sexta-feira, 20 de março de 2009

GRAN TORINO de Clint Eastwood























Uma igreja católica romana. O órgão toca para a cerimônia de morte da mulher de Walt e é celebrada por “um virgem super culto de 27 anos”, ops, o jovem padre Janovich (ótimo Christopher Carley) que tentará fazê-lo confessar-se e encontrar a paz até o fim do filme. Walt Kowalski é um polaco-americano durão, que vive agarrado ao passado e ao respeito e dignidade, apesar de suas atitudes rudes e seu péssimo vocabulário de palavrões. Durante as primeiras cenas vemos seu relacionamento de estranheza com seus dois filhos e netos. A família não se entende e Walt confessa isso. Ele é um homem de 78 anos, que tendo trabalhado para a Ford por muitos anos, se encontra enraizado com esses padrões e guarda, como uma relíquia, um conservadíssimo Ford Gran Torino, que havia ajudado a fabricar em 1972. Mora em um bairro decadente de Michigan, onde quase não habitavam mais os americanos, mas sim asiáticos nômades, os hmongs, que haviam se aliado aos Estados Unidos na guerra contra o Vietnã e de lá foram expulsos e enviados para a América. Eles são muito pobres e indolentes, sob a ótica americana, e pior ainda, lembravam os inimigos de Walt durante a guerra da Coreia, onde matara diversos jovens de 17 anos, amedrontados e inseguros. Esse pesadelo jamais sairá de sua consciência norteando o decorrer da história. Ao seu lado mora uma família dessa aldeia do Laos que ele despreza e cospe no chão cada vez que os vê. Todavia durante um confronto de uma gang desse povo ele toma o partido dos vizinhos e a partir desse momento surge uma amizade de gratidão que ele detesta e faz de tudo para se livrar. Porém sendo solitário e a família muito agradecida, vê-se obrigado a aceitar os favores prestados pelo jovem Thao e a companhia de sua irmã. Nosso jovem padre irá procurá-lo algumas vezes, mas será sempre rechaçado. Um vínculo paterno se desenvolve entre o homem amargo, que sempre empunha uma arma invisível e tem outras verdadeiras em casa, com o pequeno asiático. Valores vão sendo passados durante as conversas, sempre de forma um tanto cruel e machista, pois com o desenrolar da película temos a impressão de estar vendo o velho Clint dos faroestes espetaculares: atroz, violento, mas com grande noção de probidade e certa elegância. Uma hora se esgota e o filme tende para o paternalismo e humanitarismo, até que um fato faz com que tudo volte à velha justiça pelas próprias mãos. A família hmong é atacada pela gang, pois o garoto não queria integrar esse grupo delinqüente e Thao busca em Walt uma solução. Apressado o jovem quer justiça imediata. Ocorre que Walt é muito calejado em temas de vingança e, além disso, havia sido procurado, mais uma vez, pelo padre que passará a ter um papel bastante importante. Com muita calma planeja um golpe que ponha um fim definitivo nesses bandidos, que aterrorizam o bairro. Depois de cortar os cabelos, fazer a barba e comprar um terno novo, Clint passa para a ação que resultará em um final emocionante e perfeito.
A interpretação de Clint é impecável e apesar de não ser um western ele nos faz remeter a essa época. É um filme humano e redentor. A música é excelente composta por Jamie Cullum de 29 anos. Cullum trabalhou diretamente com Clint e essa foi sua primeira trilha sonora. A canção recebeu menção para o Globo de Ouro. Clint, pianista, mostrou o que queria e o jovem inglês foi até o fim. Os atores que representam o povo asiático nômade fazem um trabalho muito bem feito e pertinente, sob a direção de Eastwood. Mais um ótimo filme em cartaz.
NOTA- em um mesmo ano Clint dirigiu A Troca (ver neste blog) e Gran Torino

