terça-feira, 28 de outubro de 2014

RELATOS SELVAGENS DE DAMIÁN SZIFRÓN




RELATOS SALVAJES, ARGENTINA/ESPANHA/2014, 122 MIN., COMÉDIA
ELENCO:
RICARDO DARÍN – BOMBITA
OSCAR MARTINEZ –
LEONARDO SHARAGLIA –
ERICA RIVAS - NOIVA
Este ótimo primeiro longa de Damián Szifrón, com a produção dos irmãos Pedro e Augustín Almodóvar, é um dos maiores sucessos das telas nesta semana. Influenciado por eles, temos um filme com um roteiro cativante e moderno, atuações espetaculares e ótima direção. Deixa a comédia nacional no chinelo. Trata-se de seis histórias de moral, humor negro e com a barbárie quase derrotando o bom senso, muitíssimo assertivos no contexto. Todas falam da situação limite da economia e burocracia argentina, como acontece aqui no Brasil, então os personagens querem vingança comida em prato quente e não frio como diz o ditado. A primeira e mais curta relata um voo de avião em que todos os passageiros têm algo a ver com um maníaco chamado Pasternak, ele não aparece e o final, apesar de apavorante, é extremamente divertido. A segunda conta a história de uma jovem que trabalha em um restaurante de beira de estrada e, em uma noite chuvosa, vê-se frente a frente com o carrasco de sua família, levando a um resultado inesperado e trágico. Leonardo Sharaglia, sujeito mal humorado e sem noção das coisas, é dono de um Audi novinho. Na estrada, ultrapassa e ofende o dono de uma lata velha que levava quase a casa toda no carro. Acontece que ele não esperava que o pneu de seu carro furasse bem na frente de uma ponte perigosa e na tentativa de trocar o pneu, a “lata velha” o alcança. A partir desse momento teremos momentos da mais alta intensidade em matéria de violência e disputa de classes. O pobre é um homem enorme e forte. O final é patético e a polícia pensa tratar-se de um “crime passional”. Verdadeiramente criativo. Outro caso parece que estamos bem aqui, quando um jovem riquíssimo atropela e mata uma pessoa, fugindo. Seus pais tentam ajudá-lo convocando advogados e figurões, contudo o desenrolar é alucinante. Uma das mais divertidas é Bombita, com Ricardo Darín, na pele de um engenheiro especializado em explosões, que se “explode” com a lenta burocracia e roubo no preço de taxas e impostos, quando tem seu carro guinchado. Finalmente encontra sua turma e se reconcilia com a família dentro de uma prisão. O mais sensacional é a última trama, com Erica Rivas, que esteve no Brasil para divulgar o filme. Faz papel de uma noiva que em plena festa de casamento vê-se ameaçada pela conduta do noivo e tudo gira em torno do troco que lhe dá, em plena festa judaica, que não é para qualquer um, pela música apaixonante, enorme número de convidados e todos os costumes característicos da religião. Eles são exagerados, mas isso faz com que não paremos de ter um riso nervoso e compulsivo. Admirável trabalho do talentoso diretor. Imperdível. O filme concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

