segunda-feira, 30 de novembro de 2009

TOKYO DE MICHEL GONDRY, LEOS CARAX E BONG JOON-HO








TOKYO é um filme surrealista, composto por três histórias dos diretores acima, que expressam seus sentimentos de como seria viver nesta cidade grande, rica, impessoal, caótica e super habitada, ou seja, qualquer megalópole atual.
A Primeira História é muito interessante e fala de como você pode transformar-se, atualmente, em um simples objeto se não tiver alguma aptidão bem definida e idéias geniais. Se você for simplesmente normal! Um jovem casal procura melhorar sua vida vivendo em Tóquio. Sem dinheiro passam uns dias na casa de uma garota amiga, que mora em um cubículo. Não obtendo sucesso em suas buscas de moradia, pois todos os apartamentos disponíveis e de baixo aluguel são execráveis e minúsculos, resolvem procurar qualquer tipo de emprego. Entretanto não há empregos, vagas para automóveis ou realizações pessoais. Ele, o suposto cineasta, consegue um trabalho, como embrulhador de presentes, mas a heroína não. Ela sabe do que gosta: leitura e arte, mas não é especialista em nada. Sente-se frustrada por não ser definida pelo que admira e não estar apta para trabalhar. Desse modo, com sua auto-estima tremendamente ferida, abandona a casa e o namorada e vaga pelas ruas da belíssima cidade. Subitamente olha-se em um espelho e seu tórax está vazio. Ao abrir a blusa, vê que ele não passa de duas estacas de madeira, que vão se transformado em quatro estacas. As pessoas passam e não notam sua presença. Rapidamente ela se observa transmutando-se em uma boneca de pau e finalmente em uma cadeira de madeira. O encosto guarda apenas suas roupas. Essa cadeira, ou melhor, a heroína, é levada por um mendigo, que fica somente com o casaco e a blusa e larga o objeto que é passado de mão em mão até ser encontrado por um músico. Nestas cenas emocionantes, enquanto se vê como cadeira (afinal uma definição concreta), ela está nua e ninguém consegue enxergá-la. Tornara-se finalmente invisível, é só um objeto útil, a cadeira, que é visto e sentido. Na casa do músico é bem tratada e utilizada diariamente por ele. Essa pobre jovem, com o passar do tempo, imagina o sucesso que seu namorado poderia estar gozando, mas não encontra um final feliz para si mesma. É o absoluto da solidão e má versão da própria existência do ser humano moderno!!
A Segunda História, do diretor francês, mostra-nos um monstro verde saindo dos esgotos daquela cidade. É um homem totalmente deformado, ariano, com a barba ruiva retorcida para um só lado, cabelos ralos, rosto deformado por cicatrizes e olhos aterradores. Um olho é estrábico e o outro só mostra o branco do globo ocular. Esse personagem ao caminhar apavora as pessoas, roubando-lhes dinheiro e flores para comer e sendo agressivo a ponto de jogar um cigarro acesso no rosto de um bebê. Logo volta para seu ambiente: o esgoto, onde mora ao lado de um pequeno monumento, onde está escrito com sangue: “Salve Nossos Heróis de Nanquim”. Vê-se então uma conexão com as Guerras Mundiais, pois ele dispara uma enorme quantidade de granadas, que matam centenas de pessoas inocentes. Os noticiários passam a comentar o fato. Quem seria essa Criatura do Esgoto? Logo vemos, por todo mundo, pessoas que querem reivindicar a posse dessa aberração. Em um flash aparece um advogado francês parecido com ele. Nosso monstro é finalmente achado e levado para a prisão. O francês é recebido pelo governo por declarar-se capaz de