segunda-feira, 22 de abril de 2013

VOCÊS AINDA NÃO VIRAM NADA DE ALAIN RESNAIS



VOUS N’AVEZ ENCORES RIEN VU FRANÇA, 2012, 115 MIN. DRAMA

ELENCO:

MATHIEU AMALRIC -  ele próprio

PIERRE ARDITI – ele próprio

SABINE AZÉMA – ela própria

JEAN-NOËL BROUTÉ -

ANNE CONSIGN – ela própria

HIPPOLYTE GIRARDOT – ele próprio

O drama do ótimo diretor Alain Resnais é baseado na tragédia Orfeu e Eurídice. Orfeu se apaixonara por Eurídice e logo depois de se casarem ela morre. Entretanto Orfeu vai buscá-la entre os mortos, mas para que ela renasça é preciso que ele a leve por um túnel e nunca olhe para trás, para seu rosto, pois assim ela voltaria a falecer. Quase no final de sua batalha, olha para a amada e ela sucumbe. Desesperado joga-se em um rio morrendo e indo ter com seu amor eterno; resumidamente é isso. Depois de sua morte, um dramaturgo francês deixa em testamento um vídeo onde manifesta a vontade de ter seus melhores atores em sua magnífica mansão, a fim de avaliarem sua última obra “Eurídice” representada por uma trupe de jovens atores. Encontram-se na casa duas gerações de artistas que tiveram seus papéis principais representados naquela tragédia. Ao verem a nova versão tão moderna e passada para os dias de hoje, se emocionam e passam a apresentar suas falas junto com as da tela. Temos três gerações com o mesmo papel. Isso é muito revolucionário, mas pelo texto muito denso e várias vezes repetido, torna-se do meio para o final, cansativo, mas nunca deixando de ser interessante e muito bem executado. Os artistas representam a si mesmos e nisso consiste a grande novidade, pois são os melhores da França. O papel da morte é sempre sedutor e cheio de encantamento, daí resultando o fim trágico. Resnais oferece um segundo final, que poderá ser aceito ou não. Esse senhor de 90 anos continua sua carreira de forma vigorosa e assertiva.

 
 

GINGER & ROSA DE SALLY POTTER



GINGER & ROSE, REINO UNIDO, CANADÁ, CROÁCIA/2012 90 MIN. DRAMA

ELENCO:

ELLE FANNING - GINGER

ALICE ENGLERT – ROSE

ANNETTE BENING – FEMINISTA

CHRISTINA HENDRICKS – MÃE DE GINGER

ALESSANDRO NIVOLA - ROLAND

Este trabalho bem elaborado de Sally Potter tem um fundo psicológico e filosófico bastante evidente. A trama começa com duas amigas adolescentes dando a luz em 1945, quase no fim da Segunda Guerra Mundial. Ambas têm meninas, que se tornaram melhores amigas em qualquer situação. No início da película vemos cenas delicadas de real fraternidade entre ambas. Estamos agora em 1962 e elas estão preocupadas com a possibilidade de uma guerra nuclear, com a crise cubana de mísseis e uma situação mundial muito tensa, além do mais querem ser diferentes de suas mães. Na Inglaterra elas participam das passeatas a favor da paz, e Ginger, a mais politizada das duas, aconselha-se com seus padrinhos intelectuais que aprovam o movimento “Ban the Bomb”. Rosa está mais interessada em garotos como qualquer outra menina de sua idade e essa diferença as completa. Ocorre que os pais de Ginger estão se separando, pois Rodolf vive em sua própria filosofia e dela não abre mão, tendo sido preso durante a guerra por ser um pacifista. Ele sequer permite que a filha o chame de pai. A separação se concretiza e Ginger passa a viver com a mãe, a quem desaprova por ser depressiva e não ter uma profissão definida. Seu pai é seu mundo, pois além de talentosa como o escritor quer ser poetiza. Esses três personagens passam conviver mais após a separação, pois passam fins de semana em um veleiro que ele adora. Rosa e Rodolf, apesar da diferença de idade sentem uma afinidade profunda e aberta. O mundo de Ginger começa a desmoronar, entra em sua própria guerra afetiva tendo a atenção do pai deslocada para outra pessoa tão próxima. A partir do meio do filme o drama se exacerba, pois os comportamentos serão alterados e alguns papéis trocados. No terço final vem o desmascaramento da situação, pondo em xeque as crenças de cada um desses intelectuais e das adolescentes. Ótimo drama para ser discutido após a sessão. O desempenho das garotas é precioso, principalmente por nenhuma delas ser inglesa. Fannig é americana e Englert australiana. A atuação de Benning, apesar de curta, é impecável e Alessandro perfeito em seu papel de pai “deslocado” da realidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 14 de abril de 2013

