terça-feira, 26 de julho de 2011

LOLA DE BRILLANTE MENDOZA














LOLA, FILIPINAS/2009 DRAMA 110 MIN.

ELENCO:
ANITA LINDA – SEPA
RUSTICA CARPIO – PURING
TANYA GOMEZ

Nesta semana tivemos dois filmes que falam da pobreza e ambos ótimos, cada um a seu modo, pois se tratam de regiões completamente diferentes, todavia com realidades de sobrevivência, até certo ponto parecidas. Logicamente na miséria ou pobreza o que mais faz falta ao ser humano é o dinheiro para sobreviver e não tendo acesso aos bancos, refugiam-se em mãos de agiotas ou do escambo, ou ainda estratégias mais “difíceis”. O diretor filipino, Brillante Mendoza, nos conta uma história bastante original e intensa, que se passa com duas lolas, as chamadas avós das Filipinas. O primeiro enfoque é sobre Sepa, uma idosa de finos cabelos brancos, com o couro cabeludo quase à mostra, que junto com seu pequeno neto empreende uma tarefa desgastante. Eles sobem e descem escadas de Manila, cruzam ruas perigosas e Sepa sempre arfando, mas destemida. O espectador sente-se cansado por seu esforço sobre humano. Seu neto fora morto por causa de um celular e ela quer depositar uma vela no local do crime. Mas o vento e as tempestades da região são um absoluto impasse para que a vela se ascenda. Talvez seja a mais bela cena do filme. Depois disso voltam para casa com uma grande dificuldade, enterrá-lo. Os caixões são caríssimos e o enterro também, além da burocracia típica de países pobres. Em Manila as pessoas andam e transportam tudo em barcos, o que dificulta muito os afazeres do dia a dia. A filha também está preocupada com o desfecho do rapaz. A avó é a responsável pela casa e seus descendentes, apesar da idade. Não há dinheiro, mas há uma necessidade de funeral. O diretor passa a contar o outro lado da moeda, a do jovem assassino, que apesar do ato absurdo é adorado por sua avó, Puring, que se condói com seu ato extremo, mas por amá-lo muito quer que saia da prisão. Um julgamento convencional seria extremamente oneroso e demorado para essa “lolas” que cuidam das respectivas famílias. Puring é uma pobre vendedora de legumes em seu velho barco, ajudada por outro neto. A história toma uma direção em que as duas mulheres se encontram e por uma necessidade imperiosa e falta de recursos passam a pensar em um modo de se livrarem do julgamento. Puring, extremamente astuta por sua própria condição social, elabora planos para juntar certa quantia, a fim de ressarcir os danos da família vitimada. Os caminhos percorridos pelas avós são difíceis e dependem do entendimento das duas partes. Numa região tão diferente dos nossos costumes, um arranjo é encontrado que satisfaz as duas famílias. O final poderia dizer-se que é satisfatório e cada família segue o seu destino. Filme maravilhosamente interpretado por essas duas atrizes idosas, que não tiveram a menor dificuldade em escancarar suas rugas e olhos úmidos e desgastados pelo tempo. Programa que não deve ser perdido pelo fator inédito do tema. Este foi o primeiro filme de Brillante a ganhar o circuito comercial, são inéditas as oito produções anteriores.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

