quinta-feira, 26 de março de 2015

DÍVIDA DE HONRA DE TOMMY LEE JONES







THE HOMESMAN, EUA,FRANÇA, 2014, 122 MIN, DRAMA
ELENCO:
HILARY SWANK – MARY BEE CUDDY
TOMMY LEE JONES – GEORGE BRIGGS
MARYL STREEP – ESPOSA DO PASTOR
Este ótimo e premiado filme, baseado no livro homônimo de Glenden Swarthout, é uma crítica devastadora de gênero e um western detalhado sobre a conquista do meio-oeste americano, com todas suas dificuldades geográficas, climáticas, além da força psicológica e física que esses desbravadores tiveram de encontrar dentro de si mesmos.  O título se refere à tarefa de levar para casa os imigrantes que não conseguiam superar essas enormes dificuldades. Em 1854, na comunidade fazendeira chamada Loup City, Nebraska, mora a solitária e forte professora, Mary Bee Cuddy de New York. Ela é uma personagem de destaque no local, pela sua obstinação, cultura, força e piedade com os desvalidos. Além disso, possui a única casa de madeira bem servida, algum dinheiro e gado. Apesar de sua aparência lutadora sente-se muito solitária por ser solteira aos 31 anos, chegando a propor casamento para dois homens em diferentes ocasiões. Fora rejeitada em ambas por ser mandona e sem vaidade, apesar de estar sempre impecável em seus vestidos discretos. Depois de três invernos rigorosos, três jovens esposas enlouquecem e cabe a ela e não a um homem (homesman) levar as mulheres para uma igreja em Iowa, onde seriam tratadas. O fator desencadeador da doença mental foram maridos brutais, a perda dos filhos por difteria e a solidão. Preparando-se para a partida, Mary casualmente encontra George Briggs, um velho arruaceiro que seria enforcado e o salva, desde que ele faça exatamente o que ela disser. É um tipo bruto, pragmático, ex-soldado americano, sem compaixão por ninguém e que apenas pensa em sua sobrevivência diante das circunstâncias. Entretanto, sem a junção dessas duas personagens tão diferentes, jamais poderiam levar a cabo a incumbência. Também o fator dinheiro, quatrocentos dólares, foi decisivo para George terminar sua promessa. Seria pago em Iowa. A caminhada é horrível, com as três jovens instáveis, a neve que congelava a alma e os índios. A solidão mais do que nunca se abate sobre Mary e, em um momento de grande esforço e fraqueza, pede seu companheiro em casamento, mas ele quer ser livre para sempre. A partir desse momento coisas ainda piores ocorrerão. George a aceita sexualmente e com muita relutância, diante das três esposas. O filme torna-se desolador e caótico. Contudo as três moças, finalmente, são entregues à esposa do pastor, Altha Carter (Meryl Streep), que tem medo de olhar dentro da carroça e ver o estado das pobres esposas. Com mais dinheiro e com sua missão cumprida ele é outro homem, pois se envolvera com a forte personalidade de Cuddy. Encomenda um presente em homenagem a ela, mas quando a balsa sai do cais para atravessar o rio, um dos ajudantes empurra com o pé sua lembrança, que cai na água. Ao longe, vemos esse homem determinado dançando na companhia de três músicos que seguiriam viagem com ele.  Um filme muito interessante por se aprofundar no lado psicológico dessas criaturas que conquistaram o lado oposto do continente. Em outros países, também, essa onda de pessoas que vagam de um lado para o outro à procura de uma nova colonização e bem estar aconteceu, como no Brasil com os bandeirantes ou mesmo na Rússia, como descrito no magnífico Guerra e Paz de Leo Tolstoy, que está em (http://livrocomocultura.blogspot.com). Muito recomendado, com direção sensível,  bem conduzida e ótimas interpretações.

terça-feira, 10 de março de 2015

KINGSMAN - SERVIÇO SECRETO DE MATTHEW VAUGHN


KINGSMAN, THE SECRET SERVICE, REINO UNIDO, 2014, 128 MIN., AÇÃO
ELENCO:
COLIN FIRTH - HARRY HART
TARON EGERTON - EGGSY
SAMUEL L. JACKSON - VALENTINE

