segunda-feira, 18 de junho de 2012

VIOLETA FOI PARA O CÉU - ANDRÉS WOOD


VIOLETA SE FUE A LOS CIELOS, CHILE, ARGENTINA, BRASIL, 2011, 110 min.

ELENCO: FRANCISCA GAVILAN – VIOLETA

THOMAS DURAND

CHRISTIAN QUEVEDO

Este excelente drama biográfico foi vencedor do Festival Internacional de Sundance deste ano e é baseado no livro homônimo do filho da cantora Violeta Parra, Angel Parra. Nascida na  Cordilheira dos Andes, Chile, em 1917 viveu apenas cinquenta anos. Wood nos conta a turbulenta e inspiradora história de sua vida a começar pelos seus primeiros anos de vida em um paupérrimo vilarejo. O zoom de um olho sem vida começará seu trabalho e esta mesma cena o terminará. Esse filme magnífico, com um roteiro não linear, só acrescentará à divulgação de vida e obra de uma das maiores artistas latino-americana do século passado. Violeta era cantora, poetisa, pintora e tecelã. Filha de latino e índia ficou muito cedo órfã de pai e mãe, tendo de cuidar dos irmãos menores e de si própria. A intensidade de sua ligação com o campo e seu povo foi a maior inspiradora de sua obra. Livre e contundente faz o possível para resgatar a canção folclórica de seu país, nas raízes mais remotas. Comunista e desafiadora tomará os mais diversos caminhos a fim de sustentar sua família e engrandecer seus sonhos. Sem convencionalismos partiu para a Europa a fim de divulgar seu trabalho, viveu amores impossíveis e se expôs para se engrandecer internamente, tendo suas pinturas e bordados expostos no Louvre de Paris. Com seus vários filhos, morará em uma grande tenda, no planalto dos Andes, onde receberá seus admiradores. Wood se valerá das importantes canções como Volver a los 17, El Gavilan e Em los Jardines Humanos para roteirizar seu filme, provocando fortes emoções na plateia. Uma mulher tão forte e ardente, interpretada pela ótima Francisca Gavilán, não escapa do suicídio aos 50 anos, quando percebe que sua força interior estava deixando seu corpo cansado de tanta emoção. Obra que não pode deixar de ser compartilhada por todos os fãs de cinema e de música folclórica andina.



domingo, 10 de junho de 2012

O DEUS DA CARNIFICINA DE ROMAN POLANSKI


DEUS DA CARNIFICINA DE ROMAN POLANSKI

CARNAGE, FRANÇA,ESPANHA, ALEMANHA, POLONIA, 2011, 80 MIN.

ELENCO:

JUDY FOSTER – PENELOPE

KATE WINSLET – NANCY

JOHN REILLY – MICHAEL

CHRISTOPH WALTZ - ALAN  

Este é, sem dúvida, um dos filmes mais interessantes do ano e uma comédia, para muitos, de tirar o fôlego. Baseado na cultuada peça homônima de Yasmina Reza, que foi roteirista junto com Polanski, trata do politicamente correto, chatíssimo em seu auge, e da afloração de instintos preservadores do ser humano quando ameaçado. Polanski dá vida a esse filme que se passa dentro de um apartamento. Na cena inicial, temos uma exceção. Em um parque do Brooklin, garotos de 11 anos estão brincando e um deles porta um pedaço fino de galho de árvore. Há uma discussão e esse menino se defende com o galho, batendo no rosto de outro garoto, que se fere. Esse parque aparecerá na última cena com uma solução irretocável. A próxima tomada é no apartamento de Penélope, Judy Foster, incorporando maravilhosamente bem o papel da mãe zelosa e politicamente corretíssima. Seu filho é que ficara ferido e ela chama os pais do agressor para “conversarem” sobre o assunto. Trata-se de uma retratação, mas não de qualquer uma. Michael e Penélope pertencem à classe média, com um bom apartamento, coberto por livros de arte e uma cozinha bem equipada com todos os aparatos possíveis.  O marido é um vendedor de acessórios para o lar, bonachão e de bem com o mundo, orgulhoso de sua culta mulher. O outro casal, Kate Winslet e Christoph Waltz, como sempre magnífico, pertencem a uma camada um pouco mais elevada. São muito bem vestidos, ela com blusa de seda e uma elegante saia, ele com um terno bem cortado e uma caríssima capa de chuva. Alan é um esperto advogado de uma indústria farmacêutica, que está com um problema de efeitos colaterais em um de seus medicamentos. A princípio, enquanto Penélope digita um texto sobre o ocorrido, é por vezes repreendida por ele, pelas palavras um tanto pesadas para uma briga entre garotos. Os quatro tentam mostrar o melhor de si. Contudo, Penélope, não quer só isso, deseja que o menino venha em sua casa e se desculpe pessoalmente, para que mais tarde seja um cidadão de verdade. Essa linha de conduta da anfitriã vai num crescendo, depois de lhes oferecer uma torta e café. O advogado devora tudo que lhe é oferecido, nunca largando o celular que toca a cada minuto. Os homens parecem se entender melhor do que as mulheres, pois são menos rígidos. No passar dos oitenta minutos do filme, muito bem dirigido por Polanski, com uma câmera nervosa e ágil que enfoca sempre aquele que tem algo a declarar, a pele dos personagens vai se abrindo e vão surgindo os ditames do antigo Deus da Carnificina. Bebem muito e isso ajuda a se soltarem com tiradas fantásticas, as quais atingem os espectadores em cheio, como uma tapa. Impossível ficar indiferente às situações tão reais no cotidiano de cada um de nós, nossos segredos mais bem guardados, as desavenças entre os casais e entre sexos, enfim é o mais humano que aflora nesses diálogos rápidos e que não param de lançar sua acidez. Fantástico filme, que não pode ser perdido! As atuações são magistrais com esses quatro grandes atores. O figurino e cenário ajuda muito a reforçar as diferenças dos casais. Roman Polanski começou a escreveu esse filme contundente durante seu exílio, na Suíça, por um abuso sexual cometido em 1977. Outros filmes primorosos do diretor são os inesquecíveis O Bebê de Rosamary, A Morte e a Donzela, Repulsa ao Sexo entre outros, sempre polêmicos. 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