domingo, 15 de março de 2009

ENTRE OS MUROS de Laurent Cantet






















Este é um belíssimo filme que todas as pessoas preocupadas com a educação e formação dos jovens deveriam assistir. Ganhador do último festival de Cannes foi extraído da obra de Bégaudeau, Entre os Muros, que discute suas experiências em sala de aula para alunos marroquinos, chineses, caribenhos, africanos e muçulmanos. A história descreve nove meses de aulas em uma escola pública multirracial, na periferia de Paris. Os professores sofrem fortes desafios com os estudantes vindos de diversas regiões, dentre elas ex-colônias francesas, cujos pais chegaram ao país em busca de uma melhor condição social e futuro para os filhos. Bégaudeau, professor de francês, é um homem bonito, jovem e abnegado que quer mais do que ensinar simplesmente o idioma a seus alunos. Sua meta é transformá-los em cidadãos que possam futuramente defender-se e impor-se como tal. As aulas são verdadeiros campos de atrito constante, onde ele tenta mostrar-lhes o benefício da disciplina e do saber, mas tem que lutar contra suas situações difíceis e suas formações familiares muitas vezes desgastadas ou simplesmente inexistentes. Apesar da desordem em sala de aula e da atitude aparentemente apática e desinteressada deles, consegue, após algum tempo, fazer com que se vejam de modo mais apreciativo. Ele os faz pensar, provocando-os e fazendo com que se sintam merecedores de uma avaliação pessoal melhor. Seu amor e paciência com eles são sem limites. Contudo, ocorre um grave incidente durante uma aula e isso faz com que, cansado e esgotado, perca seu centro e chame duas meninas, as quais não paravam de falar e se comportar de maneira irregular durante um conselho de classe que avaliava a performance dos estudantes, com adjetivos inapropriados para um mestre. Isso resulta em uma agressão por parte de um dos alunos, que culminará em momentos tensos e dramáticos. Mesmo com esse impasse em sua carreira ele jamais desistirá de continuar tentando mostrar uma vida mais edificante para seus estudantes. O filme nos mostra a tensão permanente que sobrecarrega esses professores, suas reações diversas às mesmas situações, o comportamento dos adolescentes e as tragédias impregnadas em suas famílias. Essa não é uma situação diferente enfrentada pelos professores nas periferias pobres de muitos países.
Os alunos são interpretados por eles mesmos, assim como os professores e o próprio Bégaudeau. A direção é ótima e o filme tem um ritmo ágil. Foi sem dúvida um dos melhores filmes de 2009!!

sábado, 14 de março de 2009

O VISITANTE de Thomas McCarthy












Este excelente drama atualíssimo aborda as dificuldades de relacionamento entre os americanos e muçulmanos, após o atentado de 11 de setembro. O ótimo ator Richard Jekins (Walter) declarou para o Estado de São Paulo que “Meu foco era meu personagem, esse homem que parece desinteressado de tudo e todos, que segue empurrado pela vida e, de repente, precisa tomar partido.” Walter, professor universitário em Connecticut, entorpecido por perdas familiares e pela previsibilidade de seu trabalho retorna para seu apartamento em New York, a fim de apresentar um trabalho sobre a economia do terceiro mundo, para o qual dedicou apenas sua assinatura. Ao chegar é surpreendido por um jovem casal, o sírio Terek (carismático Haaz Sleiman) e a senegalesa Zainab (Danai J. Gurira), que acreditavam estar alugando o imóvel legalmente, já que eram imigrantes clandestinos e não queriam saber de problemas com a polícia. Walter, um homem pra lá de sem graça e sem nenhum charme e encanto pessoal, é tomado por invasor, mas quando a situação se esclarece, deixa-se levar por uma emoção que não sentia há muito tempo e permite que os jovens apaixonados fiquem lá, até que achem outra morada. A música clássica e o piano eram sua paixão, já que sua falecida mulher fora uma grande pianista. Entretanto, convidado pelo caloroso Tarek a aprender a tocar tambor, deixa-se contagiar por algo que vibre e tenha vida, ao contrário de sua rotina como professor de uma matéria só há mais de vinte anos. Um relacionamento amigável e contido inicia-se entre esses três personagens, para grande ganho de Walter. Com o passar dos dias está mais solto e tocando timidamente seu tambor, quando um incidente no metrô, provoca a prisão do amistoso Tarek, que não havia cometido nenhuma infração. A situação do rapaz se complica para seu desespero, pois só queria tocar em sua banda de jazz e ser feliz ao lado de Zainab. A maravilhosa atriz palestina Hiam Abbass de Lemon Tree, faz o papel de sua mãe e chega, sem aviso, a New York, por falta de notícias do filho, ficando no apartamento de Walter, que se julga responsável pelo incidente do metrô. Mouna provoca uma reação positiva em Walter, que se aproxima timidamente dela, e um prenúncio de romance genuíno ocorre entre os dois viúvos. Todavia as coisas evoluem para um final que não poderia ser diferente do que nos é apresentado, contudo o acrescentamento de suas companhias para o professor será para sempre!
Richard Jenkins ganhou uma indicação ao Oscar como melhor ator com esse admirável papel. Hiam Abbass demonstra toda sua beleza madura e talento como a mãe síria, esperançosa de dar uma nova pátria ao filho e a contida Danai J. Gurira está muito convincente como jovem negra muçulmana.
Não dá para deixar de conferir esse filme!

