segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

POESIA DE LEE CHANG-DONG






SHI/POETRY, COREIA DO SUL/2010
DRAMA, 139 MINUTOS
ELENCO:
Yun Jeong-hie
Premiado no Festival de Cannes (roteiro)
Indicado ao Oscar como melhor filme estrangeiro

Se o filme anterior a este, “Incêndios”, era como se fosse um “épico”, este parece uma “tragédia”, porém bela. Lee, que escreveu e dirigiu o filme, aborda o mundo de uma mulher de 66 anos, aposentada e relativamente pobre, que vive à margem do rio Han, o segundo maior do país. Mija, apesar da idade, conserva um frescor na pele, nos olhos e no sorriso, que ainda guarda a beleza da juventude. Cuida de um neto adolescente, pois sua filha divorciada mora e trabalha em outra cidade. Seria uma coisa natural para os orientais ou ocidentais no mundo globalizado de hoje, todavia para ela não será. Nas primeiras cenas vemos o belo rio, crianças brincando e ao longe alguma coisa que o rio traz. Trata-se do corpo de uma adolescente. Mija, que fora ao centro para consultar-se sobre dores e esquecimentos esporádicos, presenciara, em frente ao hospital, a mãe da garota desesperada com a perda da filha. Ela se comove, mas segue seu caminho, pois teria de fazer uma inscrição para o curso de poesia no centro cultural da cidade. Achava-se com veia de poeta, por ter idéias diferentes e amar a natureza nos seus pequenos detalhes, contudo escrever poesias é muito difícil, pois há de aflorar inspiração, que muitas vezes não chega ou não é suficiente. Em suas aulas, cerca-se de pessoas mais jovens e vai tocando a vida, sempre em contato com a filha pelo celular. Quando questiona seu neto sobre o suicídio da menina que estudava em sua escola, ele se esquiva e não responde. É um garoto de péssima índole, insolente, grosseiro e insensível, bem o oposto do exemplo que Mija lhe oferece. Aí começamos a ver as diferenças entre os sentimentos contidos e respeitosos dos orientais mais velhos e das novas gerações. Esse jovem fazia parte de um grupo de cinco adolescentes cruéis, que haviam estuprado a garota repetidamente, até que ela decida se matar pela desonra e sofrimento. Mija fica sabendo da verdadeira história através dos pais dos outros estudantes que lhe pedem para calar-se para a imprensa e os vizinhos, a fim de preservar o nome da escola e futuro dos filhos. Concorda com o pacto, mas seu sentimento enche-se de cólera e agonia, pois sabia que estaria agindo errado. Angustiada procura nas aulas e em sessões de leitura de poesia um lenimento e resposta para sua angústia. Aconselhada pelo professor, carrega sempre um caderninho e lápis para fazer pequenas anotações do que acha admirável para si mesma. São nesses momentos que Lee nos mostra toda a beleza das flores, dos pássaros e das cores, tão importantes para a simbologia oriental e assim, faz com que tenhamos espaço para respirar e refletir sobre a solidão, doença e envelhecimento da personagem. Todo o enredo é fincado nessa procura da beleza, inspiração e aspiração de ser poetiza, como também na necessidade de ser fiel à sua dignidade e aos seus costumes. Apesar do 139 minutos o tempo passa sem que percebamos, devido à maravilhosa fotografia, o fabuloso desempenho da protagonista e ao ritmo exato de cada cena. O desfecho é bastante emocionante. Gostando ou não de poesia vale a pena ser visto, pois o título é apenas um início.

