sábado, 31 de janeiro de 2009

FOI APENAS UM SONHO de SAM MENDES














Este ótimo filme, baseado no livro do grande autor norte-americano Richard Yates, e muito bem interpretado por Leonardo DiCaprio (Frank Wheeler) e Kate Winslet (April Wheeler) fala de costumes, relações familiares e desejos, tudo isso com um toque mágico de feminismo. Estamos nos Estados Unidos do pós-guerra, anos 50, onde o sucesso no trabalho e na vida pessoal era exigido, e começavam a existir os condôminos fechados nos subúrbios, com suas casinhas arrumadas e o belo gramado, sem cercas, na frente das casas. O título original Revolutionary Road exemplifica muito melhor a trama. Na primeira cena vemos o jovem casal, ela ainda estudante, em um bar, onde depois de olhares trocados eles dançam apaixonadamente. Na cena seguinte April está em um palco encenando uma peça, com elenco amador, que foi um fracasso. Já casada com Frank, ele vai buscá-la e tece um comentário nada delicado a respeito da peça. April que sonhava ser atriz vê seus desejos irem por água a baixo, quando desestimulada pelo marido, que tenta convencê-la que seria muito mais feliz cuidando dos dois filhos pequenos. Ele seria o provedor e, portanto teria maior poder sobre a família. Era o chefe da casa, como fala inúmeras vezes durante o filme. Eles são considerados pelos vizinhos um casal especial, principalmente pelos Campbells. A esposa inveja-a pela sua determinação e seu marido, Shep (David Harbour) a ama. A corretora que lhes vendeu a casa, Mrs. Helen Givings (Kathy Bates em convincente apresentação) a admira e pede para que receba seu filho matemático e intelectual, John (ótimo Michael Shannon), que se encontra internado em um hospital psiquiátrico, por suas convicções inteligentes, que não seguem o padrão esperado pela sociedade daquele momento. A vida deles é rotineira e igual à de todos os outros casais americanos, com uma usualidade de desesperar. Frank não gosta do que faz, pois seguira exatamente a mesma profissão do pai (vendedor), que considerava de menor expressão e ainda pior, na mesma firma! April, em um instante de grande inspiração, sugere que vendam tudo o que possuem e sigam para morar em Paris, onde Frank havia estado na segunda guerra mundial, e a considerava a única cidade com vida real. Ele se assusta com a idéia, pois ela seria secretária de um grande departamento americano e ele poderia achar o que gostasse de fazer, enfim se descobrir como homem. Esse plano dá novo impulso às suas vidas monótonas e desperta uma grande ousadia em Frank, que sugere uma modificação na empresa, que para sua surpresa é bem aceita pelo presidente, o qual lhe promete promovê-lo e assim ele passaria a ganhar muito mais e ter toda segurança financeira, ou seja, todo controle sobre a família. April é uma mulher inteligente e talentosa, que gostaria de provar a si mesma que poderia ter um futuro profissional à sua frente, como as mulheres de hoje, e não apenas ficar cuidando dos filhos. Ela tem um senão, é afoita em sua meta, pensando que não terá mais nenhuma chance. Frank conta sua experiência com o presidente, mas não revela que deixara em aberto sua resolução. Os preparativos prosseguem e ambos recebem elogios dos amigos. Os três Givings vão almoçar em sua casa e John desafia Frank por sua franqueza em admirar sua mulher e não tanto a ele. Ocorre que April descobre que está grávida e atemorizada conta a seu marido, que não concorda com um aborto sugerido e afirma que gostaria de ter o terceiro filho. April se desespera, pois isso significaria uma nova privação para seus sonhos profissionais e pessoais. Em outra visita John tenta desmascarar Frank e é expulso de sua casa. Sobrecarregada pelo trabalho doméstico interminável e não reconhecido, quer ir para Paris, assim mesmo. Frank tenta convencê-la de que o melhor seria ter a garantia de um ótimo emprego com computadores, que estavam bem incipientes, a ter um filho fora do país. Diante desses fatos ela se vê forçada a concordar diante da realidade, mas não aceita verdadeiramente a situação, que piorara muito para ela. As brigas, antes poucas, passam a ser constantes e Frank não para de argumentar, deixando-a cada vez mais angustiada. Depois de uma disputa muito séria, April se recolhe no bosque, voltando muito tarde, após refletir. Na manhã seguinte, para nosso espanto, ela está calma e prepara um maravilhoso breakfast para Frank, que ao despedir-se, pergunta-lhe se tudo está realmente bem entre eles. Ela fora uma ótima atriz, pois vai direto ao banheiro, em lágrimas, para fazer o aborto tão desejado. Quando começa a sangrar, toma uma decisão correta e chama a ambulância para socorrê-la, como em um aborto natural. Esse terço final do filme é a chave de todo o drama que se desenrola depois dessa decisão pessoal de April. A partir daí o filme toma um caminho dramático com um desfecho surpreendente. Aconselho que a pequena cena entre Helen Givings e seu inteligente marido seja bem observada, pois diz muito sobre o comportamento humano. Vale a pena ser visto, pela estória e pelo desempenho dos atores.
O diretor Sam Mendes pertence ao teatro e foi consagrado por Beleza Americana, sucesso em Oscars. Esse novo filme discute, do mesmo modo, os costumes do país.

