segunda-feira, 27 de junho de 2016

MARGUERITE DE XAVIER GIANNOLI





MARGUERITE, FRANÇA, BÉLGICA, REPÚBLICA TCHECA, 129 MIN. DRAMA
ELENCO:
CATHERINE FROT – MARGUERITE DUMONT
ANDRÉ MARCON – MARIDO BARÃO
THÉO CHOLBI – CRÍTICO MUSICAL

Esse ótimo drama psicológico ganhou no César de 2016 quatro prêmios: melhor som, direção de arte, figurinos e atriz para a impecável Catherine Frot no papel de Marguerite. Trata-se de uma história baseada em fatos reais ocorridos com a americana Florence Foster Jenkins (1868-1944) que se chamará Marguerite nesse longa. Era uma mulher riquíssima casada com um nobre pobre, tornando-se baronesa.  Em 1920, essa criatura generosa convive com um círculo de amigos intelectuais que se aproveitam de sua fragilidade e problemas psicológicos para tirar o máximo proveito possível. Realiza recitais em sua mansão para arrecadar dinheiro para pessoas necessitadas. O filme começa com um deles, que tem o intuito de ajudar os órfãos da Primeira Guerra Mundial. Lá está a mais fina casta da sociedade e nobreza. Vemos a mansão repleta de pessoas em trajes de gala, bebida e comida a rodo, uma pequena orquestra e cantores líricos interpretando lindas canções. Dois jovens anarquistas, um poeta e outro crítico musical, pulam o muro para assistir de perto o que já haviam ouvido falar. Quando ela sobe no  palco, com toda pompa e começa a cantar, levamos um susto. Sua suposta voz de soprano é um desastre. São gritos e desafino irritantes, causando zombaria e risos de todos sem que perceba. Um grupo de homens tranca-se em uma sala para não ouvi-la e seu marido sempre chega bastante atrasado. Admira-a por sua obstinação, mas vê que se transformou em um monstro e não sabe como resolver a situação, tendo para consolo uma amante que é amiga de Marguerite. Durante a história desenrola-se esse drama pessoal gravíssimo, pois alheia ao próprio despreparo, tem uma coleção de partituras e roupas de palco caríssimas e ninguém tem o carinho e a coragem suficientes para alertá-la de sua ridícula situação, que perdura há anos. Os jovens penetras planejam depená-la com falsas promessas e um artigo jornalístico, que Marguerite julga ser um elogio ao seu desempenho, mas não passa de chacota. Os rapazes conseguem tirá-la de casa e fazer com que frequente uma boate de baixo nível, expondo-a ao vexame e convívio com estranhos artistas e pintores da época do dadaísmo. Tudo isso para ela é novo e não passa de uma bela amizade, uma nova condição em sua vida. O filme vai tomando um caminho muito perigoso para a solitária baronesa, com um final surpreendente, pois até o mau caráter jornalista acaba apiedando-se dela por seu frescor e ingenuidade. Excelente drama, com nuances de comédia, muito bem dirigido e interpretado com intensidade por Catherine Frot, que se joga fundo no personagem. Imperdível.

COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ DE THEA SHARROCK




ME BEFORE YOU, INGLATERRA, 2016, 110 MIN. DRAMA ROMÂNTICO
ELENCO:
EMILIA CLARKE – LOU CLARK
SAM CLAFIN – WILL TRAYNOR
JANET MCTEER
Esse filme vem causando longas filas nos cinemas da capital. Baseado no livro de Jojo Moyes e roteirizado por ela própria, tem a ótima direção de outra mulher Thea Sarrock. Esse drama romântico, sem pieguices, conta a história de dois jovens. Lou Clarck é uma moça do interior sem sofisticação, mas com grande astral e roupas extravagantes,  que sai do emprego de um café e precisa ajudar a família. Acaba aceitando ser cuidadora, em um castelo, do jovem banqueiro milionário e cínico, Will Traynor, que se encontrava preso a uma cadeira de rodas após um acidente de moto. Sua mãe faz questão de escolher a pessoa que irá tratá-lo e encanta-se com a jovialidade e alegria da moça. Ela terá apenas de fazer companhia e conversar com ele. A princípio a ligação é péssima, por sua insolência e maus modos, mas aos poucos ela consegue vencer essa grande barreira financeira e cultural que os separa ainda mais. Divertida e cheia de vida, fica sabendo que ele deu aos pais somente seis meses de vida, para depois fazer uma eutanásia na Suíça. Inconformada, decide que fará com que mude de ideia, mostrando o lado maravilhoso da vida, independente de dinheiro. Os dois ficam amigos e surge um início de romance entre eles. Os pais acreditam no poder de persuasão da jovem e no encantamento do filho que passa a sair de casa. Ambos crescem como pessoas. Contudo, apesar de, ou, por causa do romance, o filme caminha para um desfecho surpreendente até chegar ao final bastante comovente. Ótimos atores, figurino e uma trama muito bem definida. Recomendo!!!


