segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A FILHA DO PAI DE DANIEL AUTEUIL




LE FILE DU PUISATIER, FRANÇA/2011, 107 MIN., DRAMA

ELENCO:

DANIEL AUTEUIL – CAMPONÊS

KAD MERDAD

NICOLAS DUVAUCHELLE - JACQUES

ASTRID BERGÈS-FRISBEY – FILHA DO CAMPONÊS – PATRÍCIA

 

Este leve e delicado filme é muito apropriado para a época de Natal mesmo não sendo um tema natalino.  Foi adaptado do romance La Fille du Puisatier, escrito por Marcel Pagnol (1895-1974). Daniel Auteuil, um dos melhores atores franceses, faz sua estreia como diretor, adaptador e protagonista com grande competência. A história é singela; passa-se antes do início da segunda Guerra Mundial, em uma pequena cidade, onde vivem Daniel Auteuil, um posseiro viúvo, e suas cinco filhas. Uma delas, a belíssima Astrid, é sua favorita, pois cuida das crianças, teve uma educação esmerada e leva todos os dias o almoço para o pai. Numa dessas caminhadas, Patricia conhece o aviador Jacques, por quem se apaixona. Ele admira sua beleza, mas não pensa em casamento. Obrigado a partir rapidamente para a II Guerra, deixa a família rica e esnobe, que o idolatra, pois é filho único. A cidade é pequena e todos se conhecem. Eis que após sua partida, Patricia descobre que está grávida e como é muito honesta, resolve pedir ajuda ao pai.  São cenas muito comoventes, visto que para um viúvo com a responsabilidade de educar suas filhas acha que falhou. Contudo resolve levar sua prole, muito bem arrumadinha, juntamente com a jovem de 18 anos e grávida, para contar a verdade à família do noivo, que os maltratam fazendo com que batam em retirada. No meio do caminho de volta, pede a Patricia que vá viver com sua tia, para não envergonhar as menores. Ela parte e tem um lindo menino, que era o sonho antigo de seu pai: ter um filho. Com muita relutância vão conhecer o bebê, que já tem cerca de quatro meses e é lindo e risonho. Muito emocionado, resolve encarar a comunidade e voltar a cuidar de toda a família. Nesse ínterim, os outros avós ficam sabendo que o filho morrera e resolvem visitar o neto e pedir desculpas para a família do poceiro. A situação não é favorável para ninguém, principalmente para os avós paternos. Contudo a meiga Patricia aceita o convite deles e leva o garoto algumas vezes para que possam conviver juntos. Há uma séria disputa sobre o sobrenome, pois deveria ser o mesmo da mãe solteira, do pai, do avô e bisavô. No terço final há uma reviravolta que possibilitará a alegria de todos e um ponto final na disputa do sobrenome do bebê. Claro que tudo acaba muito bem para os jovens, pois é um romance delicado e para todas as idades.

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

A NEGOCIAÇÃO DE NICHOLAS JARECKI



ARBITRAGE, DRAMA (EUA-POLONIA) 2013, 107 MIN.

ELENCO:

RICHARD GERE – ROBERT MILLER

BRIT MARLING – BROOKE MILLER

SUSAN SARANDON – ELLEN MILLER

Nicholas, jovem diretor talentoso de 33 anos, tem como pai um filantropo conhecido, Jarecki, dando a ele todo o combustível necessário para este filme, que faz uma interessante crítica sobre o mundo dos negócios, desde a bolha imobiliária americana que ainda produz seus efeitos até hoje. Escolhendo um elenco de primeiríssima, com Richard Gere interpretando de maneira espetacular o bilionário Robert Miller, que já nasceu para esse mundo, com pais muito realistas. Susan Sarandon é sua bela esposa, que dirige uma sociedade filantrópica com o nome da família Miller. O casal tem dois filhos, o rapaz que não dá para esse ramo, e sua filha, Brooke Miller, que herdou do pai a sagacidade para os negócios, sendo jovem e muito correta em suas ações.  As primeiras cenas mostram o nível de sofisticação de Robert, discutindo em seu jato particular um negócio de minas de cobre, que comprara dos russos, mas que andava, no momento, mal das pernas. Ele precisa vender esse negócio urgentemente por uma quantia vultosa, pois o rombo está prestes a ser descoberto pela auditoria e sua assistente, Brooke. Depois vislumbramos sua casa magnífica, seus filhos e netos e principalmente sua amante possessiva, uma pintora francesa sem talento. Tudo isso em seguida, para perdermos o fôlego, já não bastasse o dinheiro que devia e a venda que não se concretiza, pois o comprador ora quer comprar, ora não. Ao sair com a Mercedes da namorada, sofre um acidente de carro e ela morre. Sua vida vira do avesso, pois já não bastassem os problemas atuais terá de se safar do crime de assassinato. Para isso “usa”, esse é o termo, o filho negro de um antigo chofer, que lhe é completamente fiel. Havia um investigador de polícia que há tempos estava atrás desses grandes conglomerados por fraudes e resolve que esta é uma excelente oportunidade para colocá-los atrás das grades. As cenas que se seguem são muito bem dirigidas e elaboradas, dando-nos uma visão geral de como funciona esse universo em que uma mentira, não é pecado, desde que não seja descoberta. Todavia Brit Marling descobre o desfalque do pai que adorava e é apoiada por sua mãe, Susan Sarandon, que no final dá um show de interpretação, mostrando ser melhor negociadora do que o marido, uma vez que deseja preservar a unidade familiar e o futuro da filha. Richard Gere e Susan Sarandon mostram estar envelhecendo da melhor forma possível, desempenhando personagens críveis e autênticos. Belo trabalho da equipe de Nicholas Jarecki.

 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

NA TERRA DO AMOR E DO ÓDIO DE ANGELINA JOLI



IN THE LAND OF BLOOD NA HONEY,EUA/2011, 127 MIN., DRAMA

ELENCO:

ZANA MARJANOVIC – ARTISTA PLÁSTICA

BORIS LER – CORONEL

Angelina Joli tem um belíssimo trabalho neste drama, talvez por ser considerada durona e principalmente talentosa. Esse é um filme humanista e aterrador, mesmo, pois denuncia todas as atrocidades cometidas contra os bósnios, quando da dissolução da ex-Iugolávia, sob o ditador Tito e a formação de países independentes. Os sérvios, a fim de se vingarem dos bósnios, os atacam sem a menor piedade ou discernimento. As imagens de Angelina Joli são apavorantes, demonstrando o que passaram todas as mulheres bósnias e suas famílias nas mãos daqueles soldados. Foi o maior conflito armado, com maior número de vítimas desde a Segunda Guerra Mundial, na Europa. Para essa viagem ao passado próximo, ela escolhe um casal de etnias diferentes, que viviam em harmonia até a guerra começar. As primeiras cenas mostram a linda Zana Marjanovic, pintando um autorretrato e depois seguindo para uma casa de dança, onde encontraria seu recente namorado, um jovem sérvio que era coronel. Logo em seguida uma bomba explode o lugar, mas eles sobrevivem e ajudam a cuidar dos feridos e mortos. Os dois são introspectivos, mas parece que irão ter uma convivência amorosa intensa. Depois disso os bósnios são obrigados a deixar suas casas, com a roupa do corpo. Ajla vai parar em um local onde será prisioneira e cuidará, junto com outras jovens, dos oficiais. Ela vira prisioneira de seu próprio namorado. A princípio isso o desagrada, pois não queria ser soldado,  mas é obrigado pelo pai, um general durão, um dos pais da pátria. Ela será sua protegida, mas as decorrências dos acontecimentos funestos faz com que os dois passem a desconfiar um do outro, por deveres patriotas. Ele é obrigado pelo general a ser mais profissional e o coronel depois de matar a primeira pessoa, que relutara tanto, passa a encarar isso com naturalidade e um quê de satisfação. Danjel é obcecado por Ayla e nunca desistirá dela, fazendo sexo e a amando. Ela retribui o sentimento, mas com remorso, pois sua família e amigas não tinham este privilégio e eram constantemente violentadas pelos sérvios. Essas são as piores cenas e as que Joli quer enfatizar, pois são brutalidades contra as mulheres. No terço final o general toma conhecimento do relacionamento deles e obriga que ela pinte um retrato dele; enquanto ela passa o pincel na tela, esse homem duro conta-lhe sobre sua origem humilde e o massacre de sua família inteira pela etnia mulçumana bósnia. O final é traumático, mas Joli, que dirigiu, roteirizou e produziu o filme não teria outra opção.

