terça-feira, 27 de janeiro de 2015

FOXCATCHER - UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO DE BENNET MILLER




FOXCATCHER, EUA, 2014, 134 MIN. DOCUDRAMA
ELENCO:
STEVE CARELL – JOHN DU PONT
MARK RUFFALO – DAVID SCHULTZ
CHANNING TATUM – MARK SCHULTZ
Falemos um pouco sobre o título, pois Foxcatcher era uma fazenda de cavalos de raça, pertencente à família multimilionária da Filadélfia, os Du Pont de origem francesa. Durante o reinado de Luís XVI, o patriarca da família ajudou o rei com conselhos e com pólvora para as contendas da época. Eles migraram para os Estados Unidos e todos foram homens de extrema inteligência e importância tanto na política como na indústria que diversificou, com o passar do tempo, e chegaram até o nylon, teflon e o tecido neopreme entre vários outros incríveis materiais de ponta. Burgueses típicos e riquíssimos, atualmente possuem apenas vinte por cento do aglomerado original. A fazenda não existe mais e tudo foi rodado em cenário, incluindo a maravilhosa mansão, o ginásio olímpico e os chalés. Dito isso só resta assistir e aproveitar esse filme incrível com 5 indicações para o Oscar. Bennet Miller foi diretor dos impressionantes Capote e O Homem que Mudou o Jogo, entre outros. O filme abre anunciando que é baseado numa história real. E é, porém adaptada para poder agrupar todos os fatos. John Du Pont é um personagem sombrio, mimado e apequenado por sua arrogância e problemas psicológicos. Sua mãe (Vanessa Redgrave) o castrara e mimara desde sempre. Adulto tem um enorme ego, acha que tem o direito de ser reverenciado por todos e se auto intitula, ornitólogo, escritor, mentor, formador de atletas olímpicos em luta romana, em suma uma espécie de Deus a ser reverenciado por todos.  Em 1984, o jovem Mark Schultz ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de Los Angeles e só tem um objetivo na vida, repetir a vitória em 1988, em Seul. Ele é de poucas palavras, inseguro e confia plenamente no amor fraternal de seu irmão mais velho e treinador, David, que também é medalhista. Muito pobres e órfãos tiveram uma infância sofrida e David sempre foi uma figura paterna poderosa para ele. Tinham personalidade opostas, pois David era casado, feliz e confiante em sua profissão. As primeiras imagens de treinamento de luta romana são sensacionais, pois mostram claramente o carinho enorme entre eles. Du Pont tem um ginásio espetacular, em sua fazenda, onde treina jovens talentos para essa luta e fica de olho nos dois irmãos, querendo atraí-los para seu time, a fim de ser considerado um mentor genial e aclamado com alguma medalha de ouro. David logo recusa, pois já tem um emprego seguro e uma casa que vive com a bela mulher e dois filhos encantadores. Todavia, aconselha Mark que vá atrás de seu sonho, pois já possuía todas as qualidades para isso. Du Pont fica fascinado pelo jovem em todos os sentidos, dando-lhe tanto dinheiro que o rapaz reluta em aceitar. Aos poucos vai afastando, deliberadamente, esse jovem inseguro de seu irmão através de censuras maldosas e precisas. Nosso jovem vai se enfraquecendo como ser humano e principalmente como atleta, até que recebe a visita de seu irmão, que acabara concordando em trabalhar para o Foxcatcher Team. A interpretação de Steve Carell como Du Pont é admirável, usando uma prótese no nariz que levava 3 horas para ser colocada. Mark e Channing também são impecáveis e transmitem uma forte sensação de amor fraternal. Perto das olimpíadas, o caçula está fora do peso, mais isolado do que nunca, viciado e muitíssimo infeliz com sua posição na fazenda, onde gostaria de nunca ter posto os pés. Não conseguindo o ouro, afasta-se e vai cuidar de sua vida. Entretanto, durante a final, John não está presente, uma vez que sua mãe havia falecido. Sua transformação após a morte da matriarca é espantosa, pois destrói várias coisas que tinham valores materiais e morais para ela. Passa a andar sempre armado e acaba por matar a tiros David, com todo requinte de violência, pois se encontrava cego de ciúmes por não possuir suas qualidades. Preso, seus advogados tentaram alegar insanidade, mas ele ficou em uma penitenciária até sua morte, aos 72 anos, de problemas pulmonares. Mark Schultz é treinador em uma universidade do Oregon. Curiosidades: a viúva de David auxiliou em várias cenas do filme, Mark detestou o diretor, mas concorda que até os maneirismos de John estão absolutamente fiéis. Um filme que certamente ganhará vários prêmios, indicado para diretor, ator, ator coadjuvante (Ruffalo), maquiagem, roteiro original. Vale a pena perder um tempinho no Google e pesquisar sobre esse homicídio, que não teve tanta repercussão aqui no Brasil. Ótimo!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