OUTUBRO DE DANIEL E DIEGO VEGA










OCTUBRE ESPANHA-VENEZUELA-PERU/2010 83MIN.
DRAMA

ELENCO:
BRUNO ODAR
GABRIELA VELASQUEZ
CARLOS GASOLS

Esse ótimo drama dos irmãos Vega recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes de 2010. Ele se desenrola em torno de pessoas marginalizadas na sociedade peruana, que vivem pobremente na capital, Lima, sem a proteção de um governo sério. Tudo se desenvolve com a proximidade do mês de Outubro, quando as grandes procissões de Nosso Senhor dos Milagres tomam conta da cidade, com milhares de pessoas acompanhando seu andor, fervorosamente contando com ajuda divina. São indivíduos, que andam literalmente colados uns aos outros, rezando em contrição. O protagonista da história está bem longe desse perfil: um homem da mais absoluta solidão voluntária, filho de agiota e ele mesmo sendo outro. Vivendo em uma casa modesta e severa, dorme só, trabalha com seus clientes em casa, só, sem expressar nenhum pesar e janta só. Uma jarra de água, uma garrafa térmica, um copo e um prato com pão recheado com um ovo cozido. E isso lhe basta. Sexualmente é mal resolvido, procurando sempre a mesma prostituta, a quem se recusa a olhar, e a abandona o mais rápido possível. Um dia chega a casa e encontra em seu quarto uma sacola de palha que se mexe. Aproximando-se com cautela, descobre dentro dela um bebê, que é sua filha com uma meretriz mais jovem. Desnorteado não exibe suas emoções e põe-se a campo, a procura da mãe para livrar-se da criança o mais breve possível. Isso não acontece, mas uma vizinha, curiosa com o choro, põe-se a seu dispor para cuidar da menina. Ela também solitária vê ai uma chance para ser um pouco mais feliz e simular uma família. Mulher mais madura e devota dá o seu melhor para conviver com Clemente, que apesar do nome não tem nada disso. A comida na casa melhora substancialmente e o bebê segue com muita saúde. Entretanto, mesmo quando estava sozinho não maltratava a filha, segurando-a quando emprestava seu dinheiro a juros escorchantes e assim, em um descuido, recebe uma nota falsa; passá-la adiante será a sua meta. Seu pai tem uma namorada idosa e inconsciente, em um hospital, e não podendo levá-la para casa, pois não tem uma, a visita todos os dias arquitetando um plano de seqüestro e partida de Lima. Suas economias estão nas mãos do filho nada confiável, capaz de prejudicá-lo a qualquer momento. A interpretação de Bruno Odar é impecável, como também a de Gabriela Velásquez e o desdobramento dessa história passada em ruas descuidadas, entre pessoas carentes, enganadas, prostíbulos e bares decadentes vai exigir mudanças interiores muito sutis e até inesperadas. É um belo filme sobre as necessidades e possibilidades humanas. Em entrevista ao Estado de São Paulo, Caderno 2, os irmãos citam um trecho do poema homônimo de Nei Nuclós – “Lento e bruto, eu mudo/Sei que vem outubro.” E baseado nisso, temos esse ótimo filme, que passou por vários festivais e estreou nos Estados Unidos, Japão e Europa.

