domingo, 31 de dezembro de 2017

RODA GIGANTE DE WOODY ALLEN



WONDER WHEEL, ESTADOS UNIDOS, 2017, 101 MIN., DRAMA.
ELENCO:
KATE WINSLET – GINNY
JAMES BELUSHI – HUMPTY
JUSTIN TIMBERLAKE – MICKEY
JUNO TEMPLE – CAROLINA

Com a idade, os filmes de Woody Allen ficam mais parecidos com ele mesmo, particularmente este ótimo drama familiar. Nos anos 1950, Coney Island já era uma praia meio decadente e cafona e é nesse lugar adoravelmente americano que se passa o longa. Ginny (ótima Kate Winslet) é uma atriz decadente que é obrigada a trabalhar como garçonete, vivendo com o bonachão Humpty. Ambos se encontraram após o fracasso de seus casamentos; ela tem um filho pré-adolescente e ele uma linda filha casada de 25 anos. Se a união dos dois vai mal ainda se agrava mais com a presença dos filhos. O garoto é incendiário por problemas psicológicos e a jovem, que é casada com um mafioso, está fugindo dele que prometera matá-la. O começo já é um tiro no pé. Mas tem mais, pois Ginny está profundamente apaixonada pelo salva-vidas da praia, Mickey, vários anos mais jovem e estudante de literatura. Tudo segue com relativa normalidade, “relativa”, pois Ginny negligencia muito o filho e o marido, que é encarregado do carrossel da praia. Imagine uma praia de areia amarelada, mar feio e um grande parque de diversões dentro dela, com uma gigantesca e onipresente roda gigante feita no século passado. Quando a bela Carolina refugia-se na casa do pai, ele leva um choque, todavia amolece porque adorava a filha. A temperatura da disputa dentro de casa vai aumentando cada vez mais. Um dia Ginny, que pretendia casar-se com Mickey, é obrigada a apresentá-lo para a enteada. Faíscas rolam entre o jovem casal. A protagonista tem um gênio explosivo e não consegue conter suas crises de ciúmes quando descobre que os dois haviam se encontrado casualmente, contado pela própria Carolina. Jamais imaginara que a madrasta estivesse envolvida com ele e, gostando dela, vai contando os primeiros passos desse relacionamento amoroso. Já vemos bastante identificação com a vida real do diretor. Com tantos conflitos afetivos sendo postos em cheque, o filme vai transcorrendo em uma atmosfera de suspense psicológico bastante interessante. Com cenas primorosas e desempenhos iguais, temos uma visão da sociedade americana de então e um belo roteiro que conduz a uma tragicomédia.



segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

SUBURBICON: BEM VINDOS AO PARAÍSO DE GEORGE CLOONEY



SUBURBICON, ESTADOS UNIDOS, 2017, 104 MIN. THRILLER
ROTEIRO – IRMÃOS COEN, GRANT HESLOV, GEORGE CLOONEY, BASEADO
EM UMA HISTÓRIA REAL.
ELENCO:
MATT DAMON – GARDNER  LODGE (PAI DE NICKY)
JULIAN MOORE – ROSE, MARGARET
NOAH JUPE – NICKY LODGE (FILHO DE GARDNER)

Esse thriller satírico dirigido por George Clooney, roteirizado por ele, junto com os Irmãos Coen e Grant Heslov, é um bom passatempo. George Clooney não nega fogo para a atual política norte-americana de Donald Trump e o problema de racismo ainda tão vigente nos dias de hoje. Passado nos anos 50, Suburbicon é um típico bairro dos subúrbios americanos, com casas padronizadas, um belo gramado na frente, uma varanda espaçosa. A cidade é muito pequena, entretanto com todos os confortos necessários. Começa como um conto de fadas em que você vai folheando as páginas. Nesse paraíso só moravam brancos e todos com o mesmo estilo de vida e opiniões muito similares sobre ela. Um dia, uma elegante família afrodescendente muda para a casa ao lado dos Lodges. As irmãs gêmeas, Rose e Margaret, uma delas casada com Gardner Lodge, estão na varanda e a tia instiga seu sobrinho a ir brincar com o garoto, Andy, recém-chegado. Rose, mãe de Nicky, está numa cadeira de rodas, vitimada por um acidente de carro ocasionado por seu marido. Todos na cidade só falam dos Mayers e querem tirá-los de lá a qualquer custo, organizando uma reunião turbulenta sobre o assunto. Iriam usar a força. Enquanto isso os Lodges jantam em casa, quando são surpreendidos por dois ladrões. São da máfia local, amarrando todos em suas cadeiras e depois usando clorofórmio para sedá-los. No dia seguinte acordam em um hospital, mas infelizmente Rose falece pelo excesso de sedação. O enterro é pequeno, comparecendo só a família e tio Mitch, que adora o garoto. Gardner é um homem de poucas palavras e muito fechado, se aborrecendo com as condolências dos habitantes do local. Logo imaginamos o quanto amava a mulher e não poderia nem pensar em sua morte. Aos poucos a história vai tomando forma e vemos uma tia Margaret se transformando na irmã Rose, até na cor dos cabelos e na posse do marido. Um corretor de seguros bate à porta da casa, pois já haviam pago muito dinheiro pelo acidente de carro e agora outra soma grandiosa. O roubo fora encomendado por Gardner e quando os policiais os chamam para identificarem alguns assaltantes, eles não os reconhecem, mas Nicky, que havia entrado escondido, sim. A partir desse momento o desentendimento entre a família, os ladrões e o corretor de seguro sai fora de controle, assim como o tumulto na casa dos Mayers, que não podiam dormir, pois os moradores tocam música dia e noite até que começam a depredar a construção e o carro, sendo necessária a intervenção policial. O final é muito interessante, florescendo alguma coisa nesse distúrbio infernal. O desempenho dos atores principais é impecável. Bom entretenimento. Recomendo.



domingo, 17 de dezembro de 2017

LUCKY DE JOHN CARROLL LYNCH



LUCKY DE JOHN CARROLL LYNCH
ESTADOS UNIDOS, 2017, 88 MIN., DRAMA.