LIVRE DE JEAN-MARC VALLÉE




WILD, EUA, 2014, 115 MIN., DOCUDRAMA
ELENCO:
REESE WITHERSPOON – CHERYL STRAYED
LAURA DERN – MÃE
Este deveria ser um filme tenso e cheio de emoção, mas infelizmente isso não acontece. A famosa atriz Reese Witherspoon, apesar do empenho, não consegue que o filme seja o que poderia ser, pelo modo facilitado demais para resolver sérios problemas do diretor e roteirista. Conta a história verdadeira de uma garota de 26 anos, em 1995, que vindo de um lar disfuncional e tendo se tornado viciada em drogas e sexo, após a morte da mãe que adorava, resolve se redimir. Seu alvo era fazer uma caminhada audaciosa pela Pacific Crest Trail, na costa oeste, que vai do México até o Alasca. Seu percurso seria de 1800 quilômetros a pé e sozinha. Para contar esse drama o diretor solicitou como roteirista o famoso escritor Nick Hornby. Divorciada do marido de quem era grande amiga, compra uma mochila maior do que ela própria (ela só tem 1,50 metros), pesadíssima com vários utensílios indispensáveis, mas muita coisa pesada e sem valor para o que queria realizar. Dentre os importantes estão um fogareiro, um apito e material para filtrar água, uma vez que a travessia incluiria o belíssimo deserto de Mojave. Durante a caminhada surgem vários flashbacks de sua infância e o motivo do sacrifício e da separação do marido. É interessante ver que, durante o percurso, há placas nas árvores indicando o caminho, uma vez que é fácil se perder. Há também caixas postais e uma pousada simples. Na época, ela seria a única mulher a vencer seus medos, enfrentar vários incidentes que poderiam ser fatais e conseguir seu intento, graças às lembranças da vida sofrida de sua mãe, que morrera precocemente. Com tal roteiro e paisagens belíssimas é estranho pensar que o filme seja regular, mas para quem quer conhecer essa história redentora vale a pena ser visto.  Durante os créditos finais, há imagens da verdadeira aventureira.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

ACIMA DAS NUVES DE OLIVIER ASSAYAS




SILS MARIA, FRANÇA, SUÍÇA, ALEMANHA, 2014, DRAMA
ELENCO:
JULIETTE BINOCHE – MARIA ANDERS
KRISTEN STEWART – VALENTINE
CHLOË GRACE MORETZ – JO-AN ELLIS
O ótimo diretor Olivier Assayas de Horas de Verão e Depois de Maio dirige esse drama em três partes, onde Binoche faz o papel de uma artista consagrada. Na juventude filmara com um importante cineasta, assim Maria vai com a assistente participar de uma homenagem ao homem que alavancara sua carreira quando garota, ao representar uma jovenzinha que se apaixona por uma mulher bem mais velha. Ambas partem de trem para Zurique, mas durante a viagem ficam sabendo que ele se suicidara. Por isso mesmo resolvem seguir viagem e prestar-lhe homenagens, a ele e à família. Apesar de comovida com o ocorrido, é convidada a protagonizar Maloja Snake, só que desta vez como a atriz mais velha. Isso a incomoda, pois faz lembrar a passagem dos anos e de sua vida. Aí está o dilema do espectador, pois Binoche é muito segura e amadurecida para o papel de uma mulher de 40 anos com medo de envelhecer. No segundo ato, vemos os ensaios nas imponentes montanhas dos Alpes, que nos faz lembrar A Montanha Mágica de Thomas Mann. O relacionamento entre Maria e Valentine vai num crescendo que parece parte do ensaio, pois a cada momento elas se envolvem mais e mais. A jovem atriz, que fará o papel de Maria jovem, não desperta seu interesse, ao contrário, se sente confrontada pela juventude da garota e por uma frase impiedosa. É um filme longo e enigmático, necessitando de atenção do espectador.  O roteiro não deixa de ser interessante.

