segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

UM HOMEM BOM de VICENTE AMORIM











Baseado na peça teatral Good de C.P. Taylor
Este foi um dos filmes mais pungentes e esclarecedores de 2008. Começa em 1937, Berlim, quando um jovem homem de óculos é levado, no banco traseiro de um carro, até um dos Ministérios do Terceiro Reich (partido único), a fim de prestar esclarecimentos a um alto funcionário da SS. Ele é o Professor John Halder (soberbo Viggo Mortensen), o qual se encontra intimidado pela ordem recebida de lá comparecer. Professor de Literatura havia escrito uma novela sobre a eutanásia, onde o marido mata a mulher muito doente por questões humanitárias. O próprio Hitler havia lido e, ao contrário do que estava temendo, gostado muito de seu enfoque. Ele é convidado, ou melhor, obrigado a se filiar a SS, pois o ditador queria juntar o maior número possível de “cérebros” em seu partido. Voltamos para 1933 e Halder, casado e pai de dois filhos, dá uma aula sobre interpretação literária (note na lousa, está escrito Dostoievsky, Tolstoy, e Freud), quando um tumulto impede que prossiga, pois jovens estudantes alemães, pertencentes à juventude hitlerista, estão queimando milhares de livros, cujos conteúdos não seguem a doutrina nazista. Lá estão toda a sabedoria e inteligência da humanidade! Esses jovens eram doutrinados para descartar e aniquilar tudo o que não fosse puramente ariano, uma fantasia de Hitler que era muito místico, o qual queria formar um novo mundo, eliminando tudo que fosse desprezível: intelectuais não simpatizantes, judeus, católicos, doentes, homossexuais e deficientes físicos. Halder fica chocadíssimo com o fato, mas é aconselhado a se juntar à SS, pelo chefe da equipe, a fim de não perder o emprego ou ser morto. Halder não acreditava nessa absurda filosofia e compartilhava esses sentimentos com seu melhor amigo e analista o brilhante judeu Maurice Israel Glückstein (excelente Jack Isaacs). Ambos eram amigos desde a guerra de 1918 e falavam a mesma linguagem de liberdade. O jovem professor cuidava da casa e da mulher neurótica, além da mãe tuberculosa e esclerosada (ótima Gemma Jones). Esse talentoso catedrático é envolvido por uma aluna da área de história, Anne (Jodie Wittaker), que se aproxima dele, sob o pretexto de se encontrar como pessoa, mas que acaba tornando-se sua amante. Ele está muito pressionado por problemas familiares e se envolve com ela, que era como um ar fresco, diante de tantas dificuldades que passavam durante aquela época. Maurice fica incrédulo quando sabe que seu amigo havia deixado a esposa, filhos e levado a mãe para sua casa no interior da Alemanha, para morar com Anne em um pequeno apartamento em Berlim. Fica estarrecido, também, quando John lhe propõe que saia da Alemanha, mas ele também era alemão e havia sido combatente de guerra.Voltamos para 1938 e Halder já havia subido muito profissionalmente desde que se engajara no partido, apesar de ser uma posição intelectual, pois estava escrevendo um ensaio sobre a eutanásia humanitária, baseado em seu romance. Está casado com Anne, que espera seu primeiro filho. Agora moram em um belíssimo apartamento de uma família judia, que fora forçada a abandoná-lo, com seus moveis, quadros, tapetes, louças e pratarias. Essa era a prática oficial na Alemanha, naqueles idos dos anos 30, e os principais oficiais e agentes da SS ocupavam esses imóveis. O ético e livre pensador, John Halder, está bastante mudado e acha que é possível “conviver” com aquele regime, já que era inclusive casado com uma mulher pertencente ao partido nazista. Anne mostrou-se uma mulher sem conteúdo e dedicada aos planos de Hitler. Os imponentes prédios de Berlim eram enfeitados com faixas de veludo e seda vermelhas, com a suástica impressa em grandes formatos. Diversos grupos de pessoas simpatizantes marchavam com a bandeira nazista nas mãos, orgulhosas de seus atos, o que Halder havia abominado tanto. No meio delas havia também os soldados da SS, os quais aniquilavam os que fossem contra o regime. Na Noite dos Cristais, John Halder é convocado para participar, como oficial, da perseguição e extermínio dos judeus. Ele fica desesperado e horrorizado, pois ainda não havia conseguido um bilhete aéreo para seu melhor amigo Maurice, que agora precisava fugir o mais rápido possível para Paris, a fim de resguardar sua vida e dignidade. Isso já havia sido requisitado há algum tempo, mas Halder sempre encontrava um empecilho para fazê-lo, com medo de se comprometer. Excitado parte para a estação, a fim de obter a passagem, que só lhe é vendida através de coação. Chegando a casa pede para que Anne entregue a Maurice o bilhete aéreo, pois sem isso ele estaria morto. Relutante ela promete que o fará e pede para que ele se olhe no espelho. Estava fardado, com quepe e capa, sendo o mais perfeito protótipo do oficial alemão! A noite é muito longa e aterrorizante, com os pobres judeus expulsos de casa, sem nada levar, e amontoados em carroças a fim de serem despachados aos campos de concentração. Halder, apesar de seus esforços não acha Maurice, mas deixa um recado escrito para que vá à sua casa. Na manhã seguinte, quando chega, encontra Anne dormindo e ela diz que seu amigo não havia ido até eles. Nesse ínterim sua mãe morre e ele se encontra com sua ex-mulher, que continua admirando-o, assim como seus filhos. Ela se acha muito bem, dando aulas de música clássica, que era a paixão de Halder, especialmente Mahler, seu compositor predileto com suas lindas sinfonias. Já em 1942, em plena guerra, ele continua trabalhando como consultor da SS, em casos de doenças e ética. Não está absolutamente feliz com o desenrolar das batalhas e suas conseqüências maléficas sobre toda a humanidade. Porém ele é escalado para trabalhar em campos de reassentamento, ou seja, campos de concentração, na Silésia. Halder não podia parar de pensar em seu grande amigo desaparecido, e quando é interrogado por seu relacionamento com ele, aproveita a oportunidade para “testar a eficiência da Gestapo” e menciona seu nome para ser descoberto dentre os milhares de arquivos existentes de judeus destituídos ou mortos. Seu arquivo é encontrado em minutos e ele segue para casa com a mais profunda convicção que Anne havia estado com Maurice, mas o delatara aos oficiais nazistas. Abandonando-a, segue, desesperadamente, à procura do campo de concentração que Maurice havia sido enviado. Esse final de filme é muito doloroso e arrebatador, pois nos são mostrados os judeus trabalhando em serviços forçados, magros, doentes e muitos mortos pelo cansaço, levados a terrenos cercados de arame farpado para serem jogados em valas comuns. A atuação de Viggo Mortensen é fenomenal, pois comovido e roído pelo remorso busca em cada face, em cada gesto a figura de Maurice dentre os milhares de prisioneiros. Em uma esquina barrenta do campo, havia um grupo de judeus que chama sua atenção, pois tocavam Mahler e sua sinfonia predileta. Com os olhos embaçados pelas lágrimas gira em volta de si, à procura de seu amigo, mas tudo o que vê é outros vagões chegando com centenas de mulheres, crianças e homens desesperados ao encontro de seu fim.

domingo, 7 de dezembro de 2008

MIL ANOS DE ORAÇÃODe Wayne Wang







Uma estação ferroviária. Um senhor chinês vai ao encontro da filha. A esteira traz diversas malas e a com uma fita vermelha (da revolução) é a dele. Assim começa esse belo drama psicológico. Pai, Shi (Henry O) e filha Yilan (Feihong Yu) vão para a casa dela; há doze anos não se vêem. Ele estava, agora, aposentado e viúvo. Depois de acomodá-lo, pede para que ele descanse, mas Shi vai ajudá-la a preparar o jantar. Fizera um curso de culinária na China e quer preparar algo especial para a filha. Vemos um “banquete” e Yilan pede que não faça tanta comida. No dia seguinte ela sai para trabalhar e, nesse momento, começa o choque entre gerações. Shi preparara um ótimo café da manhã, mas o tempo que ela tem é escasso, pegando apenas algumas comidas industrializadas, sai para o trabalho. Seu velho pai tenta comunicar-se com ela através das iguarias que faz, mas é em vão. Ela aparenta ser triste e Shi quer ajudá-la. Talvez um pouco tarde demais? Sempre só em casa, observa o quarto de Yilan, limpando algumas peças e dedicando-se à leitura e ao seu caderninho com palavras em inglês. A diferença cultural entre os americanos e chineses é muito grande, mas ele gosta da América e de seus habitantes, livres, sem correntes! Com um vocabulário de uma dezena de palavras, se relaciona com diversas pessoas do condomínio onde moram. No parque, torna-se amigo de uma bonita senhora iraniana. Ele fala chinês ela iraniano, contudo os dois tornam-se grandes amigos. Alguns substantivos e verbos, os mais primários, são falados em inglês. Isso ele sabem dizer em um mesmo idioma – é um laço que os une - mas quando falam de suas emoções, dificuldades e perdas, é na língua mãe que se expressam, entendendo-se perfeitamente bem! Seus semblantes e gestos são mais importantes do que as palavras, que na maioria das vezes não traduzem a verdade. Shi convive muito bem com todos, menos com sua filha, pois demonstra ser uma jovem ressentida e infeliz. Sabemos que ela é divorciada e que seu pai quer ajudá-la a ser feliz, para poder ir embora. Ele pondera que já havia falhado uma vez e não gostaria de repeti-lo. Era engenheiro e trabalhara com foguetes espaciais, nos tempos da revolução cultural e se orgulhava disso e de suas convicções marxistas, pois estudara russo e pertencera ao partido. Yilan sente-se invadida pelo pai e ressentida com ele. Sua maneira de ser, apesar de gentil e acessível, é oriental, um tanto autoritária e inaceitável para o ocidente. O pico da desavença entre os dois não tarda a chegar e Yilan, muito constrangida, fala o porquê de sua angústia e tristeza, pedindo perdão por tê-lo magoado. Porém Shi não se ofendera, ficara surpreendido com sua franqueza e, através de uma parede, para não encará-la, conta sua verdadeira história. Yilan narrara, nesse ínterim, um ditado chinês que dizia serem necessárias trezentas orações para atravessar um barco com alguém, e três mil orações para deitar a cabeça no mesmo travesseiro com outra pessoa! Só assim você a conheceria realmente! Nesse quarto final de filme há uma transformação no relacionamento de ambos que é, nitidamente, refletida em suas fisionomias. A película fecha em um trem com Shi continuando a conversar em mandarim e sua parceira de viagem, em inglês. Estão bem e felizes! Verdadeiramente a língua não é uma barreira intransponível, os atos muitas vezes sim.
Foi mais um ótimo filme do premiado diretor Wayne Wang e com a soberba representação de Henry O. Essa história quando não falada, diz mais do que qualquer diálogo escrito. Vale muito a pena ver esse belíssimo drama.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

