segunda-feira, 29 de junho de 2015

RAINHA & PAÍS DE JOHN BOORMAN







QUEEN & COUNTRY, IRLANDA, FRANÇA, REINO UNIDO, 2014, 114 MIN.,  COMÉDIA
ELENCO:
CALLUM TURNER – BILL OU WILLIAN
CALEB LANDRY – PERCY ( AMIGO)
John Boorman levou várias décadas para fazer a continuação de Esperança e Glória, indicado ao Oscar em 1988. O filme era uma autobiografia do diretor, que passou os primeiros anos da vida na Londres bombardeada pelos alemães. A sequência começa em plena guerra, 1943, quando menino vê sua escola sendo destruída e, ingenuamente, fala: Obrigado Adolf... ficando feliz por não ter de ir ao colégio, comportamento típico de criança pequena, pois até eu já saudei com muita alegria a morte de Vargas. Ele e sua família vivem em uma ilha paradisíaca em Londres, com muita água, vegetação exuberante e perto de um estúdio cinematográfico para sua alegria e diversão. Mas ao completar 18 anos é chamado para se alistar no exército contra a guerra da Coréia, nos anos 50. Chegando ao quartel recebe os primeiros treinamentos e encontra um jovem por quem tem simpatia, Bill (Callum Turner), que será seu melhor amigo durante esse tempo. Começa a graça do filme com esse punhado de recrutas totalmente sem noção de nada. Depois do treinamento não são enviados aos campos de batalha, mas ficam na caserna fazendo um serviço muito burocrático e inusitado: dão aulas de datilografia, coisa de menina, para os novos recrutas que chegam! Aí o riso é certo e verdadeiro. Ele se relaciona com moças enfermeiras do local, mas é bastante desajeitado, ao contrário do malandro e charmosíssimo Bill. Em um concerto, se apaixona por uma linda jovem, um pouco mais velha do que ele e com muita classe e elegância. Uma amizade começa, mas ao verem, durante a coroação da rainha Elizabeth, que ela era nobre, o pobre rapaz, não teria mais chance alguma e ela sai de sua via. Não sabe seu nome, mas resolve chamá-la de Ophelia, pela literatura. O filme é leve, bem costurado e alguns grandes críticos apostam que é, sem dúvida, uma autobiografia, o que o torna ainda mais especial. Hoje com 82 anos o diretor se diverte com o filme. Ótima comédia, com romance e comédia que se misturam muito bem. Boa escolha.  


O ÚLTIMO POEMA DO RINOCERONTE DE BAHMAN GHOBADI






FASLE KARGADAN, IRAQUE, TURQUIA, 2012, 88 MIN.
ELENCO:
CANER CINDORUK – SAHEL JOVEM
ARASH LABAF – FILHO
BEREN SAAT – FILHA
MONICA BELLUCCI – MINA
BEHROUZ VOSSOUGHI – SAHEL VELHO
YILMAZ ERDOGAN – AKBAR
O diretor Bahman Ghobadi é um exilado iraniano e vai ao Iraque e Turquia para filmar uma tensa e impressionante história de um aprisionamento político. Baseia sua ficção em uma história real do poeta curdo-iraniano Sadegh Kamangar, que ficou preso por trinta anos. Com pontos de vista políticos e morais muito importantes, aliados a uma estética fotográfica primorosa e alusões oníricas não é uma obra linear, mas cheia de flashbacks. Eles são importantes uma vez que o fato apresentado é sempre consumado e as lembranças nos levam àqueles acontecimentos. Além da espetacular atuação de Behrouz Vossoughi, a presença de Monica Bellucci, que além de interpretar faz as falas em off, é uma atração a mais. Durante a revolução Islâmica dos anos 70, que tirou o Xá Reza Pahlevi do poder e prendeu artistas acusados de irem contra ela, o poeta foi encarcerado por 30 anos junto com sua mulher e seu sogro, assassinado, por ser coronel do antigo regime. Mina tem sua pena abrandada para 10 anos, mas teria de se divorciar, recusando essa imposição fica longos anos na cadeia. Um dos principais fatores para a sina de Mina era seu antigo chofer, Akbar, apaixonado por ela, que se torna um alto funcionário no regime revolucionário. Ele a seguirá e atormentará por quase toda sua vida. Após 5 anos de prisão sem o casal ter qualquer contato, Akbar aproveita para colocá-los juntos, nos porões da prisão, uma única vez. Ela é preparada para ver seu marido somente com uma burca, estando nua por baixo. O encontro é emocionante uma vez que estão encapuzados e algemados, mas mesmo assim podem aplacar o desejo e amor. Matreiro, quando o poeta é levado de volta, dá um jeito de ocupar seu lugar, mas é logo desmascarado por Mina. Nove meses depois nascem um menino e uma menina, na prisão, e Akbar sonha que eles poderiam ser fruto de sua ação. Mina deixa a prisão antes do tempo, mas é informada que o marido fora assassinado. Desesperada aceita a ajuda de seu algoz e parte para Istambul com os filhos, morando à beira mar. O filme começa com Sahel sendo libertado da prisão após 30 anos. Não é mais o mesmo, mas ainda mais observador e com movimentos fortuitos e lentos. Segue a procura da mulher até Istambul e sua nova prisão será seu carro, de onde observa ao longe a família. Mina continua linda e sempre anda de moto com um rapaz. Ele quer saber quem é e os segue, conseguindo conversar com seu filho em um pequeno restaurante. Acidentalmente dá carona a duas jovens, aparentemente prostitutas e elas passam a se servir de seus serviços para locomoção. Toda essa trama não é explicita nem fácil de entender, requer atenção e criatividade. Momentos de total desespero ocorrem quando ocorre um incesto.  Sim, tem até isso e muito mais. O final pode não agradar a todos, mas é a única forma de redenção desse homem e o algoz de sua amada mulher. Curiosidade – o rinoceronte do título é uma belíssima árvore centenária, com galhos que chegam ao chão, que o poeta crê ser sua inspiração pela forma lúdica que tem de um rinoceronte. Absolutamente imperdível.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

