segunda-feira, 28 de março de 2016

CONSPIRAÇÃO E PODER DE JAMES VANDERBILT





TRUTH, EUA, AUSTRÁLIA, 2015, 125 MIN., DOCUDRAMA
ELENCO:
CATE BLANCHETT – MARY MAPES
ROBERT REDFORD – DAN RATHER

Este docudrama, baseado no livro da produtora do jornalístico “60 Minutes”, da CBS, mostra um furo de reportagem e suas consequências, quando em 2004, pouco antes da reeleição de George Bush ao segundo mandato dos Estados Unidos foi ao ar. Chegaram às mãos de Mary Mapes documentos que provavam que George Bush não teria participado do serviço militar, a fim de evitar ser morto na guerra do Vietnã. Documentos datilografados provavam que ele teria ido para a Guarda Aérea Nacional, assim como outros jovens milionários e de famílias influentes. Mary, em posse desses papéis devidamente assinados, reúne sua equipe jornalística para investigar o caso, começando pela sua autenticidade. Esses documentos foram oferecidos por um velho oficial que não queria ser mencionado por ter problemas de saúde. Sendo produtora do famoso apresentador Dan Rather, depois de muito trabalho, o programa vai para o ar. Logo em seguida, blogueiros contestam a autenticidade desses documentos, baseando-se na grafia da época, pois agora seria bastante diferente. O clã Bush faz de tudo para invalidar aquela notícia pondo, inclusive, em risco a profissão dos repórteres e do cultuado apresentador. A CBS não consegue provar rapidamente a autenticidade deles e começando por Dan Rather, que é despedido imediatamente após se retratar na televisão, toda a equipe sofre gravemente as consequências desse contra-ataque. Todos ficam desempregados. Dan Rather perde na corte o processo contra a CBS e Mary Mapes nunca mais será vista na televisão. O filme é ótimo, com cenas ágeis e estimulantes, o veterano Robert Redford inspira confiança e credibilidade no papel. Cate Blanchett oferece seu melhor como a valente, sofredora e determinada produtora Mary Mapes. Observações sobre a vida pessoal da equipe é bem inserida no contexto. Ótimo e simplesmente imperdível. 

sábado, 26 de março de 2016

DESAJUSTADOS DE DAGURT KÁRI





FÚSI, ISLÂNDIA- DINAMARCA, 2015, 98 MIN., DRAMA
ELENCO:
GUNNAR JÓNSSON – FÚSI
FRANZISKA UNA DAGSDÓTTIR – HERA
ILMUR KRISTJÁNSDÓTTIR – SJÖFN
O diretor Dagurt Kári faz, aqui, um filme impecável. É quase uma fábula moderna sobre a tolerância, bondade, amor e desprendimento. Tudo que não temos hoje em dia. Fúsi (ótimo Gunnar Jónsson) é um homem de 43 anos, tímido ao extremo e um pouco infantilizado, pois ainda joga ou planeja guerras com os brinquedos que fabrica. Apaixonado pela Segunda Guerra Mundial, ele tem uma maquete enorme onde constrói situações de avanço e recuo de seus soldadinhos e se diverte com carros de controle remoto. Ainda mora com a mãe, mas para ela é uma situação muito conveniente, pois é sozinha. Aqui vem uma discrepância entre país civilizado e o nosso. Fúsi trabalha no aeroporto na seção de cargas, tirando e pondo malas o tempo todo. É um homem enorme no tamanho e na circunferência de seu corpo. Mas mesmo assim ele e os demais empregados tem seu carro próprio em bom estado e moram dignamente. Fúzi só tem um amigo que joga com ele suas batalhas e no trabalho sofre bullying dos colegas, alguns muito pesados. Apesar disso não revida, ao contrário, os ajuda quando necessário. Funcionário exemplar, nunca tirou férias ou saiu do país, apesar de trabalhar no aeroporto.  Sua vida é monótona, ele não sorri e parece infeliz, não tem namorada e é virgem. Tudo começa a mudar para melhor, quando uma menina chamada Hera muda para seu edifício e vai procurá-lo para ter com que brincar. Não gosta muito das brincadeiras de menino, mas Fúsi topa brincar com bonecas para encantamento dela. No seu aniversário ganha um curso de dança, quadrilha, e acidentalmente encontra Sjöfn, uma mulher despachada, florista, mas que também não o rejeita. As perspectivas de Fúsi vão mudando, pois acaba até se apaixonando pela florista. Apesar de tudo os fatos não correm exatamente como o expectador espera e uma grande lição nos é ensinada pelo diretor. Fúsi não é interesseiro, apenas quer ajudar e se deixar amar pelo próximo. Matizes interessantes vão surgindo em sua vida e ele vai se firmando como um homem ideal. Nós mesmos passamos a amá-lo com o decorrer da história singela, contudo plena de vida. O título em português é ridículo. Em islandês é Fúsi, o nome do personagem. Desajustados não tem cabimento. Imperdível!! Um dos melhores filmes em cartaz se não o melhor. O longa ganhou como melhor filme no Nordic Council Film Prize e melhor ator e melhor roteiro no Tribeca Film Festival.



