terça-feira, 31 de dezembro de 2013

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A GRANDE BELLEZZA DE PAOLO SORRENTINO

LA GRANDE BELLEZZA
ITÁLIA, FRANÇA/2013, 142 MIN. COMÉDIA DRAMÁTICA.
ELENCO:
TONY SERVILLO – JEPP GAMBARDELLA
CARLO VERDONE
SABRINA FERILLI
Trata-se de um longo filme de Paolo Sorrentino, 43 anos e em busca do Oscar, festejado pela crítica com cinco estrelas. Não é tudo isso, mas é muito bonito plasticamente, com várias referências alegóricas, colorido de Almodóvar e um misto de La Dolce Vita e Great Gatsby. Fala, ou melhor, “mostra” a vida decadente da envelhecida elite romana. Jepp Gambardella, protagonista, escritor de um só livro, é um homem desapontado com a natureza humana, mas se liga a ela o mais firme possível, tendo sempre um ar de complacência e superioridade com seus amigos. Amigos? Ele se apresenta bem solitário, porém faz entrevistas para uma revista. O filme começa com um maravilhoso coral e música, mostrando uma fonte e seus arredores, cercada de igrejas e prédios religiosos, além das ruínas do Coliseu romano. Lá é sua casa. É simplesmente espetacular e assim será todo o filme por 142 minutos. Contudo, o enredo é pequeno, mas ferino e as cenas são como colagens excepcionais de todos os monumentos romanos: palácios de príncipes, casas, igrejas belíssimas, ruas desertas. Todos os personagens desse mundo em que ele sonhara viver, desde os 26 anos, agora apresenta sua verdadeira fase, quando fica sabendo, logo depois de completar 65 anos, com uma orgia coletiva, que uma namoradinha de quando tinha 18 anos e a primeira mulher de sua vida, havia morrido, depois de anos casada com um amigo. Ele não sabia de seu amor, até que o marido da falecida conte que ela escrevera “só sobre ele” em seu diário. Mas aqui tudo é efêmero. As amizades, os amores, as conquistas amorosas que Jepp nem tenta mais fazer. O herói recorre à sua cama, quando cansado e em devaneio. Olhando para o teto, ele se transforma em mar e lá vão suas lembranças e seus desejos. Convicto de que é um mundano, sempre quisera ser o rei da noite em Roma e ter a força de parar qualquer festa quando assim o desejasse. E consegue. Todavia não é feliz. Almoça todos os dias com sua editora, uma anã muito sofisticada e inteligente, pois escreve para uma revista, e se consola com a empregada.  Algumas cenas são puro teatro dos bons, quando do funeral de um jovem em uma antiga igreja. Outra alegoria é quando chega à cidade uma fiel cópia de Madre Tereza de Calcutá, uma senhora de 104 anos tida como santa, enrugada e sem dentes,  tão cínica quanto ele. Aliás, o tempo todo temos essa crítica da Igreja querendo pertencer à alta sociedade e se imiscuindo com ela, para o prazer dos dois lados. É um filme melhor para se discutir depois de vê-lo do que para assisti-lo. Às vezes a narrativa demora a passar. Fellini era melhor.