Esse filme, dirigido com habilidade por Matthew Vaughn, baseia-se em uma revista de quadrinhos com o mesmo nome. Kingsman trata-se de um serviço secreto independente, que recruta jovens das melhores universidades a fim de serem treinados intensivamente para se tornarem agentes secretos.  O quartel general, encabeçado por Harry Hart, fica no subsolo de uma alfaiataria refinada. O jovem promissor Eggsy, um rapaz de rua, tem todas as características para ser bem sucedido e é escolhido por Hart. Esnobado pelos jovens mais cultos, mostra-se bem mais competente, juntamente com uma garota. A missão é acabar com o vilão, Valentine, um gênio em tecnologia, que pretende acabar com a raça humana e deixar poucos de seus amigos. O genocídio em massa seria realizado através de chipes que ele distribui gratuitamente por todo o mundo e a partir desse momento ninguém mais precisaria pagar para ter seu celular e afins funcionando. É uma corrida geral. Assim que precionasse a mão em uma tela as pessoas se matariam umas às outras.O filme é divertido e atrapalhado como os do agente 86 e 007, mas com mais ação e muita tecnologia. Imaginem que a arma escolhida pelo rapaz para derrotar o vilão é um guarda chuva que tem todos os componentes de embate. Para quem gosta do gênero é bem agradável e diverte a plateia.

segunda-feira, 9 de março de 2015

PARA SEMPRE ALICE DE RICHARD GLATZER E WASH WESTMORELAND




STILL ALICE, EUA,FRANÇA, 2014, 101 MIN., DRAMA
ELENCO:
JULIANNE MOORE – ALICE HOWLAND
ALEC BALDWIN – JOHN HOWLAND
KRISTEN STEWART – LYDIA HOWLAND
STEPHEN KUNKEN – DR. BENJAMIN
Esta é uma das mais memoráveis interpretações da carreira de Julianne Moore, valendo-lhe o premio Oscar de melhor atriz em 2015. Baseado na novela de Lisa Genova, o filme é dirigido pelos diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland, com roteiro do primeiro. No início do filme Alice, a conhecidíssima e talentosa professora de linguística da Universidade de Columbia, comemora em um elegante restaurante seus cinquenta anos de idade, com aparência de quarenta. Encontram-se lá os filhos adultos e o marido, que brinda à mulher mais inteligente e linda que já conhecera. Ela está em seu apogeu profissional e pessoal. Mas durante uma aula ocorre um esquecimento de uma palavra importante que ela substitui em segundos, o que a deixa preocupada. Depois, ao correr pelo campus da universidade é acometida por um estranhamento, pois não sabe onde está. Essas passagens são muito bem imaginadas pelos diretores, pois as imagens ficam borradas. Um terceiro incidente faz com que vá a busca de um neurologista, Dr. Benjamin, constatando ser um tipo raríssimo de Alzheimer que ocorre precocemente e é familiar. Portanto seus filhos também teriam a possibilidade de herdá-lo. Ela luta ferozmente para continuar dando suas aulas e usa de todos os subterfúgios para que tenha uma linha apropriada de pensamento. Contudo, chega o momento da escola perceber e pedir para que ela se afaste do cargo.   Seu marido não tem estofo para ajudá-la e mostra-se um desastre. Somente a filha mais jovem, que mora em Los Angeles, pois quer tornar-se atriz, tem a sensibilidade de compreendê-la. O casal vai para a casa da praia, que ela tanto ama, para tentar por alguma ordem em seu futuro. Mas a degeneração no caso de pessoas muito intelectualizadas é mais rápida e apesar dos esforços feitos por essa mulher, que não desistirá de si mesma, vai chegando a um ponto crítico. Mesmo nestas condições consegue dar uma palestra sobre sua doença, usando um marca texto para grifar as sentenças já lidas. Com esforço chega ao final e é aplaudida de pé, com a presença de seu médico. O filme nunca resvala na pieguice e a temática da luta sempre será a constante. No terço final, o marido parte para trabalhar em outro lugar e a incompreendida filha Lydia (atuação espetacular de Kristen Stewart) tornar-se-á seu suporte e sua grande companheira. Absolutamente tocante e talvez o filme mais sensível, junto como Dois Dias e Uma Noite, de todos que concorreram para o Oscar deste ano, pois fala sobre o amor. A escritora do livro, uma acadêmica famosa, é conhecida por seus romances tocantes ao comportamento do cérebro, sendo esse seu primeiro livro e grande sucesso.


