CHOCOLAT, FRANÇA, 2016, 120 MIN., DRAMA
ELENCO:
OMAR SY – CHOCOLAT – CUBANO RAFAEL PADILLA
JAMES THIÉRRÉE – PALHAÇO FOOTIT
O diretor Roschdy Zem é francês
de origem marroquina e este ótimo filme é o quarto longa que dirige sem nunca
perder a mão. Mostra o preconceito de raça que ainda hoje existe em todos os
lugares, principalmente mais atrás, no final do século XIX (1897) e começo do
XX (1917), quando essa triste história ocorreu. Baseado em fatos reais, o longa
vai contar a vida de Rafael Padilla, cubano, nascido em 1868. Vendido como
escravo, o carismático e ótimo ator, Omar Sy de Inseparáveis, na pele de Chocolat,
vai parar no norte da França em um circo mambembe, quando o filme começa. Aí
faz papel de canibal, levando pela mão uma macaca, assustando e divertindo a
todos com seus gritos. O talentosíssimo palhaço Footit está em fim de carreira
e encontra-se nessas cercanias. Ao se deparar com o desempenho de Rafael, o
convida para atuar ao seu lado, fazendo uma dupla – o branco europeu e o bom
negro que aguenta qualquer galhofa. Na
realidade foi achado nas Docas do país. A dupla se mostra tão talentosa e de
humor altamente hilário, que atrai a atenção do dono de uma poderosa casa de
espetáculos em Paris. Lá são muito aplaudidos, ganham dinheiro e se tornam
sensação na cidade do dia para a noite. Rafael passa a ser conhecido como
Chocolat. Muito talentoso, torna-se o primeiro artista circense negro da
França. A fama e o dinheiro, todavia, não combinam com esse homem fragilizado
pelo excesso de horrores ocorridos em sua vida. Em flashbacks vemos o que teve
de suportar até então. Apaixona-se fácil e desta vez por uma viúva enfermeira,
que fora casada com um médico e tem dois filhos. Compadecido com a situação de
crianças doentes vai fazer filantropia em um hospital, onde trabalha a bela
viúva. A convivência faz com que ela se una a ele pelo resto de suas vidas. Não
será uma vida feliz, pois se tornara bêbado contumaz e viciado em drogas muito
fortes. Eventualmente encontra, na prisão, um negro haitiano, intelectual, que
desperta sua consciência e seu verdadeiro papel na sociedade. Desfaz a dupla,
pois deseja ardentemente representar Otelo de Shakespeare, papel sempre de
brancos com cara pintada. Consegue realizar seu sonho, mas depois da estreia da
peça a plateia indignada com aquele negro talentoso, começa a vaiá-lo e atirar
coisas em sua direção. Desiludido, abandona tudo e com sua mulher vai passar
seus últimos dias como faxineiro em um circo ainda menor que o primeiro (1917).
O papel é de alta dramaticidade, exigindo muito de quem o interpreta. Omar Sy
não decepciona, pelo contrário. Belíssimo filme que não deve ser perdido. Talvez
um dos poucos que nos comovam bastante sem o uso de chibatadas ou esteriótipos
contra os escravos. Aqui ele é escravo de si mesmo.