sábado, 23 de julho de 2011

VEJO VOCÊ NO PRÓXIMO VERÃO DE PHILIP S. HOFFMAN















JACK GOES BOATING, EUA/2010,120 minutos

ELENCO:
PHILIP HOFFMAN – JACK
AMY RYAN – CONNIE
JOHN ORTIZ - CLYDE
DAPHNE RUBIN-VEGA – LUCY

Escolhido como melhor ator para o Oscar, no filme Capote, Seymour Hoffman, esse ótimo ator, faz sua estréia como diretor no filme Jack Goes Boating, baseado na peça homônima interpretada por ele, há anos em cartaz nos Estados Unidos. Seu desempenho como diretor estreante tem sido discutido com reservas, tanto internacionalmente como aqui no Brasil, mas creio que fez um belo trabalho. É um drama que desenha com muita delicadeza o relacionamento entre amigos verdadeiros, meio irmãos e sentimentos problemáticos. Jack é um homem de cerca de quarenta anos, honesto, muito sensível, tímido ao extremo e muito, mas muito lento intelectualmente. Um casal latino, que estão juntos há anos, é sua família. Isolado das mulheres, esse chofer de limusine está infeliz e é um grande fã do raggie, música que ouve todo o tempo para levantar o astral dos ambientes e das pessoas. Seus amigos resolvem marcar um encontro para ele com uma jovem também difícil, que havia perdido os pais recentemente e sido molestada por duas vezes. Arredia, convence-se em conhecer Jack. Por mais incrível que pareça eles acabam se acertando. Incrível porque Jack não é nada sensual, pelo contrário gordo e introvertido. Por causa dessa jovem, a quem ele quer proteger, aprende a nadar com Clyde, uma vez que queria levá-la no verão, em um passeio de barco. Começa a ter aulas de culinária com um amigo de Lucy, para cozinhar para Connie. A vida dos personagens centrais vai se modificando e melhorando para que possam ter um relacionamento possível. Amor? Suas aulas na piscina se tornam um fator imprescindível para que desenvolva a autoconfiança. Os dias não são mais tão solitários e Connie esforça-se para manter seu emprego e Jack procura melhorar profissionalmente. Tudo parece correr bem para o novo par, ao mesmo tempo em que Clyde e Lucy vão desenterrando esqueletos do passado que passa a ser uma ameaça à união. Depois de treinar por seis vezes o jantar prometido, chega o grande dia. Durante o aperitivo regado a raxixe, os quatro se soltam demasiadamente e tudo vai por água abaixo, começando por Jack e terminando com Clyde e Lucy. Astutamente, pois queriam que seu amor desse certo, Jack e Connie fogem do local e tudo que parecia impossível, vai, aos poucos, despontando para um final feliz. As últimas cenas, na barca no meio do Central Park, são lindas e comoventes. Mas para o par que proporcionou tudo isso talvez o destino seja mais cruel. É uma história de ótimos diálogos despretensiosos que mostra o quanto o desejo, o empenho e o comprometimento para conservar um relacionamento é importante para a nossa felicidade. Com ótimas atuações, torna-se um filme agradável de ser visto e ponderado. Bom programa!

terça-feira, 19 de julho de 2011

GAINSBOURG – O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES DE JOANN STAR













SERGE GAINSBOURG, FRANÇA/EUA/2010 130 MIN.

ELENCO:
ERIC ELMOSNINO
LUCY GORDON
LAETITIA CASTA

Cinebiografia do ícone da música francesa, ator e diretor Gainsbourg. A abertura do filme já é uma festa, pois fumante inveterado, até os peixes que a ilustram têm cigarros na boca. Além de uma biografia é também uma análise da geração jovem que passou a Segunda Guerra Mundial na França, invadida pelos nazistas. Essa fantasia, pois há muito de “cartoon” nesse filme, revela a adolescência desse menino insolente, fanfarrão e pessoas como ele, reagiram ante a ameaça da morte: tudo teria de ser aproveitado rapidamente, o imaterial, o sentimental, antes que fosse tarde demais. Eric Elmosnino, na pele de Serge, tenta sobreviver o melhor possível na Paris de então, sempre acompanhado pelo seu espetacular alter ego, uma espécie de marionete com orelhas de abano e grande nariz. Gostaria de ser pintor e poeta e mesmo tendo um grande talento para isso, deixa tudo para trás, para sobreviver como músico. Seus desenhos pornográficos eram disputados pelos meninos de seu colégio e admirados pelos adultos. Filho de judeus russos, cujo pai queria que se tornasse pianista, inspirava-se em bordéis e cabarés transformistas como Swinging Sixties. Convive com criaturas que têm sua visão de vida solta e erotizada, que não temem ser julgadas por seus atos, com amores escandalosos. Um impulsivo galanteador, apesar de seu físico, conquista com suas letras de músicas as mulheres mais belas da época como Bridget Bardot, Juliette Gréco e a jovem Jane Birkin de Blow-Up, com quem acaba se casando e tendo duas filhas. O filme começa nos anos quarenta, passando pelos anos sessenta e setenta do século passado, indo até sua morte em 1991. Produziu vários tipos de trabalhos para o jazz, rock e reggae. O filme foi baseado no conto de Joann Sfar. Eric Elmosnino ganhou o Cesar de melhor ator (2011) com essa obra. Ótimo programa, mas um pouco longo.
Serge Gensbourg nasceu em Paris, 1928, filho de judeus russos, emigrados na França em 1917. O pai foi pianista de vários clubes franceses. Como ator, compositor e diretor ganhou vários prêmios internacionais. Suas músicas são várias, dentre elas Je t’aime (a mais controversa), Ye Ye Girls, Bonnie & Clyde.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

