quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

UM SANTO VIZINHO DE THEODORE MELFI




ST. VICENT, EUA, 2014, 102 MIN. COMÉDIA
ELENCO:
BILL MARREY – VICENT
MELISSA MACARTHY – MAGGIE
CHRIS O’DOWL
NAOMI WATTS
Essa é uma adorável comédia que se distancia muito do esquema famoso de amigo velho ranzinza de criança angelical, tão conhecido. É inteligente e com ótimas sacadas do começo ao fim, dirigida e escrita por Theodore Melfi. Bill Marrey está esplêndido e à vontade no papel de um velho rabugento, alcoólatra e recluso, veterano da guerra do Vietnã, que mora sozinho e não se dá com os vizinhos. Sua vida transforma-se quando uma mãe divorciada com um filho de 12 anos, muito inteligente e franzino, muda-se para a casa ao lado. Ele, sem emprego ou renda, vê-se obrigado a pedir o emprego de baby-sitter e olhar o garoto. Seria um dinheiro certo que poria um pouco de ordem no caos de suas economias, pois joga em cavalos para se manter. O menino não reage, mas ele impõe várias condições para o convívio, inclusive que ele o acompanhe para onde quer que vá. Seus passeios não são nem um pouco adequados para crianças, mas o menino parece renascer com essas aventuras e afeiçoar-se muito a ele. Tudo é permitido desde que faça sua lição de casa. Não tendo pai, aprende a se defender com esse avô adotivo muito especial. Estuda em uma escola católica e quando o padre professor, diga-se de passagem ótimo, pede para que ele faça a prece matinal e ele responde: Acho que sou judeu! Daí para frente as tiradas serão sempre as melhores. O filme, apesar de um final feliz, não perde a força nas piadas e no senso irônico de humor. Ótimo!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

SNIPER AMERICANO DE CLINT EASTWOOD




AMERICAN SNIPER, EUA, 2014, 132 MIN. DOCUDRAMA
BRADLEY COOPER – CHRIS KYLE
SIENNA MILLER – TAYA
O que realmente sabemos sobre esse impactante filme de Clint Eastwood, baseado na biografia de Chris Kyle, um atirador de elite americano, é que tem causado muita confusão, pois existe a ala que o adora e a que o detesta. Para decidir o melhor é assisti-lo. Conta a vida do jovem texano, filho de fazendeiros, que desde cedo aprendeu com o pai a atirar, ter uma mira perfeita e ser patriota, ou seja, a cultura natural desse país. Para o pai o melhor tipo de pessoa era a parecida com os cães pastores que faziam qualquer coisa para defender o rebanho dos perigos. Já perto dos 30 anos, sendo um cowboy de shows, resolve inscrever-se no exército, após o onze de setembro. Casado com uma linda garota, a ótima Sienna Miller, seu objetivo é patriótico e quer defender os americanos e suas famílias a qualquer custo ou sacrifício. Sua educação ajudou-o a tomar essa deliberação. Queria fazer parte dos Snipers, os atiradores de elite que enfrentam os maiores perigos nas guerras, mas que matam mais, a fim de salvar vidas, tanto do lado inimigo como deles próprios. São uma necessidade “apavorante” no tema ainda mais polêmico da “guerra”, outra anomalia, a meu ver. O filme começa com decisões e cenas desconcertantes. No topo de um prédio Chris vê uma mulher iraquiana e seu filho, que recebe uma granada muito potente das mãos dela e vai em direção aos americanos. A decisão de matá-los cabe somente a ele e ele o faz. Depois disso temos um pequeno flashback, mostrando sua infância e juventude, mas logo voltamos à cena inicial onde os dois mortos estão no chão. Se isso não tivesse ocorrido muitos teriam sido assassinados. Esses serão os primeiros de seus 160 tiros fatais, que aos poucos vão o transformando em uma pessoa muito diferente do que era, irritadiça, melancólica e sem hesitação quanto à sua profissão de matador. Esse homem voltou várias vezes para rever sua mulher e filhos e nunca se sente em casa. Sua cabeça está sempre voltada para o perigo e ação. Taya pede para que ele volte, também psicologicamente, para casa e esqueça a guerra. Um cão pastor não faz isso e o protagonista vai, em quatro turnos, para a guerra num total de quase mil dias. O relacionamento no campo de batalha é muito bom e ele é considerado um mito e um herói, pois era o Sniper que mais matou inimigos nos Estados Unidos. Liquidar tantas pessoas, mesmo que seja imperativo, não deixa uma pessoa sem graves sequelas e estas são muitas em Chris, comprometendo tremendamente seu relacionamento com os familiares e a paz.  Quando volta definitivamente, vai procurar um centro de reabilitação e passa a ajudar outros combatentes mutilados. Isso vai modificando para melhor sua existência. Todavia, quando sua mulher sente tê-lo completamente de volta, um veterano de guerra traumatizado pede sua ajuda e essa será a última vez que será visto, pois é assassinado por ele com apenas 38 anos. É um contrassenso pensar que outro combatente o atingisse mortalmente depois de tantos perigos e sacrifícios feitos em prol da América. O motivo não é esclarecido. É um filme difícil de assistir e assimilar, pois vai anestesiando aos poucos o espectador, mas é muito bem dirigido, com um incrível som e imagem. O desempenho dos dois principais protagonistas é excelente. O longa não faz julgamento de valores, Clint é até muito sóbrio em sua direção, contudo a violência de qualquer guerra está lá, a nossa espreita. Indicado a vários prêmios para o Oscar de 2015.


