sábado, 25 de outubro de 2008

SOB A MESMA LUA POR PATRICIA RIGGEN


Esta é uma novela mexicana, ou melhor, um melodrama. Apesar de parecer um tanto pejorativo tais substantivos é um filme humano, despretensioso e agradável de se ver. No início da película uma lua maravilhosa aparece e algumas pessoas jovens nadam sob o luar. Vemos que são imigrantes mexicanos, pegos na fronteira do México com os Estados Unidos, pelos guardas. Nova cena, um garoto acorda com o despertador e depois de oferecer o café da manhã para sua avó, se veste e vai para um telefone público. Outra tomada nos mostra uma belíssima jovem morena de olhos oblíquos, também acordando com o despertador. Ela se dirige a um telefone público e faz uma ligação. O garoto de nove anos atende o chamado de Rosario (Kate Del Castillo). É aniversário de Carlitos (Adrian Alonso) e ela lhe pergunta se recebera o seu presente que enviara de Los Angeles. O garoto tem nos pés um belo par de tênis e agradece à mãe, fazendo-a repetir pela milésima vez o local de onde ligava todos os domingos, às 10 horas da manhã. Está perto da pizzaria Dominó, em uma esquina. Na frente há uma lavanderia e um mural. Os dois repetem juntos as mesmas palavras, pois ele as conhecia de cor. Rosário mora a quatro anos naquele país, pois tentava dar uma vida melhor ao seu filho. Tinha dois empregos em casas muito ricas e costurava para ajudar a juntar a importância necessária para obter o green-card e ter Carlos com ela. Durante a festa de aniversário do menino, seu tio aparece e lhe conta que tem um pai vivo e que morava em Tucson, mas antes de terminar é expulso pela avó, que se encontrava muito doente. Carlitos, apesar da idade trabalha com uma senhora, que além de ter uma loja é agenciadora de imigrantes ilegais. Ela adora o garoto, que é muito esperto e eficaz. O pequeno quer, na verdade, atravessar a fronteira e ver sua mãe, mas ela jurara que jamais faria isso, pelo perigo envolvido. Na terça feira seguinte ele acorda e vai ter com sua avó que não responde, pois já estava morta. Desesperado não diz nada a ninguém, arruma sua mochila, pega 1.400 dólares, que havia economizado e parte para a casa de um casal mexicano, nascidos nos Estados Unidos, que pretendiam atravessar crianças para aquele país. Necessitados de dinheiro aceitam a oferta da criança, escondendo-a sob o banco de trás da van. Muito nervosos, ao chegarem à fronteira são revistados pelos guardas e liberados, contudo ao entrarem no carro, são barrados, pois tinham muitas multas a pagar. O carro é guinchado para um pátio, sob o sol causticante, com o garoto em baixo do banco. Esperto, ao menor deslize de um guarda, foge, encaminhando-se para um edifício. Ao ver dois guardas, esconde-se no toalete masculino, onde está um jovem drogado, que em troca de cem dólares aceita levá-lo ao pátio, pois sua latinha com todo seu dinheiro caíra perto do carro, durante a fuga. Não a encontrando mais, pois o veículo já havia sido guinchado, o jovem leva-o para a zona de prostituição, onde o vende por cem dólares. Entretanto uma mulher madura mexicana vê a cena degradante e leva o garoto para sua casa. Lá moravam outros imigrantes ilegais e Reina, com um caráter impecável, os tratava com humanidade. Eles faziam serviços para americanos interessados em não pagar encargos para o governo. Chegando a uma plantação de tomates todos saem do pick-up para trabalharem e junto a eles está Carlitos, o qual quer participar do serviço, acostumado que era com a labuta diária. Entretanto... chegam policiais à procura dos ilegais. Alguns são presos sob pancadaria, outros conseguem fugir no veículo. Quando tudo se acalma restam Enrique (Eugenio Derbez) e o pequeno menino. Ele não quer ouvir falar em ajudá-lo, pois sendo ilegal já tem muitos problemas. O menino o acompanha, assim mesmo, até