terça-feira, 25 de setembro de 2012

TUDO QUE DESEJAMOS DE PHILIPPE LIORET

TOUTES NOS ENVIES,DRAMA, FRANÇA, 2011, 120MIN. ELENCO: MARIE GILLAIN – CLAIRE CÉLINE – AMANDIE DEWASMES STÉPHANE – VICENTE LINDON Philippe Lioret, nesse drama pesado que poderia ter se tornado em melodrama, nos faz refletir sobre a imprevisibilidade da vida, quer em termos de longevidade sobre a qual não temos nenhum poder, quer sobre as coisas que estão ao nosso alcance, como a mudança de leis que possam prejudicar os despossuídos. É uma mistura de história de tribunal e relacionamentos humanos. Em Lyon,Céline é mãe de dois pequenos e está sendo julgada por não poder pagar os juros de uma financiadora especializada em empréstimos para pessoas sem condições financeiras favoráveis. A juíza (ótima Marie Gillain), que decidirá o caso, é uma jovem prestes a completar 32 anos, também mãe de duas crianças, que dá um parecer favorável à ré. Essa atitude provoca a irritação dos advogados dessas financiadoras, que a denunciam, e ela poderá ser suspensa. Isso se passa em setembro. O marido de Claire está desempregado, fazendo os serviços da casa e cuidando dos filhos, como ocorre atualmente em muitas famílias. É uma situação temporária que não os aborrece. Para defender-se e saber como agir, Céline pede ajuda a um juiz experiente e desiludido,
Stéphane, que entra para valer nesse caso. Stéphane tem a cancha de anos de tribunal e conhece as leis muito bem, mas Claire tem a perspicácia para enxergar os meandros dessas leis. Contudo, essa mulher descobre ter um tumor inoperável no cérebro e decide não fazer qualquer tratamento, pois sua vida não seria prolongada e ficaria desfigurada diante da família. Ela não quer causar compaixão, mas viver dignamente até sua morte. Nessa terrível batalha muda, pois até certo ponto ninguém saberá de seu problema, conta com a ajuda de seu colega de profissão, principalmente na urgência em modificar as irregularidades encontradas nas leis, que favorecem os mais fortes. Esse é o último desejo de Claire e o filme já está no mês de janeiro. Como na linha de Intocáveis, possíveis demonstrações de piedade são afastadas do enredo, deixando que os atores se joguem a fundo em suas interpretações. O cinema francês realmente está em ótima fase com vários filmes em cartaz.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TROPICÁLIA DE MARCELO MACHADO

BRASIL, 2012, 72 MIN. DOCUMENTÁRIO
Vivas à Tropicália! Esse filme fecha com chave de ouro a tríade recomendada nesse blog – Tempos de Gangorra, livro, e Cara ou Coroa, filme, todos da época da ditadura militar. Para os adolescentes entenderem, Tropicália foi um movimento artístico e revolucionário iniciado nos anos de 1967, indo até o fim de 1968. Esse estilo de música rompia com tudo que era mais antigo e tradicional, inovando na melodia e nas letras, quando seus jovens formadores, Caetano Veloso e Gilberto Gil, foram exilados do Brasil, indo para Portugal, França e Inglaterra. O documentário é ótimo e resume músicas de gênios como esses dois musicistas esplêndidos e mais Tom Zé e os Mutantes. Cenas do Cinema Novo, que se iniciava no Brasil, com Glauber Rocha (Câncer) e Hirszman são peças importantes desse trabalho de filigrana. A censura, à época de Costa e Silva, era muito rigorosa, mas isso só avivava ainda mais a genialidade das letras musicais desses colossos. Para a geração dessa época, é tocante relembrar o esmero e inteligência com que eram feitas. Nunca mais o Brasil teria uma época tão frutífera em termos musicais. Matamos as saudades de Elis Regina, Nara Leão, Gal Costa, Maria Betânia, a impecável Rita Lee Jones dos Mutantes, Arnaldo Batista e dezenas de outros cantores que tinham voz e postura potentes e desafiadoras. Os festivais da Record foram fundamentais para que pudéssemos avaliar o trabalho de cada um deles. Tudo mostrado em fitas de época, incluindo o período de exílio de Caetano e Gil na Europa. Eram apresentados como artistas banidos de seu país, por criticarem o sistema político existente no período e assim eram aclamados por todos. Perguntados, em Portugal, se a Tropicália havia desaparecido, respondem que sim, eram dos Trópicos e agora, com eles na Europa, não havia mais o movimento, que sem dúvida deixou uma herança espetacular para os brasileiros. Cenas raras da morada deles em Londres são exibidas por Marcelo Machado. Pontualmente, como uma costura, aparecem declarações atuais de Tom Zé, Flávio Gikovate, Caetano e Gil, entre outros. Um programa muito interessante que não pode deixar de ser visto, principalmente pelos jovens.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