INCÊNDIOS DE DENIS VILLENEUVE











INCENDIES, CANADÁ/2010, 130MIN.
ELENCO:
Nawal Marwan (Lubna Azabal)
Jeanne Marwan (Mélissa Desormeuaux-Polin)
Simon Marwan (Maxim Gaudette)
Indicado ao Oscar de filme estrangeiro

CUIDADO!! SPOILERS!!
O assunto do filme não poderia ser mais próprio para o momento, quando os países árabes estão em rebelião por liberdade e direitos civis, através de sua juventude. GÊMEOS ou INCÊNDIOS é quase um épico que conta a saga de uma heroína moderna, de origem árabe, vivendo no Canadá com um casal de filhos gêmeos, Jeanne e Simon. Começamos com imagens áridas de um coqueiro, no meio de pedras, e um sujo e ensangüentado orfanato, onde meninos têm os cabelos rapados por soldados. Um zoom, no pé de um deles, mostra a tatuagem de três pintas verticais no pé direito. A seguir imagens da religião católica. O diretor usa flashbacks, para que esta história, em um país ficcional, tenha seu suspense garantido e possa ser mais bem compreendido. Em um cartório do Canadá, o notário lê o testamento de Nawal Marwan, morta aos 60 anos, para os filhos. Nele ela estipula que quer seus bens e dinheiro dividido entre os irmãos, quer ser enterrada nua com o rosto virado para o solo e sem lápides e mais duas cartas que deverão ser entregues ao pai e ao irmão, cujas existências desconheciam até o momento. Uma terceira carta seria lida após a missão cumprida. Sabemos também que é cristã, pois deixara um crucifixo para a filha. Eles estão cursando a universidade e Jeanne estuda matemática pura, sendo ótima no que faz. A conselho de seu professor ela não deverá viajar para o Oriente Médio, baseada em um coeficiente duvidoso, mas a partir de um dado concreto, que é a universidade onde estudara a mãe, donde conhecia um dos professores. Deveria também seguir seus instintos que era o principal contexto da matemática pura. Retornando ao passado, mal conseguimos distinguir entre mãe e filha de tão parecidas que são e pelas roupas que nada mudam nas vilas árabes. Nawal tornara-se a vergonha da família ao namorar um rapaz de outra etnia, que é assassinado pelo seu irmão. A avó, que cuida deles, desespera-se quando ela confessa que está grávida, mas promete que após o parto doará o bebê se ela for morar com o tio, na cidade, e cursar uma universidade, a fim de fugir de sua sina de pobreza e humilhações. Isso ocorre e a jovem está cursando línguas, quando irrompe uma guerra, nos anos setenta. Cristãos e mulçumanos estão envolvidos NESSA CORRENTE DE ÓDIO, que a heroína gostaria de exterminar. Como estudante politizada, envolve-se com um partido político universitário e se vê obrigada a fugir para o sul, católico, com o término forçado das aulas. Durante o percurso o que quer, na realidade, é encontrar o orfanato de seu filho, mas encontram-se incendiados e ninguém sabe o paradeiro dos meninos. Nos intervalos dessas cenas, vemos a filha decidida a encontrar suas origens, perambulando sozinha de uma região para outra, seguindo, atentamente, os passos de sua mãe. Em uma vilazinha, onde é bem recebida pelas mulheres locais, é auxiliada por uma jovem que fala francês e ao pronunciar o nome de sua família e mostrar sua foto é repudiada por todas e considerada desonrada. Sem saber a razão, continua seu caminho, mantendo-se em contato com o irmão, que não quer saber de sua ascendência, pelas atitudes contidas e temperamento reservado de sua mãe. Sabia que algo horrível o esperava. Os mesmos lugares são mostrados, após os bombardeios da época e como estão nos dias atuais, dando grande força à narrativa. Em sua fuga Nawal, depois de ter sido metralhada por católicos e quase morta, acaba