segunda-feira, 31 de julho de 2017

O REENCONTRO DE MARTIN PROVOST




LA SAGE FEMME, FRANÇA, 2017, 117 MIN., COMÉDIA DRAMÁTICA.
ELENCO:
CATHERINE FROT – CLAIRE
CATHERINE DENEUVE – BEATRICE
OLIVIER GOURMET – PAUL

Com duas divinas atrizes, ambas Catherine, Martin Provost consegue emocionar com sua comédia dramática.  Sage femme, significa parteira, obstetriz, profissão de Catherine Frot (em um desempenho espetacular) no papel de Claire, uma mulher de quarenta e tantos anos que mora com seu filho único. Ótima profissional é muito conceituada na maternidade em que trabalha, que está prestes a fechar as portas, por ser um local bastante tradicional e que não dá lucro. Claire além de seu prestígio profissional é uma pessoa generosa, dedicando sua vida aos outros, séria e um tanto solitária. Seu filho está deixando a casa, pois estudante de medicina e namorando uma colega, vai mudar-se para morarem juntos. Assim a já solitária Claire fica com um quarto desocupado no seu apartamento, em um bairro suburbano de Paris. Como um vento que chega, entra em sua vida Beatrice (Catherine Deneuve sempre soberba), ex-amante de seu falecido pai, que é em tudo seu oposto – caprichosa e egoísta. Chega à casa de Claire, que a recebe mal, pois causara muito desencanto em sua vida, mas acaba acolhendo-a, uma vez que estava gravemente doente, talvez com pouquíssimo tempo de vida. Dentro desse drama, o roteiro é recheado de momentos emocionantes e bastante interessantes, pois críveis. Sua vida mudará de cabeça para baixo, a partir desse envolvimento com essa mulher, jogadora profissional, contudo muito atraente e objetiva. Ambas se transformarão com um convívio diário, ora de amor, ora de ódio. Contudo tanto Beatrice quanto Claire vão se beneficiar com a experiência de vida tão distante uma da outra. Um filme que deve ser visto com um lencinho na mão, pois comove e demonstra a fraqueza e força absoluta que se encerram dentro de um ser humano. Ótimo e imperdível. 

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A VIDA DE UMA MULHER DE STÉPHANE BRIZÉ





UNE VIE, FRANÇA-BÉLGICA, 2017, 119 MIN. DRAMA.
ELENCO:
JUDITH CHEMLA – JEANNE
JEAN-PIERRE DARROUSSIN – BARÃO
YOLANDA MOREAU – BARONEZA
SWANN ARLAUD – JULIEN DE LAMARE
FLORENCE VIGNON – ROSALIE

Une Vie (1883), livro de Guy de Maupassant, serve como base para esse belo filme de época. Jeanne (Judith Chemla César de melhor atriz), filha de barões, é uma jovem sem nenhuma experiência de vida, muito religiosa, que após terminar seus estudos em um colégio interno de freiras, volta para casa a fim de ajudar seus pais, que moram na Normandia de 1819. Ele é um homem de hábitos simples, apesar de riquíssimo, que tenta passar suas experiências à filha. O filme começa com o barão ensinando jardinagem à garota, que vai pegando gosto por tudo que se apresenta de novo. A antiga e belíssima mansão fica no litoral francês, com o cenário deslumbrante do mar batendo forte nas pedras da praia. Sua mãe é bonachona, alegre e se contenta em reler as cartas da juventude para passar o tempo. Na casa trabalha Rosalie, que tem a mesma idade de Jeanne, e são íntimas como amigas. Um belo dia aparece o jovem arrivista, Julien De Lamare, escolhido pelos pais para se casar com Jeanne. Ele é aristocrata, mas sem nenhum tostão, pois pagara as dívidas de jogo da família. Com uma aparência agradável, a prometida apaixona-se por ele. Irão morar na mansão e ele será como um filho para o casal. Esse é o começo de um drama social muito frequente na França do século 19, quando os casamentos eram escolhidos e as mulheres completamente submissas. Jeanne acredita na nobreza de sentimentos, na verdade e que seu papel era servir à família, ao marido e filhos. Sua felicidade seria essa vida casta e pura. Mas quanto infortúnio vai vê-la passar por conta disso! Logo depois do casamento começam as decepções e agressões às mulheres em geral. O marido avarento, jogador e mulherengo vai minando sua alegria de viver. Adultérios, falsidades, negócios espúrios e muitas vezes as mentiras da própria família, como acontece com Jeanne, são recorrentes. Depois da morte de sua mãe, descobre o motivo de tanta felicidade, para seu desespero. A igreja católica exercia um papel destrutivo na orientação dessas vítimas, que se sentiam culpadas, algozes de seus predadores. O desenrolar é fortemente exasperante diante da inação de Jeanne, não por conformismo, mas por dever. Ela vai perdendo tudo, marido, família, propriedades. A repetição de seu comportamento com o filho sem caráter como o pai faz com que Jeanne afirme, agora morando na casa de Rosalie e sem mais nada, que a vida, afinal de contas, não é tão boa nem tão má, como se crê. Adepta o estoicismo? O diretor ficou 20 anos esperando uma oportunidade para realizar o filme. Com poucos diálogos, tomadas especiais e com o ambiente como outro personagem, a história nos conduz à reflexão do papel da mulher desde sempre.







