terça-feira, 29 de abril de 2014

JACKIE DE ANTOINETTE BEUMER




HOLANDA-EUA/2013, 100 MIN. DRAMA.
ELENCO:
CARICE VAN HOUTEN - SOFIE
JELKA VAN HOUTEN – DAAN
HOLLY HUNTER – JACKIE
Este road movie dirigido pela talentosa Antoinette Beumer escolhe um tema já bastante falado nos cinemas, mas com um toque bem especial. O filme começa na Holanda, onde vive uma família feliz e diferenciada, pois os pais eram dois gays, agora mais velhos, que contrataram uma barriga de aluguel e estão com duas filhas gêmeas, Sofie e Daan, adultas. Elas sabem perfeitamente do histórico familiar, contudo nunca mostraram nenhum interesse, aparentemente, em conhecer a mãe biológica. Contudo um dia recebem um telefonema dos Estados Unidos, avisando que a mãe fora encontrada desacordada e a única pista encontrada pela polícia era uma foto antiga e o paradeiro das moças. Jackie, a mãe biológica nunca as procurou, e agora está com uma doença grave, a perna engessada e não tem parentes nos Estados Unidos; elas seriam as únicas. Com um casamento desgastado e mais afetiva, Sofie convence Daan a acompanhá-la para o fim do mundo, onde mora a mãe, uma ex-hippie, já envelhecida mas com o mesmo estilo de vida, vivendo em um trailer aos pedaços, nas cercanias de Novo México próximo ao deserto. Holly Hunter, ótima, no papel dessa mãe é uma figura estranha, mal humorada, sem senso de humor, recebendo friamente suas filhas. Poucas palavras parece ser o DNA da família.  Sem qualquer emoção não agradece a deferência e elas quase se arrependem da longa viagem, mas resolvem levá-la ao centro de reabilitação em seu próprio veículo. Com o passar do filme, na estrada, coisas interessantes vão acontecendo a essa pequena família, que parecem uni-las com algum calor. As jovens vão se redescobrindo e a mãe se abrindo cada vez mais. A química entre os personagens é grande o que proporciona momentos de emoção e sentimento. O final é o único possível e a trama se desenrola com bastante veracidade e humor. Uma curiosidade: as irmãs holandesas são irmãs na vida real.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O GRANDE MESTRE DE WONG KAR-WI




YI DAÍ ZONG SHI, CHINA, HONG-KONG/2013, 130 MIN., DOCUDRAMA.
ELENCO:
TONY LEUNG – YIP MAN
CHIU WAI –
ZHANG ZIYI – GONG ER
Indicado ao Oscar de melhor fotografia, o diretor do ótimo Amor à Flor da Pele e Um Beijo Roubado, nos apresenta a história real da vida de Yip Man, interpretado pelo sensacional Tony Leung. Segundo a mídia ele foi o mentor de Bruce Lee. Esse é um filme histórico e quase filosófico, que se passa no fim da década de 30 do século passado, quando Yip Man é o maior lutador de kung fu no sul da China. O Norte havia sido tomado pelos japoneses e estavam em guerra. O país também passava da monarquia à república. O clã Gong, do norte, é nobre e muito respeitado. Seu chefe, já mais envelhecido, quer passar seu título a um jovem ambicioso, apesar de ter uma filha melhor lutadora do que ele, a bela Gong Er, uma das poucas personagens ficcionais do filme, segundo o diretor que também é o roteirista. Ela quer que seu pai reconheça seu valor e passe a tradição para ela. O que vale para essa família é principalmente o código de honra. O filme não tem muitos diálogos e flutua do presente para o passado e as imagens, os planos e o figurino divinos substituem quaisquer expressões de pensamento com mais precisão. O foco são os movimentos de pés e de mãos, perfeitos e letais, pois para Yip o kung fu era horizontal e vertical, somente isso. O chefe Gong gostaria que o sul do país também se aprimorasse nessa luta milenar. Casado e com filhos Yip Man é obrigado a se deslocar para Hong Kong, em 1938, durante a invasão japonesa. Homem de fibra, crente de filosofias chinesas ancestrais, vê-se em problemas maiores por ter de abandonar seu país e ainda deixar a belíssima filha de Gong, seu amor de tempos passados. Não é um filme de fácil entendimento, sendo sempre a luta predominante nos conceitos morais. A compreensão da sequência dos fatos precisa de atenção redobrada. Ótimas interpretações da jovem Zhang Ziyi e Tony Leung. Para fãs de lutas marciais é imperdível.