domingo, 25 de janeiro de 2009

AUSTRÁLIA de Baz Luhrman


























































































Nesse longo filme de aventura e romance, a nobre inglesa Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman), viaja para a Austrália, a fim de rever seu marido, um dos maiores fazendeiros de gado do país, no final dos anos 30, quando existia uma grande rivalidade e crimes entre os barões do gado. O filme é narrado por um garoto mestiço, Nullah (Brandon Walters). Ela chega à empoeirada e seca Austrália com o objetivo de convencer seu marido a vender sua propriedade e voltar para a Inglaterra, contudo ao chegar é levada até a fazenda pelo capataz (Hugh Jackman), pessoa rude que despreza os ingleses, apesar de ser um deles. Ela é humilhada pelos toscos habitantes de Darwin, cidade do norte do país. Descendo da caminhonete, furiosa se dirige para a casa, no meio do nada cercada de poeira e barro. Ao entrar depara-se com seu marido que fora assassinado por um fecha com ponta de vidro. Determinada a fazer valer os seus direitos não recua e decide levar as mil e quinhentas cabeças de gado para Darwin, a fim de que sejam vendidas para o exército, pois a segunda guerra mundial estava na eminência de eclodir. Nullah, neto de feiticeiro, acredita ter herdado os poderes do velho aborígene. Ele será uma peça fundamental no desenrolar do filme. É através do menino que ela fica sabendo que seu gado está sendo desviado para a fazenda de King Carney (Bryan Brown), que deseja manter o monopólio da carne bovina na região. Seu empregado Ney Fletcher (David Wenham) é o responsável pelo fato, sendo demitido imediatamente. Sarah pede ajuda a Mr. Drover[1] (que será sempre chamado assim), a fim de cumprir sua missão. Apesar de não ter mais homens que o ajude a conduzir a boiada, aceita e leva o senhor Kipling, contador bêbado, o aborígene tio de Nullah, o menino, sua avó e a própria Lady Sarah. É um grupo e tanto de pessoas! No decorrer da travessia muitos eventos sobrevêm para preencher os 165 minutos de filme. Dentre eles o mais interessante é quando King Carney, através de seu empregado Ney, manda cercar o gado com trilhas de fogo. Eles se vêem acuados e a boiada estoura, entretanto nossos heróis conseguem contornar a situação. O pequeno Nullah, à beira de um cânion, olhando nos olhos dos animais e fazendo orações sagradas consegue contê-los, sem se machucar, mas o pobre senhor Kipling é morto ao cair do cavalo. A essa altura da película Sarah e Mr. Drover já estão muito envolvidos. O velho feiticeiro, King George, os acompanha de longe. Com a seca precisam desesperadamente encontrar água e seguem pela terra de Neverlands, por onde nunca alguém conseguiu sair. O avô de Nullah os guia, cantando músicas sagradas. Ao chegarem a Darwin, o rei do gado já está com o contrato assinado, mas só será válido quando os animais já estiverem embarcados. É uma louca corrida para ver quem coloca o gado no navio em primeiro lugar e Sarah saí-se vencedora. Para o baile que será dado na cidade, a favor das crianças mestiças, a Geração