pegarem uma carona com músicos mexicanos que se encantam com a fibra e o bom humor da criança, que estava fugindo por amor, para encontrar sua mãe. Chegando ao final da carona, eles iriam continuar suas viagens separadamente, pois o egoísta e sofrido Enrique iria a New York e Carlitos a Los Angeles. Como estava impossível achar uma solução financeira, Carlitos aposta que acharia um emprego para os dois. Indo a uma cafeteria em frente, conversa com os donos, um casal de índios americanos, conseguindo o emprego. Enrique o quer só para si, mas o homem só aceitaria os dois juntos. Dormem no mesmo quarto, com a janela aberta mostrando a lua. A criança conta-lhe que sua mãe havia lhe pedido para olhá-la toda vez que sentisse saudades dela, pois também estaria fazendo o mesmo. Entediado, Enrique vira-se para o lado e dorme, mas antes disso Carlitos lhe confidencia que seu pai morava lá. Ao saber o nome do homem, faz uma expressão de cumplicidade e no dia seguinte Carlitos encontra seu pai, que era amigo de seu companheiro. Ele, contudo, não quer saber do filho e não o leva para Los Angeles, como havia prometido. Nesse ínterim, cenas de sua mãe e seu trabalho são entrecortadas com as de seu filho. Ela fora despedida de um de seus empregos e agora pretende voltar, pois não há mais nada a fazer naquela cidade. Sua amiga aconselha-a a casar com um jovem mexicano, que é apaixonado por ela, e já tinha os seus papéis legalizados e o green card. Ela tem somente dois dias para se casar e pegar Carlitos. No sábado, dia do casamento, resolve desfazer o trato com o rapaz, pois só acreditava em matrimônio por amor. Aproveitando que tudo estava arrumado seu ex-noivo volta para a festa como se fosse despedida de uma rara mulher. No México a senhora Carmem está muito preocupada com o desaparecimento de seu querido protegido e encontra um telefone de um dos empregos de Rosario. Avisando a jovem Barbara, sua patroa, do ocorrido, ela vai procurá-la para contar-lhe todos os problemas que estavam se desenrolando. Desesperada a mãe resolve voltar no dia seguinte para o México, pois Carmem não havia mais ligado para ela. Acompanhada pelo rapaz mexicano vai para a estação de ônibus e já sentada na poltrona, vê um adolescente falando em um telefone público e já era domingo! Por outro lado, os dois homens, agora amigos, pois Carlitos conquistara o afeto de Enrique, estão na mesma cidade a procura do local descrito por sua mãe, pois endereço certo ela nunca oferecera. Exauridos de tanto andarem dormem em um banco, numa praça pública. De manhãzinha, Enrique sai para pegar algo, e Carlitos fica sozinho dormindo ao relento. Um carro de polícia passa e para... (mais encrenca)! Enrique está voltando com comida nas mãos, quando o policial pergunta se ele conhece o homem. Negando é enfiado à força na viatura, mas Enrique ameaça os policiais para que ele possa fugir. Algemado é preso. Esse fora seu ato de maior solidariedade, pois odiava a idéia de voltar para o México. Últimas cenas... Suando e correndo ele consegue encontrar a esquina descrita por sua mãe e olhando o telefone, lá está ela com a valise do lado. Entreolhando-se, lágrimas escorrem de seus olhos e se chamam. Carlitos quer atravessar a rua muito movimentada (será que no fim será atropelado, ou será Rosario a próxima vítima???!!). Gritando para que ele pare, esperam pelo semáforo ficar verde e o filme acaba!


É lógico que sua primeira reação é de riso, com tantos problemas que os personagens enfrentam. Imagine um menino de nove anos atravessando a fronteira sozinho e chegando em Los Angeles são e salvo! Depois você se relaxa e pensa na mensagem de amor, saudades, fraternidade e o que a pobreza faz , deslocando tantas pessoas de seus lugares para uma vida muito pior. A atuação do garotinho, sua mãe e Enrique são muito convincentes.