FLORES DO ORIENTE DE ZHANG YIMOU


FLORES DO ORIENTE DE ZHANG YIMOU


FLOWERS OF WAR, CHINA-HONG KONG, 2011, 146 MIN. DRAMA HISTÓRICO

ELENCO:

CHRISTIAN BALE – JOHN MILLER

NI NI – LÍDER DAS PROSTITUTAS

Muito já foi escrito e filmado sobre um dos piores episódios da tomada da China pelos japoneses, na cidade de Nanquim, em 1937. Foi uma guerra sangrenta e sem escrúpulos que deixou mais de 300.000 civis, crianças e mulheres mortas e estupradas. O talentoso diretor Zhang Yimou filma esse episódio, baseado em fatos reais e no livro de Yan Geling, 13 Flowers of Nanjing. Com uma ótima direção, começamos o filme com cenas de tropas japonesas perseguindo e matando chineses civis. Tudo é coberto por uma densa camada de cinzas, explosões, e um grupo de meninas com 12 ou 13 anos, lideradas por um garoto da mesma idade, está tentando salvar-se do bombardeio e da perseguição de um pelotão japonês. Alcançadas, algumas se refugiam onde podem. Três meninas ficam escondidas embaixo de entulhos quando são esfaqueadas pelas baionetas inimigas, sem piedade. O cenário é violento, pois as espadas estão cobertas de sangue, mas duas delas são acobertadas pela que deu sua vida por elas, sem um gemido. Prosseguem para o belíssimo convento anglicano onde estudam, que era considerado território neutro, mas ele está em chamas e praticamente destruído. Acolhidas no lugar, tentam salvar-se correndo pelas escadarias e salas. Os belíssimos vitrais e paramentos destruídos explodem continuamente. Um pequeno grupo de soldados chineses, que era o único ainda vivo, tenta blindá-los de longe, com tiros certeiros. Sozinho, o comandante quase dizima os soldados japoneses, que finalmente batem em retirada. Nesse ínterim, um astuto e oportunista agente funerário americano, interpretado por Christin Bale, que é também alcoólatra, tenta defender sua vida entrando na igreja. O rapazinho o toma pelo padre que viria substituir o diretor assassinado durante a tragédia. Relutante, resolve fazer o papel de padre professor, a fim de salvar a própria pela. As crianças precisavam de um adulto para orientá-las. Quando a tropa os encontra Bale consegue repeli-los por um tempo. Aquele comandante chinês do início, com grande astucia, também consegue dissipá-los temporariamente. Nas cenas seguintes oficiais japoneses graduados se desculpam e prometem proteger o lugar. Entretanto um grupo de cortesãs força a entrada na igreja e apesar da desordem criada, conseguem ficar e se refugiar em um lugar seguro, o porão. As meninas são visitadas pelo mais alto oficial, pois admirador de música clássica é surpreendido pela voz maravilhosa das crianças e as convida para que participem de uma festa junto com eles. John Miller, que havia tentado seduzir a líder das prostitutas, a sofisticadíssima Ni Ni, desespera-se e concebe um plano junto com ela para que todas permaneçam vivas. Essa reviravolta espetacular e emocionante mudará completamente o curso da história e deixará o espectador grudado na cadeira a cada movimento feito. São cenas muito bem dirigidas e produzidas, com cenários e interpretações muito comoventes.  O filme todo se passa na zona do inferno, com várias mudanças de atitudes e prioridades. Ele é narrado em off, por uma das garotas que sobrevivera ao combate, sendo uma estratégia bastante interessante. A fita foi indicada para o Oscar como melhor filme estrangeiro, contudo ficou de fora. Zhang Yimou também dirigiu filmes fantasiosos como o Herói, O Clã das Adagas Voadoras e A Árvore do Amor, ambientado na China dos anos 60.   Vale a pena ser visto, tanto como registro histórico como entretenimento.