interpretá-lo. E de fato o é. A corte quer saber por que ele ataca as pessoas e as odeia tanto, pois sofrerá pena de morte. À medida que os dois conversam vão se tornando cada vez mais parecidos, até as enormes unhas das mãos. Ele as matava por odiá-las, principalmente os japoneses, que quer destruir, pois eles seriam na verdade seu criador e essa deformidade sua criatura. Horrorizados sentenciam sua morte. Três anos depois chega o dia do enforcamento. A imprensa, os homens da lei, incluindo seu advogado estão sentados em frente à sala de execução. Tudo é imaculadamente branco: seu traje japonês até os pés, o recinto e até mesmo a corda que o enforcará. A execução ocorre e o monstro é dado como morto por um médico. Mas... quando todos se preparam para deixar o local e a câmera foca o morto, ele começa a se mexer e, lentamente, sublimemente, ressuscita aos céus para seu Deus particular. Em seguida o vemos se integrando aos Estados Unidos, incorporando-se em um dos olhos de Lincoln, emblema de uma das notas americanas. Temos a triângulo dos Estados Unidos, França e Japão.
A Terceira História, escrita pelo diretor coreano Bong Joon-Ho é a mais oriental e a melhor. Em Tóquio, um jovem decide ser um “ser solitário” ( hikikomore), sem qualquer contacto com o mundo exterior. Está neste estado de espírito há quase onze anos e era sustentado pelos pais. Adorava fixar o sol, como único elemento da natureza. Sua casa era uma obra de arte; só gostava de ler, comer pizza e defecar com a porta aberta. Tudo o que consome é guardado em seu pequeno espaço de forma irreparável e geométrica: pilhas de caixas de pizzas vermelhas, livros usados e amontoados ao longo de dez anos, milhares de cones de papel higiênico perfeitamente empilhados de forma enviesada. Um dia, como de costume, pede a pizza delivery, sem manter contato visual com o entregador, mas observa que se tratava de uma moça, usando meias tipo cinta-liga. Comovido, fixa seu olhar nos olhos da jovem que está sob o batente da porta. Nesse exato momento ocorre um terremoto. Os dois sobrevivem, mas ela está inconsciente. Tentando reanimá-la, observa que ela está tatuada com botões que expressam estados de espírito. Ao apertar o correto, ela acorda e foge para se tornar, também, uma hikikomore. Mas ele já estava apaixonado e não conhecia seu paradeiro. Pedindo a mesma comida, na esperança de vê-la, depara-se com o dono da pizzaria, um bruto tosco. Entretanto ele consegue o endereço da jovem musa. Hesitante, sai pelas ruas vazias de Tóquio a sua procura, mas em vão. Todos os habitantes dessa enorme cidade estão recolhidos dentro de si mesmos, em suas casas. As cenas são intrigantes, pois vemos nosso herói percorrendo as belas avenidas vazias, dando-nos a chance de observar seu desenho urbanístico e seus belos edifícios modernos. Nosso herói localiza sua amada, mas ela tranca-se ainda mais. Outro tremor de terra, como para despertar aquelas pessoas enlouquecidas e fragilizadas. De fato, todos saem para a rua, mas logo que o “perigo” passa, voltam a se enclausurar dentro de suas mentes e corpos. O jovem agarra seu amor pelo braço e observa novamente todos os botões. Encontrando o do amor, aciona-o, conquistando aos poucos, o coração da jovem heroína. Isso é uma alta simbologia, pois até o entregador de pizza virara um robô, e o objeto de sua paixão voltara-se para ele, após o acionamento de um botão, uma coisa mecânica.
Para quem gosta de surrealismo e filmes de arte é uma boa pedida.