Trilha sonora “Exhaled”.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

FATAL de Isabel Coixet





ELEGY – elegia (poema quase sempre terno e triste) dirigido por Isabel Coixet é um belo drama baseado no livro “O Animal Agonizante” do ganhador do prêmio Pulitzer de Literatura, Philip Roth. Discute-se a posição de um famoso professor de crítica literária que além de escrever para um jornal e lecionar, tem um programa na televisão educativa sobre artes em geral. Nas primeiras cenas David Kepesh (ótimo Bem Kingsley), um senhor de sessenta e poucos anos, está falando sobre o puritanismo americano e de uma ilha de liberdade, onde o sexo, bebida e qualquer vício eram permitidos, mas que desaparecera antes dos anos cinqüenta e que o sexo só reaparecerá nos anos sessenta, com o movimento paz e amor. Depois disso, em seu belo apartamento, ele olha a chuva e se lembra de Tolstoy[1] que havia mencionado que o homem tem uma enorme surpresa na vida quando se depara com uma coisa inesperada: a velhice, quando ainda é inteiramente viril interiormente. Esse homem culto e de certa forma frio, devido a um casamento mal sucedido onde abandonara a mulher e um filho pequeno, não quis mais ter nenhuma forma de comprometimento pessoal. Uma vez a cada vinte ou trinta dias recebe, por vinte anos, a visita de uma ex-aluna, já madura, que pensa precisamente como ele e mora em Seattle. No início do ano letivo ele observa uma aluna Consuela (ótima Penélope Cruz), filha de cubanos ricos que fugiram para os Estados Unidos. O professor a acha belíssima, elegante em sua postura e muito bem vestida. A aluna o admira com sua atenção e seus belos olhos negros. Encantado por ela desabafa-se com seu melhor amigo George, um velho colega e poeta premiado, que também tem seus casos com suas alunas, apesar de ser casado há muitos anos e ter uma filha. O tempo vai passando e ele resolve conquistar Consuela, pois era uma mulher a ser seduzida e não tomada. Depois de um coquetel dado aos alunos, a convida para um teatro e depois disso, ambos fazem amor, não sem um grande prelúdio, onde ele a compara com A Naja Vestida de Goya. Ela é uma obra de arte perfeita em tudo, principalmente seus magníficos seios. Um relacionamento um pouco conturbado se inicia e por estar perdidamente apaixonado descobre um enorme ciúme que não conhecia. É aconselhado por George a deixá-la, pois um dia isso ocorrerá por parte dela. Decido a separar-se, convida-a a passear pela praia, mas para sua perplexidade pede-lhe que o acompanhe pela Europa, em uma viagem de amor, onde cantaria em uma gôndola para ela, em Veneza! Enciumado passa a persegui-la, mas Consuela resolve perguntar-lhe o que deseja dela: um relacionamento ou apenas mais uma aventura. Apesar disso continuam a se encontrar por mais de um ano, até que ela se forma e o convida para sua festa, afim de que conheça sua família. Ele não responde e a jovem de vinte e quatro anos, quer que ele vá espontaneamente. (O filme é entremeado por cenas imaginárias do que poderá ocorrer com os dois, que são muito divertidas). Agora ele se imagina na festa, com suas tias, seus pais e amigos mais jovens que o olhariam com escárnio. Decide-se por ir, mas ao chegar perto de sua casa, liga para sua namorada dizendo-lhe que não poderá comparecer, pois seu carro quebrara na ponte George Washington e dependerá de um guincho para tirá-lo do lugar. Decepcionada, chora com o telefone na mão e seu rosto colado ao vidro da sala, embaçado pela chuva que cai. Ao chegar ao apartamento, desolado, é surpreendido pela campainha que toca e seu filho Keny, médico de quarenta e dois anos, entra. Viera para se aconselhar com seu pai, pois apesar de amar sua mulher e os dois filhos, estava apaixonado por alguém muito especial, que não conseguia esquecer ou se afastar. Keny simboliza a vertente puritana americana. David o aconselha a largar a mulher e começar vida nova, mas é criticado pelo médico, que estaria repetindo o modelo de seu pai, que sempre fora considerado por Keny um libertino vulgar. George o consola pela perda de Consuela, que nunca mais o procurara e o poeta confessa estar se reencontrando com sua mulher, apesar de tantos anos juntos e ao mesmo tempo afastados. Começavam a conversar novamente! Nosso herói, que está deprimido pelo afastamento de sua aluna, recebe a atenção de George, que o convida a apresentá-lo em um evento sobre sua poesia. Hesitante aceita a oferta e ao terminar seu discurso de apresentação pede ao amigo que se levante e fale, mas este cai ao chão inconsciente, sofrendo um ataque cardíaco. Pouco depois Kepesh vê novamente seu filho, mas se despede com pressa, pois irá ao enterro do melhor amigo! Concentrando-se somente em seu trabalho, depois de dois anos, acredita ter se recuperado de suas mais recentes perdas, mas não, ainda pensa em Consuela. Sua ex-aluna madura, sentindo-se envelhecida, quer ter um relacionamento mais confortável, onde possam dialogar e David revela-lhe que estivera apaixonado por uma aluna, que nunca mais vira. Depois de uma aula, liga a secretária eletrônica e lá está o recado que tanto temera receber. É Consuela que deseja vê-lo, tendo algo a revelar que não quer que saiba por outros. Amedrontado, dá-se um tempo para retornar a chamada e pede para que entre imediatamente, pois estava em seu carro, estacionado em frente ao prédio. Com os cabelos curtos e ainda mais bonita, trocam um longo abraço e ela lhe confidencia que terá de tirar um seio, pois está com câncer. David chora e fica mais amedrontado do que a jovem. Consuela quer saber se faria amor com ela, já deformada. Ele conta que a belíssima Hipólita havia decepado seu próprio seio, para poder caçar melhor. Pedindo-lhe um último favor, a jovem quer ser fotografada com seus seios nus impecáveis, antes que fique mutilada. Entristecido David a reproduz na mesma posição de A Naja Desnuda! Operada, ele visita seu filho oncologista para saber de suas chances após a intervenção. Ao se despedir, perguntando sobre sua mulher e filhos, fica sabendo que ainda estão juntos e levando a vida. Nesse final do filme Consuela já está se recuperando da cirurgia, tendo deixado a UTI. Deitada no leito hospitalar quer saber se ele acha que ela está muito deformada e perdera sua beleza. David Kepesh deita-se ao seu lado e acariciando-a no rosto e em seus cabelos passam, desse modo, o resto da noite.



