado para ajudar a diagnosticar o réu. Voltamos três meses e vemos Emily casando-se com o rico Martin e levando uma vida de princesa. O marido é preso por fraudes financeiras e está saindo da prisão depois de quatro anos. Sua vida de milionária é extinta e eles precisam começar do zero. Isso explicado, Emily está sofrendo de depressão e se sente envolta em uma “névoa venenosa”, frase que será repetida durante a trama mais de uma vez, retirada de um livro. Ela estava tomando um antidepressivo novo, associado com um ansiolítico em fase de testes, esclarecido abertamente pelo médico que está sendo remunerado pelo fato. Entre os efeitos colaterais apresenta-se um profundo sonambulismo que a afeta, motivo pelo qual comete um gravíssimo crime. Agora quem será o condenado? A doce Emily, a indústria farmacêutica ou o psiquiatra, papel do excelente Jude Law. Tudo faz crer que a única inocente nessa sórdida história é Emily, vitimada pelos remédios prescritos.  Ela já havia tentado suicídio acelerando o carro contra uma parede. Com o desenrolar do filme sabemos que já havia se tratado com outra psiquiatra (Catherine Zeta-Jones) sem sucesso. Dr. Banks será a vítima da vez, mas resolve investigar por contra própria os antecedentes da paciente e da firma. Em uma de suas pesquisas chega à antiga psiquiatra e a outros fatos que vão aos poucos sendo desvendados.  É uma trama muito bem costurada e que não poderei revelar mais, como faço de costume, pois desandaria o caldo do filme. O diretor não poupa nenhum dos personagens para expor o crime e aconselho que não tirem os olhos da tela para não escapar nenhum detalhe que será precioso. Com essa mensagem tão vigorosa é de se lamentar que deixe sua carreira no cinema formal. Boa pedida de entretenimento.

segunda-feira, 13 de maio de 2013


O QUE TRAZ BOAS NOVAS DE PHILIPPE FALARDEAU

MONSIEUR LAZHAR, CANADÁ/2011, 94 MIN. DRAMA.

ELENCO:

MOHAMED FELLAG – BACHIR LAZHAR

SOPHIE NÉLISSE – ALICE

ÉMELIEN NÉRON – SIMON

O título significa “o que traz boas novas” e é o nome de um professor argelino, Bachir Lazhar, que dará aulas em uma escola média de Montreal. Não é um simples filme sobre o relacionamento entre professores e alunos, mas muito mais do que isso, quase uma fábula sobre caráter, solidez, fraternidade. Ele se propõe a ser professor substituo de um liceu, em uma classe de pré-adolescentes, cuja professora havia se suicidado em plena sala de aula já vazia, causando um grande transtorno psicológico para seus alunos. Durante o tumulto ocasionado, Bachir apresenta-se como professor competente em sua terra natal, Argélia, porém, na verdade, era sua mulher professora e ele dono de um restaurante,  homem culto que conhecia muito bem a língua francesa. Notamos essa dificuldade enquanto o filme avança e ele dá seu sangue para absorver os hábitos de sua nova pátria e a pedagogia da escola. Errando às vezes, mas conquistando seus alunos e colegas, torna-se um personagem importante para eles, que o respeitam e o consideram, pois assim eram tratados. Um laço forte surge entre os personagens e também entre seus colegas, chegando a gostar de uma das professoras e ser correspondido. Dois alunos são os mais problemáticos, pois presenciaram a cena do suicídio. Alice, filha de uma piloto de avião, é corajosa e arrojada, colocando em uma redação sua frustação sobre o assunto. Fora um ato de agressão, segundo ela, e muito grave, mas a professora não poderia ser presa por já estar morta! Já Simon, que era seu preferido, por ter problemas com aprendizagem e ser quase violento, não expõe sua dor e a guarda como uma grande mágoa. A escola não quer que o assunto seja ventilado, mas Lazhar, um refugiado por ter perdido a família em um ataque terrorista, compreende bem a dor da morte e durante uma aula deixa as crianças falarem sobre o assunto. Isso é o ponto final de sua carreira na escola, pois a diretora fica sabendo sobre sua situação política e essa transgressão escolar fora a gota d’água. Ele desprezava as práticas de ensino de não tocar nas crianças e não se envolver com elas, mas é isso que o faz tão querido, sendo chamado de “solide” pela mãe de Alice. Perde o emprego, mas seus alunos ganham, e muito, com seu exemplo corajoso, amigo e flexível. Fellag é dramaturgo e foi ator famoso em seu país, mas exilou-se na França e continuou sua carreira no teatro. Em 2011, o filme indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro perdeu para A Separação, mas sua apresentação nos cinemas desde sexta-feira é um premio para a plateia. O roteiro é baseado na peça de Évelyne de La Chenelière - Bashir Lazhar. O trabalho resultou em vários prêmios internacionais.

 

 

 

 

 

domingo, 5 de maio de 2013

UMA GARRAFA NO MAR DE GAZA DE THIERRY BINIST



UNE BOUTEILLE À LA MER, FRANÇA, CANADÁ, ISRAEL/2011, 100 MIN. DRAMA

ELENCO:

AGATHE BONITZER - TAI

MAHMUD SHALABY - NAÏM

HIAM ABASS

RIFF COHEN

Como Giger & Rose, o filme que aborda as incertezas dos adolescentes durante a guerra, esta bela história explora o mesmo tema – as incertezas da adolescência conjugadas com os horrores de uma guerra. Neste caso estamos na turbulenta região de Israel e a Faixa de Gaza. No início do filme um jovem soldado atira ao mar uma garrafa com uma mensagem. Sua irmã judia, de dezessete anos, nascida na França Tai Levine (Agathe Bonitzer) pede para que ele a jogue no mar, com esperança que alguém receba sua carta pedindo paz. Um grupo de jovens encontra-a e com ironia faz pouco dela. Todavia Naïm resolve enviar-lhe um e mail e a partir desse momento começa um jogo de conhecimento para ambos os lados. Ele se mostra agressivo a princípio, mas sabendo que se trata de uma garota francesa resolve investir nesse contato. Os dois vivem em lares bem estruturados, mas Tai tem a vantagem de poder morar em um estado com fronteiras e bens materiais, ao passo que Naïm mora em uma região destruída e constantemente bombardeado pelos caças israelenses. Tai, por sua vez, não encontra paz com os atentados terroristas e os jovens não podem aceitar esse estado de medo permanente e falta de perspectiva para o futuro. Esse relacionamento resulta em amor e um incentivo para que Naïm volte a estudar, escolhendo o francês como um meio de se promover quando adulto. Em pouco tempo eles se comunicarão no novo idioma e o jovem ganha uma bolsa de estudos em Paris. Apesar do desfecho positivo, a história mostra a burocracia e dificuldades para que qualquer pessoa possa deixar a região, mesmo com a documentação e posições bem definidas e as diferenças estruturais dos dois locais. Um filme de adolescentes com uma bela história de amor e compreensão. Essa é sua maior qualidade.