CARA OU COROA DE UGO GIORGETTI

BRASIL, 2012, DRAMA, 110 MIN. ELENCO: EMÍLIO DE MELLO – JOÃO PEDRO JULIA IANINA - ESTUDANTE GERALDO RODRIGUES – GETÚLIO WALMOR CHAGAS – GENERAL OTÁVIO AUGUSTO - TAXISTA Este é um excelente drama de época, que enfoca a cidade de São Paulo, no inverno de 1971, em plena ditadura militar, nos anos de chumbo. Grande cronista da cidade de São Paulo, Ugo
Giorgetti, que dirige e assina o roteiro, nos oferece um trabalho de primeira, expondo os problemas das pessoas daquela época. O teatro e a música tiveram um papel preponderando para o processo de abertura de nosso país, apesar da fortíssima censura daquele tempo e é nisso que o filme se baseia. Nas primeiras cenas temos fotografias, em branco e preto, de um apuro e sensibilidade sem igual e a narração de José Betti, fazendo também o final. Um diretor de teatro (Emílio de Mello) representa bem as personagens da época. É esquerdista, está montando a peça O Interrogatório, patrocinado pelo partido comunista. Seu irmão (Geraldo Rodrigues) é um jovem universitário da USP, que desistiu da filosofia e do jornalismo para se focar no teatro e escrever textos. Durante os ensaios da peça os atores estão em alerta, como todas as outras pessoas, o tempo todo. Nesse tempo não se podia falar alto e expressar nossas emoções, livremente, sob o risco de sermos mal interpretados, presos e torturados. Era bem o caso deles. Um militante do partido comunista entra inesperadamente durante o ensaio, não gosta do que vê, pessoas com aspirações e voltadas para si mesmas, e, além disso, tem um servicinho bem complicado para João Pedro. Esconder dois comunistas perseguidos em um lugar bem seguro. João Jorge está se separando da mulher, encrencado com dívidas, tentando saldá-las através de jogos em cavalos e loterias. Getúlio vive com o tio taxista, o ótimo ator Otávio Augusto, pois era órfão e não tinha como se sustentar. Sua jovem namorada, Julia Ianina, também estudante da USP, comunga com os mesmos ideais libertários, mas mora com o avô, um idoso general aposentado há anos, papel do ótimo Walmor Chagas. Apesar da decisão tomada, ela e o namorado não querem magoar o avô de modo algum, mas vêm-se obrigados a dar abrigo aos dois comunistas por uns dias em um quarto escuro dessa casa. Se algo der errado estarão comprometidos contra o regime e presos. Essas cenas são de total ansiedade e excitação para a plateia. Assim era viver naqueles anos, perigosamente. Há vários personagens emblemáticos mostrados no filme, como os hinduístas, que só queriam meditar e encontrar paz interior, os hippies da época, os moderados e os que comungavam com o regime militar, como o tio desses rapazes, que ao ver Maluf no noticiário, diz ser um personagem que admira! Humor com sutileza é a temática de Ugo nesse trabalho. O filme é ótimo e para os jovens que não passaram por isso, indico, para fazer um estudo mais fechado, ler o livro Tempo de Gangorra de Said Farhat, que explica em detalhes o que acontecia nos bastidores da política e era censurado por qualquer tipo de mídia. “Passado tanto tempo da revolução... todo mundo carregava um pouco do bem ou do mal dentro de si”, afirmou Giorgetti em uma entrevista recente. Ótimo entretenimento!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