Perdida, ela convida seu capataz, mas ele não iria, pois era considerado um negro pela sociedade. Preocupada com o destino de Nullah, tenta falar com um advogado para adotá-lo, mas isso seria impossível. Comparecendo, afinal, à festa, Sarah pede para Mr. Drover morar com ela na fazenda, quando voltassem e ele aceita, porém continuará, nos períodos de seca, sendo um boiadeiro. Estão felizes e muito apaixonados na companhia de Nullah. Numa dessas viagens, em 1941, após uma desavença entre eles, sai para não mais voltar. Sarah vai atrás do garoto que fugira, dirigindo-se a Darwin. Nesse ínterim, a armada japonesa bombardeara Pearl Harbor e pouco depois a cidade de Darwin, antes acabando com uma ilhota para onde todos os meninos mestiços haviam sido enviados pelo inclemente Fletcher, que após a morte de King Carley ficara em seu lugar. Ocorre que Nullah é seu filho com a mãe do garoto, uma aborígene assassinada a seu pedido. Contudo ele odeia o menino que lhe roga uma praga ao ser deportado para a pequena ilha, juntamente com dois padres e outras crianças. Após o bombardeio, a cidade e a ilha estão totalmente devastadas pelo fogo e a fumaça. Sarah trabalhava, durante a guerra, como telefonista militar, no mesmo centro que a mulher de seu inimigo, Katy. O prédio está em chamas e estão tirando os mortos e moribundos. Mr. Drove ao saber da guerra volta apressadamente para Darwin, a fim de se encontrar com Nullah e Sarah. Ao saber da morte de ambos dirige-se para a ilha com mais três homens. Aos poucos, durante a noite, acham quase todos os meninos, que haviam se refugiado na densa floresta tropical. Repentinamente, os japoneses aparecem no horizonte com seus rifles e lanternas, fazendo o grupo correr para o barco, enquanto seu amigo aborígene os atrai para outro local. Ele é baleado, mas o barco consegue chegar a Darwin, quando todos estão partindo para o sul, inclusive a sofrida Sarah. Enquanto isso, Fletcher descobre que sua mulher morrera no lugar de Sarah e que Nullah ainda estava vivo e ao tentar matá-lo é atingido pela flecha do feiticeiro, para quem nada escapa. Ocorre que Sarah, antes de subir no caminhão de embarque, ouve o som de uma gaita e vozes de crianças, saindo na direção do som, no meio da densa fumaça. O happy end acontece, com os três se abraçando e vivos! O filme se encerra com eles na fazenda, agora verde e florida pois era época de chuva e, o velho feiticeiro, ao longe, chamando seu neto para que continuassem as tradições aborígenes. Nullah segue seu destino com seu velho avô, contando com a compreensão de Sarah e Mr. Drove.
O filme enfoca as conseqüências da segunda guerra mundial e o gravíssimo preconceito contra as crianças mestiças, que contaminariam esse continente, segundo eles. Recentemente os brancos da Austrália pediram desculpas pelos assassinatos e horrores cometidos nesse período lastimável. Outra curiosidade é o encontro dessas três personalidades australianas tão conhecidas do cinema – diretor, ator e atriz. Se você curte uma longa estória com belas paisagens selvagens é uma boa pedida.
[1] Boiadeiro em inglês.