sábado, 7 de março de 2009

FROST/NIXON de Ron Howard
















Este é um drama denso e ótimo. Com interpretações magníficas de Michael Sheen (Frost) e Frank Langella (Nixon), que nos esclarecem a principal entrevista concedida por Nixon ao repórter David Frost, três anos após sua renúncia como residente dos Estados Unidos. A película começa em 1974 com vozes gravadas e noticiários de toda mídia nos momentos que precederam a renúncia de Nixon. Este se despede da Casa Branca, através de uma declaração apresentada na televisão, onde se sai muito bem, sem dizer o motivo real de sua renúncia e tampouco pedidos de desculpas. De lá vai imediatamente para um hospital após um ataque, ficando vários dias internado em uma UTI. Em seguida à recuperação viaja para sua Vila, à beira-mar, na Califórnia. No exato momento de sua renúncia, um entrevistador britânico, que fora forçado a ir trabalhar na Austrália, apresenta um show de variedades e fica fascinado com o que vê no noticiário. Decidido que isso seria uma ótima matéria, embarca na missão de entrevistar Richard Nixon e conseguir arrancar dele uma confissão e um pedido de desculpas para o povo americano. Em 1977 seu empresário não acredita no sucesso desse trabalho, mas o acompanha na viagem para os estados Unidos, a fim de que obtenham o consentimento do ex-presidente e patrocínio para tal entrevista, pois, obviamente ela não seria dada sem pagamento. Durante as manobras para que ela se realize, podemos ver o pragmatismo de Nixon para obter o valor mais alto possível desta situação. Aceitando-a, ele se renova, pois odiava jogar golfe, o esporte oficial dos aposentados. Era um homem que precisava de desafios, embates e objetivos, coisas que não mais possuía. Por outro lado, David Frost, obstinado e atuante, embarcando para os Estados Unidos, conhece no avião uma moça, Caroline, por quem se apaixona e a qual o seguirá durante todo esse percurso. O acordo entre as partes é feito, sendo que Nixon, ardilosamente, embolsa o primeiro cheque de 200 mil dólares e não seu agente. Nenhuma estação de televisão está disponível para desembolsar o valor pedido pela entrevista e as despesas correntes, mas isso não é motivo para que o contumaz David Frost a cancela. Cerca-se de dois jovens e honestos repórteres que vinham investigando o caso há muito tempo, que, com relutância, se dispõem a auxiliá-lo. Essa dupla possuía grande número de informações que poderiam levar Nixon talvez ao mais obscuro destino, mas a televisão era um meio mais rápido e eficaz para desmascará-lo. Ocorre que eles não acreditavam na competência, base profissional e investigativa de David. Mesmo assim o plano prossegue. A condução do diretor, Howard, para nos mostrar a vida dos dois personagens principais ante essa situação é muito eficiente. Nixon era um homem muito bem centrado, carismático e ambicioso, tendo desejado ficar para a posteridade. David um jovem também ambicioso, charmoso e desesperado por ir à Nova York e ganhar grande prestigio profissional. Digamos que a ambição pelo sucesso era a mola propulsora deles. Uma casa é alugada para que as filmagens sejam feitas por alguns dias e depois editadas. A chegada de Frost causa frisson na mídia americana, mas a de Richard Nixon é digna de um grande imperador! Chega acompanhado de vários carros batedores e de um aparato sem igual. Isso causa certa perplexidade entre esses jovens, que queriam denunciá-lo. Sua altura, sua segurança e competência fora intimidadora. A voz e a figura do presidente foram feitas para o rádio, pois transpirava demais e tinha que aparar as grossas sobrancelhas, ao passo que Frost