APPALOOSA UMA CIDADE SEM LEI de Ed Harris









Um rancho habitado por sem leis, chefiado por Bragg (Jeremy Iron), tem seus homens armados até os dentes à espera de alguém. Galopando chegam três homens- o delegado e seus auxiliares. O cenário é do velho-oeste, o sol brilha inclemente e a poeira sobe quando os cavalos param. Um homem é acusado por assassinato de uma pessoa e estupro de sua mulher. O delegado viera para prendê-lo e enforcá-lo, mas antes de qualquer reação os três representantes da lei são assassinados. Começa o filme com a narração de Viggo Mortensen. É uma narrativa simples e limpa, com poucos diálogos, onde as ações, circunstâncias e sentimentos é que predominam. A história é a preferida dos westerns: uma pequena cidade sem lei é atemorizada por um homem ganancioso, culto (lera Emerson) e brutal. Os conselheiros do local contratam dois matadores implacáveis, que “agem dentro da lei.” Já haviam sido soldados, mas cansados com a profissão tornaram-se justiceiros. Virgil Cole (maravilhoso Ed Harris) será o delegado e Everett Hitch (excelente Viggo Mortensen) o ajudante. Ambos são inexoráveis quanto à ordem do lugarejo e isso contraria muito Bragg, que se acostumara a mandar na cidadezinha. O tema de justiça é discutido - não, visto - através de assassinatos sem hesitação e brutalidade. Quase ao mesmo tempo, chega à cidade uma jovem bem vestida, educada e bem dotada, pois tocava piano e órgão além de cozinhar bem, Allison French (ótima Renée Zellweger). Ela será a peça decisiva nesse jogo de xadrez, pois todos se apaixonarão por ela, que se oferecerá ao macho dominante, e as razões desse comportamento são muito plausíveis em um mundo exclusivamente masculino e violento. Virgil se encanta por ela desde a primeira vez que a vê e será um amor sincero, sem expectativas, a não ser a de estarem felizes juntos! Hitch representa a amizade incontestável entre homens daquela época, pois sem ela estariam fadados ao fracasso e à morte, esse tema eterno que se repete sempre. Ele é um amigo fiel, inteligente que se mostra quase como a consciência de Virgil, que confia no amigo cegamente. Veremos cenários magníficos dos cannyons, o céu azul e brilhante que ofusca nossa visão, riachos, uma vegetação selvagem com muitas flores e o vento que corta e enruga a pele das pessoas. O tema da ocupação européia sobre os índios americanos acontece, igualmente. Um julgamento importante é anulado pelo presidente dos Estados Unidos, recém libertados, porém a vida tem de continuar com a justiça feita pelas próprias mãos! Ragg se torna um homem importante e influente simbolizando o orgulho e o passado, riscados da vida dos indivíduos perigosos e influentes. O final da história é bom, apesar de um pouco previsível, mas traz alento e alegria à película, não fazendo dela um simples filme de bang-bang sem conseqüências. O filme foi baseado no livro de Robert B. Parker, de 2005.

sábado, 29 de novembro de 2008

REDE DE INTRIGAS De Ridley Scott




























Primeira cena: O principal chefe de um grupo terrorista mais recente do que a Al Qaeda, está transmitindo, por meio de vídeos caseiros, uma mensagem para seus seguidores apelando para a destruição dos ocidentais, que os feriram com sangue e eles deveram derramar seu sangue também, até que desapareçam da fase da terra. Um atentado é realizado em Sheffield, outro em Manchester, Inglaterra, naqueles instantes com centenas de feridos. No quartel general da CIA, seu homem mais importante, Ed Hoffman (ótimo Russel Crowe) está em frente a um telão, em uma sala equipada com a mais alta tecnologia, vendo e rastreando todos os passos de seus inimigos e de seu principal agente no Iraque, Roger Ferris (excelente Leonardo Di Caprio), que esta tentando ganhar um luta inglória contra o terrorismo. Ele fala árabe fluentemente, veste-se como um muçulmano e constata o porquê da superioridade dos inimigos. Apesar da falta de tecnologia, a guerra está se arrastando pelo método empregado: trocas pessoais de informações por escrito, fanatismo religioso e obstinação em vencer o ocidente. Ferris é ótimo no que faz, contudo é teleguiado, literalmente, por seu chefe, que estando com a família nos estados Unidos, não se separa jamais de um fone de ouvido, com o qual determina cada passo a ser dado pelo agente. Ferris propõe que façam o mesmo que os orientais, ou seja, não sejam um alvo fácil e organizado, com o eram, pois estavam sempre agindo com previsibilidade e método claro. Sendo enviado para Amã, pois outros atentados ocorreriam, comunica-se diretamente com o chefe da inteligência jordaniana, Hani (Mark Strong), que se considera no mesmo nível de sua majestade. Para que sejam parceiros e sócios era preciso que a confiança mútua fosse total, sem mentiras e dados ocultos, pois isso custaria caro a Ferris. Concordando com as exigências, descontrola-se por vezes, pois Hoffman, de seu confortável escritório com ar condicionado, ou da escola dos filhos, contradiz muitas das ações de seu agente, a fim de pegar o chefe terrorista, que já explodira várias pessoas, inclusive, no mercado de flores de Amsterdã. As informações e contra informações são o principal empecilho na boa execução dos planos de Ferris, que não sabe exatamente o que ocorre nos bastidores americanos e jordanianos. Após muita reflexão ele elabora um plano para pegar Al Salim, pois apesar de nunca declarar sua autoria nos atentados e se manter incógnito, era um homem culto, que estudara em ótimas escolas, inclusive nos estados Unidos, onde completara um PHD. Sendo assim, Ferris supõe que tenha um ego muito elevado e que se eles cometessem um falso atentado terrorista, divulgando o nome de um testa de ferro, que não saberia de sua posição e assim, se sentido insultado Al Salim comunicar-se-ia com essa célula terrorista e seria, talvez, descoberto e preso. Durante uma de suas missões suicidas, na Jordânia, precisamente em Amã, Ferris é mordido por cães raivosos e levado a uma clínica para que tome vacinas contra raiva. A enfermeira que o atende é enigmática e linda! Obviamente que um pouco de romance não poderia faltar. Volta a tomar as injeções e a convence de conversarem a sós por uns instantes. Os dois se gostam desde a primeira vez, e ambos estão se divorciando. Um pequeno “romance” se é o que podemos dizer, se inicia. TUDO, absolutamente TUDO, que ele faz é visto pelas câmeras americanas, com diversas imagens de satélite, que podem ser aproximadas quantas vezes sejam necessárias. O testa de ferro escolhido é um arquiteto jordaniano e muçulmano, Omar Sadiki, homem que gosta de dinheiro e freqüentador de uma igreja da Consciência Universal, ou algo parecido com esse nome. Ele e um advogado de terceiro escalão da Al Qaeda, serão as iscas para detonar o paradeiro de Al Salim. Omar é contratado por Ferris para ir ao Kuait, a fim de realizar uma obra, que seria o chamariz. O nome da operação é Ninho de Figo e será realizada na Turquia. O local a ser detonado é Incirlik Air Base, onde seriam colocados mortos não resgatados, como se fossem soldados que haviam sido explodidos junto com as bombas. O esquema dá certo e várias mensagens de e-mail, em teclado árabe, são enviadas para o computador de Omar, por membros da Al Qaeda. Desnorteado, some, mas é aprisionado por um grupo terrorista. Os americanos já sabem onde está Al Salim, pois havia comido a isca ao ver um noticiário pela televisão. Contudo Ferris, um pessoa ética, quer resgatá-lo e protegê-lo, mas antes que consiga, ele seria aprisionado. Ao sair de um local é seguido por terroristas e seqüestrado por homens de Al Salim. Hoffman acha que todas essas mortes e torturas são totalmente normais, pois aquilo era uma guerra. UMA GUERRA? Só para os árabes e os soldados americanos, pois para os agentes da CIA, não passava de um jogo de videogame. Ferris é abandonado por Hani, que lhe declara que fora traído e sozinho é elevado para o meio do deserto, para ser trocado pela jovem Aisha, que havia sido seqüestrada pelos árabes, em troca de sua pessoa. Deixado em baixo de um sol causticante, no deserto de pedras, é circundado por quatro carros de Al Salim, que dirigindo em círculos em volta do jovem, provocam uma massiva poeira, que impossibilita a visão dos satélites americanos. Saindo cada carro em uma direção diferente, Hoffman “despede-se” de Ferris, pois não sabia qual dos carros seguir! Ele é brutalmente flagelado por Al Salim e seu grupo, pois sendo o principal agente da CIA no oriente médio, querem que lhes forneçam informações. Seus dedos são quebrados com martelados e seu corpo colocado em uma cama com um enorme prego, sua cabeça atingida diversas vezes. Subitamente ouvem-se tiros de metralhadora e Ferris é resgatado por Hani, o chefe da inteligência jordaniana. Ele é que havia seguido o carro certo e salvo, apesar da mazelas, sua vida. Mas ele também havia seqüestrado a enfermeira, para que servissem de isca para achar Al Salim, o qual agora já era seu prisioneiro. Hoffman quer que Leonardo volte para os Estados Unidos ou continue como agente secreto, caso contrário estaria voltando as costas à sua pátria, desse modo seria deixado por conta própria e esquecido. Todavia sua escolha é bem outra. Claro, o bom moço permanece em Amã perto de sua amada, que já se encontrava solta e trabalhando com seus doentes. Imagens de satélites são mostradas até que fiquem pretas e longínquas. FIM!
Sobre o filme
Os atores são muito convincentes, principalmente Crowe, DiCaprio e o ator inglês Strong. A história inverossímil nos atrai, mas é uma colossal bobagem, que não define o que é realmente uma guerra terrorista, como a que temos hoje em dia. É um filme para pessoas suscetíveis, pois apesar das mortes e flagelos, os atores aparecem no dia seguinte com um leve roxo nos olhos e alguns pontos no rosto. Francamente a maquiagem poderia ter sido bem melhor. Como diversão é de primeira linha. Baseado no romance Body of Lies, de David Ignatus. Vários atores árabes fazem parte do ótimo elenco.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