domingo, 18 de janeiro de 2009

ALGUÉM Q ME AME DE VERDADE Stefan e Diane











Dirigido por Stefan Schaefer e Diane Crespo
Este filme dirigido pelos documentaristas Stefan e Diane parece nos dizer: acreditem nos seus sonhos, sigam seus instintos e sejam felizes! Nem que seja por 89 minutos! É uma estória leve e muito bem contada sobre duas garotas de cerca de 20 anos, uma mulçumana e outra judia, ambas ortodoxas, que estão na idade de se casarem. O filme abre nos mostrando os telhados de casas dos bairros judeu e mulçumano e segue até um escola infantil para crianças. Lá estudam crianças de todas as raças e credos, assim como a diretora que é uma atípica judia e os professores também de variados credos e nacionalidades. Antes das aulas se iniciarem elas fazem um workshop para aprenderem a lidar com as diversas situações decorrentes dessa variedade de raças. Dentre elas temos a bela judia ortodoxa Rochel (Zoe Lister Jones) e não Rachel e a linda mulçumana Nasira (Francis Benhamou). Ambas são convictas de suas religiões e gostam de serem como são: ortodoxas e seguidoras de seu Deus. Ocorre que durante esse trabalho preliminar elas acabam se conhecendo melhor e se admirando. Durante uma aula, as crianças acham que elas seriam inimigas mortais, pois “os mulçumanos queriam jogar os judeus no mar.” Através do exercício “círculo de união”, sugerido por Rochel, os pequenos aprendem como lidar melhor com as diferenças, dando chance para que todos se mostrem como são e não como aparentam ser. Amigas, Rochel convida Nasira para estudar em sua casa, mas a garota é imediatamente repelida pelo preconceito da mãe judia. Isso não funciona, pois elas são independentes, cultas e inteligentes para não romper uma relação amigável. Apesar do absurdo desacordo entre essas duas religiões no Oriente Médio, em especial na Faixa de Gaza, essas duas religiões monoteístas são muito parecidas – o uso do véu, a modéstia feminina, o toque masculino proibido e principalmente o casamento arranjado pelos pais (arranged do título). Os primeiros pretendentes de Rochel são absurdamente inadequados e ela entra em pânico, chegando a refugiar-se na casa de uma prima, que abandonara o judaísmo para viver em um mundo secular e mais livre. Todavia, lá também não é seu lugar. O interessante é que em uma festa ela prova seu primeiro gole de bebida alcoólica, uma caipirinha brasileira, que apesar de deliciosa é muito forte! Voltando para casa recusa-se a passar por tudo aquilo novamente, preferindo ficar solteira. Sua mãe apela para o sentimento de culpa de todas as formas possíveis chamando-a de egoísta e muito mais. Ao mesmo tempo vemos Nasira passar pelo mesmo calvário. Homens de todos os tipos lhe são apresentados, com uma agravante – a família toda do pretendente vem junta. As duas jovens trocam confidências sobre seus problemas sentimentais e se consolam mutuamente. Um dia Nasira vai à Universidade de seu irmão para dar-lhe um livro, acompanha da inseparável Rochel, quando esta vislumbra um judeu ortodoxo, por quem se apaixona a primeira vista e sente ser correspondida por um significativo olhar. Porém entre os judeus é impossível uma jovem abordar um rapaz ou vice versa e começarem a namorar. Isso deve ser feito através de um match-maker (casamenteiro) indicado pela família. Nasira, enfim, é apresentada a um futuro engenheiro, um rapaz jovem, bonito, inteligente e com dentes (o último não os tinha e era 20 anos mais velho do que ela, mas era rico). Feliz resolve que Alá a ajudara a encontrar seu marido, ortodoxo, mas onde existe uma bela química. Assim fica sabendo do encantamento de sua amiga Rochel pelo jovem ortodoxo e resolve dar uma mãozinha a Deus e à match-maker, Irene Stein. No corredor da universidade de computação, tira fotos do rapaz e dizendo ser aluna de jornalismo pergunta sobre sua vida pessoal. Ele não era casado! Coloca tudo em um envelope e se fazendo passar por judia não ortodoxa, deixa o envelope na casa de Irene, que se apressa em visitar Rochel e mostrar-lhe mais cinco pretendentes. A jovem não acredita em sua sorte e quer marcar um encontro com ele. Bem não é preciso contar o resto do destino das duas garotas. No final do filme uma cena nos mostra as duas amigas, sentadas em um banco de jardim, com seus respectivos carrinhos de bebê, conversando e admirando seus maridos, que são muito bons e que iriam penar em suas mãos, pois eles fariam o que elas quisessem!!!