trabalhando como tutora de um garoto e mudando sua posição política. Ele era filho de uma rica família cristã muito influente, mas sua intenção principal é matar o mais alto representante árabe católico, freqüentador da casa ou o dono (não fica muito claro), que fora o causador de tantas explosões e mortes. Conseguindo seu intento, após o tiro não reage e é levada à pior prisão política do estado. Lá é encarcerada, torturada, entretanto não se curva, passando a ser admirada até pelos opositores e seu apelido passa a ser “A Mulher Que Canta”, pois assim conseguia aumentar a firmeza de caráter. Sua filha, ao visitar o presídio, é acompanhada por um guia que conta a história do cárcere e, chegando à cela da mãe, Jeanne mostra novamente sua foto e pergunta se alguém poderia reconhecê-la. Enviada a outros locais, fica sabendo que sua mãe fora uma heroína a qual, depois de treze anos encarcerada, havia sido estuprada inúmeras vezes pelo pior algoz de toda a região. Assim essa jovem engravida novamente e, inconformada, faz de tudo para abortar o bebê. Após nove meses, ocorre o parto na prisão e quem a atende é uma boa parteira que sentencia: o primeiro já veio e é um menino, agora vamos ao segundo. Ela tivera gêmeos que seriam atirados no rio e mortos. Entretanto, essa personagem resolve ajudar a brava mulher e cuida dos bebês até que ela saia da prisão. O mesmo chefe que a forçara ao assassinato, agora quer que ela fuja para o Canadá e leve os filhos. A surpresa da existência dos gêmeos a deixa consternada, uma vez que acreditava na morte deles e a lembrança do pai das crianças era tremendamente dolorosa. Mas esse homem insiste que os filhos a ajudarão a formar uma família e adaptar-se à nova situação. De volta ao presente, Jeanne pede ao irmão para vir ajudá-la, pois a pressão é muito grande. Com ele vem o notário, Jean Lebel, que havia contratado Nawal como secretária por quinze anos e a quem a família se afeiçoara. O paradeiro de pai e filho continua ignorado, apesar de ser muito bem investigado. Simon é encarregado de achar o irmão, através de vários contatos e viagens com os olhos vendados. Finalmente, sabe-se que o irmão mais velho não havia morrido, contudo fora transformado em franco atirador, treinado pelo exército. Obcecado com a idéia de encontrar a mãe enlouquece e torna-se um grande torturador. Ao voltar do encontro, Simon está febril e delirante, pois afirma para a irmã que um mais um é UM e não DOIS. Com o desenrolar do drama, um senhor idoso conta que ele mudara de nome e fora morar no Canadá. Em uma piscina pública, vemos a tensa Nawal nadando para se relaxar e ao sair da piscina depara-se com um homem forte com a tatuagem em três pontos no pé direito. Era seu filho. Quase paralisada, é cumprimentada por ele, e ela “o reconhece”. Ocorre que o choque é tão grande que, levada ao hospital em estado catatônico, está prestes a morrer (essa é umas das primeiras cenas do filme). As cartas são entregues ao soldado árabe estuprador pelos jovens, com o auxílio do notário. Abrindo o envelope, “ao pai”, Nawal conta sua história de estupro “pelo próprio filho” e quem são os seus filhos. Aterrorizado, abre a outra carta, “ao filho”, e aí vem a redenção. Narra sua incessante busca por ele, seu amor e seu perdão, a fim de que acabasse A CORRENTE DE ÓDIO que invadiu aquelas almas. Os irmãos gêmeos, chocados, finalmente entendem a trajetória épica da mãe e concordam em realizar seu último pedido, a redenção, o sepultamento digno. Na cena final, Simon visita o cemitério, olhando a lápide de sua mãe com nome e data de nascimento e morte. O sol brilha sobre o mármore.