terça-feira, 22 de março de 2016

MEU AMIGO HINDU DE HECTOR BABENCO




BRASIL, 2015, 109 MIN, DRAMA
ELENCO:
WILLEM  DAFOE – DIEGO FAIRMAN
MARIA FERNANDA CÂNDIDO – ESPOSA LIVIA
BÁRBARA PAEZ – NAMORADA
SELTON MELLO – MORTE
Esse filme, de certo modo, narra a vida do diretor argentino-brasileiro, quando se viu às portas da morte enfrentando um câncer de medula. Dafoe é Diego, um cineasta que logo no começo do longa afirma estar com um câncer terminal. Apesar dos 10 anos de luta, chegara sua hora, a não ser que fosse aos Estados Unidos fazer uma cirurgia ainda experimental na época: transplante de medula. Com sua bela mulher, Livia, parte para Los Angeles a fim de tentar se salvar. As cenas são tristes e longas até que chegue o momento apropriado para a operação. Durante elas, aparece a figura da morte, Selton Mello despido de seu charme e vestido como um funcionário público. Ele viera buscá-lo, mas teriam ainda algum tempo para conversas e amenidades. Uma delas é jogar xadrez, uma referência ao Sétimo Selo de Ingmar Bergman. Seu relacionamento familiar é muito difícil, sendo um homem egoísta e recluso, entretanto bastante sensual. O irmão mais novo será o doador e o relacionamento com ele é o pior possível, a ponto de ele querer cobrar do diretor uma grande quantia em dinheiro pelo seu sangue. Até a metade do filme veremos a preparação e o pós-operatório no hospital, onde encontra um garotinho hindu, que será uma fonte de inspiração para contar histórias, o que realmente gostava de fazer. Quando se recupera volta para o Brasil, mas seu casamento acabara, Livia não aguentava mais viver só a vida dele. Impotente está arrasado e passa por momentos angustiantes, até que encontra Bárbara, uma jovem atriz por quem se apaixona e consegue sua vida amorosa de volta. Nas últimas cenas a homenagem é a Frank Sinatra, pois a jovem interpreta Cantando na Chuva, apenas com um leve vestido molhado, que mostra sua nudez. Bom, bem dirigido, mas sem novidades especiais.


segunda-feira, 21 de março de 2016

MUNDO CÃO DE MARCOS JORGE






BRASIL, 2014, 122 MIN., DRAMA
ELENCO:
LÁZARO RAMOS – NENÊ
BABU SANTANA – SANTANA
ADRIANA ESTEVES – MULHER DE SANTANA
THAINÁ DUARTE – FILHA DE ADRIANA E SANTANA
VINI CARVALHO – FILHO DE ADRIANA E SANTANA