sábado, 17 de janeiro de 2009

A TROCA de Clint Eastwood







Baseado em fatos reais ocorridos em Los Angeles.
Esse drama muito bem dirigido por Clint Eastwood transcorre na Los Angeles de 1928. A jovem Christine Collins (ótima Angelina Jolie) trabalha em uma companhia telefônica como supervisora e educa, sozinha, seu filho de nove anos Walter (Gattlin Griffith). Trata-se de um garoto educado e amadurecido. Em um sábado de folga, é obrigada a deixá-lo para substituir uma pessoa em seu emprego. Ao voltar ele havia desaparecido. Telefonando imediatamente à polícia fica sabendo que só poderia dar queixa 24 horas após o desaparecimento. Ocorre que são tempos de grande violência e corrupção dentro do governo e da polícia da cidade. Além disso, nessa época a mulher era extremamente descriminada e considerada tola e vazia. Desesperada tenta ser ajudada por um coronel corrupto e insensível. Seu caso vai parar na imprensa e um pastor presbiteriano (ótimo John Malkovich), que luta contra a corrupção que dissemina e avilta a cidade, decide ajudá-la. Depois de alguns meses de luta, um garoto com as mesmas características de seu filho lhe é entregue pelo coronel, que mesmo com a recusa de Christine em aceitar uma criança que não é seu filho, lhe impõe com brutalidade a criança, alegando que ela não se encontrava em seu estado normal. Mas o garoto, que se faz passar por Walter a chama de mãe para seu horror. Ao dar-lhe banho percebe que ele é circunciso e bem menor que seu filho verdadeiro. Ao expor isso à polícia vira uma vítima do sistema. A polícia, desde seu chefe até o coronel, inicia uma verdadeira batalha para acuá-la e constrangê-la. Nesse ínterim um detetive honesto vai ao encalço de um garoto canadense que estava irregularmente no país. Ao encontrá-lo em um rancho, em Riverside, leva-o à prisão, mas ele insiste em falar-lhe novamente. Esse rapazinho havia sido forçado pelo tio a ser cúmplice na morte de 20 crianças que estavam desaparecidas e que a polícia sempre encontrava um meio de não investigar e dar qualquer desculpa aos pais como fizeram com Christine. Porém esse caso e muito macabro para ser deixado de lado e inicia-se uma investigação pelo detetive. Enquanto isso a mãe de Walter inconformada volta diversas vezes à delegacia, até que é sumariamente enviada a um manicômio, sem nenhum mandato de prisão. O inferno era aquele local, repleto de mulheres encaixadas no código doze, ou seja, haviam de algum modo enfrentado a polícia. O machismo reinante na época era estarrecedor e essas pobres almas não tinham nenhum modo de provar sua inocência ou se defender. Eram drogadas e submetidas a choques elétricos, sob a menor alegação. Os médicos e enfermeiros eram totalmente coniventes com a corrupção política e policial. O pastor e a sociedade ao descobrirem mais esse escândalo de Riverside, encoberto pelos policiais, saem às ruas numa verdadeira comoção pública, onde vemos cartazes pedindo a demissão de toda polícia local. Um famosíssimo advogado é contratado, sem custas, para defender Christine que se acha presa como louca. Ela é solta imediatamente pelo modo irregular como fora jogada no manicômio assim como todas as outras companheiras de infortúnio. Um processo da jovem contra a polícia é aberto e desperta o interesse da nação, pela fama do advogado e pelas circunstâncias. Finalmente os retratos das crianças violadas e mortas são exibidos e dentre eles está o menino Walter. O pequeno farsante é devolvido para a mãe. Havia fugido para ver o cavalo de um dos astros do western americano! Nesse momento ele grita que fora forçado pela polícia a se fazer passar por quem não era. São cenas emocionantes, onde vemos o sofrimento do garoto que havia sido cúmplice de seu tio e das mães que ainda tinham esperanças de voltar a encontrar seus meninos, dentre elas nossa heroína. Outro processo é aberto contra Gordon, o qual havia fugido para a casa da irmã em Vancouver, mas a polícia local já o estava esperando, sendo preso e enviado a Los Angeles para ser julgado por seus crimes. Tratava-se de um psicopata frio e covarde que negava todas as mortes. Esses dois julgamentos paralelos nos são mostrados e deles participam Christrine e seu defensor. Finalmente, através de um trabalho preciso e brilhante do advogado e da sociedade, todos são punidos e destituídos de seus cargos e o prefeito impedido de se reeleger. Contudo dois anos depois, nas vésperas do enforcamento do brutal assassino, ele pede que Christine compareça a prisão. Ela aceita imediatamente, pois ainda sentia a presença física de seu filho. Os dois ficam frente a frente, entretanto não passava de mais uma farsa para deixar a mãe esperançosa com a possibilidade de vida de Walter. O enforcamento prossegue na presença dos implicados e mais uma vez Clint Eastwood nos brinda com uma excelente demonstração de sua direção. Cinco anos se passaram e Christine ainda não desistira de sua missão, quando recebe um telefonema de uma das mães dos pequenos assassinados, dizendo que seu filho David fora encontrado, mas que estava dando depoimento à polícia em sigilo. Através do vidro vemos o menino dizer que havia escapado, pelo meio do arame farpado, com ajuda de Walter, mas Gordon os havia visto e atirado loucamente em direção a eles. Os três se separaram, contudo ele não sabia do destino dos outros dois. O filme vai chegando ao seu final e quando encerra a última cena, lemos que Christine nunca havia deixado de procurar seu filho até o fim de seus dias e que essa é uma história verídica que abalara toda a sociedade!