O diretor assistiu a esta peça de teatro do libanês Wadji Mouawad e solicitou os direitos autorais para transformá-la em filme. O resultado não poderia ter sido melhor, mas alguns comentaristas o chamaram de folhetim ou com um final pouco aceitável. Não é. Na realidade é um épico como os da antiguidade, cuja heroína é uma mulher. O país e a guerra são fictícios, mas foi filmado principalmente na Jordânia e em Montreal.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O DISCURSO DO REI DE TOM HOOPER












THE KING’S SPEECH, REINO UNIDO, AUSTRÁLIA/2010 118 MIN.
ELENCO:
Colin Firth - George VI
Helena Bonham Carter – rainha
Geoffrey Rush Lionel – Lionel Logue
INDICAÇÕES PARA O OSCAR
Filme, direção, roteiro original, ator principal, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, fotografia, direção de arte, edição, figurino, mixagem e trilha sonora
Veja abaixo pequena biografia de George VI.
Esse magnífico DOCUDRAMA enxuto e sem excessos, dirigido por Tom Hooper, nos conta além de fatos históricos pouco conhecidos aqui no Brasil, a história da divisão de classes sociais na Inglaterra e a conturbada ascensão do Duque de York, segundo na sucessão do trono, a monarca e imperador do Reino Unido. É também história de uma típica família disfuncional, com se diz hoje em dia. O filme começa com o jovem Duque de York, em 1932, casado com Lady Elizabeth Bowes-Lyon, que apesar de ter descendência nobre foi a principio, considerada plebeia. Esse era um perfeito casal, com duas filhas Elizabeth (a atual rainha da Inglaterra) e Margaret e ambos não tinham nenhuma vocação para festas, honrarias e exposições públicas. O principal motivo era resguardar a privacidade, insegurança e uma tremenda gagueira de Bertie (Colin Firth em desempenho admirável), que o incomodava desde os cinco anos. Esses problemas eram consequência de uma criação solitária, com uma mãe gélida, um pai extremante rigoroso e chacotas do irmão mais velho. Quando o rei morre, seu irmão Eduardo deveria subir ao trono, mas insistiu em unir-se a uma americana, divorciada duas vezes e com um admirador extra, alemão, que lhe envia cravos diariamente. Isso seria impensável, pois além de ser contra a Constituinte, ele não seria somente rei, mas o primeiro pontífice da Igreja Anglicana. Cenas nos mostram o constrangimento da família real ao participar de reuniões onde Mrs. Simpson estaria presente. O tremendo preconceito entre as classes sociais, nos é apresentado outra vez, quando Bertie é obrigado a procurar ajuda para seu problema de fala. Consultando somente médicos indicados pela corte, desiste de tudo, pois era uma grande perda de tempo. Ocorre que com a provável abdicação de seu irmão, forçada pelo primeiro ministro Stanley Baldwin, o pesadelo dele torna-se realidade. Sua jovem esposa procura uma alternativa para o problema, entrando em contato com o australiano, Lionel Logue, especialista em disfunções de oratória. Disfarçado de Mr. Johnson, com muita desconfiança, fica a sós com o terapeuta, que insiste que se chamem pelo primeiro nome. Lionel Pergunta-lhe coisas bastante pessoais como quando começara a gaguejar. Apesar de acuado, Bertie vai respondendo, aos poucos, às suas perguntas e é convidado a falar cantando ou ouvindo músicas bem altas. A gagueira nesses momentos some completamente. Com palavrões e quando está enfurecido também. A partir daí vemos o nascimento de uma grande amizade, a qual duraria uma vida toda. Dedicação esta que passaria por sérios confrontos, principalmente quando o professor fica sabendo da verdadeira identidade do paciente e da austeridade com a qual o plebeu seria tratado, em situações privadas e públicas. O principal seria treiná-lo para o discurso de posse de seu reinado, que seria transmitido pelo rádio, o maior acontecimento de mídia da época. Sua coroação deu-se em 1937, às portas da Segunda Guerra Mundial. Após uma separação dolorosa, Bertie procura seu amigo, que o possibilita de maneira dedicada e competente a se movimentar dentro do local onde seria feita sua coroação, a falar em frente ao microfone e a se sentir seguro e capacitado para essa posição tão alta e penosa a desempenhar. Faltava para o Duque de York amizade, consideração, as quais obteve, assim como o reconhecimento dos súditos, pois a monarquia achava-se, de certo modo, ameaçada. Montando uma pequena e confortável tenda, afastado dos olhares curiosos de seus subalternos e da imprensa, Logue consegue com que ele leia o speech, todo demarcado com pausas cruciais, e voltado para o rosto do amigo que o ajudava na inflexão das palavras. Esta é uma cena muito comovente. Sua mulher e filhas foram igualmente cruciais para seu sucesso. Quando George VI vai abraçar a mulher e as filhas, depois da leitura, elas, ao invés de abraçá-lo, fazem uma reverência para Sua Majestade o Rei. Ele se desaponta com a formalidade. Antes dos créditos ficamos sabendo que Logue fora agraciado com título de Lord e que permaneceram amigos para sempre.
Observação: uma coisa muito importante o filme não mostra, que era o preconceito contra os judeus por parte da casa imperial britânica, a qual tinha também origem germânica. Era, na época, a adesão ao nazismo contra o comunismo soviético.
Pequena biografia:
Nasceu em 14-12-1895 e morreu em 6-2-1952. Foi rei até 1952, sucedido por sua filha Elizabeth. Último imperador da Índia e filho de George V e da princesa Maria de Teck. Subiu ao trono após a abdicação do irmão Eduardo VIII, que se casou com a americana Wallis Simpson. Casou-se com Elizabeth Bowes-Lyon em 1923 e tiveram duas filhas, a atual rainha Elizabeth II e Margaret. Albert George sofria de graves problemas emocionais motivados por ter pais distantes, desprezo do irmão mais velho, ser mal alimentado por uma cruel babá e, sendo canhoto, forçado a escrever com a mão direita. Conviveu com uma gagueira contínua por anos a fio. Integrou o Royal Naval College de Osborne e depois foi transferido para a Britannia Royal College, em Dartmouth. Participou da Primeira Guerra Mundial, com o apelido de Mr. Johnson. Pertenceu a Royal Air Force até 1918. Estudou economia e história na cidade de Cambridge. Dono de extrema timidez assumiu o trono para dar continuidade ao pai, três dias antes de fazer 41 anos. Com os problemas gravíssimos da Segunda Guerra e o fumo pesado, desenvolveu câncer no pulmão e arteriosclerose. A princesa Elizabeth passa a auxiliá-lo. Em 6 de fevereiro morreu de trombose, em Norfolk, aos 56 anos. Seu apelido familiar era Bertie. Durante a Segunda Guerra, manteve alto ânimo dos súditos, auxiliado pelo então primeiro ministro Winston Churchill. O Império Britânico sofreu grandes prejuízos após a guerra, como a perda da Índia, Paquistão, Canadá, Austrália.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