QUEIME DEPOIS DE LER De Joel e Ethan Coen









Este é mais um dos filmes sensacionais dos irmãos Coen. Depois do pesadíssimo Os Fracos Não têm Vez, voltam à comédia, mas que tipo de comédia? Humor negro? Humor paranóico? Humor maníaco ou assassino? É um pouco de tudo isso e ainda se identifica com filme de espionagem. Primeira cena, passos decididos no mármore de um corredor da CIA. Confiante entra um dos seus analistas, Osbourne Cox (John Malkovitch) e para sua surpresa é despedido por ter problemas com bebida. Arrasado e sem emprego resolve escrever um livro de “Memórias” sobre a corporação. Casado com uma fria e infiel médica (Tilda Swinton) tem seus dados copiados por ela em um disquete, para agilizar um processo de divórcio. Ela é amante de um funcionário do tesouro americano, Harry (George Clooney), o qual por sua vez, apesar de casado com uma escritora, é mulherengo, hipocondríaco, e meio psicótico. Esse disquete vai parar, por vias indiretas, em uma academia de ginástica, onde trabalham Linda (Frances McDormond) e o garoto bobalhão Chad (Brad Pitt). Totalmente duros e precisando de dinheiro, ela, para fazer uma plástica estética, e ele, pela grande oportunidade de aventura e faturar algo, resolvem chantagear Cox. Não dando o resultado que esperavam, partem para o que ela chama de plano B, pois não desistiria facilmente. As cenas que se seguem a esta estória atrapalhada, são de pessoas que não deveriam se encontrar e se encontram e caminhos que não deveriam coincidir e coincidem. Porém, como marca registrada dos diretores, cenas de violência inesperada e sem sentido pipocam. A audiência pode ter certeza de grande divertimento, apesar desses detalhes brutais, pois não fazem nenhum sentido real e a estória é muito bem conduzida e amarrada. Na cena final, vemos parte dos Estados Unidos, através da visão do Google Earth e uma música que avacalha os agentes da Cia. Com este time de atores espetaculares e os grandes diretores, não se pode esperar nada menos que uma comédia inteligente e um ótimo entretenimento. Brad Pitt, como personal trainer que masca chicletes e dança ao som de um Ipode, está ótimo! Frances McDormond é sempre genial em qualquer papel, mas nesse filme ela se supera. Clooney é impagável representando um sujeito paranóico e doente por mulheres. Tilda Swinton nos arrepia de frio só em olhá-la e Malkovitch segue em seus papéis de homens problemáticos. A trama toda é uma crítica à posição americana atual, diante do terrorismo, da banalidade, do agir sem pensar, da frivolidade. Mas esse comportamento não se restringe apenas aquele país, infelizmente está globalizado.

domingo, 23 de novembro de 2008

A DUQUESA de SAUL BIDD














Um dos mais belos jardins da Inglaterra nos é mostrados e aí, jovens se divertem com jogos típicos da época. A mais bela das moças, é sem dúvida nenhuma Georgiana Cavendish (Keira Kgnithley) de 17 anos. Sua mãe Lady Spencer (Charlotte Rampling) está finalizando um tratado de casamento com o maduro duque de Devonshire (Ralph Fiennes), que a observa pela janela. O sustentáculo dessa união será a vinda de um herdeiro e obediência ao marido. Em um cenário maravilhoso, com centenas de velas ao fundo, eles se casam. Seu único intuito é o nascimento de um menino, que possa ser o sexto Duque de Devonshire. Esse é um homem duro, insensível, poderoso, promíscuo e ditatorial. Sua jovem esposa só tem uma utilidade para ele: “gerar um menino e obediência”, como os cachorros que ele tanto gosta. O castelo onde vão morar é um dos mais belos e conhecidos de toda Europa, pois William era uma dos homens mais importantes, ricos e influentes da Inglaterra, sendo o principal membro do Wig Party. São tempos de mudança na Europa e a liberdade de voto é ansiada por todos. Os Wigs sonham com uma liberdade moderada, o que é descartado por G. (é assim que a chamavam), pois ou é liberdade ou não é. Esse movimento libertário se espalhara da França aos Estados Unidos da América. Eles são freqüentadores assíduos dos salões e da política, que se torna a paixão de G., juntamente com o jogo. Recém casada é obrigada a ficar com Charlotte, filha bastarda de William, mas um amor maternal se aflora com a pequena. Pouco depois ela tem sua própria filha e em seguida outra. Em muitos dos embates políticos que participa, Georgina reencontra Charles Grey (Dominic Couper), que fora se companheiro. Ele pertence ao partido da oposição, Tory Party (conservador), e pretende se eleger na eleição que está prestes a ocorrer. Nesse ínterim, conhece Bess Foster (Hayley Atwell), que se torna sua melhor amiga e amante seu marido. Através dela fica sabendo o que é o verdadeiro ato sexual e o prazer. Bess, mãe de três filhos e separada deles e do marido, vai morar em seu magnífico palácio, Devonshire, coberto por tapetes, paredes de veludo, artes, pratarias e mobílias de qualidade insuperável. Georgina, ignorada pelo marido, passa a ser sufragista, apoiando abertamente Charles Grey e sua causa em prol da liberdade e igualdade e de um “admirável mundo novo.” Ela é a mulher mais linda da Inglaterra e a mais bem vestida, desenhando seus próprios vestidos e chapéus com muitas plumas, pois, como disse a seu marido, esse seria o único modo como uma mulher poderia se expressar, ao contrário dos homens que eram livres para fazê-lo. Sua presença é esperada, tanto nos salões como entre o povo, por sua inteligência e beleza. Contudo Bess, explicando que precisava ficar junto aos filhos, torna-se abertamente amante do duque de Devonshire, e sua presença e a dos filhos são impostas à jovem. Desespera-se, pois a única coisa que realmente possuía era uma amiga, e essa lhe fora tirada por seu cruel marido. O duque não se desculpa de seus atos, pois estava sempre cumprindo o que prometera: abrigá-la e protegê-la, nada mais do que isso. Refugiando-se com a mãe, volta, a pedido desta, a morar em sua casa, tendo que aceitar esse imposto ménage à trois! Inconformada, pede que seus sentimentos por Charles sejam aceitos, assim como ela aceitava o relacionamento adúltero entre os dois. O duque se enfurece e profere que com ele não há acordos, só há ordens a serem cumpridas. Estuprando-a, exige que tenha um filho e o obedeça. O garoto nasce, enquanto ela está em uma casa de campo para descansar, em companhia de Bess. Wiliiam fica feliz e lhe dá de presente uma letra, com um alto valor, para suas filhas (não nossas). Bess articula, nos bastidores, encontros entre os dois jovens amantes, que partem para Baths, uma cidade linda famosa por suas águas termias (foi fundada pelos romanos). Lá ela engravida de Charles, mas é obrigada pelo duque e sua mãe a voltar para Londres e cuidar de suas filhas, pois se não o fizesse seria impossibilitada de vê-las e o jovem Grey seria banido completamente da política inglesa para sempre. Nesse quase final de filme ela já se entregara à bebida e ao fumo. O duque ao saber de sua gravidez obriga-a a morar no interior do país, ter seu filho e entregá-lo, imediatamente a família Grey. Charles quer casar-se com ela, mas não consegue, pois ela teria que abandonar os filhos e ele a política. Depois do nascimento do bebê, uma menina, ela corajosamente, com a ajuda de Bess, dá a filha ao avô, General Grey, que leva a criança. Tempos depois, quando G. já voltara a freqüentar os salões a pedido do duque, ele lhe confessa que, apesar de suas atitudes duras com ela, a amava, em um gesto pouco familiar a ele. Um pequeno roçar da mão de G. nos mostra que ela concordara com a situação. Georgina volta a viver em uma “suposta tranqüilidade”, mas morre aos 48 anos. Bess casa-se com o duque de Devonshire, com as bênçãos de Georgina, e Charles Grey é eleito primeiro ministro da Inglaterra.