segunda-feira, 24 de julho de 2017

MONSIER E MADAME ADELMAN DE NICOLAS BEDOS





FRANÇA, 2017, 120 MIN. COMÉDIA.
ELENCO:
DORIA TILIER – SARAH ADELMAN
NICOLAS BEDOS – VICTOR ADELMAN



O filme estrelado pelo próprio diretor e a ótima estreante em cinema, Doria Tilier, é um dos melhores em cartaz, sem dúvida, pelo roteiro original que fizeram a quatro mãos. Durante o funeral de um escritor renomado, Victor Adelman, um repórter procura a viúva interessado em escrever sua biografia sob o ponto de vista feminino. Relutante a princípio, resolve soltar o verbo a respeito desse relacionamento de 45 anos. O filme é dividido em capítulos. Sarah, uma mulher que sabe se virar em situações difíceis e constrangedoras, oferece um relato minucioso de seu convívio tão longo. Gostaria de ter conhecido Victor em circunstâncias mais elegantes, mas se apaixonara por ele ao vê-lo em uma boate decadente de Paris. Para Sarah fora um forte amor à primeira vista. Fazendo de tudo para ficar com o jovem, bêbado ao extremo, o encontro não vai adiante. Isso se passa no ano de 1971. Dois anos depois, namorando seu irmão, comparece à festa natalina na vasta mansão da riquíssima e nobre família. Completamente diferente e cheia de classe impressiona Victor. Seu pai, um nobre desbocado, e sua mãe alcoólatra e muito católica são um caso a parte. Depois desse encontro começam um relacionamento para valer, baseado no sorriso inebriante da garota e o ótimo sexo entre eles. Victor pretende ser escritor, mas sem muita inspiração. Ela é culta e criativa, estudante de línguas clássicas. Deserdado pelos pais, passam a morar sozinhos em um pequeno apartamento. Aos poucos, seus escritos vão sendo aceitos e publicados até que resolvem se casar. Da união surge um menino com problemas mentais e uma filha linda, que é adorada pelo pai. Ele só conseguiu se firmar como escritor com o sobrenome judaico, Adelman, de Sarah, cuja família é divertida e inteligente. Afinal os escritores judeus eram os mais bem recebidos pelos leitores, como Roth, Saul Bellow e Malamud. Muito ambicioso torna-se um escritor renomado, sempre aconselhado por sua mulher, e enriquece logo, comprando uma belíssima mansão. Com a mudança de status, vem a mudança de Sarah que, agora loira, incorpora o estilo  “madame de cabeça vazia e fútil”. Victor não gosta do novo papel de Sarah, que com medo de perdê-lo, volta à antiga personalidade. A carreira de Victor não é muito linear e passa por um período de decadência com a separação de sua mulher por cinco anos. Tornara-se extremamente mulherengo, envelhecendo rapidamente, à medida que ela só ficava mais linda e jovem. Ele é dependente de seu psiquiatra desde a juventude e através dessas sessões vamos conhecendo seu caráter e anseios. A cena da morte do velho médico é uma das melhores. Mas afinal como morrera Victor? Isso o repórter quer saber e ainda notara uma forte desmotivação nos anos que estiveram separados. Em um rasgo de pura franqueza, Sarah dá o pulo do gato, desvendando a realidade para apoplexia do jovem repórter e delicia da plateia. O final é estimulante. Absolutamente imperdível!

sexta-feira, 21 de julho de 2017

FALA COMIGO DE FELIPE SHOLL




BRASIL, 2016, 92 MIN., DRAMA.
ELENCO:
DENISE FRAGA – PSICÓLOGA
TOM KARABACHIAN – DIOGO
KARINE TELES – ÂNGELA

Esse drama familiar concentra-se na “discriminação social” quando uma mulher mais velha apaixona-se por um jovem. O diretor explora esse universo descrevendo uma família que está em crise, mal se falam durante as refeições: a psicóloga, seu marido, filho e filha. Sempre ocupada tem pouco tempo para eles. Contudo, leva um susto quando descobre que seu filho de 17 anos, Diogo (bom desempenho de Tom), está envolvido emocional e sexualmente por uma mulher recém-divorciada, paciente de sua mãe. Ele a localiza através de uma ligação telefônica nada convencional e Ângela resolve conhecê-lo pessoalmente. Acabara de tentar suicídio e está bastante carente de amor. Os dois garantem uma ótima química, para desespero da mãe. Uma crítica atual das afinidades cotidianas desse novo século. O final é aberto e cada qual poderá dar sua sentença quanto ao desfecho. 

