terça-feira, 30 de agosto de 2011

ESSES AMORES DE CLAUDE LELOUCH







CES AMOURS-LÁ, FRANÇA/2010 DRAMA 120 MIN.
ELENCO:
AUDREY DANA – ILVA
DOMINIQUE PINON
SAMUEL LABARTHE

Esse belo filme tem seu ponto forte, além dos atores, na música de Rachmaninov e no jazz. Trilha sonora estupenda e ótimo desempenho de Audrey Dana, que fala com os olhos. Claude Lelouch, diretor de Um Homem, Uma Mulher, homenageia o cinema com essa obra. Na primeira cena vemos uma orquestra sinfônica tocando uma emocionante peça de Rachmaninov, nos tempos atuais. Depois disso o filme será explicado com flashbacks de um passado mais remoto. O tema da segunda Guerra Mundial já foi exaustivamente usado, mas neste caso o que Lelouch busca é o amor, a paixão, principalmente quando as pessoas estão em risco e seu maior tesouro é exatamente isso e a vida. Voltamos no tempo para os anos do cinema mudo, em Paris, depois o falado em branco e preto, seguido da propaganda nazista de Hitler, já que a França, em 1942, estava ocupada pelos alemães. A resistência lutava. Ilva, o personagem central do filme, é uma jovem livre, cuja mãe teve de se prostituir para proteger-se e a filha, ficando com um projetista que educa a menina, como se fosse sua filha. Ela namora um colega da Sorbonne, mas para salvar seu padrasto conhece um oficial nazista, por quem se apaixona e é correspondida. Ilva ama muito, apaixona-se com facilidade e é fiel aos seus amores, enquanto durem. Vários homens entraram em seu destino, sempre na tentativa de manter-se viva e segura. Em um tribunal, ela está sendo julgada e através de seu advogado, conheceremos melhor sua vida. Os judeus de Paris são levados ao campo de concentração e quase todos exterminados. Com o andar da história, essas vidas se entrelaçarão, fazendo um interessante movimento. Ilva também se compromete com dois jovens soldados americanos, um negro, boxeador, e um rico herdeiro branco de olhos azuis. Ambos são bonitos, bons e aos olhos de Ilva adoráveis. Sua escolha de casamento no pós- guerra é difícil e a levará a grandes dissabores. Os lugares preferidos pelo diretor para narrar a história são a sala de julgamento e, claro, a sala de cinema, onde Ilve é lanterninha e apaixonada pela sétima arte. Vários acidentes irão ocorrer até que o jure se decida pela promotoria ou pelo advogado de defesa, que terá um papel muito importante em sua existência. O final talvez seja longo demais, contudo a maravilhosa trilha sonora e o encanto do jazz e seus dançarinos valem a pena ser vistos. Bom filme para as pessoas que ainda acreditam na redenção pelo amor e na honestidade dos sentimentos.
Lelouch ganhou vários prêmios entre eles, Oscar, Palma de Ouro, César, etc, entretanto os críticos, às vezes, são bastante contundentes com esse diretor.

domingo, 21 de agosto de 2011

UM SONHO DE AMOR DE LUCA GUADAGNINO
















IO SONO D’AMORE, ITÁLIA, 2009 120 MIN. – DRAMA

ELENCO:
TILDA SWINTON –EMMA RECCHI - MÃE
FLAVIO PARENTINI – EDOARDO RECCHI
EDOARADO GABBRIELLINI – ANTONIO
PIPPO DELBONO – TANCREDI RECCHI - PAI