 

INFÂNCIA CLANDESTINA DE BENJAMIN ÁVILA



ARGENTINA, BRASIL, ESPANHA/2011, 112 MIN. DOCUDRAMA

ELENCO:

NATÁLIA OEIRO -  MÃE CRISTINA

ENERNESTO ALTEIRO – TIO BETO

CESAR TRONCOSO – PAI HORÁCIO

TEO GUILHERME ROMERO – JUAN – ERNESTO ESTRADA

 

Há algumas coisas a esclarecer antes do resumo deste ótimo filme. O produtor Luis Puenzo esteve no Brasil para assistir A Infância Clandestina no Festival do Rio, pois seu filme, História Oficial, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Financia seus filmes e de seus filhos, segundo o Jornal Estado de São Paulo. O longa de Benjamin Ávila é coproduzido com o Brasil e representará a Argentina, como melhor filme estrangeiro para o próximo Oscar. O filme aborda um dos piores períodos da política argentina, em 1975, quando da morte de Peron e a subida dos militares ao poder. Foi um dos períodos mais sangrentos da história argentina.  O roteiro aborda a política, assim como o ambiente para as crianças crescerem com pais revolucionários e militantes do Peronismo. Esse filme é uma homenagem a todos que cresceram e viveram nesse período tão conturbado. A história começa com uma jovem família sendo deportada do país e agora em Cuba de Fidel. Ela é formada dos pais, um menino de onze anos, nosso herói, e sua irmãzinha de um ano. Era chegado o momento de voltar para lá e reiniciar as guerrilhas. A família virá separada. Juan e o bebê seguirão com um casal amigo para o Brasil e de lá para uma cidade na Argentina. Ele é duramente treinado a se lembrar de seu novo nome, Ernesto Estrada, nova data de nascimento e esquecer que fala espanhol. Isso já é o bastante para um garoto tão pequeno e vivendo na clandestinidade. Tudo corre como combinado e na Argentina é recebido pelo adorável tio Beto, que será seu confidente e amigo até quando puder. A ele Juan deve sua introdução à puberdade. Seus pais chegam e os quatro vivem em uma casa com uma indústria de fachada, que produz amendoim com chocolate. O irmão de seu pai sempre estará presente, pois também é guerrilheiro, mas de outro naipe, um homem menos voluntarioso, mais humano e feliz, pois para Horácio e Cristina a única felicidade é o peronismo. Há alguns momentos de doçura, em meio da política. Por exemplo, quando Juan conhece uma menina em sua escola e se apaixona por ela. Quer que a mãe conte como foi sua sensação ao saber que amava o pai. Ela e o tio darão sugestões para isso, contudo Cristina ainda não sabe de nada. Na casa existe um esconderijo para o qual Juan e o bebê são enviados várias vezes. Na escola e na rua não pode ter amigos, deve falar baixo e ter um pensamento extremamente conciso, falando o estritamente necessário. Isso o torna mais adulto do que as demais crianças e é essa qualidade que sua namoradinha mais aprecia nele. É diferente dos demais garotos. Um dia na escola, ao final da aula, todos cantam Parabéns a Você e ele se surpreende de ser o homenageado, pois não é seu aniversário, mas sim o do passaporte falso. A partir daí a trama se complica mais ainda, pois os coleguinhas querem um bolo e uma festa.