O elenco é ótimo, os trajes de época bem feitos e a direção e interpretações seguras. Vale a pena ser visto, pois temos aí diversos problemas sociais como a maternidade fora do casamento, a corrupção do departamento de polícia da época dos anos 20, as dificuldades das mulheres em serem respeitadas, o machismo, o desmantelamento profissional das instituições de ajuda psíquica e outros problemas que ainda ocorrem até nossos tempos.

O Curioso Caso de Benjamin Button-David Fincher
























Baseado no conto de F. Scott Fitzgerald (1896-1940)

Este soberbo drama de fantasia inicia-se em um quarto de hospital em New Orleans, quando a idosa Daisy Willians (ótima Cate Blanchett) está em seu leito de morte, acompanhada por sua filha adulta, Caroline, a qual lê em voz alta a pedido da mãe, o diário do amigo de infância de Daisy, Benjamin Button. O furação Katrina está prestes a desabar sobre a cidade, assim como essa fantástica história de vida sobre nós. Estamos em 1918, no final da primeira guerra mundial. “Eu nasci sob circunstâncias anormais” começa o narrador Benjamin (Brad Pitt em desempenho colossal). Sua mãe morrera ao dar luz a ele, uma criança anormal, com uma síndrome que o levaria da velhice à infância. Seu rico pai biológico ao contemplá-lo decide desfazer-se do bebê, deixando-o na escadaria de uma associação para pessoas velhas e senis. Uma das encarregadas do local, Quennie, apaixona-se pela criança e decide criá-la. Sendo uma mulher extremamente caridosa e possuidora de muita fé, embala o bebê-ancião em seu regaço. Ele sofre de todas as doenças típicas dos idosos, pois estaria supostamente com mais de oitenta anos. Aos cinco anos e um velhinho careca, andava em cadeiras de rodas, mas é levado por Quennie à sua igreja de negros para que seja abençoado pelo pastor. Nesse momento ele começa a andar com muletas e assim prossegue sua infância, cercado por pessoas idosas que o aceitam como é e transmitem suas experiências de vida sem nenhum conflito típico dos adolescentes ou jovens adultos. Ele é um pequeno idoso, com uma mente de criança, depois de adolescente, um homem maduro e, no fim do drama, uma pessoa senil e sem memória. Essa maravilhosa estória nos fala da vida feita de tempos e espaços de alegria, compaixão, tolerância, amor, fé e principalmente sobre os fatos que ocorrem por força do destino e sobre os quais não temos controle algum e que desencadeiam os acontecimentos de nossa existência. No meio da película nos são mostradas cenas que demonstram essa conjugação de episódios que ocorrem sem que tenhamos domínio deles. Esse tipo de raciocínio aparece muito em Guerra e Paz de Leon Tostoy, que descreve os acontecimentos históricos como a soma de fatos que se entrelaçam. A vida inicial de Benjamin é compartilhada por seus amigos mais velhos e pela pequena Daisy. Passam a infância e adolescência convivendo, pois sua avó morava nessa associação. Aos dezessete anos ele parte de casa para viver em um navio cargueiro, no fantástico rio Mississipi, tornando-se um marinheiro e grande amigo do capitão, que representa uma figura masculina destemida e forte, encarando o desenrolar da vida sem medo ou hesitação. Participando da segunda guerra mundial, Benjamin adquire uma grande experiência de