ÁLBUM DE FAMÍLIA DE JOHN WELLS

AUGUST: OSAGE COUNTY, EUA, 2013, 121 MIN. DRAMA
ELENCO:
MERYL STREEP – VIOLET WESTON
JULIA ROBERTS – BARBARA
MARGO MARTINGALE – MATTIE
CHRIS COOPER – CHARLES
BENEDICT CUMBERBATCH – LITTLE CHARLES
JULIETTE LEWIS – KAREN
JULIANNE NICHOLSON – IVY
SAM SHEPARD - BEVERLY WESTON
Esse filme, baseado na peça de Tracy Letts vencedora do Pulitzer, dirigido magnificamente por John Wells e roteirizada pelo próprio autor Tracy, já foi indicado a vários prêmios, merecidamente. O trabalho pode ser considerado um teatro filmado. Meryl Streep, Violet, é um verdadeiro vulcão que despeja suas larvas e calor contra sua família, na pequena Osage County.  Meryl, magnífica, é mulher de um poeta e professor universitário, tendo o casal um pacto: ele continuaria bebendo e ela se drogando com pílulas. Isso durou 50 anos, até que Violet surge com câncer na boca, pois não poderia ser em outro lugar, e está fazendo sessões de quimioterapia. Como desculpa vai se drogando cada vez mais devido às fortes dores na boca. O filme começa com Beverly lendo “uma frase de Elliot” para sua nova empregada índia. “A vida é muito longa.” Para ele também, que não aguentando mais os pesadelos verborrágicos de sua mulher, decide sumir em seu barco e depois por fim a vida. Com isso, todas as três infelizes filhas encontram-se em casa, assim como genros, sobrinho e neta. Violet tinha um DNA fortíssimo de maldades e crueldades, herdadas de sua maquiavélica mãe e sua irmã sofre do mesmo mal. Ambas não poupam a família de injúrias e verdades agora vomitadas.  Depois do funeral, um jantar de condolências é servido para todos os familiares. As acusações que já haviam extrapolado o limite da educação, agora são ainda piores e tudo derrete, tanto o clima árido, lá fora, quanto o recinto pesado da casa, infernalmente quente com tantas discussões e ataques. As filhas são infelizes como os pais, passando para a neta de 14 anos e já uma ninfeta, pois isso fora transferido de geração a geração, meticulosamente. Entretanto quando Violet resolve acabar com todos os presentes a mesa, Barbara (incrível Julia Roberts) toma conta da situação e enfrenta a mãe e tia. Verdades são ditas, lançadas, mais graves do que as mentiras escondidas como incesto, infidelidade, compulsão, brutalidade. Essas pessoas representam uma família disfuncional “global”. A grande qualidade do filme está nos diálogos ásperos e verdadeiros, por isso o formato de teatro. A intensidade e “calor” do filme justificam qualquer avaliação promissora. Imperdível pelo elenco fabuloso, pela Violet magra e sem cabelo, e por uma Barbara tão forte quanto a protagonista. Imperdível pelo conteúdo psicológico e talvez o melhor filme de 2013, pois todos os membros da clã Weston têm seus motivos para agirem com desesperança.



quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

UM ESTRANHO NO LAGO DE ALAIN GUIRAUDIE



L'INCONNU DU LAC , FRANÇA, 2013, DRAMA
ELENCO:
PIERRE DELADONCHAMPS - FRANCK
CHRISTOPE PAOU - MICHEL

Este pesado filme sobre homossexualismo entre homens foi  dirigido pelo francês Alain Giraudie, com boa fotografia e cenas lentas. A paisagem desse Lago, na França, é muito bonita e calma, mas seus frequentadores nem tanto. Um local de nudismo, somente para homens.  Um senhor solitário ficava em um canto, não era gay, mas gostava de vê-los. O jovem Franck, está sem emprego e começa a frequentar esse lado do lago a fim de encontrar um companheiro. Missão difícil, pois quase todos estão acompanhados. Sozinho dirigi-se ao senhor que apenas observava e tornam-se amigos e,
às vezes, confidentes. Há um assassinato no cair da tarde e Franck havia testemunhado tudo, escondido entre os arbustos. Curioso, no dia seguinte volta para ver o assassino e, para seu espanto, é como nada tivesse ocorrido. Não tem remorsos ou problemas. Mesmo assim esse rapaz se interessa e se apaixona por Michel e passa a correr perigo. A polícia investiga, mas vai muito aos poucos, desde que ninguém fala nada. Franck e Michel são abordados pelo investigador mais de uma vez. Com o decorrer do filme surgem cenas de sexo explícito, que não precisariam ser tão repetidas, quase uma apelação, mas na verdade, podemos julgar a homossexualidade masculina como muito mais ativa, tensa e promíscua do que outras formas de sexo. As imagens dos caminhos dos frequentadores são bem repetidas e o diretor mostra cada pedaço desse bosque.  Isso é proposital, assim como vários fins de tarde escuros, para que o comportamento do serial killer seja mais real e o filme tenha uma pegada policialesca. Recomendado só para quem gosta de ver e saber de tudo.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