Contrafeito o pai cede ao irmão e a ele. Desenrolam-se situações aviltantes a partir daí e Juan percebe o quanto sua infância havia sido “usurpada e decididamente sequestrada”. O final é previsto e o paradeiro derradeiro do menino é a casa da avó materna, mas antecedido por tortura mental e quase física. Sua irmã não sabemos onde foi parar. Filme imperdível, pelo roteiro, direção, atuação do formidável Juan (Teo) e seu tio;  fotografia invejável. Será difícil para Selton Melo, com seu magnífico “Palhaço”, competir com um filme político e com crianças adoráveis.

domingo, 2 de dezembro de 2012

O HOMEM DA MÁFIA DE ANDREW DOMINIK



KILLING THEM SOFTLY, EUA/2012/97MIN./POLICIAL

ELENCO:

BRAD PITT – JACKIE

JAMES GANDOLFINI – MICKEY

BEN MENDELSOHN – JOVEM LADRÃO

SCOOT MACNAIRY – JOVEM LADRÃO

RAY LIOTTA – MARKIE

RICHARD JENKINS - ADVOGADO

 

É ótimo. É aterrador e obscuro. O tempo é péssimo, chove continuamente, a época é da futura posse de Barack Obama e a situação econômica dos Estados Unidos a pior desde os idos dos anos vinte, durante a depressão do século passado. O formidável diretor de “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford”, em seu segundo longa, baseando-se no livro Cogan’s Trade, usa toda sua habilidade e criatividade para “colar” o espectador na cadeira durante 97 minutos. Uma frase do ótimo Bred Pitt define o filme: A América não é um povo, a América é negócios. E realmente, o crime transformou-se em um negócio muito bem gerenciado e calculado. Nas primeiras cenas vemos um jovem fumando à espera de outro, imundo, puxando um bando de cachorros de raça. O diálogo é hermético, mas ficamos sabendo que o dono de uma lavanderia de fachada, quer roubar o mafioso Markie, dono de uma loja de jogos clandestinos de carteado, frequentado pelas piores e mais violentas pessoas. Esse Markie já havia forjado um roubo em sua própria loja e um segundo seria, obviamente, atribuído a ele também. Seria seu fim.  Os jovens Ben Medelshon e Scott McNairy, com máscaras de nylon e armas improvisadas, farão o serviço, mas estão assinando a própria sentença de morte. A partir desse momento, com diálogos da pior qualidade, Jackie (Brad Pitt), um matador profissional, será contratado por um oponente, a fim de por ordem nas coisas, auxiliado pelo advogado Jenkins, que verá as possibilidades de saírem limpos de todos os crimes. Markie será espancado quase até a morte, assim como o obeso e viciado em sexo, Gandolfini (espetacular), em cenas inesquecíveis pela sua realidade, bem longe da violência romântica dos filmes de máfia de apenas algumas décadas atrás. O interessante agregador da história é que sempre veremos televisores ligados, com discursos dos oponentes políticos para livrar o país da ruína financeira, encaixando-se perfeitamente com as ações dos contraventores e as trovoadas que se sucedem. É tudo muito sombrio e carregado com essa película, que requer muita atenção do espectador para não se perder em tantas armadilhas, carnificinas e revanches executadas com a precisão e habilidade de um importante conglomerado global. Os artistas não deixam dúvidas quanto ao talento e esse diretor neozelandês certamente trará muita intranquilidade à plateia.  Ótimo programa!!! Se quiser conferir "O asssasinato de Jesse James.."
busque, neste blog, 21 de agosto de 2008.