terça-feira, 19 de setembro de 2017

FEITO NA AMÉRICA DE DOUGH LIMAN




AMERICAN MADE, ESTADOS UNIDOS, 2016, 115 MIN., CRIME BIOGRÁFICO.
ESCRITO POR GARY SPINELLI
ELENCO:
TOM CRUISE – BARRY SEAL
SARAH WRIGHT – LUCY SEAL
DOMHNALL GLEESON – MONTY SCHAFER

Este eletrizante filme de crime biográfico estrelado por Tom Cruise na pele de Barry Seal, agente duplo americano, conta a história de corrupção e contrabando ocorrida, para variar, na linha de baixo do Equador (Panamá e Colômbia), entre 1978 e 1986. Muito  bem dirigido e roteirizado, descreve a vida de um piloto comercial da TWA, Barry Seal, que durante seus voos, contrabandeava drogas e armas. Ocasionalmente é contratado pelo Cartel de Medellín. Levaria cocaína para Louisiana, onde residia em uma pequena cidade, com a mulher (Sarah Wright) e três filhos pequenos. Monty Schafer da CIA vai ao encalço de Seal, que se deixa recrutar como agente duplo, já que conhecia os traficantes e o general Noriega do Panamá, em troca de sua liberdade. Seus voos rasantes tiram excelentes fotos dos Contras, entregues ao governo americano. Aconselhado por Monty, muda-se para a remota Mena, Arkansas, onde adquirem um belíssimo bangalô e Lucy é coberta de joias. O dinheiro simplesmente jorra com essa nova fase de sua vida. É tanto que os buracos do jardim de sua casa não são suficientes e um novo cofre de um banco é construído só para ele. A certa altura leva armas para os Contras, a pedido do seu governo, mas logo  transporta esses homens para os USA, a fim de receberem treinamento militar. O programa, todavia, não sai a contento sendo extinto pela CIA. Seal se vê, depois de anos negociando sozinho com a CIA, DEA e a própria Casa Branca 
abandonado à própria sorte. Sua prisão pelo FBI é convertida em serviços sociais diários  para o Exército da Salvação, mas a cada dia tem de mudar de lugar, pois tornara-se  um alvo fácil. Depois de vários meses é confrontado pelo Cartel de Medellín. A CIA consegue reaver seus registros do porta-malas do carro e os destrói, imediatamente, para não ser acusada desses pesados ilícitos. Grande filme de ação, principalmente pelo carisma e forma física de Tom Cruise, que está irresistível e um roteiro cheio de reviravoltas. Imperdível para quem gosta de filmes de ação e sobretudo verdadeiros.


sábado, 9 de setembro de 2017

O JANTAR DE OREN MOVERMAN (DIRETOR E ROTEIRISTA)




THE DINNER, ESTADOS UNIDOS, 2017, 120 MIN., DRAMA, MISTÉRIO
ELENCO:
RICHARD GERE – STAN LOHMAN
STEVE COOGAN – PAUL LOHMAN
LAURA LINNEY – CLAIRE
REBECCA HALL – KATELYN
Spoilers

Nesse espetacular filme do premiado diretor israelense, Oren Moverman, temos vários temas atuais reunidos. Família, poder, cabeças coroadas que cometem crimes e são perdoadas, racismo e todos os ranços possíveis e imagináveis. Começa com adolescentes fumando, bebendo, se drogando e se amassando. Depois temos um professor que pensa sobre o que gosta. Só gosta do antigo, Roma, Grécia, as guerras da época, Coliseu e a civilização de então. Depois do Iluminismo, para ele, o mundo acabou.  Tenta interessar os alunos, mas na era da informática a competição é desleal. Ninguém liga para ele. Outra cena e sua mulher tenta convencê-lo a comparecer ao Jantar do título em um lugar elegante e luxuoso. Seu irmão mais velho, Stan Lohman, deputado e candidato a governador, necessita falar urgentemente sobre um assunto familiar com eles. O filme é dividido como um cardápio de restaurante, em partes: aperitivo, entrada, prato principal, queijos, sobremesa e digestivo. Tudo muito bem explicado pelo metre que se esmera ao máximo para fazê-lo. À contragosto Paul decide acompanhar a mulher. É um professor de escola pública, que não liga para dinheiro e posição social, temperamental e pai de um adolescente. Parece ser lúcido e humano. Do outro lado o irmão mais velho, o tal do rico deputado. Ele está empenhado em aprovar uma lei de Paridade, isto é, quem tiver alguém com um problema mental na família, terá os mesmos direitos de pessoas com doenças físicas. Atrás dele está seu staff completo esperando na rua dentro de uma vã. Aparentemente seu irmão quer algum favor e é um homem que só sonha em se dar bem na vida e na política. À medida que as etapas do Jantar vão sendo servidas, vamos conhecendo melhor esses personagens e a vida de seus filhos adolescentes, os mesmos do início da história. E essa história não é nada engraçada, mas uma tremenda tragédia.  Nada é o que parece, inclusive os personagens principais, os pais. E os filhos um drama à parte. O assunto do Jantar são genes de insanidade mental, que correm pela família há tempos e que precisam ser resolvidos. Os pais dos heróis eram lunáticos, assim como o é Paul e os filhos de ambos. Esses jovens, em uma brincadeira, resolvem assassinar uma sem-teto por pura implicância, porque estava interrompendo o caminho deles. Como ela não acorda e está bêbada, jogam lixo em cima dela e depois ateiam fogo. Ela é morta e a manchete sai nos jornais. Coisa que bem conhecemos por aqui também. San acha que os filhos devem ser punidos pelo que fizeram, tratados, acompanhados de perto por eles e depois reintroduzidos à sociedade. Sem isso não haveria justiça e o fim da tara familiar. Paul e sua mulher, assim como a atual esposa de San são totalmente contrários a isso. Com sua influência eles escapariam da prisão e viveriam uma vida feliz. San é duro na queda e não cede, mas na hora do digestivo, no final do filme, quando quase já não suportamos mais aturar tanta insanidade, Kate consegue convencer o marido a não retirar imediatamente sua candidatura e esperar por três dias. Nas cenas finais há um grande desentendimento entre todos e o pior quase vem a ocorrer. O desfecho é aberto, o que dá chance para cada um formular o que acha mais justo. Eu pessoalmente sou a favor da prisão e reeducação dos garotos incontroláveis. Ah! Sua lei é aceita pelo congresso. Imperdível, Richard Gere dá um show de interpretação! Baseado em uma novela homônima holandesa.