domingo, 15 de fevereiro de 2015

IDA DE PAWEL PAWLIKOWSKI





IDA, POLÔNIA, DINAMARCA, FRANÇA, INGLATERRA, 2013, 82 MIN. DRAMA
ELENCO:
AGATA TRZEBUCHOWSKA – IDA, ANNA
AGATA KULESZA – WANDA
Dirigido pelo polonês Pawel Pawlikowski este belíssimo filme foi indicado ao Oscar como melhor filme estrangeiro e a espetacular fotografia em preto e branco também foi indicada ao premio Oscar. As imagens possuem um tratamento especial em uma tela quase quadrada, com momentos de “concurso de fotografias”, onde o escuro quase sempre prevalece, mas o claro quando surge é com força total. A triste história, contada com sobriedade e contenção, é sobre uma noviça órfã, Anna, que, antes de fazer seus votos finais, é convidada pela madre superiora a visitar sua tia que surgira e queria revelar fatos sobre seu passado. Trata-se de Wanda, uma juíza e promotora da Polônia comunista de 1962. É uma mulher muito solitária e viciada em álcool, que logo que vê a jovem revela, sem meias palavras, que é uma freira judia. Seu nome verdadeiro é Ida Lebenstein e fora salva do massacre por ser menina e bebê. Depois disso resolvem ir atrás do passado de ambas, cujos parentes foram assassinados naquela época e não se sabe onde foram enterrados. Róza, a mãe de Anna, era muito doce e sua filha era sua imagem perfeita. Indo parar em uma aldeia, vão direto a casa onde moravam durante a Segunda Guerra Mundial. Hostilizadas pelos atuais proprietários que dizem não saber de nada, seguem atrás de outras pistas. Ida é exposta ao mundo exterior que nunca conhecera, mas se mostra curiosa em ver como essas pessoas vivem. A tia é boêmia, gosta de homens e música abrindo para a sobrinha um mundo bastante diverso do qual estava acostumada. Depois de várias lutas, conseguem localizar os restos mortais e os enterram no túmulo do cemitério israelita da família. Tudo muito instigante e sóbrio. Ida tem a oportunidade de conhecer um sensível músico de sua idade e uma atração parece surgir. Contudo as coisas não saem exatamente como gostaria Wanda, mas tendo se afeiçoado muito a garota, quer que seja feliz. O desenrolar do roteiro é comovente e muito bem finalizado. Ótima oportunidade para ver uma história com tom muito verdadeiro e infeliz, entretanto envolvida por belíssimas imagens e interpretações contidas e impecáveis.   

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

DOIS DIAS, UMA NOITE DE JEAN-PIERRE E LUC DARDENNE




DEUX JOURS, UNE NUIT, FRANÇA, BÉLGICA, ITÁLIA, 2014, 95 MIN. DRAMA
ELENCO:
MARION COTILLARD – SANDRA
FABRIZIO RONGIONE – MARIDO
Esse drama é um dos mais pungentes e atuais dos irmãos Dardenne, pelo enredo e pela interpretação magnífica de Marion Cotillard, vencedora do Oscar por Piaf e novamente candidata este ano. Toca em um tema muito comum na Europa de hoje, a falta de emprego e suas consequências nas vidas das pessoas. Sandra é uma jovem com dois filhos que, tendo passado por uma crise de depressão, fora afastada do emprego e agora retoma sua rotina em uma pequena fábrica no interior da Bélgica. Contudo ao voltar tem uma surpresa muito desagradável, pois, através de uma votação, fora mandada embora para que seus colegas pudessem receber um bônus de mil euros. A importância não é significativa, mas pode fazer alguma diferença em suas vidas para uma pequena reforma, etc. Uma das funcionárias que voltou para que ela ficasse consegue convencer seu chefe que faça uma segunda votação e Sandra possa conversar com seus colegas. Aí começa seu verdadeiro drama, pois já insegura com sua doença, terá de conversar e convencer seus colegas para não ir para o olho da rua, pois não poderiam pagar a casa em um bairro operário agradável e seriam obrigados a voltar a morar em um local social para desempregados. Seu marido consegue convencê-la a fazer isso durante o fim de semana, dando força e estímulo. Mas é ela quem terá de repetir sempre as mesmas palavras e enfrentar, ora a fúria, ora a pena de seus parceiros. Desgastada e sentindo-se ninguém, passa a tomar suas pílulas antidepressivas. Esse ritual todo é absolutamente massacrante, uma vez que Marion nunca se faz de coitada, não chora em frente de seus colegas, mas sua alma está estraçalhada. O número de pessoas que a compreende é sempre menor do que as que a rejeitam e por vezes são bem grosseiras com ela. Sua interpretação é de uma dor que nos faz sentir em seu lugar e ansiar por uma solução viável para sua vida. No terço final temos uma reviravolta muito bem estruturada que toma um rumo bastante interessante. Para todos os gêneros é um filme imperdível! A técnica de filmagem usada pelos irmãos é digital e filmar longos planos-sequência, o que o torna ainda melhor. Uma cena que eles recomendam é quando o casal, sentado em um banco abaixo de uma árvore tomando sorvete, você ouve o canto dos pássaros, mas não os vê, não tirando a atenção do diálogo.