Jamais podemos esperar um final feliz nos livros de Roth, pois ele é um realista e transcreve para seus trabalhos parte de seus problemas pessoais. Assim temos peças literárias muito críveis e absolutamente legítimas. Ao ver esse filme, vale muito à pena, se você ainda não os conhece, começar a ler seus incríveis romances. A diretora faz um trabalho primoroso e os personagens estão muito bem em seus papéis.
[1] Um dos maiores escritores russos autor de Guerra e Paz.

sábado, 18 de outubro de 2008

A GUERRA DOS ROCHAS De Jorge Fernando





Esta comédia simpática, inspirada no ótimo e didático filme italiano Parente é Serpente de Mario Monicelli, dirigida por Jorge Fernando e estrelada por Ary Fontoura nos apresenta um tema muito recorrente e sofrido, mas apresentado de maneira bem-humorada. Trata-se do dilema de pessoas idosas, que depois de terem criado e educado seus filhos não têm mais onde morar e suas vidas viram de cabeça para baixo. As relações familiares deterioradas através dos anos e a violência camuflada dos parentes são o mote da história, que nos causa um riso solto, mas de grande constrangimento. Começamos com uma animação muito divertida, retratando o Rio de Janeiro e um belo bairro muito verde e montanhoso, com casas antigas grandes e confortáveis. Logo isso se transforma nas primeiras tomadas do filme, com Dona Dina (ótimo Ary Fontoura), uma senhora de mais de oitenta anos, porém lúcida e forte, chegando à sua casa. Tudo está em desacordo com seu gosto: os papéis da mesa, a chaleira que apita, e o pão que é feito em uma máquina moderna. Colocando tudo em ordem (a sua ordem) vemos que mora com o filho Marcelo (Lúcio Mauro Filho) e sua nora (Taís Araújo) e um filho pequeno. A nora, furiosa por ela ter mexido em seus documentos, e seu filho acham que já basta de ela morar com eles. Mandam-na embora e Dina segue para a belíssima residência de César (Marcelo Antony) advogado hipocondríaco, que vive na casa de sua mãe, com a histérica mulher (Giulia Gam) e sua filha adolescente. Ao chegar é muito mal recebida, a não ser por sua adorável neta e o namorado. Questionada sobre o que fazia lá, responde que esta é sua casa e que não podia morar debaixo de uma ponte. Desesperados enxotam-na da sua própria habitação e a pobre se vê obrigada a buscar o último recurso: o filho mais velho Marcos Vinicius (Diogo Vilela) um senador corrupto, investigado pela CPI do congresso. Sua nora (Ludmila Dayer) é uma mulher sem classe, que se casara por interesse e o casal também não quer saber da pobre Dona Dina Rocha, que contra sua vontade, mas por sua idade, mostra-se uma pessoa que aponta erros alheios e diz o que pensa. Desanimada e flanando pelo bairro, encontra-se com sua amiga Nonô, também viúva, sua vizinha. Convidada ela aceita a tomar um chazinho na casa de Nonô, quando trocam farpas a respeito dos filhos, pois o assunto entre elas é curto e rotineiro. Na mesma rua dois trombadinhas assaltavam carros e levavam o que continha dentro deles. Com a polícia no encalço entram na casa de Nonô, apontando o revolver para as pobres idosas. Lá abrem o resultado do roubo e encontram um grande caixa de chocolates finos que começam a comer e mais tarde oferecem para suas reféns. Os chocolates são recheados com algo muito especial, que faz com que eles comecem a se soltar, gargalhar e achar tudo maravilhoso. Antes, porém as duas são trancadas no banheiro, de onde podem ver César e Ludmila aos beijos e abraços. Durante as peripécias de Nonô e Dina, seus filhos haviam marcado um encontro para definir com quem ela ficaria, entretanto