Esse denso drama familiar foca-se no desenrolar da conduta de Tilda Swinton, como a protagonista Emma, uma belíssima mulher de mais de cinquenta anos, russa, que já esquecera o seu nome verdadeiro, mas quando melancólica recorre à culinária para matar a saudade de sua terra. Casada há muitos anos com um magnata da indústria têxtil italiana, tem um casamento feliz, mas um tanto desgastado com a rotina e as constantes viagens do marido, Tancredi. O pano de fundo é Milão, mostrada com uma fotografia maravilhosa, coberta de gelo no inverno, florida na primavera e cheia de luz no verão. O filme é todo grandiloquente, com imagens belíssimas, um figurino irreparável (concorrendo ao Oscar), ótima música e o desempenho contido e excelente dessa atriz inglesa. Vemos a rotina de uma família milionária, agora chefiada por Tancredi sempre acompanhado de Emma. Seu filho mais velho, Edoardo, está fascinado por uma jovem com quem se casará. A filha caçula tem um amor nada convencional e, por isso, se muda para Londres a fim de estudar arte e ficar ao lado de seu grande amor, outra garota. O clima enamorado ronda a família. Edoardo perde um jogo, ou melhor, um concurso de culinária para seu grande amigo de outro nível social, Antonio, que irá parabenizá-lo pelo segundo lugar em sua mansão, quando da festa de aniversário do avô. Tímido não participa da festa, mas é apresentado à Emma. O inverno passa e a primavera e verão se seguirão em clima de paixão, a qual irá desnortear a vida de Emma, presa de um amor dilacerante e irresponsável pelo jovem Antonio, que abriria um restaurante com seu filho. Essa atração incontrolável, selada pelo amor à culinária, leva o casal a tomar atitudes descuidadas que poderiam por em jogo a felicidade e segurança dos filhos e do marido. Enquanto fascinados um pelo outro, paisagens de San Reno e Milão são exibidas em plenitude. As cenas de sexo, apesar de explicitas, são delicadas na filmagem, sempre em close e mostrando o que há de mais belo no casal. Apesar da diferença de idade, isso não parece motivo para esmorecimento do relacionamento afetivo, que vai às últimas consequências. A partir daí, o diretor nos mostra um vaivém perigosíssimo de exposições e coincidências que levará a um final bastante trágico, com um desdobramento de certa forma previsível, mas com uma costura psicológica muito bem feita. Um bom espetáculo, com ótimas atuações, principalmente da admirável veterana Tida Swinton, personagem principal desse drama, ganhadora de um Oscar, 23 prêmios e mais 33 indicações. Só por seu desempenho vale a visita ao cinema.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A ÁRVORE DA VIDA DE TERRENCE MALICK
