Sobre o filme.
Os atores são muito bons, principalmente Rampling e Fiennes. Keira está lindíssima e continua competente em seus trabalhos de época. Não é um filme espetacular, mas é adorável de ser visto e compreendido, com imagens deslumbrantes dos palácios e castelos ingleses. Os problemas abordados são ainda muito atuais. Houve melhoras políticas, sociais e feministas, mas não chegamos ainda a um consenso, nem de leve em minha opinião, satisfatório.
Sobre Georgina Cavendish, duquesa de Devonshire.
Viveu entre 1757 e 1806. Foi a primeira esposa do riquíssimo William Cavendish, 5°duque de Devonshire. Entre seus descendentes está princesa Diana, que teve uma vida amorosa conturbada e infeliz como a sua. Georgina era notabilizada por sua beleza e o grande círculo político que freqüentava. Era ativista política e em 1784, durante a eleição geral, e mais de cem anos antes do voto feminino ser aceito, havia rumores que trocara beijos por votos a favor de Charles. Certa vez, um irlandês ao vê-la exclamou: “Amo e lhe abençôo, minha Lady, deixe-me ascender meu cachimbo no brilho dos seus olhos!” Casou-se aos 17 anos, teve dois abortos de meninos e duas filhas e um filho, que morreu solteiro! Com Charles teve outra menina em 1792. Georgina visitava sua filha, Eliza Courtney, freqüentemente, às escondidas. Eliza deu o nome de sua mãe para a filha. Morreu aos 48 anos e seu marido casou-se, sob sua benção, com Bess. Era conhecida por sua paixão de jogar, deixando um grande débito. BEM FEITO!
Reparem na mudança do conceito de beleza. A pintura é a imagem verdadeira.

sábado, 22 de novembro de 2008

FELIZ NATAL de SELTON MELLO











Um dia de sol, uma cortina banhada por cores avermelhadas que balança, e atrás uma copa de árvore. Um pátio repleto de carros velhos e um jovem acompanhado do cachorro. Ele lava bem as mãos e depois faz amor com sua companheira, sob o chuveiro. Depois sai e viaja até um casarão repleto de pessoas e muito iluminado. Quem atende é um garoto de 7 anos, que o chama de tio Caio. Ele é Bruno, levando-o para ver a família que comemora uma festa: FELIZ NATAL! ... Esta é uma narrativa, pesada, sobre diversos fatores comuns em famílias irregulares. Caio (ótimo Leonardo Medeiros) é um rapaz sofrido e extremamente contido, que resolve visitar sua família, na noite de natal, a fim de se depurar, de se redimir de seu passado conturbado e encontrar, talvez, outro enfoque para sua vida. Há muitos anos não os via, pois estivera afastado de seus parentes e de seus amigos, por motivos pessoais. A primeira pessoa que vê é a cunhada, mas seu foco é a mãe (excelente Darlene Glória), uma bela senhora alcoólatra e viciada em drogas. Seu irmão Theo (primoroso Paulo Guarniere) o observa, sempre com um sorriso nos lábios e olhos brilhantes e sensíveis. É o tipo de homem que carrega seu destino com aceitação e tolerância. Seu pai (Lúcio Mauro em perfeita atuação) é o mais perfeito cafajeste, que demonstra em seu rosto marcado e enrugado, seu cinismo. A trama é muito bem elaborada e descrita com calma, para que você absorva todas as suas nuances que vão do claro ao mais escuro tom de qualquer palheta de cores. Vários fatores são tratados nesse filme: disfunção familiar, dependência em drogas pesadas, desejo de restauração pessoal, remorso, intolerância paterna e fatalidade. Caio mora em uma pequena cidade e é dono de um ferro velho, tendo a companheira que o satisfaz. Theo é casado, esteio da família, morando em uma grande casa, e sustenta seus parentes mais próximos sem nenhuma lamentação, ao contrário com resignação! A visita de Caio causa um grande mal estar entre os familiares que vêem no que ele foi, o próprio espelho de suas vidas mal construídas e deterioradas. As crianças são os observadores e seguidores atentos dessas mazelas familiares. Todos guardam cuidadosamente seus segredos inconfessáveis e suas cóleras mudas, principalmente nosso herói. Ele, entretanto, quer se redimir de seu passado, para poder ter a paz de espírito que almeja alcançar. Os dois primeiros terços do filme nos dá essa noção global da peça, com cenas emocionantes como o encontro dos dois irmãos para tratar de dinheiro, e a “preparação” de Mércia, a drogada, para um espetáculo terrível, que é assistido por seu neto. Porém acontecem, talvez, mais dois clímaces, que nos preparam para o final do filme, que não ocorre, causando no espectador atento um cansaço, pela tensão em que se posiciona. Finalmente vemos a mesma cortina, tingido de tons avermelhados, com a mesma copa da árvore, e uma das crianças relembrando as atitudes dos mais velhos. A cortina balança e a cena termina. Outra cortina translúcida, do mesmo tom, se fecha rapidamente, com o cotidiano familiar dos moradores do ferro velho, que é visto através da transparência do cortinado. É um final aterrador, mas que arremata as tragédias desses personagens delirantes!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona de Woody Allen







Aviso aos navegantes: o filme todo é narrado!





Direto ao assunto! Como uma trama quase tolinha pode nos oferecer um filme bonito e engraçado, quando bem dirigido e estrelado por atores de primeiro escalão. O diretor é o sempre talentoso Woody Allen e os atores são as maravilhosas Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penelope Cruz e o ótimo Javier Bardem (muito rejuvenescido). Duas jovens americanas, amigas de longa data, vão para Barcelona por dois meses, durante o verão. A maravilhosa casa havia sido cedida por uma amiga da mãe de Vicky, Judy. Cristina vai a fim de se encontrar, pois só tinha certeza daquilo que não queria e Vicky para seu mestrado de língua catalã, pois se apaixonara, aos 14 anos, pela obra de Gaudi. Vicky (Rebecca Hall) está com casamento marcado, é pragmática e quer ter sua vida sob total controle. Cristina (Scartett Johansson) escreve poemas, fez um filme de doze minutos e possui uma mente bem aberta e libertária. Logo o chegarem vão jantar em um restaurante típico e acolhedor, quando são abordadas por Juan Antonio (Bardem), um conhecido pintor divorciado, que encantado pela beleza das moças, propõe-lhes um fim de semana em Oviedo, sua cidade natal para um ménage a trois. Chocada Vick recusa-se a participar, mas acompanha Cristina na aventura amorosa. Scarlett, Bardem e Rebecca, passam um dia glorioso, visitando a belíssima cidade, mas à noite só o primeiro casal vai para o quarto. Ambos desejam ser o mais franco possível nessa situação. Contudo quando o clima está no ápice, Cristina sente-se mal e adivinhem.... Vai vomitar, pois sofria de úlcera, que piorara, com tanto vinho!! Acamada, sobram Vick e Juan para desfrutar o dia que restara. Ele é um ótimo anfitrião, mostrando-lhe a cultura catalã e após um jantar maravilhoso, acabam fazendo amor ao relento! Isso será o divisor de águas na vida de Vick, que por uma noite com ele não consegue esquecê-lo e passa a não ter o controle que imaginava sobre seus sentimentos. Na volta Vick está muda e Cristina se desculpa sem parar pelo constrangimento que dera! Cristina, dois dias depois recebe um convite de Juan e os dois mostram-se ser o par perfeito. Ela vai morar com ele, como todo artista espanhol gostava: ter a musa bem perto para inspirá-lo! Vick, na casa de Judy e seu marido, recebe um chamado de Doug, seu noivo, sugerindo-lhe que se casem em Barcelona e depois, em Nova York, darão um grande festa. Ela emudece e fala por monossílabos, incerta de que isso fosse o que queria, mas finalmente ele voa para lá e acontece o matrimônio. Quando Cristina e Juan já estão totalmente entrosados e apaixonados, chega quem? Claro! Maria Elena (Penélope Cruz), ex-mulher de Juan que havia tentado suicídio e passaria a morar com eles! As duas belezas se confrontam: uma de escaldante luz e de loiro a outra de ardor negro, com cabelos e olhos escuros. As duas são incendiárias, mas Scarlett é mais racional. Maria Elena é a típica suicida, mas um gênio em tudo que faz, pois Bardem havia tirado muita coisa de seu talento e colocado em suas telas. Aos poucos as mulheres se aceitam e tornam-se amigas íntimas, pois Elena reconhecera em Cristina um talento para a fotografia, que ela não sabia que possuía em tão alto grau. Os três formam um conjunto amoroso impecável, que só era assim pela presença de Cristina, a luz loira de olhos azuis. Nesse passar de tempo, o casamento de Vick é um verdadeiro desastre para ela, pois não consegue parar de comparar os dois jovens tão diferentes. Doug, um típico americano bem-sucedido e consumista, e Juan, um artista libertino e sensível. Os quatro se encontram para um almoço e, surgindo uma oportunidade, Vick confessa que esperara uma despedida por parte de Juan, mas ele não quisera interferir em sua decisão de se casar. Com uma rotina amarga Vick, um dia, surpreende Judy, sua anfitriã, beijando um jovem rapaz na sacada. Judy tenta explicar-se e diz que seu casamento apesar de bom, era só isso bom, mas sem paixão. Ela sonhava com algo especial e nunca tivera coragem de partir, por medo, por não ficar mais protegida pelo ótimo Mark. A verdade é que as duas têm exatamente a mesma história de vida! Bem, nesse meio tempo, apesar do luminoso relacionamento entre as livres idéias, Cristina questiona a sua posição naquela casa e resolve partir de lá e ficar duas semanas em Paris, antes de voltar para New York, e repensar sua vida. Maria Elena, que estivera totalmente apaixonada por ela, não aceita a decisão e insulta Cristina, descontrolada e ferida. Juan reage de outra maneira, mais civilizada e tolerante com o desejo de outra pessoa. Contudo... Esses dois gênios brilhantes passam a se massacrar, como antes, e ela arruma a mala, com já fizera diversas vezes, e parte! Bardem encontra-se só, de novo. Judy resolvera dar uma festa em sua mansão para aproximar Vick e Juan e realmente atinge seu intento. Os dois, em uma “Belíssima Tarde em Barcelona” (Título do próximo filme) se encontram e um novo amor aflora entre eles! Em sua casa Juan recebe Vick, para momentos de amor intenso, mas eis que... Eis que... Maria Elena entra e, com uma pistola atira na mão de Vick, a qual furiosa profere que os dois são loucos e que ela jamais poderia viver daquele modo ensandecido! Judy e Mark passeiam pelo cais, de mãos dadas, mas ela não conseguira fazer com que Vick vivesse seu antigo e distante sonho de amor. O filme vai se encerrando com os três jovens, descendo pela escada do avião, Cristina e Doug ilesos e Vick com a mão enfaixada. Em New York eles continuam como estavam no começo do filme. O casal estruturado e completamente previsível e Cristina tendo certeza somente do que não quer!