Este quarto longa do diretor Marcos Jorge, do ótimo Estômago, é um filme que se destaca dos demais. É violento, com poucas pitadas de humor muito bem colocadas. Contudo é o mundo cão na sua mais alta rotação. Os produtores pedem para não colocar spoilers e com toda razão, pois é conciso e cheio de reviravoltas muito surpreendentes. Um ótimo roteiro e direção. Em linhas gerais é o seguinte: Santana trabalha no Departamento de Combate às Zoonoses. Com um furgão pega cachorros ameaçadores ou abandonados e leva para a central, que espera três dias pelo dono, depois disso o animal é sacrificado. Além disso, é uma ótima pessoa, bom pai e marido, mas um tanto “deixa, eu faço amanhã”. Bonachão gosta de postergar as coisas. Terá um embate feroz com Nenê, seu oposto. Nenê é um contraventor, amigo de vários policiais, extremante violento, psicopata, tendo a sexualidade à flor da pele e adora cães rottweillers ferocíssimos. Tem dois sempre em sua companhia e não mede esforços para tratá-los e mimá-los. São sua família. Ocorre que um deles escapa e atemoriza crianças e professora em uma escolinha de bairro, sendo a carrocinha chamada para pegá-lo. Passam-se os três dias e nada do dono, então vai para o abate. Nenê chega imediatamente depois disso e nesse exato momento, começará uma história de vingança e tormentos, causados em parte pela nossa situação policial caótica e pela violência do país. Esse fato afetará a família de Santana de um modo muito peculiar e surpreendente. Hoje em dia não é permitido o abate desses cães. Ótimo filme com os atores representando com naturalidade e precisão seus papéis nada fáceis, incluindo as crianças. Recomendo muito, pois é original e com um desfecho espetacular. Perfeito. Mais uma vez, parabéns ao elenco e ao diretor.

terça-feira, 15 de março de 2016

FIQUE COMIGO DE SAMUEL BENCHETRIT



ASPHALTE, FRANÇA, 2015, 100 MIN. COMÉDIA DRAMÁTICA
ELENCO:
ISABELLE HUPPER – JEANNE MEYER
GUSTAVE KERVEN – STERKOWITZ
TASSADIT MANDI – HAMIDA

O diretor Samuel Benchetrit faz desse filme uma crônica bastante interessante, no formato de comédia dramática. O filme não tem quase diálogos e poucos cenários. São observação e entendimento humanos. Uma comédia “non sense” com situações absurdas como em um quadro surrealista. Na periferia industrial de uma cidade francesa, há um prédio decadente, cujo elevador já não funciona. Começa com os moradores fazendo uma reunião para comprar um novo elevador e se livrarem do velho. O preço não é absurdo e todos concordam com exceção do Sr. Sterkowitz, um homem de meia idade, muito tímido e que nem de leve sabe o que significa solidariedade. Essas pessoas moram, no momento, sozinhas e formam um grupo bastante interessante. A trama será conduzida com uma finalidade sensível: o valor da amizade. Sterkowitz mora no primeiro andar e não vê motivo para pagar um novo elevador, já que não o usa. Fica acertado que ele não poderia usá-lo. Concorda com alegria. Ocorre que esse mesmo homem ficará em uma cadeira de rodas e quando chega do hospital, vê-se na impossibilidade de subir a escada e a única saída seria usar o tal elevador. Escondido, espera um momento oportuno e sobe com ele. Posta-se horas atrás da porta de seu apartamento fazendo cálculos para ter os horários certos de usá-lo. Consegue e assim sai durante a madrugada. Conhece uma enfermeira, do turno noturno, em um hospital das redondezas, sentindo atração por ela e é correspondido. Mente ser fotógrafo e faz de tudo para vê-la e fotografá-la com uma máquina muito velha. Terá sua namorada. Em outro andar mora um jovem que ainda estuda e percebe ter uma nova vizinha, Jeanne Meyer, uma atriz já em fim de carreira, que se propõe a ajudar, apesar de seu mau humor e vontade de ficar sozinha. Ela estaria “de passagem” pelo lugar para voltar a brilhar diante dos holofotes. Um terceiro caso ainda é mais bizarro, uma senhora argelina tem seu filho preso e está muito infeliz, pois é meiga, cuidadora e ótima cozinheira. Durante o filme vemos imagens do interior de uma nave espacial, com um jovem tripulante americano, que só fala seu idioma. Do nada, a nave perde a direção e cai no teto do prédio de Hamida e ele vai parar em seu apartamento, para alegria dela, que teria com quem conversar e cuidar. A NASA pede para que fique com o rapaz por dois dias. Mesmo sem falarem a mesma língua, se estabelece uma relação de amizade e carinho real entre eles. Comunicam-se muito bem, somente com gestos e atitudes. O melhor de tudo é que o diretor não tem pressa para que haja muito diálogos e tramas. São poucas situações inusitadas que fazem a graça e a beleza do filme. Ele dá tempo para o espectador absorver a situação, analisar e rir. Ótimo trabalho. Imperdível.