JUAN E A BAILARINA DE RAPHEL AGUINAGA



BRASIL-ARGENTINA/2011, 89 MIN.

ELENCO: MARILU MARINI

ARTURO GOETZ

LUIS MARGANO

LIDIA CATALANO

Muito difícil de classificar, esta produção entre Brasil e Argentina tem tudo que os brasileiros apreciam no cinema portenho. Dirigido pelo brasileiro Rafhael Alguinaga ele traz uma história pungente e dolorida, que apesar disso, torna-se engraçada pela reação dos personagens. “Este filme é uma fábula. E foi muito difícil manter esse tom de dez centímetros acima do chão que as fábulas têm.” Essa foi a declaração do diretor para o Caderno 2 do Estado de São Paulo. A locação e o elenco são argentinos. Trata-se de um asilo para idosos, mantido pela igreja católica e por uma enfermeira que cuida com desvelo de seus pacientes. No início vemos um caixão saindo do casarão e uma senhora elegante entrando para ocupar a vaga deixada. Esse fato mexe com os internos – a ala masculina adora e a ala feminina fica indignada com tal refinamento e competição. Juan é um interno que jamais sai de seu quarto, era viúvo e não conseguira salvar a mulher da morte. Em um encontro casual, a nova interna dança com ele e ela se torna a Bailarina. Esses são personagens esquecidos para o mundo, ninguém ali conta com a fraternidade da família. Seus únicos contatos com o mundo exterior são a televisão e posteriormente um rádio. Através do noticiário ficam sabendo que Jesus Cristo havia sido clonado pela igreja e sua mulher estava contaminada com o vírus HIV.  Outro fato mais relevante acontece: a enfermeira que cuidava deles sai de férias e deixa o filho, apelidado de “bruxa”, em seu lugar. Ele é drogado e cruel, confiscando imediatamente a televisão e os remédios mais fortes dos pobres coitados, em troca de pílulas LSD. De algum modo conseguem reverter a situação e o filme desagua em uma comédia. Impossível não se identificar com os vários “tipos”, não se comover e se alegrar com suas formidáveis soluções e sacadas. Belo projeto, o primeiro longa desse diretor com trajetória pelo mercado financeiro, que acabou virando poeta. A moral é que nem toda adversidade é má. Filme suave que não deve deixar de ser visto.

 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

DENTRO DE CASA DE FRANÇOIS OZON



DANS LA MAISON, FRANÇA, 2012, 105 MIN. SUSPENSE.

ELENCO:

FABRICE LUCHINI – GERMAIN (PROFESSOR)

EMMANUELLE SEIGNER 

DENIS MÉNOCHET

ERNEST UMHAUER – CLAUDE (ALUNO)