domingo, 9 de novembro de 2008

sábado, 8 de novembro de 2008

LA LEONERA de Pablo Trapero







Sem dúvida Leonera é um dos filmes mais comoventes de 2008. O título que quer dizer, local onde se mantêm os leões ou as leoas, é perfeito e felizmente não foi traduzido. Na abertura uma música folclórica infantil é cantada e de certo modo define o rumo da película. O foco principal são as desventuras de Júlia (excelente Martina Gusman), jovem universitária de 23 anos, que amanhece em seu apartamento com corpos ensangüentados e esfaqueados. Vivia com dois rapazes Nahuel e Ramiro (Rodrigo Santoro) e após uma briga Nauhel é morto. Ela, principal suspeita do assassinato, é enviada a uma prisão para mulheres grávidas e mães condenadas. Grávida revolta-se contra o sistema carcerário e as condições que a levaram a uma gestação indesejada e a essa situação limite. Contudo, após o parto sente-se vinculada fortemente ao filho Tomas e a uma das prisioneiras. O filme enfoca diversos assuntos complexos e delicados como justiça, solidão, medo, relacionamentos familiares disfuncionais e lesbianismo. É um drama pesado, mas escrito e dirigido com leveza e ternura. Algumas cenas, certamente, não serão esquecidas por quem as vir, e nos farão repensar alguns conceitos preestabelecidos. A maternidade é discutida sob vários ângulos, assim como o abuso e abandono infantil. Enfatiza, também, a condição da mulher atual e latina, sobretudo que necessita ser uma guerreira para sobreviver com seus filhos. No elenco temos ainda Eli Medeiros, ótima como mãe de Julia e a perfeita Laura Garcia, como Marta. O filme é encerrado ao som de um maravilhoso tango. Vale e muito o ingresso.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

UM SEGREDO ENTRE NÓS Direção de Dennis Lee











Esse drama sobre famílias disfuncionais sob o título de Fireflies in the Garden, pobremente traduzido por Um Segredo Entre Nós, é muito bom. As primeiras tomadas são imagens de satélite sobre um belo bairro arborizado, em seguida a periferia e depois campos cultivados. As rodas de um carro aparecem sobre uma estrada molhada pela forte chuva. Ele é dirigido por Charles (Willem Dafoe) que aterroriza um garoto de cerca de doze anos, Michael (excelente Ryan Reynolds quando adulto). Não estão sós no veículo. Aparece o rosto da mãe Lisa (Julia Roberts), que está grávida. Não tolerando a desobediência do filho inteligente e sensível, abre a porta do carro e manda que ele volte a pé para casa! Lisa, uma mulher extremamente submissa e insegura permite o ato, apesar de não concordar com isso. Sua irmã, Jane (excelente Emily Watson quando adulta), é uma garota (ótima Hayden Panettiere) um pouco mais velha que o sobrinho e vai passar uns tempos com eles. O relacionamento entre os dois é perfeito, pois possuem personalidades complementares: ele mais tímido e circunspecto ela mais atirada e realista. Há um lapso de muitos anos no futuro. O filme é feito em flashbacks e o momento atual. O mesmo garoto, que entrara no trigal molhado e desesperado, sai dele já um homem. É Michael adulto e um escritor conhecido. Está indo para a formatura tardia de sua mãe. Sua irmã Ryne dirige o carro. Michael está sem sua mulher Kate, pois estão recentemente separados. Outra cena nos mostra um carro a toda velocidade e Lisa ao lado do marido, sem o cinto de segurança, pois não queria amassar o vestido. O casal está indo também para a casa de Jane, que agora casada com dois filhos pequenos, está à espera da família. Seu filho Christopher, jogando bola, vai para a rua e quase é atropelado pelo veículo em alta velocidade de seu tio. O carro bate em um poste e Charles tem ferimentos leves, mas Lisa é morta instantaneamente. Um funeral é organizado por Michael, aparentemente sob controle, enquanto seu pai está no hospital com Ryne. Flashbacks nos mostram seu relacionamento extremamente conturbado com o pai, um escritor sem muito sucesso e professor universitário. É visto pelo filho como cruel, violento, exigente e grotesco, por tratar sua mãe e a ele com uma exigência neurótica. Durante uma reunião com outros professores pede ao filho que leia um verso escrito pelo próprio garoto, mas ele declama um belo poema de Robert Frost, ganhador do premio Pulitzer, sobre “vaga-lumes no jardim”. Por essa rebeldia, leva o filho para dentro de seu carro, brutalizando-o com palavras e atos, fazendo com que ele fique um longo tempo com duas latas cheias de tintas nas mãos com os braços levantados! Não podendo sair do quarto, também não consegue comer, pois os braços doíam muito pelo esforço feito. Sua mãe, grávida de oito meses, pede-lhe para colocar sua mão na barriga dela e sinta o bebê chutando. Ele se encanta e sugere o nome de Ryne para ele e não Max, desejado por sua mãe. Voltamos para o presente, quando seu pai já saiu do hospital e está fazendo um pequeno discurso durante o velório. A grande e velha casa onde moravam era construída de madeira e Michael ao rever sua esposa, reconcilia-se, fazendo amor no quarto que fica exatamente em cima da sala. O ruído é percebido e todos riem da situação. Após o enterro durante um jantar na casa de Jane, uma cena que ilustra bem sua autoridade, ele reprova a conduta do filho, precisamente como fazia em sua infância, mas agora Michael não fica calado e afronta o pai. O mesmo havia ocorrido durante a gravidez de sua mãe, quando ela descobre que o marido tem uma amante e tenta deixá-lo. O garoto ao vê-la sendo maltratada, avança para o pai, querendo matá-lo! Um acordo de paz é feito por Charles durante a hora de dormir do filho, prometendo mudar sua conduta agressiva. Novamente no presente, durante o velório um jovem crítico literário, colega de seu pai na universidade, senta-se a seu lado e não é visto com bons olhos por Michael, pois dissera que seu último livro não era ficção, mas sim a história de sua vida. Jane recusara-se a lê-lo com medo do conteúdo, pois assim todos ficariam sabendo a verdade. (Qual verdade? Eles tiveram um relacionamento incestuoso na infância? Nada fica muito claro nesse filme, mas as atitudes indicam que sim). O arrogante e detestável Charles pede para os filhos pegarem as coisas de Lisa antes de partirem. Seus filhos procuram cuidadosamente dentro dos bolsos das roupas as contas a pagar, pois era ela quem o fazia. Entrando no closet da mãe Michael se depara com um lugar repleto de vestimentas, sapatos, uma papelada e contas. Ao examiná-las, vê um envelope pardo escrito “Confidencial” e a recorrência de um mesmo número de telefone. Resolve ligar para descobrir quem seria aquela pessoa. No dia seguinte segue para a universidade onde estudara e encontra o crítico literário que era professor de sua mãe. Pergunta-lhe à queima-roupa como era transar com ela. Desconsertado conta como iniciara o caso, há três anos, e que eram muito felizes juntos, mas lamentavelmente ela havia morrido. Michael lhe entrega o envelope pardo e ele pode ler que ela iria se separar do marido, logo que se formasse e iria morar com ele. O jovem escritor agradece por tê-la feito feliz por algum tempo em sua vida tolhida e miserável. Charles, aparentemente, nem por um segundo tem qualquer problema de culpa pela morte da mulher. O afetuoso Christopher se sente culpado pela morte da tia, pois o carro desviara para não bater nele e está em uma crise de consciência muito grave, fugindo de casa! Michael que tinha um temperamento parecido o compreende e lhe explica que foi uma conjunção de fatores que motivou o acidente e o deixa correr livremente pelo trigal, como ele mesmo já fizera inúmeras vezes. Quatro horas depois o menino ainda não chegara e seus pais e Kate partem para procurá-lo, muito aflitos. Apesar de estar com um celular dado por Michael joga-o fora e não se comunica com ninguém. Já é noite e sua mãe se diz desesperada, mas quando Kate tenta acalmá-la, expõe que uma mulher livre não saberia entendê-la. Kate então revela que está grávida, mas seu marido ainda não sabe. Jane pede-lhe que não magoe seu sobrinho, que já sofrera tanto! São interrompidas pela chamada de seu celular. Era Michael que havia encontrado Christopher chorando no túmulo da tia. Nesse terço final de filme ele desanda um pouco, porque as coisas começam a se encaixar para um final feliz, diante de tantos problemas complexos e a relação não resolvida entre pais, filhos e a família. Michael após queimar o manuscrito de seu livro, parte com Kate, feliz porque se tornaria pai e Charles avô. O bebê se chamaria Max, se fosse menino, pois era o nome preferido de sua mãe!!