THE TREE OF LIFE EUA/2011 130 MIN. DRAMA

ELENCO:
BRAD PITT - PAI
JESSICA CHASTAIN – MÃE
FIONA SHAW - AVÓ
SEAN PENN - JACK

Este esperado filme de Terrence Malick é uma obra para ser contemplada pelo modo como é apresentada. Trata-se de um trabalho não linear, onde diálogos são reduzidíssimos e o que conta é a lembrança de uma criança, Jack (Sean Penn) e seus irmãos. No início, ficamos sabendo que houve um acidente que ceifou a vida de um deles, durante um combate de guerra, aos 19 anos. É necessário que a platéia se deixe apenas levar pela belíssima filmagem e música, desde o início do universo com cenas de fogo, água, terra, derretimentos, resfriamentos, passando pelos animais pré-históricos, pelas veias e sangue que formam nosso corpo, até os anos quarenta e antes, quando começa o filme. Na primeira cena lemos um trecho bíblico de Jó. Em seguida, a figura de uma menina, lembrando que fora criada em uma escola de freiras, onde ensinavam que no mundo havia dois caminhos: o da Natureza e o da Graça. Ela havia feito a escolha da Graça. Viajamos para os dias atuais, onde Jack é um bem sucedido arquiteto que tenta conciliar seu passado com o presente e, atormentado por suas lembranças, faz um paralelo entre os edifícios gigantescos que se encontram no horizonte de Dallas, com as belíssimas árvores de sua casa de infância, quando sua mãe olhava para seus galhos que se uniam no céu e procurava a presença de Deus. Outro corte e vemos o movimento explosivo e violento do inicio dos tempos. São cenas assustadoras e maravilhosas indo do estado líquido ao sólido da época contemporânea. A história é a saga de uma família, com três filhos e seus pais. Passa-se no interior dos Estados Unidos, Texas, mas bem poderia ser em qualquer lugar, respeitando-se a época de austeridade do pós-guerra. O pai, Brad Pitt impecável, é um engenheiro respeitável, religioso, contundente com a família e extremamente severo com os filhos, principalmente com o mais velho, apesar de amá-los. Exige que o chamem de senhor, e quer ser adorado e respeitado, apesar de sua conduta tão exigente e dura. Ele simboliza a crueldade e realidade da Natureza. A mãe, escolhendo o caminho do amor e perdão, é submissa ao extremo, delicada, bela e maravilhada pelos três meninos. As cenas mostram as recordações de Jack e seus irmãos. O fio condutor são sussurros de Jack, que tem sempre a imagem dos pais brigando dentro dele. Eles foram crianças desejadas e amadas por ambos, enquanto eram muito pequenos. À medida que crescem há um confronto entre o pai e os homens da família, apesar de serem apenas adolescentes. Essa atitude leva a que o famoso complexo de Édipo renasça na figura do mais velho, com toda violência. Ele gostaria de matar o pai, para que sua mãe ficasse livre de seu domínio e controle. Durante uma longa viagem que Mr. O’Brien faz ao redor do mundo para mostrar suas patentes, notamos a grande diferença na atitude da família que pode usufruir de paz e aconchego que tanto careciam. A interpretação de Jessica Chastain, Mrs. O’Brien, quando da morte de seu filho querido, é uma das mais pungentes do filme, que, aliás, como um todo, se arrasta para um público acostumado à cenas rápidas e diálogos cortantes. É um filme próprio para transmitir sensações e reflexões religiosas e filosóficas. O final é um pouco decepcionante, visto que se alonga mais do que o necessário, mas com a reconciliação entre os membros da família. Seria mais interessante um final curto e direto, sem tantas divagações. Ganhou a Palma de Ouro no festival de Cannes, como melhor filme. Poderia de certa forma ser “comparado” com o também filosófico Melancolia de Lars Von Trier, que teve seu longa retirado da competição. Seria um páreo bastante interessante em matéria de excentricidade, fantasia, e duração de película... Ambos devem ser vistos pelos cinéfilos devido à originalidade dos trabalhos.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O AMOR CHEGA TARDE DE JAN SCHÜTTE