LEWVIATÃ DE ANDREY SVYAGINSTSEV




LEVIAFAN, RÚSSIA, 2014, 140 MIN., DRAMA ÉPICO.
ELENCO:
VLADIMIR VDOVITCHENKOV – DMITRI
ALEKSEY SEREBEYAKOV – KOLYA
ELENA LYADOVA – LILYA
Este excelente drama épico foi escolhido para representar a Rússia no Oscar, sendo vencedor do Globo de Ouro como melhor filme estrangeiro e recebeu a Palma de Ouro em Cannes. Comecemos pelo título – Leviatã. Significa no Velho Testamento um monstro marinho enorme e, literalmente, Serpente Tortuosa. Refere-se à brutalidade, ferocidade e impulsos selvagens dos seres humanos, mas na política, extorsão, corrupção, etc. É de se admirar que trinta e cinco por cento do orçamento do filme tenha sido financiado pelo governo.   A história refere-se a um homem, sua segunda mulher e seu filho adolescente. Kolya, o herói, é mecânico e “faz tudo” em uma aldeiazinha no norte da Rússia e vive numa propriedade herdada por gerações pela família. O filme começa com a visão de um mar escuro e turbulento, batendo constantemente nas montanhas rochosas e sem vida desse lugar. Trata-se de uma comunidade pobre de pescadores. Como no livro, Michael Kohlhaas de Heinrich von Kleist, Kolya tem um senso de dignidade, orgulho de sua propriedade que construiu com as próprias mãos e um agudo senso de justiça, em um país corrupto como a Rússia.  O manipulador e malandro prefeito quer confiscar sua herança pelo valor de 600.000 rublos, quando vale mais de 3.000.000 de rublos. É um acinte e, ademais, ele não quer sair de lá. Chama um antigo colega de colégio, agora um advogado bem sucedido em Moscou, para ajudá-lo durante o processo. Dmitri vem munido de um grosso dossiê contra o prefeito, que por sua vez segue ordens superiores.  Como aqui no Brasil o confisco de bens, quando desejado pelo poder, não há salvação. Farão de tudo para conseguir seu intento. A longa história mostra o relacionamento com seus amigos beberrões como ele e, em uma cena divertida, todos irão fazer tiro ao alvo nos retratos dos ex-presidentes da Rússia. Putin é salvo porque querem saber até onde irá, mas seu retrato está estampado na prefeitura da cidade. Apesar de seu calvário e da tentativa sobre-humana de denunciar o prefeito e conservar suas terras, não consegue, exatamente com o herói Michael Kohlhaas, que vivia durante a Idade Média na Alemanha e pretendia salvar seu patrimônio da realeza corrupta. Ambos acabam muito mal e perdem tudo, inclusive a família. O filme é tenso, mas apesar dos 140 minutos, a atenção e tensão são totais, principalmente em uma festa de aniversário que mudará para sempre a vida de Kolya. Longa maravilhoso que revela as relações políticas nas comunidades russas, seus hábitos e a má influência da igreja ortodoxa, aliada ao poder. Absolutamente imperdível. Como curiosidade o ótimo livro Michael Kohlhaas está resumido em http://livrocomocultura.blogspot.com.