vida, indo parar na Rússia e se apaixona pela primeira vez. Sua aparência mais velha faz com que todos lhe confiram a maior credibilidade!Todas suas viagens são relatadas em cartões postais que envia para Daisy, até o fim de suas longas excursões. Um dia retornado a casa, encontra-se com Dayse já moça e bailarina. Uma paixão nasce, mas é impossível pela diferença de idade entre eles, pois Benjamin ainda é um homem bem maduro. Contudo por volta dos quarenta anos de cada um, eles se encontram e refletidos em um espelho, olham-se demoradamente para que este momento fique eternizado em suas mentes. Ele estaria com 49 anos e ela com 43. Seu verdadeiro pai procura-o e a recepção não é o que poderíamos imaginar. Uma trágica e envolvente história passa a marcar a vida desses dois amantes, Daysi e Benjamin, pois ela se tornaria sempre mais velha e ele sempre mais jovem e existe uma menina para educar. O relógio do tempo natural trabalhava contra eles! É representado por um relógio construído pelo melhor relojoeiro do país, que o faz andando para trás no tempo, para que resgatassem na lembrança os filhos mortos na guerra. O quarto final do filme passa-se em 2005, onde começara, no leito de hospital com o furacão em pleno auge sobre a cidade, e a doente e sofrida Daisy em seus momentos finais com sua filha, que surpreendida pelos fatos e com um desfecho impressionante nos faz pensar no que é bastante repetido durante o drama - que nada é eterno e que nunca é tarde para começar!
Essa quase fábula nos ensina a tolerância e um novo aspecto de encarar a vida, com um bebê no corpo de um velho, que paulatinamente vai rejuvenescendo até chegar à morte, em uma cena maravilhosa com sua esposa e os conflitos decorrentes dessa inversão de tempo e experiências pessoais. O desempenho de todos os artistas é impecável, prestando ainda mais credibilidade à película. O trabalho de rejuvenescimento de Bred Pitt é impressionante! Palmas para o filme!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

FELIX E LOLA De Patrice Leconte












Este drama psicológico é tipicamente o cinema frances de Leconte. Primeira cena – um cantor de música romântica está se apresentando com um conjunto em uma boate, em seguida vemos um jovem, sentado em uma mesa, observando-o. Ele, com toda calma, tira um revolver e atira no cantor. A tela escurece e somos conduzidos a um parque de diversões, com toda sua agitação e barulho. É uma história sobre um jovem homem, Felix (Philippe Torreton em bom desempenho) um tanto depressivo e Lola (Charlotte Gainsbourg). Eles formam um casal angustiante, pois Lola é manipuladora, mimada e misteriosa. Felix a aceita mesmo assim, pois se apaixonara por ela à primeira vista. Felix e seus familiares são os donos do parque e a jovem de trinta anos tem uma história que não fecha e está sempre atormentada e infeliz. Esse fato altera a vida de Felix e sua família, pois sendo um homem bom, não quer forçá-la a contar o que não consegue. Com um final quase surpreendente, a vida de Lola nos é revelada a muito custo, por ela mesma, dando um sentido maior a narrativa, que está sempre sem uma explicação mais lógica.
O filme só estreou no Brasil sete anos depois e não consigo julgar o porquê, já que não temos nada de extraordinário!