KRISTIN SCOTT THOMAS – MULHER DO PROFESSOR

Como se forma um escritor? Talento, narrativa interessante, um grande vocabulário, um mestre que o conduza pelos caminhos corretos? Talvez tudo isso em conjunto. Ozon, esse fecundo diretor de Oito Mulheres e Potiche – A Esposa Perfeita, lança mais um filme genial baseado nas primeiras frases. A história também se passa numa escola, como A Caça, contudo na França. É um colégio piloto onde os professores tentam dar o melhor de si para formar jovens cultos e preparados para a vida. Ocorre que lá, tal qual como cá, eles não querem saber de estudar ou ler. Gostam de diversão e nada mais. Germain, um professor de literatura, vê-se desesperado com o nível das narrações de seus alunos, que são lidos também por sua mulher, empregada em uma galeria de arte. Um dia recebe entre muitas bobagens uma narrativa incrível de Claude que ao invés de ponto final, coloca um instigante “continua”. Procurando o jovem rapaz compreende que está diante de um talento nato. Claude escrevera sobre a casa de classe media de um colega, que considerava “normal”. Seus pais o pegavam na escola e seguiam todos de mãos dadas para casa. Claude era solitário morando somente com o pai paralítico.  Culto para a idade e muito curioso, passa a observar aquela habitação tão acolhedora e seus habitantes. Muito observador dos comportamentos humanos consegue se insinuar dentro da família, tornando-se amigo de todos. Suas observações são transcritas para a ficção numa espécie de livro.  O professor passa a ser seu tutor, apesar do perigo que considera estar nessas revelações tão íntimas. Os textos vão ficando cada vez mais elaborados e melhores, chegando a excelência. Sua mulher o adverte do perigoso jogo, pois o rapaz já estava apaixonado pela mãe do colega, conseguindo mesmo roubar-lhe um beijo sensual. Germain passa a admirá-lo como um filho que não tivera e têm-se a impressão que gostaria de ter a ousadia e talento de Claude. O suspense é constante, pois sempre ele se expõe a situações de perigo em que pode ser descoberto pelas suas “vítimas”. O mais interessante da obra é a maneira como o jovem consegue captar as condutas individuais e as consequências delas; está sempre um passo a frente. O final é imprevisível e o desempenho do jovem rapaz, considerado uma revelação, perfeito e sempre com um ar de desafio misto com segurança. As atrizes são excelentes e Fabrice Luchini envolve-se totalmente em seu papel. Ótimo programa!

 

 

terça-feira, 2 de abril de 2013

A CAÇA DE THOMAS VINTERBERG



JAGTEN, DINAMARCA, 2012, 115 MIN. DRAMA

ELENCO:

MADS MIKKELSEN – LUCAS

THOMA BO LARSEN

ALEXANDRA RAPAPORT

Vencedor do prêmio de melhor ator no festival de Cannes, Mikkelsen interpreta o professor Lucas, em uma pequena cidade da Noruega. Este filme contundente mostra um trabalho de fôlego que vai direto ao ponto do incômodo do público até seu final. Lucas, divorciado e com um filho adolescente que mora com a mãe, está lutando para obter a guarda do jovem. Trabalhando na escolinha infantil da cidade, é amado pelas crianças e admirado por toda comunidade. A filha de seu melhor amigo, Klara, de apenas seis anos e uma imaginação fértil, é sua aluna. Ela é “apaixonada” por ele e, durante uma brincadeira com outras crianças, lhe dá um beijo na boca. Ele lhe explica que tal atitude só é permitida entre pais e filhos, segundo as tradições do país. Sentindo-se rejeitada é levada pela própria diretora a fazer um tipo de acusação. O corpo docente, após uma primeira reação a favor do professor, acusa-o de abuso sexual. A partir desse ponto crítico dá-se todo o martírio de nosso herói. Vinterberg aponta de maneira incisiva para o erro de julgamento dessas pessoas e faz com que o público não tenha nenhuma tranquilidade até o final da trama. Essa é uma região muito fria no inverno e as pessoas se visitam para socializar-se, comentando o incidente e acrescentando várias possibilidades, que formarão uma enorme bola de neve que atinge em cheio não só Lucas, mas também a plateia.  O final é aberto, entretanto ponderamos que qualquer pessoa está sujeita a erro de valores que, se tido como certo, pode levar a vida de um indivíduo à derrocada.  Filme ágil e convincente. As performances de Lucas e Klara são muito sensíveis, e o elenco como um todo é ótimo. Mads Mikkelsen pode ser visto como um médico impecável em O Amante da Rainha. Imperdível.