A atuação dos interpretes é excelente, pois só traz nomes de grande peso artístico. É uma pena que não tenha sido mais bem investigado, pois famílias disfuncionais é um tema atual e muito interessante.
Elenco: Julia Roberts, Ryan Reynolds, Emily Watson, William Dafoe, Carrie-Anne, Hayden Panettiere, Ion Gruffud, Cayden Boyd.

sábado, 25 de outubro de 2008

SOB A MESMA LUA POR PATRICIA RIGGEN


Esta é uma novela mexicana, ou melhor, um melodrama. Apesar de parecer um tanto pejorativo tais substantivos é um filme humano, despretensioso e agradável de se ver. No início da película uma lua maravilhosa aparece e algumas pessoas jovens nadam sob o luar. Vemos que são imigrantes mexicanos, pegos na fronteira do México com os Estados Unidos, pelos guardas. Nova cena, um garoto acorda com o despertador e depois de oferecer o café da manhã para sua avó, se veste e vai para um telefone público. Outra tomada nos mostra uma belíssima jovem morena de olhos oblíquos, também acordando com o despertador. Ela se dirige a um telefone público e faz uma ligação. O garoto de nove anos atende o chamado de Rosario (Kate Del Castillo). É aniversário de Carlitos (Adrian Alonso) e ela lhe pergunta se recebera o seu presente que enviara de Los Angeles. O garoto tem nos pés um belo par de tênis e agradece à mãe, fazendo-a repetir pela milésima vez o local de onde ligava todos os domingos, às 10 horas da manhã. Está perto da pizzaria Dominó, em uma esquina. Na frente há uma lavanderia e um mural. Os dois repetem juntos as mesmas palavras, pois ele as conhecia de cor. Rosário mora a quatro anos naquele país, pois tentava dar uma vida melhor ao seu filho. Tinha dois empregos em casas muito ricas e costurava para ajudar a juntar a importância necessária para obter o green-card e ter Carlos com ela. Durante a festa de aniversário do menino, seu tio aparece e lhe conta que tem um pai vivo e que morava em Tucson, mas antes de terminar é expulso pela avó, que se encontrava muito doente. Carlitos, apesar da idade trabalha com uma senhora, que além de ter uma loja é agenciadora de imigrantes ilegais. Ela adora o garoto, que é muito esperto e eficaz. O pequeno quer, na verdade, atravessar a fronteira e ver sua mãe, mas ela jurara que jamais faria isso, pelo perigo envolvido. Na terça feira seguinte ele acorda e vai ter com sua avó que não responde, pois já estava morta. Desesperado não diz nada a ninguém, arruma sua mochila, pega 1.400 dólares, que havia economizado e parte para a casa de um casal mexicano, nascidos nos Estados Unidos, que pretendiam atravessar crianças para aquele país. Necessitados de dinheiro aceitam a oferta da criança, escondendo-a sob o banco de trás da van. Muito nervosos, ao chegarem à fronteira são revistados pelos guardas e liberados, contudo ao entrarem no carro, são barrados, pois tinham muitas multas a pagar. O carro é guinchado para um pátio, sob o sol causticante, com o garoto em baixo do banco. Esperto, ao menor deslize de um guarda, foge, encaminhando-se para um edifício. Ao ver dois guardas, esconde-se no toalete masculino, onde está um jovem drogado, que em troca de cem dólares aceita levá-lo ao pátio, pois sua latinha com todo seu dinheiro caíra perto do carro, durante a fuga. Não a encontrando mais, pois o veículo já havia sido guinchado, o jovem leva-o para a zona de prostituição, onde o vende por cem dólares. Entretanto uma mulher madura mexicana vê a cena degradante e leva o garoto para sua casa. Lá moravam outros imigrantes ilegais e Reina, com um caráter impecável, os tratava com humanidade. Eles faziam serviços para americanos interessados em não pagar encargos para o governo. Chegando a uma plantação de tomates todos saem do pick-up para trabalharem e junto a eles está Carlitos, o qual quer participar do serviço, acostumado que era com a labuta diária. Entretanto... chegam policiais à procura dos ilegais. Alguns são presos sob pancadaria, outros conseguem fugir no veículo. Quando tudo se acalma restam Enrique (Eugenio Derbez) e o pequeno menino. Ele não quer ouvir falar em ajudá-lo, pois sendo ilegal já tem muitos problemas. O menino o acompanha, assim mesmo, até pegarem uma carona com músicos mexicanos que se encantam com a fibra e o bom humor da criança, que estava fugindo por amor, para encontrar sua mãe. Chegando ao final da carona, eles iriam continuar suas viagens separadamente, pois o egoísta e sofrido Enrique iria a New York e Carlitos a Los Angeles. Como estava impossível achar uma solução financeira, Carlitos aposta que acharia um emprego para os dois. Indo a uma cafeteria em frente, conversa com os donos, um casal de índios americanos, conseguindo o emprego. Enrique o quer só para si, mas o homem só aceitaria os dois juntos. Dormem no mesmo quarto, com a janela aberta mostrando a lua. A criança conta-lhe que sua mãe havia lhe pedido para olhá-la toda vez que sentisse saudades dela, pois também estaria fazendo o mesmo. Entediado, Enrique vira-se para o lado e dorme, mas antes disso Carlitos lhe confidencia que seu pai morava lá. Ao saber o nome do homem, faz uma expressão de cumplicidade e no dia seguinte Carlitos encontra seu pai, que era amigo de seu companheiro. Ele, contudo, não quer saber do filho e não o leva para Los Angeles, como havia prometido. Nesse ínterim, cenas de sua mãe e seu trabalho são entrecortadas com as de seu filho. Ela fora despedida de um de seus empregos e agora pretende voltar, pois não há mais nada a fazer naquela cidade. Sua amiga aconselha-a a casar com um jovem mexicano, que é apaixonado por ela, e já tinha os seus papéis legalizados e o green card. Ela tem somente dois dias para se casar e pegar Carlitos. No sábado, dia do casamento, resolve desfazer o trato com o rapaz, pois só acreditava em matrimônio por amor. Aproveitando que tudo estava arrumado seu ex-noivo volta para a festa como se fosse despedida de uma rara mulher. No México a senhora Carmem está muito preocupada com o desaparecimento de seu querido protegido e encontra um telefone de um dos empregos de Rosario. Avisando a jovem Barbara, sua patroa, do ocorrido, ela vai procurá-la para contar-lhe todos os problemas que estavam se desenrolando. Desesperada a mãe resolve voltar no dia seguinte para o México, pois Carmem não havia mais ligado para ela. Acompanhada pelo rapaz mexicano vai para a estação de ônibus e já sentada na poltrona, vê um adolescente falando em um telefone público e já era domingo! Por outro lado, os dois homens, agora amigos, pois Carlitos conquistara o afeto de Enrique, estão na mesma cidade a procura do local descrito por sua mãe, pois endereço certo ela nunca oferecera. Exauridos de tanto andarem dormem em um banco, numa praça pública. De manhãzinha, Enrique sai para pegar algo, e Carlitos fica sozinho dormindo ao relento. Um carro de polícia passa e para... (mais encrenca)! Enrique está voltando com comida nas mãos, quando o policial pergunta se ele conhece o homem. Negando é enfiado à força na viatura, mas Enrique ameaça os policiais para que ele possa fugir. Algemado é preso. Esse fora seu ato de maior solidariedade, pois odiava a idéia de voltar para o México. Últimas cenas... Suando e correndo ele consegue encontrar a esquina descrita por sua mãe e olhando o telefone, lá está ela com a valise do lado. Entreolhando-se, lágrimas escorrem de seus olhos e se chamam. Carlitos quer atravessar a rua muito movimentada (será que no fim será atropelado, ou será Rosario a próxima vítima???!!). Gritando para que ele pare, esperam pelo semáforo ficar verde e o filme acaba!