sábado, 28 de novembro de 2009

JULIE & JULIA DE NORA EPHRON










Elenco
Maryl Streep como Julia Child
Amy Adams como Julie Powell
Stanley Tucci como Paul Child
Chris Messina como Eric

Maryl Streep, neste delicioso filme, está simplesmente genial. É uma atriz para qualquer papel, pois aqui incorpora Julia Child, um sucesso da televisão americana, em um programa de culinária francesa nos anos sessenta. Era uma mulher de 1,88 m, matrona, bem resolvida e dona de uma voz muito aguda e quase desagradável. A comédia biográfica começa na França, em 1949, quando os Childs foram morar em Paris. Paul trabalhava na embaixada americana, morando na China, e levara sua mulher para viverem na França por quatro anos. Ela está absolutamente deslumbrada com tudo. Seguimos para 2002, quando uma jovem nova-iorquina muda-se com o marido para um apartamento muito simples no Queens (pos-2001). Julie Powell está frustrada por não gostar do atual emprego público e sua única distração é cozinhar. Estimulada pelo marido, decide ter um blog onde testará todas as 524 receitas de sua musa, Julia Child. Deste modo, baseado nos livros de Julia e Julie a roteirista e diretora Nora Ephron nos oferece uma história interessante sobre a arte de cozinhar e bons casamentos, sem que nunca encontremos as duas Julias juntas. Julia era uma americana típica de classe média alta, pragmática, feliz e muito bem humorada, casada com Paul, que simplesmente a adorava. Ela está cansada da rotina em que se envolve e decide ter uma profissão. Depois de alguns tropeços, vai fazer o que mais gostava: comer e cozinhar. Seu ponto de vista é diferente do atual, onde se privilegia a comida saudável. Não. Julia e seu marido adoravam manteiga, vinho e tudo que a típica comida francesa pode nos oferecer. Para realizar-se escolhe nada menos do que a famosa academia Le Cordon Bleu, tradicional reduto de homens. Sendo competitiva logo se destaca como aluna nota 10. Entusiasmada com seu progresso, conhece duas francesas que querem editar um livro sobre cozinha francesa para americanas e a convidam para juntar-se a dupla. Logicamente aceita e aconselha as amigas que as receitas fossem para donas de casa sem empregados (servantless?), portanto deveriam ser realizáveis para todas. Seu sucesso é garantido, pois além do amor que dá e recebe de seu marido, possuía uma personalidade que cativava e animava a todos. Nem sequer percebia que os franceses não eram simpáticos, pois simplesmente não se deixava derrotar. O livro demora oito anos para ser escrito e publicado, pelo número enorme de receitas que poderiam ser divididas em diversos tomos. Nossa contemporânea Julie tinha algumas coisas em comum com ela: gostava de comer e cozinhar e era muito bem casada. Ambas não se deixavam abater facilmente e Julia passa a ser sua inspiração de vida. Julie vive, fala, pensa e se veste como Julia Child. Impõe-se um período de um ano para testar todas as receitas do livro e ir publicando em seu blog todas as dificuldades encontradas para fazê-las. Logo tornar-se uma celebridade entre seus seguidores. Depois de muito suor, decepções e lágrimas, como a famosa Julia Child, ela também é convidada a publicar um livro, alcançando o sucesso tão desejado. No final sabemos que Julia Child morreu aos 94 anos e que Julie Powell ainda morava no Queens, mas não mais em cima de uma Pizzaria. Filme leve e principalmente otimista, abordando um tema bem atual que é a arte de cozinhar e ensinando pessoas a serem felizes com os dons que possuem sem grandes elucubrações inviáveis. Os quatro atores principais são muito bons, mas sem dúvida alguma Meryl Streep brilha muito mais e é tudo no filme... E quem sabe não será indicada para o Oscar de melhor atriz?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