terça-feira, 22 de abril de 2014

MARINA DE STINJN CONINX




MARINA, BÉLGICA, ITÁLIA/2013, 118 MIN. COMÉDIA DRAMÁTICA.
ELENCO:
MATTEO SIMONI – ROCCO GRANATA
EVELIN BOSMAN
LUIGI LO CASCIO
Este belo filme conta a vida de Rocco Granata, nascido na Calábria, um lugar cheio de pessoas simples, calorosas e iluminado pelo sol. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Itália entrou em enorme depressão e milhares de pessoas migraram para as Américas ou mesmo para a Europa. Foi o caso da família Granata. Seu pai, sem emprego, se sujeita a trabalhar nas insalubres minas de carvão da Bélgica. Depois de três anos manda buscar a família, sua linda mulher, Rocco e sua irmã. Ao chegarem é um choque, morariam em cabanas de madeira em um país onde chove o ano todo e o frio é congelante. Rocco aos treze anos já tocava acordeão e compunha suas primeiras músicas, mas seu dia a dia era estressante. A princípio, não falava o idioma e sofria bullying na escola, assim como sua irmã. Os italianos eram considerados invisíveis e de segunda classe. A harmonia da casa é modificada e os pais dão duro para sustentar os filhos. A bela mãe começa a lavar roupa dos mineiros, para obter um pouco mais de dinheiro e comprar um acordeão para o filho, pois seu sonho era ser músico e ter sucesso para que não fosse mais desprezado. O pai, por contrato, tem que iniciar o filho na mesma profissão, um choque para o garoto, ainda mais que ele sempre havia dito que o filho deveria ter uma paixão para poder viver, que era exatamente a música. Inconformado segue seu instinto e faz uma operação de guerra para conseguir o que queria ser. Apoiado pela irmã e mãe consegue formar uma banda clandestina, Il Quintetto Internacionale, que faz grande sucesso, sendo procurada por um agente de música. Tudo vai contra eles, mas Matteo Simoni, excelente no papel de Rocco, não se deixa abater. É um jovem apaixonado por uma garota belga, loira de olhos claros, e fará tudo para obter o sucesso que tinha certeza que chegaria. Marina é uma das muitas músicas que compôs e com ela foi alçado ao estrelado no ano de 1959, tendo sido gravada por mais de uma centena de cantores, segundo o Estado de São Paulo. Ótimo filme que mostra a determinação de um talento que acredita em si e em seu desempenho. Uma observação: Rocco faz uma ponta e é o dono da casa de instrumentos que atende o jovem.

sábado, 19 de abril de 2014

O PALÁCIO FRANCES DE BERTRAND TAVERNIER





Um erro de digitação do título: francês é com acento circunflexo.
QUAI D’ORSAY, FRANÇA, 2013, 113 MIN. COMÉDIA.
ELENCO:
THIERRY LHERMITTE - ALEXANDRE
RAPHAËL PERSONNAZ – ARTHUR VLAMINCK   
NIELS ARESTRUP – DIRETOR DE GABINETE
ANÄIS CHABROL
Esta ótima comédia de Bertrand retrata, ironicamente, os bastidores de um ministro de Assuntos Estrangeiros, muito elegante e carismático, do país das Luzes e da Revolução, ou seja, a França. Um jovem rapaz, Arthur Vlaminck, que tenta a vida como escritor e de esquerda, é convidado pelo ministro para assumir o posto de Linguista (?), ou seja, ele escreverá os inúmeros discursos de Alexandre de uma maneira que cative e estimule o povo. Esse governante é uma figura impagável, pois é hiperativo, histriônico, adora gestos de lutas marciais (tá-tá-tá) e um grande trapalhão em termos políticos e históricos. Andando rapidamente pelo palácio, abre e fecha portas com energia, formando correntes de ar que deslocam todos os papéis das mesas de seus auxiliares, que invariavelmente vão parar espalhas pelo chão. O jovem não entende que tipo de trabalho vai fazer, mas “não importava”, diziam seus colegas, pois tudo seria repetido várias vezes. Aos poucos vai absorvendo as manias dessa verdadeira fera e se sentindo mais seguro, se isso fosse possível naquele ambiente. Somente Niels, o idoso diretor do gabinete, ganhador do Cesar como ator coadjuvante, consegue por um pouco de ordem naquele caos. Apaixonado por Heráclito, tudo deverá ser redigido sob sua ótica, mudando somente as situações; Tin Tin é outra fonte de inspiração para Alexandre, que no momento se preocupa com uma iminente guerra dos Estados Unidos contra uma nação petrolífera do oriente, os peixes da Espanha e a situação da população da África, muitos delas tendo sido suas colônias no passado. Para ele só se pode governar com o trio, legitimidade, lucidez e eficiência. Misturando tudo quase em um mesmo caldo, apimentado com o neoconservadorismo americano, a idiotice chinesa e a corrupção russa, temos um filme muito divertido onde ninguém acompanha a linha de pensamento de ninguém, muito menos do ministro. O carismático ator, Thierry, representa a perfeição esse homem sem qualquer objetivo mais concreto. Em suas confusões até consegue algum sucesso, como seu dificílimo discurso na ONU, onde queria uma verdadeira tese, mas acabou falando poucas palavras, impostas pelos auxiliares, com alguma gordurinha de sua cabeça, tornando-o um sucesso. Nos créditos finais são mostradas as cenas que não deram certo pelo riso descontrolado dos ótimos atores. Vale a pena ficar até o final.