É lógico que sua primeira reação é de riso, com tantos problemas que os personagens enfrentam. Imagine um menino de nove anos atravessando a fronteira sozinho e chegando em Los Angeles são e salvo! Depois você se relaxa e pensa na mensagem de amor, saudades, fraternidade e o que a pobreza faz , deslocando tantas pessoas de seus lugares para uma vida muito pior. A atuação do garotinho, sua mãe e Enrique são muito convincentes.
Trilha sonora “Exhaled”.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

FATAL de Isabel Coixet





ELEGY – elegia (poema quase sempre terno e triste) dirigido por Isabel Coixet é um belo drama baseado no livro “O Animal Agonizante” do ganhador do prêmio Pulitzer de Literatura, Philip Roth. Discute-se a posição de um famoso professor de crítica literária que além de escrever para um jornal e lecionar, tem um programa na televisão educativa sobre artes em geral. Nas primeiras cenas David Kepesh (ótimo Bem Kingsley), um senhor de sessenta e poucos anos, está falando sobre o puritanismo americano e de uma ilha de liberdade, onde o sexo, bebida e qualquer vício eram permitidos, mas que desaparecera antes dos anos cinqüenta e que o sexo só reaparecerá nos anos sessenta, com o movimento paz e amor. Depois disso, em seu belo apartamento, ele olha a chuva e se lembra de Tolstoy[1] que havia mencionado que o homem tem uma enorme surpresa na vida quando se depara com uma coisa inesperada: a velhice, quando ainda é inteiramente viril interiormente. Esse homem culto e de certa forma frio, devido a um casamento mal sucedido onde abandonara a mulher e um filho pequeno, não quis mais ter nenhuma forma de comprometimento pessoal. Uma vez a cada vinte ou trinta dias recebe, por vinte anos, a visita de uma ex-aluna, já madura, que pensa precisamente como ele e mora em Seattle. No início do ano letivo ele observa uma aluna Consuela (ótima Penélope Cruz), filha de cubanos ricos que fugiram para os Estados Unidos. O professor a acha belíssima, elegante em sua postura e muito bem vestida. A aluna o admira com sua atenção e seus belos olhos negros. Encantado por ela desabafa-se com seu melhor amigo George, um velho colega e poeta premiado, que também tem seus casos com suas alunas, apesar de ser casado há muitos anos e ter uma filha. O tempo vai passando e ele resolve conquistar Consuela, pois era uma mulher a ser seduzida e não tomada. Depois de um coquetel dado aos alunos, a convida para um teatro e depois disso, ambos fazem amor, não sem um grande prelúdio, onde ele a compara com A Naja Vestida de Goya. Ela é uma obra de arte perfeita em tudo, principalmente seus magníficos seios. Um relacionamento um pouco conturbado se inicia e por estar perdidamente apaixonado descobre um enorme ciúme que não conhecia. É aconselhado por George a deixá-la, pois um dia isso ocorrerá por parte dela. Decido a separar-se, convida-a a passear pela praia, mas para sua perplexidade pede-lhe que o acompanhe pela Europa, em uma viagem de amor, onde cantaria em uma gôndola para ela, em Veneza! Enciumado passa a persegui-la, mas Consuela resolve perguntar-lhe o que deseja dela: um relacionamento ou apenas mais uma aventura. Apesar disso continuam a se encontrar por mais de um ano, até que ela se forma e o convida para sua festa, afim de que conheça sua família. Ele não responde e a jovem de vinte e quatro anos, quer que ele vá espontaneamente. (O filme é entremeado por cenas imaginárias do que poderá ocorrer com os dois, que são muito divertidas). Agora ele se imagina na festa, com suas tias, seus pais e amigos mais jovens que o olhariam com escárnio. Decide-se por ir, mas ao chegar perto de sua casa, liga para sua namorada dizendo-lhe que não poderá comparecer, pois seu carro quebrara na ponte George Washington e dependerá de um guincho para tirá-lo do lugar. Decepcionada, chora com o telefone na mão e seu rosto colado ao vidro da sala, embaçado pela chuva que cai. Ao chegar ao apartamento, desolado, é surpreendido pela campainha que toca e seu filho Keny, médico de quarenta e dois anos, entra. Viera para se aconselhar com seu pai, pois apesar de amar sua mulher e os dois filhos, estava apaixonado por alguém muito especial, que não conseguia esquecer ou se afastar. Keny simboliza a vertente puritana americana. David o aconselha a largar a mulher e começar vida nova, mas é criticado pelo médico, que estaria repetindo o modelo de seu pai, que sempre fora considerado por Keny um libertino vulgar. George o consola pela perda de Consuela, que nunca mais o procurara e o poeta confessa estar se reencontrando com sua mulher, apesar de tantos anos juntos e ao mesmo tempo afastados. Começavam a conversar novamente! Nosso herói, que está deprimido pelo afastamento de sua aluna, recebe a atenção de George, que o convida a apresentá-lo em um evento sobre sua poesia. Hesitante aceita a oferta e ao terminar seu discurso de apresentação pede ao amigo que se levante e fale, mas este cai ao chão inconsciente, sofrendo um ataque cardíaco. Pouco depois Kepesh vê novamente seu filho, mas se despede com pressa, pois irá ao enterro do melhor amigo! Concentrando-se somente em seu trabalho, depois de dois anos, acredita ter se recuperado de suas mais recentes perdas, mas não, ainda pensa em Consuela. Sua ex-aluna madura, sentindo-se envelhecida, quer ter um relacionamento mais confortável, onde possam dialogar e David revela-lhe que estivera apaixonado por uma aluna, que nunca mais vira. Depois de uma aula, liga a secretária eletrônica e lá está o recado que tanto temera receber. É Consuela que deseja vê-lo, tendo algo a revelar que não quer que saiba por outros. Amedrontado, dá-se um tempo para retornar a chamada e pede para que entre imediatamente, pois estava em seu carro, estacionado em frente ao prédio. Com os cabelos curtos e ainda mais bonita, trocam um longo abraço e ela lhe confidencia que terá de tirar um seio, pois está com câncer. David chora e fica mais amedrontado do que a jovem. Consuela quer saber se faria amor com ela, já deformada. Ele conta que a belíssima Hipólita havia decepado seu próprio seio, para poder caçar melhor. Pedindo-lhe um último favor, a jovem quer ser fotografada com seus seios nus impecáveis, antes que fique mutilada. Entristecido David a reproduz na mesma posição de A Naja Desnuda! Operada, ele visita seu filho oncologista para saber de suas chances após a intervenção. Ao se despedir, perguntando sobre sua mulher e filhos, fica sabendo que ainda estão juntos e levando a vida. Nesse final do filme Consuela já está se recuperando da cirurgia, tendo deixado a UTI. Deitada no leito hospitalar quer saber se ele acha que ela está muito deformada e perdera sua beleza. David Kepesh deita-se ao seu lado e acariciando-a no rosto e em seus cabelos passam, desse modo, o resto da noite.



Jamais podemos esperar um final feliz nos livros de Roth, pois ele é um realista e transcreve para seus trabalhos parte de seus problemas pessoais. Assim temos peças literárias muito críveis e absolutamente legítimas. Ao ver esse filme, vale muito à pena, se você ainda não os conhece, começar a ler seus incríveis romances. A diretora faz um trabalho primoroso e os personagens estão muito bem em seus papéis.
[1] Um dos maiores escritores russos autor de Guerra e Paz.