AZUL É A COR MAIS QUENTE DE ABDELLATIF KECHICHE

LA VIE DE ADÈLE, FRANÇA/2013, 179 MIN. DRAMA.
ELENCO:
LÉA SEYDOUX – EMMA
ADÈLE EXARCHOPOULOS – ADÈLE
Baseado livremente na graphic novel “Le Bleu est une Couleur Chaude” , de Marie Maroh, este filme admirável fecha com chave de ouro o ano. Trata-se da vida de Adèle, uma adolescente de 17 anos, que se encontra angustiada.  Ela faz o curso de Literatura Francesa, estudando os velhos romances com prazer e não tem intenção de continuar, quer ser professora primária, pois adora crianças e gostaria de ter filhos. Sendo a mais bela da classe e uma das melhores alunas é pressionada por seus colegas e professores. Acaba namorando o aluno mais cobiçado da escola, mais por influência do que por qualquer interesse neste rapaz. Contundo o relacionamento, por parte dela não é bem recebido e ela resolve terminar.  Anda aérea, pois sente um vazio dentro de si, comum na adolescência. Esse comportamento é intuído em casa e na escola. No entanto Adèle segue em frente e um belo dia, ao atravessar uma avenida, percebe um casal de namoradas, sendo que uma delas, um pouco mais velha, tem cabelos curtos azuis, muito particulares. Ao se cruzarem, ambas se entreolham rapidamente, mas olham para trás. Aí começa o primeiro round do filme, pois ela não consegue tirar a jovem da cabeça e passa a ser uma verdadeira caçadora em busca de sua presa. Indo a barzinhos gays com seu melhor amigo, acaba encontrando aqueles “azuis” tão desejados. Outro round, Emma é uma mulher bonita, culta, inspirada na filosofia de Sartre e o existencialismo, acha que sua liberdade e escolhas  são de sua inteira responsabilidade, como ensinara o velho mestre. Emma também é uma artista plástica, pintora das Belas Artes. Tudo isso encanta a inocente Adèle que se apaixona perdidamente por ela. O caso vai adiante e ela passa a ser a fácil presa. Sua vida ganha brilho, ela completa dezoito anos, conclui o Liceu, passa a dar aulas para “seus pequenos” e está profundamente feliz com sua descoberta; amava Emma, e não queria mais nada da vida. Achava-se completa cuidando de seu amor e trabalhando. Emma, por vezes, insiste para que Adèle continue seus estudos ou passe a escrever, pois seu dom para isso era paupável. Todavia ela não queria expor seus pensamentos, eram uma coisa interna e só a ela interessava. Outro round, Adèle passa da adolescência para a vida adulta, fortalecida unicamente em sua paixão. Aí vem a intranquilidade do espectador mais maduro, que sabe muito bem que as coisas do primeiro amor têm seus conflitos, questionamentos e a rotina. E isso não é diferente para a talentosa Emma. Tentando ser aceita no meio artístico tão competitivo como o francês, dá tudo de si para ser reconhecida. Adèle aguarda com deslumbramento e paciência, até que um dia as coisas mudarão de figura, deixando cicatrizes profundas, a dor da decepção no último round do filme. Esse tempo de 179 minutos é absorvido com avidez pelo público, com sua bela fotografia, magníficas interpretações de sexo das jovens, e com um trabalho equilibrado, que dá tempo para absorver todos os detalhes e diálogos bastante interessantes. Uma belíssima história de amor, para qualquer gênero, com um timing perfeito. Excelente programa. O filme foi, a princípio, criticado pelas cenas de sexo, mas não é isso que está em jogo e sim o afeto. Ganhador da Palma de Ouro deste ano no festival de Cannes, Kechiche prova ser um diretor que sabe o que quer e o que faz é muito bom, sendo recebido por unanimidade por Steven Spielberg e seu júri. Foi diretor também dos ótimos O Santo Grão e A Vênus Negra.