UM NOIVO PARA MINHA MULHER de JUAN TARATUTO







Adrian Suar como Tenso
Valeria Bertucelli interpretando muito bem Tana Ferro

Esta comédia despretensiosa torna-se um filme que você terá o que pensar. Tenso e Tana são casados há algum tempo e a união encontra-se em crise. Jovens, com seus trinta e poucos anos, não encontram diálogo e nenhum ponto em comum na relação. Ele parece ser centrado, mas Tana mostra-se descontrolada, mal humorada e infeliz. Sendo uma mulher inteligente, mas sem nenhuma atividade intelectual preocupa-se, principalmente, com o pessimismo, achando tudo o mais uma vulgaridade. Até certo ponto está certa, pois suas relações não têm nada para lhe oferecer e ela não está trabalhando. O marido ajuda os pais em seu comércio e tem como hobby o futebol de salão, onde compartilha com seus amigos anseios e dificuldades. É um grupo unido e machista, como quase todos sul americanos. Preocupados com as dificuldades de Tenso, aconselham-no a se separar, mas esse homem não consegue dizer as palavras mágicas que trariam sua liberdade. Ocorre que um deles lembra-se de um famoso galanteador profissional, que se acha escondido pelas inúmeras trapaças, esse seria a salvação. Seduzindo sua mulher, encontrará o caminho aberto para a felicidade. O encontro entre os homens ocorre e tudo fica devidamente planejado e aceito. Tana precisaria achar um trabalho, pois não saia de casa e para se encantar por Cuervo teria que se expor e sustentar as conseqüências dessa atitude. Ela e o marido, deixemos bem claro. Essa exposição é tremendamente benéfica e Tana transforma-se em outra mulher - mais confiante, amadurecida e com o amor próprio despontando. Durante esse processo de mutação, Tenso vai perdendo sua convicção e todos parecem começar a admirar aquela pessoa nociva e deprimida, que vai se desabrochando em uma mulher verdadeira. O filme conta com flashbacks (os eternos) para nos posicionar melhor, pois o ponto de partida é o encontro dos dois em um consultório psiquiátrico. À medida que suas histórias vão sendo reveladas, os protagonistas passam a vê-las sob o ponto de vista do outro. Em poucas palavras, eles simplesmente não dialogavam. O final é mais ou menos o esperado, mas o processo pelo qual ele transcorre é divertido e saudável. Os atores são bons, mesmo os coadjuvantes e para quem conhece a cultura portenha é muito divertido e real. Direção bem acertada e terceiro longa do jovem diretor.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O SOLISTA DE JOE WRIGHT