OS MERCENÁRIOS 2 DE SIMON WEST

THE EXPENDABLES 2, EUA,2012,103 MIN. COMÉDIA DE AÇÃO ELENCO: SYLVESTER STALLONE – Barney Ross BRUCE WILLIS ARNOLD SCHWARZENEGGER JASON STATHAM JET LEE JEAN-CLAUDE VAN DAMME TERRY CREWS CHUCK NORRIS Com esse elenco da pesada e também antigo, anos 70 e 80, Simon West mostra que essa equipe de “velhinhos”, alguns irreconhecíveis pelo número de plásticas, ainda dão um ótimo caldo. Stallone, que já ganhou a indicação de melhor ator e roteiro, em 1977, com Rocky, um Lutador, lidera, nesse filme de pura pancadaria e gozações, uma equipe de mercenários formados pelo portentoso elenco, que tem a missão de resgatar um milionário chinês, sequestrado no Nepal. Pelas primeiras cenas podemos avaliar o que vem a seguir. Depois disso, Barney Ross segue para a Albânia a fim de pegar uma caixa que se encontra dentro de um cofre, que explodirá ao ser aberto. Tudo isso no meio de uma densa floresta. Obrigado a levar junto uma jovem experiente tecnóloga e lutadora japonesinha, o bando está formado com um pouco mais de charme. Nessa tentativa, um parceiro é morto pelo vilão, Jean Claude Van Dame, que quer se apossar da mesma coisa que eles e ficar multimilionário, com a venda de uma quantidade enorme de plutônio enriquecido. O que importa mais nessa produção são a forma caricata dos atores, imagens espetaculares de lutas, explosões e finalizações impossíveis, só mesmo vistas nos gibis, aliás, o filme todo parece-se com uma história em quadrinhos. O elenco tem o jeito de se divertir muito durante a atuação, cada um lembrando sua melhor fase em antigos filmes de ação. As piadas são boas e os semblantes dos atores hilários. Só vale a pena assisti-lo pela diversão e recordação de bons momentos vividos pelos heróis no passado.

sábado, 1 de setembro de 2012

360 ° DE FERNANDO MEIRELLES




360° REINO UNIDO/2011,110 MIN.

ELENCO:

RACHEL WEISZ –

JUDE LAW – EXECUTIVO

ANTHONY HOPKINS - JOHN

MARIA FLOR – LAURA

JULIANO CAZARRÉ - FOTÓGRAFO

Fernando Meirelles dirige outra produção internacional. Roteirizada pelo experiente inglês, Peter Morgan de A Rainha, teremos várias tramas que se passam através do globo em lugares como Áustria, Eslováquia, França, Inglaterra, Estados Unidos. São histórias isoladas, sempre envolvendo sexo, traição, perdas, estupro e várias outras fragilidades humanas. Na primeira cena vemos uma moça do leste europeu tirando fotos, seminua, a fim de se tornar garota de programa e poder, no futuro, ter um negócio próprio e também ajudar a irmã. Seu primeiro programa com um alto executivo inglês (Jude Law) é frustrado, mas ela segue uma carreira ganhando muito dinheiro. O parceiro de Jude Law é outro executivo, mulçumano, que fica com a garota e não consegue ter mais paz em sua consciência. Outra trama é da brasileira (linda Maria Flor) que mora com o namorado fotógrafo (Juliano Cassaré), mas decide voltar para o Brasil, pois ele tem um caso com quem? Com a mulher do executivo inglês, que não consegue terminar seu relacionamento com o jovem fotógrafo brasileiro de 25 anos. São essas coincidências malucas que formam os pares desta peça. Anthony Hopkins é um senhor que conhece Laura durante um voo para Denver, quando são obrigados a ficar horas nessa cidade por causa de uma nevasca. Ele está há anos a procura de sua filha desaparecida e resolve “proteger” Maria Flor durante o trajeto. Ela, porém se envolve com um rapaz recém-saído da prisão especial para criminosos sexuais (Ben Foster), que está indo para sua cidade a fim de reabilitar-se socialmente. É a parte mais interessante de todas. Os mafiosos russos que agenciam as garotas de programa são representados de maneira típica e com fim já esperado. Muitas pessoas participam da trama, com alguma propriedade. Meirelles usa de um bom artifício para não ficarmos perdidos – divide cenas na tela, simultaneamente, em duas ou três partes, para que saibamos as sequências corretas. A título de curiosidade, o inglês falado por nossos artistas brasileiros e suas representações são bastante convincentes. Ótima fotografia e uma direção segura para um enredo tão elástico e meio previsível. Em contrapartida a esse filme que fala de sexo com pessoas cheias de hormônios e jovens, temos outro, Um Divã para Dois, com a excelente Merryl Streep, no papel de uma senhora que ainda sonha em ser feliz na cama com seu marido.