MISSÃO DO GERENTE DE RECURSOS HUMANOS DE ERAN RIKLIS













LE VOYAGE DU DIRECTEUR DES RESSOURCES HUMAINES, ISRAEL,
ALEMANHA, FRANÇA, ROMÊNIA / 103 MIN.

ELENCO:
MARK IVANIR - GERENTE
REYMOND AMSALEM
GILA ALMGOR
GURI ALFI
NOAH SILVER – FILHO

Trata-se de uma sensível comédia dramática, dirigida pelo talentoso Eran Riklis, que retrata a situação política dos estrangeiros em Israel e a possível remissão dos seres humanos envolvidos nessa história. Ele nos leva a um quase roadmovie com Mark Ivanir, ótimo no papel de diretor de RH. Trabalhando na maior panificadora de Israel está em processo de divórcio e com uma filha adolescente, ressentida por isso. Muito ocupado, estressado e fazendo um trabalho que não gosta, vê-se atropelado pelo destino, quando um jornal publica que uma sua funcionária romena havia morrido acidentalmente em um atentado terrorista e ninguém havia reclamado seu corpo. A firma é vista como desumana e insensível. Para não manchar ainda mais a imagem da empresa, muito a contragosto, se incumbe de levar o corpo até sua cidadezinha. Irritadíssimo recusa-se a reconhecer o corpo, pois havia contratado uma engenheira para o lugar de faxineira. Isso é só o que sabia. Agora, lidera um comboio excêntrico formado pelo filho rebelde da vítima, um jovem de 14 anos expulso de casa pelo pai, um “cônsul-tradutor” informal, um veterano de guerra e o jornalista que estava decidido a acabar com ele. Durante a viagem obriga-se a tomar várias decisões, confrontado com a burocracia de um país que acabara de pertencer a União Soviética, a gelada Romênia. Para sepultá-la será preciso a assinatura de um responsável. Seu marido não poderia, pois está divorciado, o garoto é menor de idade, agressivo e vive na rua, sobrando apenas a avó que mora nessa vila tão distante, cujo trajeto deverá ser feito de carro ou furgão, no meio do gelo. Essa odisséia com pessoas tão diferentes culturalmente e racialmente vai tomando corpo e transformando as perspectivas dos envolvidos. O “diretor”, que tem uma filha da mesma idade, passa a se interessar pela vítima e pelo filho. Os outros personagens que se deixam corromper pelo judeu também passam por mudanças. Um vínculo vai se formando entre eles. Longe de sua terra, o herói passa até a admirar a moça. Os percalços são muitos até chegar à casa da avó do garoto, em uma remotíssima vila da gelada Romênia. A mãe agradece, entretanto fica sem saber o que fazer, pois ela fora para Israel justamente para afastar-se daquele lugar solitário e ermo. O jovem rebelde toma outra atitude com o continuar da viagem até mesmo com a relação paterna. O final é nada convencional e mostra a redenção dos personagens bem definidos até então.

Eran Riklis nasceu em Jerusalém, 1954 e cresceu no Canadá, U.S., Brasil e Israel.
Diretor de vários filmes, entre eles os premiados Lemon Tree e The Syrian Bride. Esses
dois filmes também tem um fundo político. Eran diz que seus filmes são todos de pessoas confrontando a burocracia e retratam a posição dos trabalhadores estrangeiros.