Atenção: spoilers

Este espetacular drama começa numa madrugada, quando vemos as pernas de um ciclista pedalando rapidamente. Ao mesmo tempo o motorista de uma caminhonete entrega os jornais da manhã, nas casas ainda adormecidas. No jornal “Los Angeles Times” as páginas continuam sendo impressas e há muito movimento de funcionários. Repentinamente, ao clarear um pouco mais, o ciclista sofre um acidente e vai parar em um hospital. Tem o lado direito de seu rosto transfigurado. Esse homem grava tudo o que se passa ao seu redor com precisão. Trata-se de um jornalista do diário mencionado, Steve Lopez. Tem uma coluna bastante lida. Ao chegar ao trabalho encontra-se com sua ex-mulher e chefe. O jornal está em dificuldades, pois perdera uma grande percentagem de leitores com 30 anos. Lopez sai, meio sem rumo, quando escuta o som de um violino. É um belo som e ele se aproxima do músico. Trata-se de um sem teto, que mora pelos túneis e viadutos da cidade. O violino tem somente duas cordas e a música é de Beethoven. Vendo-o, e como jornalista curioso, resolve saber quem era aquele mendigo. Desse momento em diante temos uma fantástica história verídica de um homem talentoso, Nathaniel Ayers. Ele fala um inglês perfeito, mas suas sentenças não têm conexão e suas frases são sobrepostas umas às outras. É um esquizofrênico de meia idade, com cabelos a rarear repartidos ao meio e uma expressão inteligente, apesar de seus andrajos e de sua casa que leva para todos os lugares: um carrinho de supermercado repleto de coisas importantes para ele. O diálogo é difícil, mas Lopez vê nesse ser humano grandes possibilidades e resolve ajudá-lo. Seria também objeto de artigos em sua coluna. Apesar das dificuldades nasce entre eles uma amizade sincera, pois ambos eram honestos consigo mesmos. Steve consegue descobrir suas origens e presenteia-o com um violoncelo, oferecido por uma de suas leitoras, que comovida oferece-lhe, para que possa seguir em sua maior paixão: a música erudita e seu compositor predileto – Beethoven. Para tanto ele terá que se juntar a uma comunidade de sem-tetos a LAMP, pois o instrumento poderia ser facilmente roubado nas ruas cobertas por pessoas marginalizadas e tão enlouquecidas como ele. Quando Steve descobre sua irmã, o filme volta em flashback (recurso usado atualmente à exaustão). Ele fora um adolescente pobre e um gênio da música. Seu talento é reconhecido por um professor, que garante à sua família que as portas do mundo se abrirão diante desse gênio. Estudando em uma universidade importante, Juilliard, dedica seu tempo ou melhor sua vida, à música clássica e nela sorve toda sua magia. Até que um dia, já no segundo ano da universidade, deixa-se levar tão irracionalmente por ela, que perde seu eixo e passa a ouvir vozes, que o atormentam. Elas lhe dizem que é perseguido e que será assassinado. Nathaniel passa a morar nas ruas e torna-se uma presa de si mesmo. Isolado, desconfiado e às vezes brutal não consegue comunicar-se, a não ser com Steve, pois esse demonstra uma enorme curiosidade e atração sobre esse personagem singular. Lopez passa a quase morar entre os mendigos e a relacionar-se com o diretor da LAMP, que se recusa a chamar um psiquiatra e forçá-lo a tomar medicações, pois isso seria contra a lei. Steve só consegue ver a genialidade daquele homem, que o tem como um Deus, e ela escorrendo diante de sua vida. Seus artigos transformam-se em sucesso, sendo lido até pelo prefeito da cidade, o qual disponibiliza mais dinheiro para essas ações sociais. Após forçar um encontro com um mestre musicista, para que possa aprender algo mais, é convidado para um Recital. Relutante, apresenta-se com seus trapos e sua “casa”, mas diante dessa situação tão limitante e estressante perde o controle e foge, para desespero da platéia lotada. É procurado em todos os lugares, mas não é achado. Encontrava-se em um pequeno apartamento de outra entidade, contudo agora estava na LAMP, a espera de Lopez. Seu amigo e seu Deus tenta forçá-lo a voltar a tocar mais uma vez, mas quase é morto por ele. No final da película, vemos a irmã vindo visitá-lo e mesmo sem olhar para ela, percebe que são parentes do passado. Assim, com ele mais calmo e fortalecido pela amizade, vão todos à uma sala de consertos assistir à Orquestra Sinfônica de Los Angeles. Nesses momentos de enlevo total, nosso jornalista percebe que ele deve ser respeitado como é, esquizofrênico, mas confiante naquilo que mais acreditava e respeitava: Beethoven e a música erudita. Era finalmente um homem livre, que pudesse escapar de si mesmo, quando uma situação dramática se apresentasse. A vida de ambos mudara. No final, nos é informado que Nathaniel agora tocava mais de uma dezena de instrumentos e que Steve Lopez, seu melhor amigo, estava aprendendo a tocar violão. Com esse material conseguiu escrever o livro no qual se baseia este filme. Vale a pena conferir!
Jamie Foxx como Nathaniel Ayers, em um empenho magnífico.
Robert Downey Jr como Steve Lopez, também em trabalho brilhante.
Direção segura de Joe Wright
Mais de 90.000 sem tetos perambulam pelas ruas de Los Angeles, nas mesmas condições de nosso herói.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

COCO ANTES DE CHANEL de ANNE FONTAINE









ELENCO:
AUDREY TAUTOU - GEBRIELLE CHANEL - COCO
BENOIT POELVOORDE – ÉTIENNE BALSAN
ALESSANDRO NIVOLA – ARTHUR CAPEL – BOY

