PATERSON DE JIM JARMUSCH

PATERSON, ESTADOS UNIDOS, 2016, 115 MIN, COMÉDIA DRAMÁTICA.

ELENCO:

 ADAM DRIVER – PATERSON

GOLSHIFTEH FARAHANI – LAURA

Esse belíssimo filme não foi nominado para nenhum premio no Oscar, injustamente. Jim Jarmush concebe uma história original e poética sobre o personagem Paterson, que vive na cidade de Paterson em New Jersey, Estados Unidos. Trata-se da beleza do cotidiano, do simples, das pequenas coisas da vida que são, em verdade, tão especiais. Paterson é uma cidade industrial, com habitantes em sua maioria da working class, pessoas que se conhecem pelo nome e são amigos. Nosso herói mora em uma encantadora casa, perto do seu trabalho e é casado com a belíssima iraniana Laura. Ambos têm qualidades artísticas, ele é um poeta nato, respira poesia e a faz de maneira espontânea e quase compulsiva. Leva sempre consigo um caderno para que possa escrever seus versos a qualquer hora de folga, sem precisar de um lugar especial e um momento de inspiração, vem tão espontaneamente como respira. Ela é uma artista plástica em potencial, mas dividida entre a arte da cozinha, pintura e a música folk. O filme se passa em uma semana e o acordar do casal é sempre apresentado com o dia da semana. São despertares de amor e afeto, com eles juntinhos e Parterson levantando-se bem cedo para ir à garagem de ônibus do local, onde é motorista. O filme começa com seu primeiro poema sobre uma caixa de fósforos que está sobre a mesa da cozinha. A casa tem um terceiro personagem incrível, que é um cachorro mal humorado e inteligente da raça bulldog-inglês. Paterson, durante suas viagens levando os moradores da cidade, não somente os vê, os “enxerga” com acuidade e interesse. Esse é o material de suas poesias, coisas do dia a dia que transforma em belíssimos versos. Laura aconselha-o a tirar uma cópia de seu caderno secreto para que um dia possa mostrar a alguém e editá-los. Ele não tem pressa, pois escreve para si, para seu deleite. Não consegue parar com esse hábito tão entranhado em sua personalidade. Com o correr do filme, continuamos a ver seu cotidiano preenchido com passeios à noite com o cachorro e uma paradinha no bar do pedaço, onde encontra amigos. Seu respeito ao ser humano é grande, transformando-os em poemas maravilhosos e comoventes. Estes são escritos pelo poeta Ron Padgett da Escola de Nova York de Poesia, uma linha moderna de literatura. Chegando ao desfecho do filme, temos cenas surpreendentes e até a visita de um poeta japonês  à cidade, que acaba se encontrando com nosso herói, na cena final. Excelente filme e com um desempenho espetacular do talentoso Adam Driver. Imperdível! Driver trabalhou no ótimo Francis Há e em  Balada de um Homem Comum.  

AS FALSAS CONFIDÊNCIAS DE LUC BONDY

LES FAUSSES CONFIDENCES, FRANÇA, 2016, 85 MIN. COMÉDIA DRAMÁTICA.

ELENCO:

ISABELLE HUPPERT – MADAME ARAMINTE

LOUIS GARRET – DORANTE

YVES JACQUES – DUBOIS

Para quem gosta de teatro esse é um filme e tanto. Luc Bondy passou para o cinema a famosa peça de Marinaux  (1688-1763),  mestre na arte de descrever relacionamentos amorosos e éticos de seu tempo, com o mesmo elenco e de maneira totalmente teatral, com entonações de voz e gestos dessa arte. Para quem não gosta fica um pouco monótono, apesar da pouca duração. A cereja do bolo desse filme, sem dúvida é a atual diva do cinema francês, Isabelle Huppert. Araminte é uma viúva rica, que manda embora seu secretário particular, um senhor idoso, e contrata seu sobrinho para substituí-lo. Dorante é um belíssimo rapaz, estudante de direito, que aceita o cargo e se encanta profundamente pela viúva. Seu tio e o empregado Dubois veem aí uma excelente oportunidade de ganhar dinheiro fácil. Bastava a heroína apaixonar-se por ele e um casamento estaria garantido. Ocorre que essa mulher belíssima, madura já tem um pretendente da antiga monarquia com um caso de terras pendente com ele. O casamento seria uma grande saída. Sua mãe ainda mora em seu apartamento, uma majestosa moradia ao lado de um teatro, com um terraço enorme dando para uma das melhores vistas de Paris. O hall de entrada de mármore com duas escadarias enormes, uma de cada lado, será um dos cenários mais requisitados do filme-peça. Realmente, Araminte se encanta com o rapaz, pois se sente lisonjeada por atrair o amor de uma pessoa tão mais jovem, educada e aduladora. Haverá muitas passagens mirabolantes e pouco morais para que o plano chegue a um fim promissor. Atenção para o desempenho dos artistas principais, muito bom, e também para a última cena do filme. Um pequeno mistério paira no ar.

ARGENTINA DE CARLOS SAURA

ZONDA-FOLCLORE ARGENTINO, ARGENTINA, FRANÇA, 2015, 85 MIN.

DOCUMENTÁRIO

Carlos Saura, em seu novo filme, apresenta ao mundo o riquíssimo folclore argentino em toda sua magnitude. Inspirado no vento Zonda, busca a origem da música argentina desde os primórdios com seus índios. Seu trabalho é fascinante e filmado em um estúdio da Boca, com bailarinos da companhia Ballet Nuevo, Arte de Koki & Panjarín Saavedra, mesclado com interpretações regionais, tradicionais e modernas. Vemos todos os ritmos, desde os mais antigos e indígenas progredindo para outras danças – la zamba, la chacareira, malambo e outros. Os bailarinos e músicos são excepcionais, com coreografias belíssimas e usando muito a sombra como elemento importante, assim como as expressões faciais e corporais. Imperdível, espetáculo de encher os olhos!

FRAGMENTADO DE M. NIGHT SHYAMALAN

SPLIT, ESTADOS UNIDOS, 2016, 117 MIN., TERROR

ELENCO:

JAMES MCAVOY – KEVIN

ANYA TAYLOR –

BETTY BUCKLEY –

Neste drama psicológico e de terror, o diretor M. Night Shymalan explora o mundo das  raras pessoas com várias personalidades, como no livro As Sete Faces de Eva.  Todas são bastante interessantes e intrigantes. No caso do paciente Kevin, que é tratado por uma ótima terapeuta, as personalidades são 23, caminhado para uma última. Ele usa seus alter-egos de acordo com as situações que enfrenta, manipulando-os muito bem. Certo dia encontra três adolescentes e uma de suas personagens resolve raptá-las. Elas acordam em sua moradia, uma espécie de presídio e casa de suplício, no porão de um enorme jardim zoológico. Das três garotas, uma delas mostra-se mais capaz de lidar com a situação e perceber o problema por ser muito sofrida e amadurecida, pois fora estuprada por seu tio na primeira infância, sendo criada por ele após a morte prematura do pai. O paciente não pode ser desafiado e contestado, é preciso usar de inteligência e perspicácia para lidar com esse monstro. Sua psiquiatra ajuda muito para aliviar  seu sofrimento, mas acha que muitas vezes ele mente. Desconfiada de que  havia feito algo grave, questiona-o com cuidado. Entretanto, Kevin é um túmulo, apesar dos horrores que já havia iniciado com as meninas. O filme rola interessante e prende sua atenção, até que o vigésimo quarto personagem, The Beast (A Besta) aparece. Nosso Hulk, perdão, Besta, lembra  muito esse antigo personagem da famosa série. Contra ele nada faz efeito, inclusive balas de uma espingarda! O interessante do filme também são as recordações infantis da garota seviciada, que vai dando pistas dela própria e de como deveria agir com tal indivíduo. O final é interessante e surge um misterioso Mr. Glass, por uns segundos apenas. Boa oportunidade para Mcavoy mostrar seu talento e ótimo para quem gosta do gênero.