segunda-feira, 20 de junho de 2016

O BOTÃO DE PÉROLA DE PATRICIO GUZMÁN








EL BOTÓN DE NÁCAR, CHILE-ESPANHA-FRANÇA, 2015, 82 MIN. DOCUMENTÁRIO.
Esse extraordinário documentário de Guzmán ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim 2015. O elemento principal é a água, pois sem ela não haveria vida nem universo. Como o Chile tem uma enorme costa marítima para o Pacífico, o maior dos oceanos, trata-se de um elemento vital, como eles dizem de memória e voz. Um mapa é mostrado para que possamos ver a diferença entre a faixa oceânica e a de terra, dominada pela cordilheira dos Andes. O filme começa com um quartzo milenar, encerrando uma gota de água. Os belíssimos icebergs são revelados com suas cores puras e cristalinas, assim como a água. É descrito como chegaram os primeiros habitantes da Patagônia, nome dado por brancos por terem pés muito grandes. Eram nômades da água e chegaram nus, adaptando-se às temperaturas glaciais. Seus fortes corpos são pintados inteiramente com símbolos que lembram o universo. O céu repleto de estrelas se reflete no desenho de suas peles e cada pessoa que morresse, acreditavam, se tornaria mais uma estrela. Chegavam em minúsculas canoas, com um fogo no centro, para aquecê-los. Viveram em paz e harmonia com o cosmos e a natureza até a chegada do homem branco inglês, que cobriu seus belos corpos com roupas impregnadas de moléstias e foram dizimados, restando, hoje em dia, somente 20 pessoas descendentes diretas deles. Um desses aborígines, Jimmy Button, foi levado a Londres e civilizado, encantado por um botão de pérola. Quando voltou, adulto, não podia mais falar o idioma com perfeição e acabou virando um pária em seu próprio núcleo. O som produzido pelos aborígenes para imitar o barulho da água, que tem uma música fantástica, é interpretado por um antropólogo. Vamos para o período de Salvador Allende, com sua ditadura de 16 anos, que acabou por sacrificar milhares de pessoas das maneiras mais ignóbeis possíveis. O mar, novamente, vira cemitério. Esses rebeldes eram presos a trilhos e depois de embalados, jogados no mar através de helicópteros, mas alguns corpos surgiram boiando na superfície e foi possível constatar essas atrocidades. Sempre a água no destino dos chilenos. Entre essas pessoas, outro botão de pérola fica agarrado, depois de anos, ao metal do trilho. Dois botões foram testemunhas dos fatos. As imagens são extraordinárias e a história, um relato social, antropológico e histórico, é muito bem contada, magnífica. Filme absolutamente imperdível.


quinta-feira, 9 de junho de 2016

O VALOR DE UM HOMEM DE STÉPHANE BRIZE




LA LOI DU MARCHÉ, FRANÇA, 2015, 93 MIN., DRAMA
ELENCO:
VINCENT LINDON – THIERRY
KARINE DE MIRBECK – ESPOSA
MATTHIE SCHALLER



Vincent Lindon foi premiado o melhor ator do Festival de Cannes e o César, o Oscar francês. Neste filme ele está soberbo. O diretor Stéphane Brize faz um retrato da “Velha Europa” atual. Desemprego em massa e a imigração de vítimas de guerra, inchando a França ainda mais. Vincent é um operário categorizado que comprou uma casinha bonita, casado, tem um filho deficiente físico. O garoto é inteligente, mas precisa de uma pessoa que fique com ele para estudar e ajudá-lo em afazeres físicos. Sua mãe é essa pessoa. Desesperado com o fim do seguro desemprego vai a todas as entrevistas possíveis, contudo não consegue nada e se obtivesse receberia um salário bem inferior. É um homem honesto, que ama a família, no entanto se vê desprestigiado no mercado de trabalho. Depois de muita luta, admite trabalhar como segurança em um supermercado. A rotina é dura, pois existem várias câmaras para flagrar os clientes que roubam, assim como a conduta desonesta de alguns empregados. Seu chefe é rígido e não deixa passar qualquer deslize, mesmo que não seja grave. No filme estamos sempre vendo uma salinha, onde as pessoas são desmascaradas e isso constrange de certa forma o herói. Além do pagamento da casa, está com um carro popular que acabara de comprar e a receita mal dá para que não fiquem no vermelho. Algo muito parecido com o que está se passando no Brasil. E é aí que nos colocamos inteiramente dentro desse drama. Apesar de todas suas necessidades e problemas escolares com o filho segue adiante fazendo o que detesta. Vemos dois episódios onde boas funcionárias são humilhadas e mandadas embora por pequenos delitos. Mas perderam a confiança do chefe implacável, obrigado a melhorar o faturamento do estabelecimento. O filme é gelado sob o ponto de vista humano e bem voltado ao mercado atual, com toda sua tecnologia, necessidade de sobrevivência e lucros. Com o passar do tempo Thierry não aguenta mais e deixa que a vida o leve e sua família, pois existe um limite para o ser humano que acredita no seu semelhante e na compaixão. Ótimo filme, com roteiro ágil e muito atual. Imperdível.