ELENCO:
HARRY DEAN STANTON – LUCKY
DAVID LYNCH - HOWARD
RON LIVINGSTON – BOBBY

Este é o primeiro longa dirigido por John Carrol Lynch, onde ele faz uma homenagem aos filmes de farwest, mas de uma grandeza diferente do estereótipo.  Na imensidão do deserto vive o “velho” Lucky, um caipira inteligente e distinto, que fuma desde a hora que levanta até a hora de dormir e já viveu muito mais do que seus contemporâneos. A abertura do filme já é um premio e o conteúdo o melhor para fechar o ano de 2017 com chave de ouro. A pequena cidade  tem pouquíssimos habitantes e todos se conhecem . Lá sempre foi o lar de Lucky. Local belíssimo, cactos centenários e belas montanhas. Com um rigor de vida impressionante, levanta, se lava e começa sua sessão de alguns exercícios de yoga, demandando força e exatidão. Morando sozinho e sem família, sai de casa e vai tomar seu café sempre no mesmo bar, cumprimentando seu amigo, o dono, com “eu não sou ninguém”. Na cidadezinha é respeitado e tem amigos sinceros. Um dia, ao levantar, sente uma tontura e desmaia indo parar no médico, também amigo. Esse homem magérrimo nunca ficara doente e após os exames é liberado. Todavia esse acontecimento faz com que fique imaginando a morte e o que teria sido sua vida. Digna, sem dúvida. Pouco sabemos dele, mas com o correr do enredo, baseado em um best-seller, vamos tomando conhecimento de quem havia sido. Um veterano da Segunda Guerra Mundial, ateu, homem culto dentro dos limites de sua vida e que agora sai em busca de um sentido para as coisas terrenas. Tudo para ele tem um significado neste momento e pouco a pouco vai tomando conta de seu passado, dos amigos atuais e do que poderia encontrar no breve futuro, medo de morrer, certamente. Mas outras coisas vão substituindo essa sensação e no final vemos um brilho em seu olhar que beira à sabedoria máxima que um ser humano pode alcançar durante a vida. O mais interessante é que esse esplêndido ator morre logo depois de concluir o filme que fala da vida e sua extinção. Deve ter sido redentor para ele representar seu último papel com um enredo tão verdadeiro. Absolutamente imperdível pela música, fotografia, desempenho e direção. Talvez o melhor entre os melhores!  O filme ganhou e foi nominado para diversos prêmios.



sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

HUMAN FLOW: NÃO EXISTE LAR SE NÃO HÁ PARA ONDE IR DE AI WEIWEI





HUMAN FLOW, ALEMANHA, 2017, 140 MIN., DOCUMENTÁRIO.



É noite. O céu e o mar se misturam em uma cena belíssima, milhares de estrelas são refletidas no oceano. Devagar a imagem vai fechando e vislumbramos o que parece ser uma casquinha de noz no meio do cenário paradisíaco. Aos poucos o dia amanhece e o objeto é um barquinho lotado de pessoas que atravessam o oceano em busca de um lar, mas a verdade é que “não há para onde ir”. Através de cenas impressionantes o artista plástico e cineasta chinês Ai Weiwei acompanha a crise de refugiados, em 23 países, obrigados pelas mais diferentes causas como guerra, violência, fome, discriminação religiosa e política a deixarem seus países, amigos e parentes. Uma verdadeira multidão sem destino e futuro, que em busca de um novo refúgio, encontram decepção e muitas vezes violência e morte. Isso já acontece durante a travessia; milhares morrem de fome, doença e afogamento. Talvez seja uma das piores crises da humanidade. Essas pessoas deixam seus lares onde há guerra e destruição. Enquanto esperam, ficam em campos de refugiados no meio do deserto ou em lugares insalubres e hostis. Majoritariamente são do continente africano e asiático.  A Europa seria o oásis que iria recebê-los, mas a verdade é oposta. Poucos países, como a Itália, resgata essa multidão, mas depois da enorme travessia oceânica, enfrentam marchas a pé e muita dificuldade para se vir perdidos por falta de acolhida. A Alemanha recebe alguns, a França outros poucos com muita relutância e outros países com o Reino Unido nem sequer pensam em acolhê-los.  São cenas fortes que o diretor chinês nos mostra, acompanhando sempre essa massa humana que se desloca pelo mundo de tempos em tempos, como tem ocorrido desde o início das eras. Ele procura lançar um pouco de compaixão e fraternidade para quem vê o filme, na esperança de melhorarmos como seres humanos. Difícil tarefa, quase impossível.  O filme é imperdível!!!