BRAVURA INDÔMITA DE ETHAN E JOEL COEN











TRUE GRIT - DRAMA - EUA/2010 110 MIN.
ELENCO:
Matt Damon
Josh Brolin
Jeff Bridges
Hailee Steinfeld
Dez indicações ao Oscar
Filme, diretor, ator, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, direção de arte, fotografia, figurino, edição de som, mixagem de som.

A refilmagem desse clássico do cinema feita pelos irmãos Coen sobre o livro homônimo de Charles Portis conta a saga de uma menina de quatorze anos. O filme seco e direto centraliza-se em três personagens: Mattie Ross (magnífica Haylee Steinfeld), a garota que presenciou o assassinato do pai pelo empregado, Tom Chancey, em Fort Hill, um federal bêbado à cata de bandidos, Rooster (ótimo Jeff Bridges), e um policial em busca de recompensas, LaBoeuf (Matt Demon). Dessas três figuras dramáticas o título encaixa-se a perfeição à garota por sua bravura, inteligência e maturidade. A trama é descrita por Mattie, na primeira pessoa do singular, e começa quando ela toma a decisão de revanche, já que as autoridades não estão muito interessadas no caso. A adolescente deseja vingar a morte do pai e, resoluta, sai à procura de alguém com coragem suficiente para trazer, vivo ou morto, o assassino do protetor que tanto amava. Além de tê-lo matado, roubara seus principais bens, ou seja, seus cavalos e duas placas de ouro. Sem nenhum dinheiro consegue persuadir, ardilosamente, o comprador de cavalos a devolver os trezentos dólares gastos pelo pai, para que possa cumprir sua missão. Os diálogos são incrivelmente ágeis e poderosos não tendo uma palavra a mais do que deveria para garantir a força da historia. Depois de informar-se qual era o homem mais destemido do local, contrata-o para que siga no encalço do assassino. Contra sua vontade, Rooster deixa-se acompanhar por Mattie, que se revela astuta e ótima companheira de viagem, ouvindo suas histórias passadas e enrolando seus cigarros. Contudo ela quer ser tratada como uma mulher adulta e confiável e não como uma menina. Matt Demon está à procura do mesmo criminoso e seus destinos se cruzam, mas a razão é outra, queria receber a recompensa da família de um senador de outro estado, que fora assassinado pelo mesmo homem. Mattie, a princípio, não concorda, pois ele deveria ser enforcado no seu condado, como prova de justiça. Isso é o que une o trio protagonista. Os três seguem o mesmo caminho por algum tempo, todavia após uma desavença entre os homens, em uma cena em que atiram pão de milho como alvo, desperdiçando munição e comida para ver qual é o melhor, ela os censura e pouco depois o trio se desfaz. A preocupação da menina instala-se em seu semblante, pois a área indígena é perigosa e ela não passa de uma jovem destemida, mas inexperiente no uso de armas e “pequena como uma espiga de milho”, segundo Rooster. As cenas de frio, escuro, neve caindo em uma região inóspita, com poucas cabanas feitas de madeira e por vezes um céu muito estrelado são de grande riqueza. O pior está sempre para acontecer e é o que se vê. Após o meio do filme, quando os três se ajudam novamente e quase desistem de encontrar o criminoso que provavelmente já estaria morto, eis que a pequena Mattie, ao se aproximar do rio para pegar água, depara-se com ele que a reconhece e logo após, ela mesma consegue fazer justiça com as próprias mãos. As cenas seguintes são preciosas, pois a vida deles corre perigo e a densidade das cenas aumenta ao alcançar o desfecho, principalmente quando Rooster corre quilômetros com a pequena heroína no colo para salvar sua vida. No final temos a presença da protagonista, já adulta, que nos relata o desfechar da trama. O filme é muito bonito e sem qualquer artifício que possa mudar a proposta do autor do livro, que é contar uma história regional pesada com uma linguagem precisa e dura. Curioso é que temos alguns filmes em cartaz sobre adolescentes que tentam se superar para ajudar a família ou a si próprias. Será uma tendência?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O VENCEDOR DE DAVID O. RUSSEL