ENQUANTO SOMOS JOVENS DE NOAH BAUMBACH





WHILE WE’RE YOUNG, EUA, 2014, 97 MIN., DRAMA

ELENCO:
BEN STILLER - JOSH
NAOMI WATTS – CORNELIA
ADAM DRIVER – JAMIE
AMANDA SEYFRIED – DARBY
Esse ótimo filme vem depois de A Lula e a Baleia e do genial Frances Ha. No “Enquanto Somos Jovens” Noah discute seriamente a ética ou a falta dela nos documentários, além de criticar sua própria geração de quarentões e a alucinante geração hipster. Josh (Stiller) é casado com a bela Cornelia (Watts) e são um casal incomum. Não tem filhos e se sentem confortáveis com essa situação, apesar de seus amigos terem seus rebentos e os incomodarem com a boa vida que levam. Os adultos dessa idade são um pouco imaturos, arrastando a juventude até o máximo e um pouco difíceis de tomarem decisões mais sérias. Cornelia é filha de um famoso documentarista que receberá um premio pelo conjunto da obra e ela é sua produtora. Josh já fora o queridinho do sogro, mas agora é um conceituado professor de documentários e está trabalhando incessantemente com seu segundo filme há 10 anos! Não sabe como terminá-lo, com suas 6 horas de duração e recusa opiniões. Apesar da idade formidável já estão meio acomodados e não gostam de sair de sua zona de conforto. No final de uma de suas aulas, Josh conhece um casal de namorados, Jamie e Darby de 20 e poucos anos. Ele quer ser documentarista e tem um filme sendo elaborado e Darby simplesmente faz sorvetes. Encantados com seu charme, o casal mais jovem acaba caindo nas graças dos mais velhos e passam a levar uma vida completamente diferente, cheia de experiências novas e movimento. Parece ser revigorante para eles, as afinidades são reais, até que Josh percebe um vislumbre de manipulação nas atitudes de Jamie, principalmente com relação ao seu sogro e a ele mesmo. O movimento inverte-se e ele tenta provar a absoluta falta de ética de Jamie, justamente no jantar de comemoração do prêmio do pai de Cornelia. O conjunto do trabalho é ótimo, pois revela autoconsciência da geração do diretor e denuncia o imediatismo de rolo compressor dos hipsters. Bom programa na certa, com atuações carismáticas de Ben Stiller e Naomi Watts. O final com um bebê manipulando um celular de última geração é sensacional. Onde iremos desembocar?

MINHA QUERIDA DAMA DE ISRAEL HOROVITZ






MY OLD LADY, FRANÇA, INGLATERRA, EUA 2014, 107 MIN., DRAMA
ELENCO:
KEVIN KLINE – MATHIAS GOLD
MAGGIE SMITH – MATHILDE GIRARD
KRISTIN SCOTT THOMAS – CHLOÉ
Israel Horovitz baseou-se em sua peça My Old Lady, para levar ao cinema esse longa homônimo e dirigido por ele. O elenco foi escolhido a dedo, com interpretações viscerais de Kevin Kline e a talentosíssima Maggie Smith. O filme é teatral e conta a história de Mathias Gold, um nova-iorquino de 58 anos, depressivo, sem dinheiro e muito solitário, que recebe do pai, sempre ausente, como herança uma mansão, no bairro de Marais, Paris, e vários clássicos franceses. Desembarcando na cidade e cheio de planos, vai imediatamente ver sua magnífica propriedade, mas com surpresa encontra lá uma refinada senhora, Mathilde Girard, que por força de um contrato existente na França, viager, poderia morar lá até o fim de sua vida e ainda receber 2.400 euros por mês. Ela tem 92 anos e uma filha, Chloé, da mesma idade de Mathias. O enredo trata de emoções humanas muito delicadas e vitais para a o equilíbrio emocional de qualquer pessoa - família, amor paterno e compreensão. Inconformado com a atitude do pai em fazer esse negócio maluco, vai até um corretor de imóveis para verificar o valor da propriedade que é uma pequena fortuna. Decide vendê-la a qualquer custo e começa uma verdadeira caça ao tesouro para sobreviver e pagar o aluguel à velha senhora. Sua filha também está indignada com a presença do americano. Mexendo em fotos e papeis antigos espalhados pelo andar superior, descobre coisas que explicam seu passado atormentado e o destino de sua mãe. O filme, apesar de certo humor, deflagra emoções angustiantes para o personagem central e para a plateia. Muito bem elaborado, com belas imagens internas e emoções a flor da pele, prende a atenção e desperta questionamentos, inclusive de questões morais entre a velha e livre França e os Estados Unidos, um país muito mais jovem e conservador. Ótimo programa com atuações magníficas. Para Maggie Smith jamais faltarão papeis memoráveis, Kevin Kline não fica atrás.