quinta-feira, 5 de março de 2015

TIMBUKTU DE ABDERRAHMANE SISSAKO





TIMBUKTU, FRANÇA, MAURITANIA, 2014, 97 MIN., DRAMA
Timbuktu é um filme chocante, inspirado em fatos reais e com ares de documentário. É um grito de alerta contra a atual situação dos povos árabes, negros ou não, que sofrem com os inclementes grupos jihadistas. Ele começa em uma pequena aldeia de mulçumanos no deserto do Saara, com suas casas pitorescas feitas de um material que lembra argila e tem a cor das areias que reinam por lá.  Muitas famílias de tuaregues vivem, ainda hoje, em tendas armadas no deserto e sobrevivem com algum gado ou pesca, são povos nômades, entretanto, felizes apesar do local inóspito. Vemos nas primeiras cenas uma caminhonete, com vários homens armados até os dentes, anunciando que daquele momento em diante estavam sob o poder dos jihadistas e que novas normas de vida seriam estipuladas. A música, a dança, o jogo de futebol e outras pequenas alegrias, em um local tão longínquo, estavam terminantemente proibidos, sendo passível de morte por apedrejamento ou açoite quem não as obedecesse. As mulheres deveriam andar de véu e com meias e luvas o tempo todo. E nós sabemos o quanto esse povo africano tem raízes profundas na música e em ritos tribais, sua dignidade é muito alta e não podem ser facilmente dobrados. Desenrola-se uma história entre duas famílias de tuaregues, um pastor e outro pescador, que se desentendem e uma vaca é morta com uma lança. O pastor tem uma pequena família, apenas a mulher e uma filha pequena, que o adora. Ele sai ao encalço do vizinho, mas tudo termina de forma muito trágica. A tenda desse homem é sempre rondada por jihadistas, que estão de olho em sua bela mulher. Enquanto isso, alguns jovens não conseguem se desligar de seus hábitos seculares e continuam a apreciar a música e tocar seus instrumentos. Uma xamã também quebra todas as réguas, contudo por medo é respeitada. Esses fatos provocam a ira dos terroristas e várias mortes horríveis são presenciadas. Uma cena encantadora, por outro lado, é quando um grupo de meninos se aquece e joga futebol com uma bola imaginária! Essa felicidade mais intrínseca eles não conseguiriam arrancar. O filme é sensível e ao mesmo tempo cruel do começo ao fim e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na premiação de 2015. Muito interessante e vale a pena ser visto, pois em pleno século XXI ainda temos, em vários lugares, atitudes bárbaras. Ganhou vários prêmios em outros festivais.

terça-feira, 3 de março de 2015

SR. KAPLAN DE ALVARO BRECHNER




MR. KAPLLAN, URUGUAI, 2014, 98 MIN., COMÉDIA
ELENCO:
HÉCTOR NOGUERA – SR. KAPLAN
NÉSTOR GUZZINI – CONTRERAS
Os filmes uruguaios estão em alta e este, dirigido por Alvaro Brechner e baseado no livro O Salmo de Kaplan de Marco Swartz, é ótimo e foi indicado como melhor filme estrangeiro ao Oscar de 2015. O roteiro é divertido e sensível ao mesmo tempo. Trata-se de uma família judia vivendo em uma praia do Uruguai, como tantas outras. O patriarca havia sido enviado, ainda garoto, da Polônia ao país, a fim de fugir dos campos de concentração. Aos setenta e seis anos passa a ser considerado um incômodo pela família, que, após ele ter fracassado em um exame de vista para renovar sua carteira de motorista, resolve arranjar um chofer para dirigir seu carro e tratá-lo como um ancião sem mais utilidade. Ocorre que o Sr. Kaplan ainda tem muito gás e deseja usá-lo para resgatar sua dignidade.  A única ajuda familiar é da neta de dezoito anos que herdou seu carro. Sem querer, ela comenta com o avô que um “nazi” vivia em um canto da praia, onde possuía também um pequeno restaurante. Sugestionado pelo famoso caso do nazista Adolf Eichmanm, resolve com a ajuda de Contreras, um ex-policial desmazelado e seu novo motorista, formular um plano para prender o nazista a fim de levá-lo a julgamento em Israel! Essa dupla, muito improvável, fará misérias para caçar esse velho alemão, adepto da natação e de exercícios físicos, com um porte, realmente, de ex-oficial. Tudo é planejado nos mínimos detalhes, contudo sempre ocorrerá alguma coisa que porá seu plano em risco. As situações são muito engraçadas e o humor é fino e de primeira qualidade. Duas cenas muito divertidas - a insolação de Kaplan e quando o nazista é obrigado a pular na água para salvar a vida de seus caçadores, que não sabiam nadar. O filme fala da fuga maciça de judeus da Europa, sobre a velhice e a delicada crise existencial nesse período de nossas vidas e família, com ótimas interpretações. As reações dos filhos e da mulher são impagáveis. Parabéns ao jovem diretor roteirista e seus protagonistas, sendo o Sr. Kaplan um artista argentino.