THE FIGHTER EUA/2010 115 MINUTOS
ELENCO:
Christian Bale- Dicky Eklund
Mark Walberg – Micky Ward
Amy Adams - Charlene
Melissa Leo – Alice
Sete indicações para o Oscar
Filme, diretor, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro original e montagem

David O. Russel, que depois de muito tempo dirigiu este trabalho, nos conta muito menos sobre uma história de boxe do que sobre conflitos familiares, escolhas de vida, superação e manipulação familiar, como mais dois filmes em cartaz: O Inverno da Alma e Cisne Negro. Trata-se de uma família judia, que apesar de unida é totalmente atípica e desestruturada. Dois irmãos Dicky, o mais velho, e Micky estão ligados pelo boxe. Dicky como seu treinador, outrora astro do boxe e tendo derrubado em uma luta o legendário Sugar Ray Leonard, e Micky como o jovem de 31 anos que o venerava e aprendera tudo que sabe com ele. A mãe, corruptível, é sua empresária, tendo mais sete filhas horríveis e despudoradas como ela. O filme começa em Massachusetts, 1993, quando uma estação de televisão filma a vida de Dicky, todavia não como ídolo, mas como drogado em craque que pusera sua vida a perder por causa do vício. Mesmo assim Dicky sente-se eufórico, pois pensava em continuar na profissão. Alice e Christian Bale, ambos em ótimo desempenho, manipulam o rapaz como escada, ou seja, para ajudar a vitoria de oponentes mais fortes e promissores. Em um bar conhece a linda bartender Charlene (expressiva), que concorda em sair com ele se voltasse de Atlantic City, onde iria lutar. Ocorre que o opositor é substituído por outro muito maior, que o massacra, com a aceitação da mãe, Alice, para que ganhasse o dinheiro da luta. Charlene será uma personagem importantíssima para a virada da história de seu namorado, porque com seu apoio irá enfrentar a família sugadora de seus esforços e encarar uma nova carreira, treinando em Las Vegas e tendo um pagamento fixo. Isso devasta e divide as relações familiares expondo feridas ainda não confessadas. Dicky é preso por roubo e vício, indo parar na cadeia. Orgulhoso, pois é carismático e venerado pelos colegas de presídio, volta a treinar no presídio para competir, conseguindo se livrar do vicio. São tomadas de cenas muito interessantes, pois mostram a evolução dos irmãos, cada um à sua maneira. Micky está muito em forma, também psicologicamente, bem mais magro e tendo vencido algumas lutas com lutadores do mesmo peso. Chegara a hora de lutar por um título mundial na Inglaterra. Seus agentes decidem que está pronto, mas nesse momento crucial sua mãe, irmão, agora livre, e irmãs se interpõem e quase destroem essa oportunidade única. Impondo-se, Micky consegue que seus agentes prossigam, mas aceitem a presença de Dicky junto ao seu atual treinador. Em Londres a arena está cercada de pessoas que torcem por seu oponente, que em vários rounds quase acaba com Micky Ward. Lutador de golpes profundos e fortes segue o conselho do irmão e consegue nocautear o astro na altura dos rins, depois de cansá-lo. O filme nesse terço final é empolgante e mostra uma história verídica de superação de si mesmo através do esforço, amor familiar e bom senso. No fim os dois irmãos verdadeiros aparecem como uma homenagem. As indicações para o Oscar são merecidas e a história muito interessante.