terça-feira, 5 de setembro de 2017

COMO NOSSOS PAIS DE LAÍS BODANZKY




BRASIL, 2017, 102 MIN., DRAMA.
ELENCO:
MARIA RIBEIRO – ROSA
PAULO VILHENA – DADO
CLARISSE ABUJAMRA – CLARICE
JORGE MAUTNER – HOMERO


Esse drama familiar é uma luz no cinema brasileiro, não só por ter ganhado seis Kikitos, mas por ter sido escolhido como melhor filme e melhor atriz. Como sempre Laís Bodanzky escolhe temas atuais e reais. Desta vez o feminismo e a pressão sobre a mulher moderna serão discutidos de forma simples e realista. Além disso, há outros problemas que são demais para um só roteiro, mas se resolvem com suavidade. A ótima Maria Ribeiro é Rosa, uma mulher de 38 anos, casada, com duas filhas pré-adolescentes. Seu marido, Dado (Paulo Vilhena, muito convincente) é antropólogo e não se preocupa muito com a família, pesquisando tribos ianomâmis. Como quase todo homem, sai de casa para trabalhar e viajar quando e como lhe convém, sem dar atenção devida às filhas e à mulher.  Rosa trabalha na produção de folders para utensílios sanitários, pois no fim do mês chegam as contas e Dado não ganha o suficiente para isso. Ela se encontra em um momento delicado, pois gostaria de ser dramaturga, contudo não há condições, uma vez que todo seu tempo é consumido com as filhas e a casa. Está na idade de ter uma real satisfação profissional e tem talento. O filme começa com um almoço de família em casa de sua mãe, Clarice, que é divorciada há anos. Seu pai é um “artista” que tem outra filha de um novo casamento e não ganha nem para pagar os estudos da garota. Voltemos ao almoço. É bastante conflituoso, com Rosa, Dado, as meninas, seu irmão e cunhada. Trata-se de uma homenagem ao genro, contudo esse motivo não é bem recebido por ninguém. Clarice fuma demais, é dura demais e está doente demais. O relacionamento com a filha é péssimo e ela solta uma verdadeira bomba durante o almoço. Na frente de todos  afirma que Rosa não é filha de Homero, mas fruto de um caso que teve em Cuba com algum intelectual, que combinava com ela. A revelação devasta Rosa, pois ama seu pai adotivo e quer saber mais sobre o biológico. Aí vem a parte mais fraca da trama, pois consegue falar com ele sem grande dificuldade, sendo que é Ministro da Casa Civil de Brasília e a doença da mãe não apresenta sintomas sérios. Sua vida sexual está em um marasmo muito grande, pois não admirando o marido não consegue fazer sexo com ele. Problema de muitas mulheres. Clarice sugere que ela transgrida algumas vezes, que se sentirá mais feliz e livre. De fato isso ocorre, mas não resolve seus problemas. Ao contrário, pois desconfiando da fidelidade de Dado, resolve largar o emprego, deixar as contas de lado e seguir seu sonho de escrever peças de teatro. Os momentos tensos são cheios de verdades e bem interpretados por Maria Ribeiro. O título do filme refere-se à música cantada por de Elis Regina, em 1976. Muito bom! Precisamos de mais filmes que abordem a história da classe média e que sejam inteligentes.