minhas imagens

A REBELIÃO DE MATHIEU KASSOVITZ

L'ORDRE ET LA MORALE, FRANÇA, 2011,136 MIN. DOCUDRAMA
ELENCO:
MATHIEU KASSOVITZ - CORONEL PHILIPPE LEGORJUS
SYLVIE TESTUD
JEAN-PHILIPPE PUYMARTIN

Realizado, escrito e interpretado por Mathieu Kassovitz, baseado no livro Moral e Ação (1990) de Philippe Legorjus, capitão do GIGN, nos idos de 1988, quando o exército francês envia um contingente para a minúscula ilha na África. Na tomada de Ouvéa, a colônia francesa de Nova Caledônia, 30 policiais são feitos reféns de um grupo que deseja a independência do país. Ela é tomada de assalto pelos militares franceses, quando 4 gendarmes são assassinados durante o confronto com os ilhéus, favoráveis a libertação, os independentistas Kanak. Isso ocorre durante o fim da eleição presidencial francesa do mesmo ano. Philippe é um negociador de grande responsabilidade, pois cabe a ele preservar a paz e a vida, tanto dos habitantes naturais como dos franceses, sob seu comando. Apesar de todas as dificuldades as negociações dificílimas vão encontrando um norte, devido a sinceridade e competência desse jovem coronel. O grupo rebelde, mas não terrorista, encontra-se em um caverna, cercada de densa mata, e de lá partem as negociações, tanto com os anciões como com os generais e políticos. A única coisa que possuiam era o metal níquel, que países imperialistas como França, Inglaterra e Alemanha tanto queriam. Não só as riquezas de lá, como de outros países africanos, asiáticos e orientais. Os nativos queriam somente a paz e voltar ao que eram antes - uma comunidade pacata - que não se preocupava com dinheiro. Todavia a ambição francesa esquerdista da época só se concentrava no  poder, nas eleições e sequer se importavam com a vida, a flora e fauna daquele paraíso. Tornando-se amigos e com comprometimento sério, Philippe e o chefe dos rebeldes chegam a um acordo que será frustrado pela reação política sobre o exército, que por sua vez forçará o capitão a tomar atitudes totalmente contrárias a seus princípios. Como soldado é obrigado a ser patriota e a seguir as ordens superiores, sem discuções. Os habitantes e vários soldados são massagrados, sob fogo pesado. Até hoje eles esperam pela libertação e em 2014 haverá um plebiscito para resolver o caso da independência, ainda em aberto. Hoje esses países reclamam da leva de imigrantes que são obrigados a receber, esquecendo-se da devastaçõ financeira, cultural e moral que impuseram sobre esses povos. O trabalho de Kassovitz é impecável, a direção e fotografia também, assim como a atução dos artistas que figuram como ilhéus. Programa pesado, mas IMPERDÍVEL.