quinta-feira, 27 de novembro de 2014

BOA SORTE DE CAROLINA JABOR




BRASIL, 2014, 86 MIN., DRAMA
ELENCO:
DEBORAH SECCO – JUDITE
JOÃO PEDRO ZAPA – JOÃO
FERNANDA MONTENEGRO – AVÓ DE JUDITE
Em seu primeiro longa metragem de ficção, Caroline Jabor acerta na mão. O drama é muito bem dirigido, com ótima fotografia e plasticidade. Inspirado no belíssimo conto Frontal com Fanta foi adaptado para o cinema com medida certa para um drama. O jovem João vem de um lar disfuncional, sendo sua mãe displicente e chegada a tomar dúzias de comprimidos de Frontal, seu pai nem sabe que ele existe. João sente-se abandonado e invisível a essa família desagregada. É internado pelos pais em uma clínica psiquiátrica meia-boca, por também ter se viciado em comprimidos ingeridos com Fanta Laranja. Eles não se preocupam com sua cura e o que querem é sossego em casa. Lá conhece a bela Judite, moça experiente e muito inteligente que além das drogas, é HIV positivo e sofre de hepatite C. Com esses problemas não pode tomar o coquetel para cura da AIDS, pois seu organismo não conseguiria reagir e ela está condenada à morte, a qualquer momento. Entretanto essa mulher não desiste de ser feliz enquanto viver e se aproxima de João, que dará novo sentido à sua vida. Ele tem 17 anos, é virgem e se apaixona por ela. Os dois não recebiam amor de ninguém e a convivência faz com que ela seja seu primeiro amor e se arrebatem verdadeiramente. Na clínica é fácil conseguir mais comprimidos e até sair para um passeio como ocorre durante a trama. Judite conhece Yoga, contudo não controla seu corpo, tendo um lindíssimo diário onde desenha suas experiências diárias.  Acredita que sua mente é uma máquina que não para de funcionar, mas o corpo não aguenta. João não consegue mais ficar sem seu afeto e experiência, tornando-se muito envolvido por ela. Ele quer ter um filho com Judite, mas isso significaria sua morte. Para que o garoto se afaste, comete um ato terrível aos olhos dele e pouco tempo depois acaba morrendo. Com um pedido dela de Boa Sorte, João consegue superar seus traumas. Anos depois já curado e formado, encontra casualmente sua avó, Fernanda Montenegro, que apesar de ter uma participação pequena é divina como uma mulher idosa e ainda viciada. Os dois terão belas lembranças de Judite. Incrível que, com seus mais de 80 anos, Fernanda ainda tenha a postura e desenvoltura de uma jovem. Deborah Secco expõe todo seu talento e beleza nesse filme. João mostra-se um ótimo ator. Cassia Kiss, como psiquiatra do instituto, também é muito convincente. Imperdível.

domingo, 23 de novembro de 2014

UMA PROMESSA DE PATRICE LECONTE





A PROMISE, FRANÇA/2013, 98 MIN., DRAMA
ELENCO:
REBECCA HALL – CHARLOTTE HOFFMEISTER
ALAN RICKMAN – KARL HOFFMEISTER
RICHARD MADDEN – FRIEDRICH ZEITZ
Falado em inglês, esse filme foi baseado em um interessante “romance burguês”, quando de seu auge, na Alemanha, França e Inglaterra do início do século XX. Era quando a burguesia ditava as cartas e não mais nobreza, com seu empenho no trabalho, seriedade, honestidade e vontade de vencer. O autor do livro é o famoso escritor austríaco Stefan Zweig. Com uma impecável ambientação de época vemos um triângulo amoroso entre Charlotte, Karl Hoffmeister e o jovem Friedrich Zeitz. O filme começa com a admissão de Friedrich, um genial engenheiro que havia conquistado o primeiro lugar em sua universidade. O magnata, Karl Hoffmeister, havia escolhido seu nome pela fama de sua grande inteligência e erudição. Formado em metalurgia vai trabalhar nessa imensa fábrica, na Alemanha em pleno desenvolvimento industrial, em 1912. Logo surge um vínculo muito grande entre esses dois homens de idades tão diferentes, contudo cheios de entusiasmo pela profissão. A siderúrgica havia sido fundada pelo seu avô e ia de vento em poupa, com exceção de muitas perdas na industrialização. Apesar de órfão e formado pelo Estado, o engenheiro tem várias qualidades indiscutíveis, incluindo a noção de modernização da época. Karl é casado com a jovem Charlotte, tem um filho pequeno e está gravemente enfermo. Tendo que ser confinado à sua casa, ele conta com o auxílio integral do rapaz, que se torna indispensável para ele. Zeitz é convencido pela mulher de seu patrão a ir morar na mansão e ajudar o garoto em seus deveres de casa. Essa aproximação é mais ou menos calculada por Karl, mas quando as coisas parecem estar do lado do casal, que está se enamorando e do pequeno filho, ele muda de ideia. Enciumado, pede para que ele vá para o México, a fim de dirigir uma mina que havia comprado, por insistência de Friedrich. Ele voltaria em dois anos. A separação será uma enorme perda para os amantes. Promete que quando voltasse, partiriam juntos com o menino. Ocorre que a Primeira Guerra Mundial advém em 1914 e eles que tinham um único elo, a correspondência, ficam separados por anos sem saber como seria o futuro deles.  Karl morre, a guerra acaba, mas Lotte ainda pranteia seu luto pela perda de contato com Friedrich. Um dia ele voltará rico e poderoso e suas sinas serão cumpridas. Filme romântico, porém bastante esclarecedor da força burguesa e com ótimos desempenhos dos artistas. A ambientação e figurino são impecáveis.