domingo, 19 de outubro de 2014

O JUIZ DE DAVID DOBKIN




THE JUDGE DE DAVID DOBKIN
EUA/2014, 141 MIN., DRAMA
ELENCO:
ROBERT DOWNEY JR. – HANK PALMER
ROBERT DUVALL- JOSEPH PALMER
VERA FARMIGA – SAMANTA POWELL
VINCENT D’ONOFRIO – GLEN PALMER, FILHO MAIS VELHO
JEREMY STRONG – DALE PALOMER, FILHO CAÇULA
SPOILERS
Considerado diretor de comédias, Dobkin faz, pela primeira vez, um bom drama e essa trama ocorre-lhe quando perdeu sua própria mãe, aglutinadora da família. O filme é sobre o julgamento de um homem, mas principalmente de sua família. O ótimo Robert Downey Jr. faz o papel de um advogado criminalista famoso por suas causas sempre ganhas e por seu comportamento irônico e petulante. Nas primeiras cenas, o vemos em um toalete do tribunal urinar nas pernas de um colega e sair sem dar a mínima importância ao desaforo. Durante o julgamento recebe um telefonema comunicando a morte de sua mãe. Hank nascera em uma cidadezinha de Indiana e havia fugido de lá há 20 anos e nunca mais voltado, fato que havia entristecido muito sua mãe. Sai imediatamente para o enterro, deixando sua mulher de quem estava se divorciando e sua filha para trás.  Quando chega encontra todos os habitantes que ainda moravam lá e nada, absolutamente, havia mudado. Eles eram três filhos de um juiz bem conceituado e que trabalhava há 40 anos no mesmo lugar. É o do meio, o mais velho gostaria de ter sido jogador profissional de baseball, mas não pode. Na juventude, Hank dirigia o carro sem carta e o irmão ficou com a mão lesionada para sempre. O adorável caçula tinha paixão por filmagens. Seu pai é durão com relação à rebeldia do filho e nada fez para que ele voltasse a ver a família. No velório ele é amável com todos, exceto com seu filho bem sucedido. Em outra cena, ele encontra sua primeira namorada por quem fora apaixonado e agora tinha uma filha de dezenove anos, que a ajudava em seu bar. Hank Palmer faz as contas e fica muito perturbado com a paternidade da menina. Decidido a voltar o mais breve possível, pois não é bem vindo, acontece um acidente na estrada entre uma bicicleta e um Cadillac antigo, cujo dono é o juiz que não deixava ninguém dirigi-lo. Ele é suspeito de ter matado o marginal que conduzia a bicicleta, Blackwell, que havia recebido uma leve pena de Joseph há muito tempo e depois fora condenado a 20 anos de prisão por ter matado a namoradinha de infância. Com esse envolvimento todo, Joseph Palmer decide ficar e ajudar na defesa do pai. Vemos através de uma câmera de segurança do mercado que o acusado havia ido, no dia do acidente, Blackwell destratando-o. Era a prova que faltava. A cidade está agitadíssima com o fato. Joseph não esquece a mulher e sente muito sua perda, pois sofre de uma doença incurável, fato que não revelara a ninguém, a não ser a ela. Mas em um momento emocionante dessa história, ele está sozinho e tem de ser socorrido pelo filho pródigo, acometido por uma forte hemorragia. Escondido dos filhos encontra-se em tratamento de quimioterapia e um dos efeitos colaterais é a perda de memória. Joseph é orgulhoso e não quer que esse fato seja relatado no julgamento, já que ele realmente não se lembra do crime, mas o júri o condena a quatro anos de prisão. No sétimo mês, Hank consegue uma pena humanitária e ele sai da cadeia. Nesse final, vemos os dois pescando no rio, coisa que faziam com frequência em sua infância e o fato tão temido ocorre sem dor ou sofrimento. A bandeira dos Estados Unidos está a meio mastro como homenagem aos trabalhos prestados por Joseph, que receava estragar sua reputação perante a família e a cidade. A atuação desse time de ótimos atores faz o filme. Um fato curioso para os mais atenciosos é que a data de nascimento da mulher de Joseph na lápide é 1940 e ele diz ter 72 anos, ou seja, dois anos mais jovem do que a esposa, coisa impossível pela aparência de ambos. Até em filmes bem feitos há falhas.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O HOMEM MAIS PROCURADO DE ANTON CORBIJN