isso se transforma numa briga de foice, onde os irmãos se odeiam e as cunhadas se digladiam. Ofensas e cobranças, típicas das famílias que estão querendo se desfazer de algo que incomoda muito, são trocadas com bofetões e insultos. Essas cenas, apesar da gravidade são embaraçosamente hilárias, pois não existe alguém que já não passou por isso e os diálogos são “típicos”. Todavia no meio da gritaria geral, recebem um telefone do instituto médico legal, avisando que uma senhora com as descrições de Dina, fora atropelada por um ônibus. Todos, muito aliviados por terem o problema tão desagradável resolvido pelo destino, vão ao IML, com exceção de César e Ludmila, que amantes ficam felizes pela oportunidade caída do céu. Aí é que entra a cena das duas velhinhas espiando pelo vidro do banheiro. Uma chama o filho da outra de corno e veado, respectivamente. Ao serem libertadas do lugar e compartilharem da comilança dos bombos recheados de droga, Dina, espertamente, liga para a polícia chamando por socorro. Nesse ínterim, um belo e comovente velório realiza-se na suntuosa sala de jantar da senhora Rocha, com seu caixão em cima da mesa recoberta por esplêndidas rosas vermelhas. Sua nora Júlia, subira ao quarto da sogra a procura de um vestido e acha, acidentalmente, uma arca onde estão os pertences mais valiosos da finada. Sem largá-la nem por um segundo é perseguida e contestada pela família, deixando os convidados perplexos, principalmente o padeiro do bairro, que era apaixonado por Dina. Na casa ao lado, as senhoras são libertadas, mas Nonô está muito infeliz, pois adorara o “barato” que estava tendo. As duas entram na casa de Dina pelos fundos e podem escutar o que o filho mais velho dizia - “proporia uma lei para que pessoas pudessem se livrar do peso da velhice”. Furiosas as amigas entram na sala através de um açalpão, e Dina desfere uma tapa no rosto de César para que ele conheça o peso da velhice! A arca é aberta, na presença da senhora Rocha, por Júlia, as cunhas e os irmãos e as jóias que esperavam encontrar são pequenas lembranças e fotos de seus filhos pequenos, que tanto amara. A televisão está lá, entrevistando o corrupto e em certo momento, chega um velhinho judeu a procura do corpo de sua mulher que fora confundida com Dina para levá-la consigo! O circo armou-se e a cortina já caiu. No terço final do filme, vemos um navio maravilhoso singrando as águas da Baía de Guanabara com um destino que não ficamos sabendo. Dentre os passageiros felizardos estão as duas amigas, felicíssimas pelo cruzeiro, oferecido pelos filhos para se livrarem dela, numa cabine de luxo. Passeando pelo convés, observam um cartaz, com o rosto mascarado de uma cantora, deixando somente seus grandes olhos azuis de fora. Nonô parece reconhecê-los e à noite dirigem-se para o teatro. A cantora com voz maravilhosa faz um show de música clássica, quando as mulheres se sentam e imediatamente Nonô reconhece que os olhos são do seu filho que desaparecera depois do casamento, abandonando mulher e filho para ela cuidar. O travesti, olhando para sua mãe, tira a peruca e desce correndo as escadas do palco para abraçá-la, expondo a todos que ela é sua mãe. Dina por sua vez reafirma o que pensava, veado. Ao seu lado acomoda-se um senhor e ela pede para que saia, pois o lugar já estava ocupado Mas ele não é outro senão o padeiro que a amava. O filme fecha com um beijo entre os dois circundado por um coração muito vermelho. Final feliz, bem diferente de Parente é Serpente, que acaba com uma explosão de um botijão de gás que mata os pais inconvenientes.