LOVES COME LATELY – COMÉDIA DRAMÁTICA – ALEMANHA, ÁUSTRIA, EUA, 2008
86 MINUTOS

ELENCO:
OTTO TAUSIG
RHEA PERLMAN
JOHN C. VENNEMA

Esta deliciosa comédia dramática, inspirada em contos do grande escritor judaico-americano, Issac Singer (1904-1991) gira em torno de um senhor austríaco (alter ego de Singer), de oitenta anos, que ainda consegue trabalhar em Nova York, onde vive, para espanto de alguns. Ele é um escritor de contos e ”bachelor” (solteirão) como ele mesmo diz, há muitos anos, que convive com uma namorada, que tem certeza de suas infidelidades, mas que preenche sua vida e o ajuda com seus esquecimentos diários. Além dessa atividade, vive de palestras dadas em diversas cidades por onde lecionou. Considerado um escritor tipicamente americano, apesar de austríaco, que descreve as vicissitudes diárias do país, é famoso, além de muito bem quisto pelas mulheres que adoram seu estilo bem humorado, típico dos judeus. O filme segue muito a linha de Woody Allen, com piadas inteligentes e cáusticas. Com uma agenda cheia, o protagonista decide escrever sobre um homem (ele próprio) que desejaria tirar férias em Miami e conhecer novas pessoas, quem sabe novos amores. Esses contos vêm em forma de realidade, contando estórias sexuais engraçadas, sempre com finais inesperados. Seus sonhos abrangem o mesmo tema e é constantemente acordado com pesadelos. Em suas palestras é muito bem recebido e ganha, frequentemente, atenção feminina para seu deleite, apesar da idade e da aparência franzina. Isso para ele é um enigma a ser desvendado. Agora, viaja para uma série de apresentações e tudo acontece, desde encontrar-se com uma antiga aluna que o questiona sobre seus finais infelizes ao invés de deixá-los em aberto para que o leitor escolha à sua maneira, até esquecer seu texto na pasta sendo obrigado a improvisar, lendo o mais recente conto, escrito às pressas. Nesta narrativa, também apresentada como realidade, o vemos como um homem velho, comum que desperta o amor da vizinha viúva, que vê nele o retrato do marido. Com o desenrolar da complexa e divertida historieta, somos nós que deveremos fechar as últimas ações dessa trama. Filme inteligente e escrito como uma homenagem a Isaac Singer, um dos maiores escritores americanos, por Jan Schütte. Muito bem representado pelos incríveis Otto Tausig e Rhea Perlman. Creio que a mensagem a ser enviada é da brevidade da vida e do amor que deve ser aproveitado sempre que se oferecer às pessoas. Ele não tem idade. A bela trilha sonora de Henning Lohner ajuda-nos a entrar no clima do filme.

MAMUTE DE BENOIT DELÉPINE, GUSTAVE DE KERVERN








MAMMUTH, FRANÇA/2010, 92MIN.

ELENCO:
GÉRARD DEPARDIEU – SERGE
ISABELLE ADJANI
YOLANDE MOREAU

Primeira cena - vemos uma região agrícola, sob a perspectiva de quem está em algum veículo rápido. Segunda cena, um matadouro de carnes suínas e finalmente na terceira cena está o mamute do título: Gérard Depardieu que encontra um papel perfeito em Serge, um homem rústico de 60 anos, obrigado a se aposentar. Uma festinha é dada em sua homenagem, pois em 10 anos de trabalho jamais faltara ou ficara entediado com o que fazia. Em casa, com sua companheira começam os problemas. Não têm dinheiro suficiente para viver sem que o casal trabalhe e estimulado pela mulher pega sua velha motocicleta vermelha e sai pelas estradas da França à procura dos documentos necessários para provar sua jornada de trabalho, quase sempre irregular. Começa, então, uma viagem não só de resgate de seu passado como trabalhador, mas principalmente como ser humano. Sendo um adolescente rebelde, não terminara sequer o segundo grau, não tendo uma qualificação determinada. Todavia o que movia esse homem imenso e rústico eram seus sentimentos mais recônditos. Durante sua travessia encontra os lugares mais bizarros onde labutara. Uns ainda existentes outros não. Com as mãos vazias, resolve procurar a família e vai bater à porta da casa de seu irmão mais velho. Estando ausente, é recebido por sua sobrinha, uma artista plástica talentosa, que fazia incríveis esculturas com matérias recicláveis. Essa jovem também arredia como o tio, consegue com sua juventude e inocência alavancar sua perspectiva de vida com coisas simples e maravilhosas, como tomar sol no rosto, desfrutando o ócio bem vindo, mas tão temido. Uma segunda musa é importante em sua vida, sua primeira namorada, que o amava apesar de sua aparência e estranheza. Essa visão o levará para frente na batalha de autoconhecimento. A terceira musa é a companheira fiel, que sempre o esperará e dará estímulo para que continue uma vida amorosa, juntos. Finalmente, Serge volta para casa e refeito como homem, decide matricular-se em um curso de filosofia, para o qual deverá escrever um artigo no prazo de quatro horas. Sem dificuldade nenhuma, por sua perspectiva e visão de vida, já vestido em um kaftan, despede-se do filme em poucos minutos, terminando rapidamente seu texto, para ser avaliado. A sensação que fica é de vitória.