sábado, 22 de novembro de 2014

SAINT LAURENT DE BERTRAND BONELLO




FRANÇA, 2014, 150 MIN., DOCUDRAMA
ELENCO:
GASPAR ULLIEL – SAINT LAURENT
JEREMIE RENIER – BERGÉ
LOUIS GARREL – JACQUES BASHER
LÉA SEYDOUX
Este longa biográfico irá representar a França no próximo Oscar, como melhor filme estrangeiro. É um ótimo trabalho que foca o período de 1967/76, quando o talentosíssimo Yves lança sua primeira coleção, tendo como parceiro Bergé. Ele é alçado ao topo do mundo e da moda francesa, tornando-se o número um do prêt-a-porter de luxo.  Sua criatividade e dom fizeram uma grande revolução na maneira da mulher se vestir e se comportar, ficando mais feminina e confortável em seus maravilhosos terninhos. Como Chanel foi um marco para as pessoas bem vestidas e modernas. O filme não tem um diálogo linear, mas traz imagens e cenas, que unidas, nos dão uma belíssima ideia de sua vida e obra. Notívago e frágil tem uma vida paralela com outros homens, além de seu companheiro de 50 anos, Bergé, que nunca deixará que ele se autodestrua e caia no ostracismo, principalmente pelo império que formaram juntos. Viciado em drogas, álcool e sexo forma uma perigosa parceria com o manequim Jacques Basher, onde tudo é permitido e executado ao extremo. Veremos suas coleções deslumbrantes, a influência do pintor Mondrian em suas peças, suas duas musas inspiradoras, seus ateliers e a afinidade com o lúcido Bergé. Um filme para encher os olhos com tanta beleza e riqueza de interpretações de seus atores. Gaspar Ulliel, parisiense de 30 anos, emagreceu 11 quilos para interpretar esse impecável papel e ainda é ele que desenha os croquis durante as cenas, pois sabe desenhar e seu pai era estilista. Yves nasceu em 1936 e morreu em 2008.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

MIL VEZES BOA NOITE DE ERIK POPPE




TUSEN GANGER GOD NATT, NORUEGA, IRLANDA, SUÉCIA, 2013, 117 MIN., DRAMA
ELENCO:
JULIETTE BINOCHE – REBECCA
NICOLAJ COSTER-WALDAU – MARCUS
Este é um espetacular trabalho desse premiado diretor norueguês, de 54 anos, que antes de se dedicar ao cinema foi fotógrafo de guerra. O título foi inspirado em uma fala de Julieta do drama Romeu e Julieta, Shakespeare. Ele quer discutir a ética da bela foto com as desgraças que grassam pelo mundo, problema que teve de enfrentar em sua via particular. O filme começa com um ritual dilacerante de uma jovem que é pranteada por outras mulheres, encontrando-se em uma cova recém-aberta. Essa jovem será retirada viva de lá e transformada em mulher-bomba. Representava um funeral antecipado. Rebecca (Binoche) está em Cabul, a fim de fotografar os efeitos da guerra, sendo uma das cinco melhores fotógrafas do mundo, portanto isso é sua vida, sua expressão máxima.  Rebecca fotografa tudo e pede permissão para acompanhá-las até seu destino final. Porém as coisas fogem de controle e a jovem dispara a bomba antes da hora, morrendo e matando vários inocentes. Entre os feridos está a fotógrafa que fez questão de registrar tudo até quase morrer. Ela tem um marido biólogo marítimo e duas filhas, uma adolescente e outra menor, morando no litoral da Irlanda. O conflito familiar e a voz mais alta do talento são o fio condutor do drama. A família vive em constante estado de alerta, esperando a notícia de sua morte a qualquer momento. Como em muitos lares modernos, o pai é quem cuida das meninas, da educação e da casa. Desta vez, porém, o acidente foi muito grave e eles pedem para que ela se afaste de tudo. Concordando, a princípio sente-se bem, contudo, com o passar do tempo fica deslocada, mas consegue oferecer o amor de mãe e a segurança de que tanto precisavam. Binoche está magnífica nesse papel e como sempre expressiva e linda. Sua filha mais velha parece ter herdado os talentos artísticos da mãe e apesar de desejá-la por perto, insiste para que siga com ela numa viagem ao Quênia, onde uma revolução está em curso e tem, como trabalho escolar, de discorrer sobre assunto. Uma séria conversa precede a decisão de partirem. Em campo, um ataque feroz ocorre e todo o instinto jornalístico e fotográfico de Rebecca aflora e, apesar de deixar sua filha em segurança, volta a se envolver profissionalmente. Depois desse fato a filha pega uma câmera e faz uma longa gravação do rosto da mãe até que ela reaja. Esse tipo de desordem familiar e principalmente pessoal é que será muito bem discutido e formulado nesse primoroso longa metragem. Um filme angustiante que deve ser compartilhado e refletido para outras situações da vida moderna.