O elenco tem um bom desempenho, mas Ary Fontoura e Giulia Gam, sem dúvida alguma, são os melhores.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Caos calmo de Antonio L. Grimaldi














Este drama familiar baseado no romance homônimo de Sandro Veronesi, nos fala da perda precoce de um ente querido da família e suas implicações, portanto acho que Luto Reprimido, também seria um bom título. A primeira cena passa-se em uma praia sofisticada da Itália, onde dois irmãos Pietro (Nanni Moretti) e seu irmão Carlo (Alessandro Gassman) passam as férias e estão jogando raquete de praia, bem ao pé do mar. Em seguida ouvem-se gritos de socorro, pois duas mulheres estavam se afogando. A primeira reação dos irmãos é pular na água para salvá-las, mas ao fazerem são interpelados por alguns homens que acham o fato perigoso e que não deveriam ir. Elas são resgatadas e os salvadores vão para casa. Ao chegar na casa de veraneio Pietro vê uma ambulância, sua filha pequena chorando e sua jovem mulher caída ao chão. Ela está morta. O funeral é discreto e abalado ele pega sua filha, que o culpa por não estar presente naquele momento de dor e morte, e tenta dar continuidade à vida dos dois. Começa uma nova relação de entrega total e sentimento de culpa, pois Pietro não sai mais do lado da filha. Ele a veste, penteia, alimenta e conta histórias na hora de dormir. No dia em que as aulas recomeçam, o pai promete para Claudia (Blu di Martino) que não sairá do banco da praça, em frente à escola, até que a aula termine. Esse ritual é repetido todos os dias, portanto Pietro passa a trabalhar na praça, tomando conta da menina em tempo integral. Na hora do lanche, Claudia sempre acena para ele da janela de sua sala de aula, sentindo-se mais segura, já que é a única pessoa que lhe resta. Eles passam todo o tempo juntos, sem dificuldades ou críticas. Um afetuoso mundo se abre para eles, pois Nanni passa a conhecer os freqüentadores da praça, pessoas que antes nunca vira. Brinca com um menino portador de síndrome de Down, almoça com o dono de uma cafeteria existente no lugar, cumprimenta uma linda jovem que passeia todos os dias com seu grande cachorro. Sendo um executivo, seus colegas de trabalho também o procuram lá, para resolver as pendências e pedir conselhos, pois a firma será comprada parcialmente por uma multinacional francesa. Com isso a praça passa a ser seu ambiente, seu alento. Visitado pela cunhada, ficamos sabendo que tiveram um caso anteriormente e que sua esposa pouco falava de sua vida particular, inclusive que já estava muito doente. Pietro se admira do pouco que sabia sobre a própria mulher, mas os relacionamentos humanos são sempre assim: pensamos que conhecemos tudo das pessoas próximas, mas não é verdade. Alguns têm percepções particulares reservadas e não as revela a ninguém. Nanni enfrenta grandes dificuldades com as reuniões de pais e mestres e não sabe bem o que fazer com a rotina escolar da filhinha, mas acaba se saindo muito bem em todos os aspectos. Seu irmão é dono de uma marca famosa de jeans e muito conhecido pela sociedade italiana. Ele é um ídolo para sua sobrinha e às vezes faz companhia para ela. Em um dos jantares que freqüenta acaba, por acaso, conhecendo a moça que Pietro salvara, e ela fica muito perturbada, fato que é comentado com o irmão. Na corporação, o seu melhor amigo o trai profissionalmente e uma série de problemas passam a acontecer com a venda da empresa. Isabella Ferrari (a moça salva por Pietro) o procura e quer saber quem foi o homem que pediu para que ele não a salvasse. Uma trama se desenvolve diante disso. Pai e filha não prateiam a morte da mãe, fato que chega a incomodar as outras pessoas. Pietro ainda não chorara nenhuma vez para não desabar a estabilidade de sua pequena filha. Ele tenta alimentar sua estabilidade emocional e manter-se natural e calmo. Mas isso não lhe faz bem e no decorrer da história, Pietro entende o quanto o luto é necessário para sua sanidade mental. Sua filha lida com a perda mais naturalmente, chegando a pedir que ele não fique mais trabalhando na rua e a venha buscar somente na hora da saída, como fazem as mães de todas as outras crianças!
Esse drama é poético, apesar do tema, e tem um lado humorístico desenvolvido com muito critério e pertinência. O desempenho de Nanni Moretti e da jovem Blu di Martino é convincente. Como curiosidade o famoso empresário comprador da firma é Roman Polanski!