CISNE NEGRO DE DARREN ARONOFSKY












BLACK SWAM, EUA/2010, 108 MINUTOS
ELENCO:
Natalie Portman - Nina Sayers
Mila Kunis - Lily
Vicent Cassel - Thomas
Vinona Ryder - Beth
Cinco indicações para o Oscar
Filme, diretor, atriz, fotografia, edição

Tão intenso quanto o compositor russo de O Lago do Cisne, Tchaikovsky, esse filme conduz-nos por um mundo ameaçador e cheio de dores, vivido pela ótima atriz Natalie Portman, como a protagonista da história. Começa com ela dançando em um palco escurecido de onde é observada pelo coreógrafo e diretor artístico Thomas e por outras bailarinas, quando é surpreendida por um ser alado e preto, Von Rothbart, que a cobre e abraça, arranhando suas costas. Ele seria o feiticeiro que transformou a princesa Odette em cisne e ela só voltaria ao normal com o beijo de um verdadeiro amor. Esse ser será seu inconsciente durante a trajetória dessa tragédia. Essa diáfana bailarina, invejada pelas colegas, faz parte do balé de Nova York e aspira ser o Cisne Branco e Negro da próxima temporada. Ela é perfeccionista e dona de maravilhosa técnica, perfeita para o Cisne Branco, puro e angelical, mas soaria falsa para o Negro, selvagem e sedutor. A jovem é frágil, com sérios problemas psicológicos como a bulimia e pânico, além de acessos de urticária, que tiram sua pele e a deixam em carne viva e sangrando. Essa personagem frágil que o filme discutirá não é para pessoas sensíveis. Nina é mantida e contida pela mãe, também ex-bailarina, como se fosse uma criança, a começar pela maneira como a chama, pelos bichos de pelúcia de seu quarto e o modo como a faz dormir, com uma caixinha de música e uma bailarina no centro. Sexo é o maior tabu da casa, fazendo com que a jovem de 23 anos se porte de maneira inadequada, com visões eróticas e agressões ao próprio corpo para conter sua sensualidade latente. A recalcada mãe a manipula para sua única satisfação. Com provocações de seu diretor que quase a substitui, por não achá-la adequada ao Cisne Negro e com a amizade da experiente e sensual Lily, ela é obrigada a travar uma batalha insana contra si mesma para que consiga encontrar seu verdadeiro eu, seu sexo, seu desejo e florescer no que mais ama – o balé. Esse duelo de uma pessoa só é dirigido muito bem por Darren Aronofsky, de Réquiem para um Sonho e O Lutador, tirando da atriz todo seu talento e seu sangue literalmente. Vicent Cassel, magnífico como coreógrafo que gosta de ter amores com suas bailarinas, será de grande importância para que ela cresça e se torne a mulher maravilhosa que é. Perto do final, a performance de Nina, à medida que sua apresentação começa no teatro lotado, vai, ao mesmo tempo, num crescendo como unicidade cênica e se deteriorando psicologicamente, com um desfecho que chega a ser uma tremenda bofetada em seu rosto. Efeitos especiais e trilha sonora imperdíveis.