segunda-feira, 17 de julho de 2017

FRANTZ DE FRANÇOIS OZON




FRANTZ, FRANÇA-ALEMANHA, 2016, DRAMA.
ELENCO:
PIERRE NINEY – ADRIEN RIVOIRE
PAULA BEER – ANNA
ERNST STÖTZNER – DR. HANS HOFFMEISTER



François Ozon de apenas 49 anos, em um de seus melhores momentos, foge do lugar comum ao retratar a história de um jovem pacifista alemão, filho de um médico, que fora induzido pelo pai a participar da guerra, perdendo sua vida. O filme, em elegante preto e branco, começa com Anna (magnífica Paula Beer) levando flores para o túmulo de seu noivo, Frantz, morto durante a Primeira Guerra. Chegando ao lugar, estranha ver que flores frescas haviam sido lá colocadas recentemente. Perguntando ao coveiro ele responde que fora um rapaz francês, cuspindo no chão para demonstrar que o ressentimento da guerra ainda estava muito vivo. Anne fica intrigada com o fato, pois não podia sequer imaginar que o noivo tinha um amigo francês. Vivendo na casa dos pais de Frantz, comenta o fato com eles e decide verificar, em Paris, de quem se tratava. Realmente, Adrien (estupendo Pierre Niney) era francês, pacifista também, e tocava violino maravilhosamente, o instrumento preferido de Frantz. Muitas coincidências entre eles vão surgindo, com cenas coloridas quando aparece o Frantz idealizado por eles. A partir de certo ponto Adrien abre o jogo e cenas preciosas e com forte fundo psicológico vão surgindo. O enredo é absolutamente original e um novo comportamento toma conta da família do rapaz, assim como o de Anna, a belíssima jovem cheia de vida, que virá a se beneficiar com a presença antes impertinente de Adrien. Absolutamente imperdível!!!  

sexta-feira, 14 de julho de 2017

PERDIDOS EM PARIS DE FIONA GORDON E DOMINIQUE ABEL





PARIS PIEDS NUS, FRANÇA-BÉLGICA, 2017, 83 MIN., COMÉDIA.
ELENCO:
FIONA GORDON – FIONA
DOMINIQUE ABEL – DOM
EMMANUELLE RIVE – TIA MARTHA



Nessa deliciosa comédia burlesca e non-sense temos os mesmos atores e diretores do ótimo Rumba. Trata-se de um filme que explora somente o essencial, pois ele todo é um apanhado de cenas de dança, explorando os quatro cantos de Paris. Outra referência relevante é a derradeira participação no cinema da ótima Emmanuelle Rive. A história é simples: Fiona, uma bibliotecária canadense, recebe uma carta, avisando que sua tia que vive em Paris precisava de ajuda. Com seu físico alto e magro, explora seus limites, vestindo-se de uma maneira antiga e carregando nas costas uma enorme mochila vermelha, com a bandeira do Canadá espetada na parte de cima. Seu cabelo é um caso perdido. Ao desembarcar em Paris, perde sua bagagem e fica sabendo que Martha havia desaparecido de seu endereço, pois fora ameaçada a ser internada em uma casa de idosos. Apesar de ser um pouco senil, é cheia de vigor e desejos. A partir do momento em que a heroína perde seus documentos uma avalanche de contratempos ocorre para nossa alegria.  Ela esbarra em Dom, um homem que vive na rua, vestindo sua blusa e portando sua bolsa. Inconformada vai atrás dele até que se encontram em um bateaux-mouche às margens do Sena. Lá, durante o jantar, dançam um espetacular tango sensual, com seus corpos flexíveis e vigorosos. Eles passam a formar uma dupla à procura de Martha, que encontrando um velho amigo, sentam em um banco para conversar e exibem um balé de pés idosos extraordinário. Tudo é realizado com o mínimo de esforço, economicamente. A fim de encontrarem a tia, escalam a torre Eiffel, em outro número imperdível de acrobacia e talento. O filme se desenrola com leveza, deliberadamente mostrando Paris de cartões postais. Imperdível para quem gosta do gênero, mas talvez perigoso para os apreciadores de comédias rasgadas. Particularmente, morri de rir o tempo todo.