sábado, 18 de outubro de 2008

A GUERRA DOS ROCHAS De Jorge Fernando





Esta comédia simpática, inspirada no ótimo e didático filme italiano Parente é Serpente de Mario Monicelli, dirigida por Jorge Fernando e estrelada por Ary Fontoura nos apresenta um tema muito recorrente e sofrido, mas apresentado de maneira bem-humorada. Trata-se do dilema de pessoas idosas, que depois de terem criado e educado seus filhos não têm mais onde morar e suas vidas viram de cabeça para baixo. As relações familiares deterioradas através dos anos e a violência camuflada dos parentes são o mote da história, que nos causa um riso solto, mas de grande constrangimento. Começamos com uma animação muito divertida, retratando o Rio de Janeiro e um belo bairro muito verde e montanhoso, com casas antigas grandes e confortáveis. Logo isso se transforma nas primeiras tomadas do filme, com Dona Dina (ótimo Ary Fontoura), uma senhora de mais de oitenta anos, porém lúcida e forte, chegando à sua casa. Tudo está em desacordo com seu gosto: os papéis da mesa, a chaleira que apita, e o pão que é feito em uma máquina moderna. Colocando tudo em ordem (a sua ordem) vemos que mora com o filho Marcelo (Lúcio Mauro Filho) e sua nora (Taís Araújo) e um filho pequeno. A nora, furiosa por ela ter mexido em seus documentos, e seu filho acham que já basta de ela morar com eles. Mandam-na embora e Dina segue para a belíssima residência de César (Marcelo Antony) advogado hipocondríaco, que vive na casa de sua mãe, com a histérica mulher (Giulia Gam) e sua filha adolescente. Ao chegar é muito mal recebida, a não ser por sua adorável neta e o namorado. Questionada sobre o que fazia lá, responde que esta é sua casa e que não podia morar debaixo de uma ponte. Desesperados enxotam-na da sua própria habitação e a pobre se vê obrigada a buscar o último recurso: o filho mais velho Marcos Vinicius (Diogo Vilela) um senador corrupto, investigado pela CPI do congresso. Sua nora (Ludmila Dayer) é uma mulher sem classe, que se casara por interesse e o casal também não quer saber da pobre Dona Dina Rocha, que contra sua vontade, mas por sua idade, mostra-se uma pessoa que aponta erros alheios e diz o que pensa. Desanimada e flanando pelo bairro, encontra-se com sua amiga Nonô, também viúva, sua vizinha. Convidada ela aceita a tomar um chazinho na casa de Nonô, quando trocam farpas a respeito dos filhos, pois o assunto entre elas é curto e rotineiro. Na mesma rua dois trombadinhas assaltavam carros e levavam o que continha dentro deles. Com a polícia no encalço entram na casa de Nonô, apontando o revolver para as pobres idosas. Lá abrem o resultado do roubo e encontram um grande caixa de chocolates finos que começam a comer e mais tarde oferecem para suas reféns. Os chocolates são recheados com algo muito especial, que faz com que eles comecem a se soltar, gargalhar e achar tudo maravilhoso. Antes, porém as duas são trancadas no banheiro, de onde podem ver César e Ludmila aos beijos e abraços. Durante as peripécias de Nonô e Dina, seus filhos haviam marcado um encontro para definir com quem ela ficaria, entretanto isso se transforma numa briga de foice, onde os irmãos se odeiam e as cunhadas se digladiam. Ofensas e cobranças, típicas das famílias que estão querendo se desfazer de algo que incomoda muito, são trocadas com bofetões e insultos. Essas cenas, apesar da gravidade são embaraçosamente hilárias, pois não existe alguém que já não passou por isso e os diálogos são “típicos”. Todavia no meio da gritaria geral, recebem um telefone do instituto médico legal, avisando que uma senhora com as descrições de Dina, fora atropelada por um ônibus. Todos, muito aliviados por terem o problema tão desagradável resolvido pelo destino, vão ao IML, com exceção de César e Ludmila, que amantes ficam felizes pela oportunidade caída do céu. Aí é que entra a cena das duas velhinhas espiando pelo vidro do banheiro. Uma chama o filho da outra de corno e veado, respectivamente. Ao serem libertadas do lugar e compartilharem da comilança dos bombos recheados de droga, Dina, espertamente, liga para a polícia chamando por socorro. Nesse ínterim, um belo e comovente velório realiza-se na suntuosa sala de jantar da senhora Rocha, com seu caixão em cima da mesa recoberta por esplêndidas rosas vermelhas. Sua nora Júlia, subira ao quarto da sogra a procura de um vestido e acha, acidentalmente, uma arca onde estão os pertences mais valiosos da finada. Sem largá-la nem por um segundo é perseguida e contestada pela família, deixando os convidados perplexos, principalmente o padeiro do bairro, que era apaixonado por Dina. Na casa ao lado, as senhoras são libertadas, mas Nonô está muito infeliz, pois adorara o “barato” que estava tendo. As duas entram na casa de Dina pelos fundos e podem escutar o que o filho mais velho dizia - “proporia uma lei para que pessoas pudessem se livrar do peso da velhice”. Furiosas as amigas entram na sala através de um açalpão, e Dina desfere uma tapa no rosto de César para que ele conheça o peso da velhice! A arca é aberta, na presença da senhora Rocha, por Júlia, as cunhas e os irmãos e as jóias que esperavam encontrar são pequenas lembranças e fotos de seus filhos pequenos, que tanto amara. A televisão está lá, entrevistando o corrupto e em certo momento, chega um velhinho judeu a procura do corpo de sua mulher que fora confundida com Dina para levá-la consigo! O circo armou-se e a cortina já caiu. No terço final do filme, vemos um navio maravilhoso singrando as águas da Baía de Guanabara com um destino que não ficamos sabendo. Dentre os passageiros felizardos estão as duas amigas, felicíssimas pelo cruzeiro, oferecido pelos filhos para se livrarem dela, numa cabine de luxo. Passeando pelo convés, observam um cartaz, com o rosto mascarado de uma cantora, deixando somente seus grandes olhos azuis de fora. Nonô parece reconhecê-los e à noite dirigem-se para o teatro. A cantora com voz maravilhosa faz um show de música clássica, quando as mulheres se sentam e imediatamente Nonô reconhece que os olhos são do seu filho que desaparecera depois do casamento, abandonando mulher e filho para ela cuidar. O travesti, olhando para sua mãe, tira a peruca e desce correndo as escadas do palco para abraçá-la, expondo a todos que ela é sua mãe. Dina por sua vez reafirma o que pensava, veado. Ao seu lado acomoda-se um senhor e ela pede para que saia, pois o lugar já estava ocupado Mas ele não é outro senão o padeiro que a amava. O filme fecha com um beijo entre os dois circundado por um coração muito vermelho. Final feliz, bem diferente de Parente é Serpente, que acaba com uma explosão de um botijão de gás que mata os pais inconvenientes.
O elenco tem um bom desempenho, mas Ary Fontoura e Giulia Gam, sem dúvida alguma, são os melhores.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Caos calmo de Antonio L. Grimaldi














Este drama familiar baseado no romance homônimo de Sandro Veronesi, nos fala da perda precoce de um ente querido da família e suas implicações, portanto acho que Luto Reprimido, também seria um bom título. A primeira cena passa-se em uma praia sofisticada da Itália, onde dois irmãos Pietro (Nanni Moretti) e seu irmão Carlo (Alessandro Gassman) passam as férias e estão jogando raquete de praia, bem ao pé do mar. Em seguida ouvem-se gritos de socorro, pois duas mulheres estavam se afogando. A primeira reação dos irmãos é pular na água para salvá-las, mas ao fazerem são interpelados por alguns homens que acham o fato perigoso e que não deveriam ir. Elas são resgatadas e os salvadores vão para casa. Ao chegar na casa de veraneio Pietro vê uma ambulância, sua filha pequena chorando e sua jovem mulher caída ao chão. Ela está morta. O funeral é discreto e abalado ele pega sua filha, que o culpa por não estar presente naquele momento de dor e morte, e tenta dar continuidade à vida dos dois. Começa uma nova relação de entrega total e sentimento de culpa, pois Pietro não sai mais do lado da filha. Ele a veste, penteia, alimenta e conta histórias na hora de dormir. No dia em que as aulas recomeçam, o pai promete para Claudia (Blu di Martino) que não sairá do banco da praça, em frente à escola, até que a aula termine. Esse ritual é repetido todos os dias, portanto Pietro passa a trabalhar na praça, tomando conta da menina em tempo integral. Na hora do lanche, Claudia sempre acena para ele da janela de sua sala de aula, sentindo-se mais segura, já que é a única pessoa que lhe resta. Eles passam todo o tempo juntos, sem dificuldades ou críticas. Um afetuoso mundo se abre para eles, pois Nanni passa a conhecer os freqüentadores da praça, pessoas que antes nunca vira. Brinca com um menino portador de síndrome de Down, almoça com o dono de uma cafeteria existente no lugar, cumprimenta uma linda jovem que passeia todos os dias com seu grande cachorro. Sendo um executivo, seus colegas de trabalho também o procuram lá, para resolver as pendências e pedir conselhos, pois a firma será comprada parcialmente por uma multinacional francesa. Com isso a praça passa a ser seu ambiente, seu alento. Visitado pela cunhada, ficamos sabendo que tiveram um caso anteriormente e que sua esposa pouco falava de sua vida particular, inclusive que já estava muito doente. Pietro se admira do pouco que sabia sobre a própria mulher, mas os relacionamentos humanos são sempre assim: pensamos que conhecemos tudo das pessoas próximas, mas não é verdade. Alguns têm percepções particulares reservadas e não as revela a ninguém. Nanni enfrenta grandes dificuldades com as reuniões de pais e mestres e não sabe bem o que fazer com a rotina escolar da filhinha, mas acaba se saindo muito bem em todos os aspectos. Seu irmão é dono de uma marca famosa de jeans e muito conhecido pela sociedade italiana. Ele é um ídolo para sua sobrinha e às vezes faz companhia para ela. Em um dos jantares que freqüenta acaba, por acaso, conhecendo a moça que Pietro salvara, e ela fica muito perturbada, fato que é comentado com o irmão. Na corporação, o seu melhor amigo o trai profissionalmente e uma série de problemas passam a acontecer com a venda da empresa. Isabella Ferrari (a moça salva por Pietro) o procura e quer saber quem foi o homem que pediu para que ele não a salvasse. Uma trama se desenvolve diante disso. Pai e filha não prateiam a morte da mãe, fato que chega a incomodar as outras pessoas. Pietro ainda não chorara nenhuma vez para não desabar a estabilidade de sua pequena filha. Ele tenta alimentar sua estabilidade emocional e manter-se natural e calmo. Mas isso não lhe faz bem e no decorrer da história, Pietro entende o quanto o luto é necessário para sua sanidade mental. Sua filha lida com a perda mais naturalmente, chegando a pedir que ele não fique mais trabalhando na rua e a venha buscar somente na hora da saída, como fazem as mães de todas as outras crianças!
Esse drama é poético, apesar do tema, e tem um lado humorístico desenvolvido com muito critério e pertinência. O desempenho de Nanni Moretti e da jovem Blu di Martino é convincente. Como curiosidade o famoso empresário comprador da firma é Roman Polanski!