A MOST WANTED MAN, REINO UNIDO, EUA, ALEMANHA/2014. 121 MIN., SUSPENSE
ELENCO:
PHILIP SEYMOUR HOFFMAN – GÜNTHER
RACHEL MCADAMS –
WILLEM DAFOE – BANQUEIRO
VICKY KRIEPS – ADVOGADA
GRIGORI DOBRYGIN – JOVEM ISSA KARPOV
Anton Corbijn faz uma ótima direção nesse suspense baseado no livro homônimo de John le Carré. Com consternação vemos uma das últimas apresentações do impecável Philip Seymour Hoffman, morto neste ano. O romance trata da mais nova ameaça ao mundo, o terrorismo dos países mulçumanos, principalmente contra os Estados Unidos. Nosso saudoso Hoffman faz o papel principal, o agente Günther Bachmann da inteligência alemã, que tem como prioridade evitar que terroristas entrem nos EUA. Existe, no início, um prólogo afirmando que um lapso da agência alemã permitira o ataque da Al Qaeda em 2001 e isso não pode mais se repetir. Günter conta com uma equipe muito coesa e dedicada, principalmente em campo, tendo conseguido aliciar vários mulçumanos jovens que são contra esse tipo de situação. Entre a inteligência alemã e a CIA ocorrem várias diferenças nas pesquisas, sendo a primeira mais sútil. O romance, complexo, foca os bastidores. Günther é a favor do trabalho minucioso para pegar o peixe grande e age com prudência. Começamos com um jovem entrando ilegalmente, pelo porto, em Hamburgo. Magérrimo e abatido esse rapaz checheno, produto de um estrupo de seu rico pai, militar russo, contra uma jovem chechena, tenta refúgio na grande comunidade muçulmana da Alemanha. Não deseja voltar para a Rússia, onde foi preso e torturado. Abrigado em uma casa da periferia consegue a proteção de uma advogada alemã simpática à causa islâmica. Ela será seus olhos e ouvidos para permanecer no país, fato complicado uma vez que não tem nenhum documento, apenas uma carta assinada por seu pai e um objeto pertencente a um banco. O peixe grande é Abdullah, um homem riquíssimo, que Günther tem certeza de que é o elo que envia dinheiro e suprimentos para Al Qaeda. A forte personalidade de Hoffmann contribui para o mistério em cenários escuros e becos mal frequentados perto do porto. Nesses instantes sentimos a grande empatia entre ator e seu papel, principalmente na tragédia de sua vida real. O filho de Abdullah é um de seus colaboradores. As cenas correm rápidas, pois não há tempo a perder já que existe uma grande rivalidade entre os membros principais das duas agências, que complicam a caçada. O final, que parece cheio de esperança, tem uma reviravolta quase tão estonteante como o que Hoffmann cometeu contra sua própria vida. Imperdível! Grande trabalho de Hoffmann e dos outros protagonistas, sempre em estado de extrema tensão. Uma pena o filme não ser falado em alemão, daria uma força bem maior.


domingo, 12 de outubro de 2014

UM AMOR DE VIZINHA DE ROB REINER




AND SO IT GOES, EUA/2014, 94 MIN. COMÉDIA
ELENCO:
MICHAEL DOUGLAS – OREN LITTLE
DIANE KEATON – LEAH
STERLING JERINS - SARAH
Nesta comédia, o diretor Rob Reiner reúne todos os elementos óbvios para obter o agrado do público. Um casal da terceira idade, os espetaculares Michael Douglas e Diane Keaton, mais do que impecável, e uma belíssima menina de nove anos, Sterling Jerins. Oren Little é um corretor em fim de carreira que deseja vender um último imóvel, caríssimo, se aposentar e ficar só para o resto da vida. Deliberadamente insuportável, é viúvo de uma mulher que amava, com o agravante de ter um filho com quem não se dá, um ex-drogado. Quando está mostrando a mansão para clientes, aparece seu herdeiro e pede para que fique com sua filha de nove anos, Sarah, cuja existência não conhecia. Serão poucos meses, pois o filho irá para a prisão. Sem ao menos querer saber o que acontecera, nega, mas a meiga garota aparece em sua casa. Sem nenhuma paciência ou vontade impinge a neta à sua vizinha Leah, um mulher de sua idade também viúva, mas adorável e feliz com a vida. Sem problemas acolhe a garota que passa a chamá-la de avó, para seu deleite, pois não tivera filhos. Leah é uma mulher resolvida que canta em pequenos restaurantes. Aos poucos, com seu determinismo e valor, vai colocando o irredutível Little em seu devido lugar e ele acaba por aceitar a presença da neta. Vários diálogos interessantes entremeiam a trama, como a conversão de Little à vida e o deslanche da carreia de Leah. A arquitetura do filme, apesar de nada muito especial, vai conquistando o público. O mérito vai para a pequena Sterling Jerins e esses dois atores tão conceituados. Filme leve, mas com seus valores.