fora feito para trabalhar na televisão. Era loiro de olhos azuis com belíssimos dentes, sempre mostrados em um sorriso que não saia de sua face. Os termos da entrevista são ajustados entre as duas equipes e o Watergate seria a última parte a ser discutida. Mas, os jovens mudam as regras e começam pelo fim, entretanto Nixon, raposa velha e astuta, facilmente distorce as perguntas passando por reminiscências de sua vida, que julga serem muito interessantes e assépticas. As primeiras gravações acabam sendo tão favoráveis a ele que volta a ser presidenciável! A equipe de Frost está desolada com sua condução e os possíveis patrocinadores evaporam. O débito é enorme, mas o fator principal para o desagrado de Howard é a demissão que sofre na emissora da Austrália e Inglaterra. Está falido. Nesse possível momento de derrota, David recebe o telefonema (que não sabemos se foi verdadeiro) de um embriagado Nixon, admitindo que seria um oponente letal, onde só ele seria iluminado pela luz do holofote. Poderia ter se tornado verdade, não fosse pelo fato dele fazer um desabafo do peso que carregava desde sua renúncia. Sabedor que os bem-nascidos e ricos de berço caçoavam e não aceitam os homens trabalhadores e combatentes como ele e David Frost, garante-lhe que só um se saíra bem e esse era ele próprio. Frost passa a encarar sua missão de modo muito diferente, passando a noite toda pesquisando com afinco as fitas que provavam o comprometimento gravíssimo de Nixon com a corrupção e vários erros políticos. No dia fatídico vemos um Nixon não cordial, que não cumprimenta seu entrevistador, arrogante e certo da vitória. Mas David não está intimidado, municiado com muitos fatos relevantes contra o ex-presidente. Sem sequer se encostar no sofá, a conselho de seus auxiliares, ataca veementemente não deixando uma brecha sequer para qualquer argumentação ou distorção de suas perguntas. Cansado, Richard Nixon rebate que ser presidente é muito difícil e implica várias táticas, inclusive atos ilegais, que passam a não sê-los quando feitos por um presidente. Nesse momento todos se silenciam e o assessor de Nixon interrompe a gravação, pedindo-lhe que não cometa nenhuma indiscrição, pois isso custaria sua reputação perante o mundo. Em sua volta, Frost prossegue do exato ponto de onde fora interrompido e consegue que esse homem, agigantado por sua personalidade e presença física, faça um mea-culpa, confessando que, realmente, cometera erros gravíssimos e tivera atitudes corruptas. Sabia que comprometera as novas gerações de políticos, que acreditariam, a partir daquele instante, somente na corrupção e não mais na política em si. Frost o induz a pedir desculpas ao povo americano, que estava angustiado há tanto tempo sem saber qual era verdade. São momentos muito dramáticos em que esses grandes intérpretes passam a ser, realmente, o repórter e o ex-presidente. As desculpas são feitas e aceitas, mas ele está livre, pois o presidente Ford havia lhe concedido o perdão. Richard Nixon morreu em 1994 de um derrame e Frost continua na televisão, muito rico e tendo sido capa de revistas americanas muito importantes por cinco vezes. Essa é a mais famosa de todas as entrevistas sobre o Watergate. Com Kevin Bacon, Rebecca Hall e Tody Jones. Sheen e Langella interpretaram esses personagens por 18 meses nos palcos, tendo feito um trabalho minucioso sobre seus personagens. Durante as gravações os outros atores eram obrigados a chamar Langella de “Senhor Presidente”. Todos esses fatores e a ótima direção resultaram em grande credibilidade para o filme. É possível encontrar no Google essa famosa entrevista.