Este drama biográfico esboça as primeiras décadas de vida dessa mulher importantíssima, que foi Coco Chanel, baseado no livro de Edmond Charles-Roux. Anne mostra-nos de forma sucinta os costumes, a moral, a vestimenta e as belas residências do final do século XIX até o século XX (nas duas primeiras décadas). Gabrielle Chanel, nascida em 1883, era filha de pais muito pobres e com a morte de sua mãe, quando tinha apenas 6 anos, seu pai distribui os 5 filhos e nunca mais os viu. O filme começa com ela e sua irmã sendo levadas em uma carroça, pelos belos campos franceses, a um orfanato de freiras carmelitas. Lá permanece por 15 anos. As duas garotas, em 1905, vão trabalhar como cantoras de cabaré durante a noite e costuram durante o dia. Mesmo assim o rendimento delas é mínimo. Era uma época em que as mulheres, se não fossem ricas, eram relegadas a serviços braçais ou o teatro, que não lhes dava um status digno. Coco, apelido que adotara, esforçava-se para manter sua dignidade e cobrava-se uma rígida disciplina de trabalho. Seu sonho era ser independente financeiramente e famosa: uma raridade e impossibilidade na época. Para ela qualquer problema que se relacionasse à costura era muito fácil e prazeroso de resolver. Nascera para tornar-se uma grande estilista. Nesse ambiente noturno tem a oportunidade de conhecer um rico oficial, Étienne Balsan, que se encanta com sua maneira resoluta e agressiva de ser, sem meias-palavras. Coco não aceitava usar as roupas compridas, arrastando pelo chão, os espartilhos diminutos e os chapéus tipo merengue, cheios de enfeites e plumas, mesmo por que não teria dinheiro para essas frivolidades. Era uma inovadora. Sua roupa, feita por ela mesma, era discreta e simples. Quando sua irmã parte, decide procurar abrigo na belíssima propriedade do barão Balsan, que apesar de surpreso, concorda que ela fique por dois dias, o que se arrasta por um longo tempo. Com ele observa as maneiras e os costumes dos nobres e das atrizes. Com as roupas masculinas de ótima qualidade de seu anfitrião, começa a surgir um novo tipo de vestimenta. Coco as adapta para sua figura magra e andrógena. Algumas mulheres se encantam com seu despojamento e simplicidade, principalmente os chapéus, pequenos e discretos que deixam o olhar à mostra. Tautou não poderia estar mais bem adaptada a um papel do que esse, pois seu olhar intenso e seu sorriso espontâneo estão quase sempre presentes, assim como seu gestual elegante e consciente. Durante uma festa no castelo de Balsan, conhece o carismático e belo Arthur Capel. Era um homem rico, que se fizera sozinho, bem diferente dos nobres que não trabalhavam e sequer liam os livros de suas próprias bibliotecas. Inglês, gostava de ler sobre filosofia e deixa para ela um livro que discute a Filosofia da Miséria. Entre esses personagens, de certa forma iguais na ambição de serem famosos e ricos, nasce um amor profundo. Mas Boy jamais se casaria com Coco, pois precisava de um sobrenome nobre e se uniria com uma riquíssima herdeira. Ela vivia, na realidade, dos favores de homens que aceitavam o sexo e entretenimento que essa garota excêntrica lhes oferecia. Seus patronos, nos primeiros anos de sua carreira como chapeleira em Paris, foram Boy, que se tornou seu amante, e Balsan, que com sua influência e conhecimento da alta sociedade lhe facilitou o caminho. Mas, nada mesmo, sem seu talento extraordinário teria ajudado a torná-la a primeira desenhista de moda de Paris, pois após o sucesso dos chapéus, passa a fazer suas famosas roupas, adoradas até hoje pelas mulheres elegantes. Benoit Poelvoorde e Alessandro Nivola convencem na pele de seus personagens e Audrey Tautou está maravilhosa como sempre, em qualquer papel que se disponha a desempenhar.
CURIOSIDADES. Chanel aboliu as roupas desconfortáveis e de certa forma ridículas das mulheres do século XIX. Deu-lhes uma nova perspectiva de conforto e elegância. Adotou o preto e branco como seus tons prediletos, indo, aos poucos, para o rosa, vermelho. Iniciou a moda feminina com o confortável Jersey, as roupas mais largas, saias mais curtas, o terninho feminino, roupas inspiradas em marinheiros e os famosos colares de pérolas (podem ser artificiais). Deu-nos de presente o Chanel N°5 e sua famosa bolsa a tiracolo. Sua Maison continua sendo um ícone de elegância em nossos dias, infelizmente para quem tem muito dinheiro, mas vale a inspiração que ela espalhou pelo mundo da moda. Morreu em 1971, ainda trabalhando, aos 88 anos.