segunda-feira, 26 de agosto de 2013

FRANCES HA DE NOAH BAUMBACH


 

FRANCES HA, ESTADOS UNIDOS, 2012, 86 MIN. DRAMA
ELENCO:

GRETA GERWIG, FRANCES

MICHKEY SUMNER – SOFIA

ADAM DRIVER – AMIGO

Este charmosíssimo filme em preto e branco conta a história de uma dançarina que deseja fazer parte de um corpo de baile profissional, mas nunca chega sua vez. Sem dinheiro mora com uma amiga, Sofia. As duas nutrem uma amizade muito forte, sendo inseparáveis, mas quer o destino que se afastem para desespero de Frances, que vê sua alma gêmea partir e ficar sozinha. A estória não é muito importante, mas sim a forma como é contada.  O genial Baumbach, diretor de A Lula e a Baleia, passeia pelos anos 20 e 30 do cinema mudo e faz um filme em preto e branco, com todas as suas nuances. O ritmo é de filme antigo, com a música própria dessa época e quase a mesma linguagem corporal. Além disso, a ótima Greta Gerwig assume trejeitos à La Carlitos, que só reforçam seu desempenho magnífico. Outro truque do cinema mudo são os cartões que avisam onde se passa a ação. Somando tudo isso Frances tem um caráter muito especial. Apesar de nada dar certo para ela, aos 27 anos, e continuando como aluna da companhia de dança, sem namorado e inacessível a esse tipo de relacionamento, como diz repetidamente, tem uma calma e resignação dos heróis que Woody Allan fazia em seus filmes, quando ainda atuava.  Essas duas características ficam patentes desde o início e com o desenrolar do filme. Não dá para contar mais coisas para não estragar o final. Ela tenta viver como realmente é, uma desorganizada, e fazendo acertos com seus próprios erros. Ótimo filme, com uma direção genial.

BLING RING - A GANG DE HOLLYWOOD DE SOFIA COPPOLA




THE BLING RING, EUA/2013, 90 MIN. DRAMA-CRIME

ELENCO:

EMMA WATSON –NICKI

KATY CHANG  - REBECCA

ISRAEL BROUSSARD – MARC

Uma crônica famosa do Vanity Fair, escrita por Nancy Joe Sales, inspirou a ótima Sofia Coppola a realizar seu novo filme. Um grupo de adolescentes de classe média em Los Angeles, todos estudantes de uma escola para jovens problemáticos, entre os anos de 2008 e 2009 praticavam crimes em casas de celebridades, pelas quais eram fanáticos. O que eles queriam era parecer iguais aos seus ídolos e terem o mesmo guarda roupa, estilo de vida, frequentar seus clubes prediletos, enfim “queriam ser eles” e os idolatravam. A líder desse quinteto era a sofisticada menina oriental, Rebecca, que convida Nicki, um garoto sem autoestima, a se juntar ao grupo de garotas. Eles desejam ter roupas, casacos e outros pertences pessoais dessas pessoas e descobrem o quanto é fácil saber sobre elas. Basta um clique no computador e ali está o endereço e onde os personagens se encontram. Aproveitando-se das casas vazias sempre conseguem entrar nessas mansões, porque as celebridades são pouco cuidadosas com suas coisas, tendo um número sem fim de peças e joias em suas casas e tantos carros que chegam a deixar as chaves dentro deles.  Os primeiros assaltos são mais temerários para o jovem Nicki, mas a medida em que nada acontece vão se tornando tão confiantes que não prestam mais atenção no que fazem, chegando a levar uma coleção inteira de Rolex, quadro e tapetes. As celebridades são pessoas como Paris Hilton, Orlando Bloom, Lindsay Lohan entre outros. Durante os assaltos seus pais displicentes não notam nada, sendo que eles ingerem uma quantidade enorme de bebidas e drogas, chegando totalmente dopados. Sofia dirige como uma antropóloga, o que interessa são os fatos e não os julga, apenas registra magistralmente os “Bling Ring” em ação. O que intrigou a jornalista foi o despudor desses jovens, que elegantemente vestidos parecem mais velhos, mas são simples adolescentes de famílias mal constituídas. Uma das melhores cenas é uma tomada à distância e a noite de uma casa com quase todas as paredes de vidro, onde podemos ver ao longe, Rebecca e Nicki, com as luzes acesas, escolhendo os frutos de seus roubos, com o maravilhoso céu estrelado da Califórnia como pano de fundo. Finalmente, quando já roubaram uma soma próxima a três milhões de dólares, as queixas são feitas e a polícia sai atrás dos pequenos marginais, que apesar de não machucarem ninguém e não lesarem as pessoas a ponto delas darem falta disso em casa, são criminosos que precisam ser detidos. O mais incrível é que essas celebridades acumulam tal número de coisas, o que é também o hábito do americano consumista de classe média alta, que adoram revistas e programas de fofocas e celebridades, que os roubos custam a ser percebidos. Mesmo com a finalidade de não enviar nenhuma mensagem de certo ou errado, torna-se um filme muito bem sucedido contra esse comportamento atual consumista e alienado, quase no limiar da imbecilidade.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

CAMILLE CLAUDEL, 1915 DE BRUNO DRUMONT


CAMILLE CLAUDEL, 1915 DE BRUNO DRUM0NT

CAMILLE CLAUDEL, 1915, FRANÇA/2013, 95MIN. DOCUDRAMA

ELENCO:

JULIETTE BINOCHE – CAMILLE

JEAN-LUC VINCENT

EMMANUEL KAUFFMAN

Este, certamente, é um dos filmes mais sensíveis e impressionantes deste ano. Dirigido pelo ótimo Bruno Drumont, que norteia seus filmes procurando uma estética minimalista, como em “A Humanidade e “Fora de Satã”. Religião são temas centrais. Este possui imagens lentas, longas, focando  Juliette Binoche, tanto em sua linguagem corporal, quanto em seu semblante, que fala mais do que qualquer diálogo. Aliás, o filme quase não os apresenta. Rodado em Saint Rémy de Provence, sul da França, é uma homenagem do diretor ao septuagésimo aniversário de sua morte em 19 de outubro de 1943, tendo nascido em dezembro de 1864. Essa escultora famosíssima, desde pequena mostrou um talento imenso e seu pai, que a amava muito, não mediu esforços para mandá-la estudar em Paris, na Academia Colarossi, tendo tido como mestre Rodin, bem mais velho, mas com o qual manteve um caso amoroso por longos anos, tornando-se tão boa escultora ou melhor do que ele. Depois de romperem o relacionamento, ela passa a se tornar reclusa em seu atelier, até que sua família - mãe, irmã e irmão a encerram em um manicômio durante a primeira Guerra Mundial em Villeneuve, Avignon, por três décadas. Esses dados biográficos são necessários para que possamos entender melhor a película. O filme foi rodado em um verdadeiro hospital psiquiátrico, contando com doentes mentais de lá, conservando seus nomes verdadeiros. Inverno de 1915, Camille, a mais velha de três irmãos, encontra-se internada nesse hospital limpo e bem cuidado por freiras, mas que para uma pessoa com discernimento e sensibilidade como de Camille era um verdadeiro inferno. Todos são doentes mentais muito graves, com semblantes e olhos embrutecidos, gritando e gesticulando demasiadamente. Essas pobres almas são grotescas e deprimentes. Com mania de perseguição faz sua própria comida e não tem nenhum contato afetivo, o que a torna muito infeliz. Seu quarto e o hospital são monásticos, mas uma bela área verde circunda a propriedade. Os internos são levados a passear por esses longos caminhos. Desesperada, pois nunca recebera visitas da família ou de amigos, consegue que uma funcionaria jovem coloque no correio uma carta comovente que escrevera a Paul, seu irmão, para resgatá-la. O desempenho de Juliette é emocionante, quase sem falar expressa toda sua angústia e horror naquele lugar sem acolhimento humano para ela.  Recebendo a carta, Paul que era um homem ainda mais problemático do que a irmã, sendo místico ao extremo e ambicioso ao ponto de querer ser um santo, vai ao seu encontro, não antes de fazer preces delirantes. Ao chegar, o contato dos dois é impróprio, pois acreditava que o destino da irmã era consequência da vontade suprema de Deus, que tudo sabe e vê! Na tomada final, Juliette, sentada ao sol, mais do que nunca seu rosto fala conosco. Esse trabalho de Bruno Drumont exige muita atenção do público e empenho para decifrar os gestuais. Magnífico filme e mesmo sendo triste merece ser visto e aplaudido.

  

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A AVENTURA DE KON-TIKI DE JOACHIM RONNING E ESPEN SANDBERG



KON-TIKI, REINO UNIDO, NORUEGA, DINAMARCA/2012,118 MIN. DOCUDRAMA

ELENCO: PAL SVERRE - THOR

VALHEIM HAGEN

ANDERSS BAASMO

CHRISTIANSEN E GUSTAF SKARSGARD

Esse belíssimo documentário dirigido por Ronning e Sandberg foi indicado a dois grandes prêmios – Oscar e Globo de Ouro em 2013, mas levou um premio em seu próprio país, a Noruega. Ele descreve a vida do antropólogo Thor Heyerdahl, desde sua infância (1914-2002), quando se mostrava um líder e um menino destemido e obstinado. Depois de adulto e casado, vive por 10 anos, nas ilhas polinésias, fazendo pesquisas e concluindo que adversamente do que era propagado, as ilhas polinésias haviam sido descobertas pelo leste, pelos povos peruanos pré-colombianos. Isso é concluído com a ajuda de nativos que acreditavam nessa versão e mostram esculturas idênticas às daqueles povos. Convencido, leva sua tese em fins de 1946 para Nova Iorque, a fim de que sejam publicas em um livro ou mesmo em revistas. Sendo motivo de chacotas resolve ir ao Peru, onde encontra financiamento junto a militares americanos que lhe cede o equipamento náutico de um velho navio. Apoiado por um engenheiro americano que conhecera em um bar, fazem uma planta da balsa rústica, que deveria percorrer 8.000 quilômetros de mar, o oceano Pacífico, apesar dos perigos de ondas gigantescas, furacões, tubarões, baleias gigantes e outros peixes perigosos, seguindo somente o vento e as correntes marinhas.  Chamando quatro de seus amigos de infância que haviam combatido na segunda guerra, todos intrépidos como ele, constroem a balsa exatamente como há 1.500 anos, com madeira e cordas, pois sua fé era inabalável e queria seguir os conselhos dos velhos povos. Esses homens altíssimos e belos, com exceção do americano, partem em abril de 1947 para a grande navegação. A filmagem não foi feita no Pacífico, mas as águas mostradas são maravilhosas, assim como o céu repleto de estrelas. Com eles segue uma ararinha azul, que no meio da viagem encontra a morte para consternação da tripulação. As cordas começam a se desfazer lentamente com o atrito e a madeira fica pesada com a absorção da água, mas nada disso tira o ânimo do capitão. Depois de 101 dias ao mar, finalmente veem um pássaro e terra firme, mas não é o final da jornada que tem seu maior perigo exatamente próximo ao litoral. Esplêndidas imagens e uma aventura bem contada própria para qualquer faixa etária. Os cenários são incríveis e o desempenho dos atores muito realista. Ótimo programa. Atenção! Várias fotos no início são originais da época.