terça-feira, 29 de março de 2011

VIPS de TONICO MELO








Drama, Brasil, 2010, 95 minutos
ELENCO:
Wagner Moura
Gisele Froes
Arieta Correa
Juliano Cazarré
Roger Gobeth

Wagner Moura, perspicazmente, muda totalmente seu personagem marcado como capitão Nascimento de Tropa de Elite I e II. O protagonista principal do diretor Tonico Melo é inspirado no livro VIPS – HISTÓRIAS REAIS DE UM MENTIROSO, de Marina Caltabiano, com roteiro de Bráulio Mantovani. Trata-se do percurso de vida do criminoso Marcelo Nascimento da Rocha, filho de uma cabeleireira paranaense, que separada do marido piloto, educa seu filho único sozinha. O personagem sempre foi inteligente, mas pouco ligado à sua realidade que considera medíocre. Na adolescência com problemas na escola e tendo diálogos, provavelmente imaginários com o pai, parte sem pagar, usando de subterfúgios como amigos influentes, em um ônibus para Mato Grosso, onde começa sua vida de mimetismo. Bem sucedido na farsa, passa a ser mais audaz, conseguindo tornar-se piloto de avião e trabalhar com um grande chefe de contrabando de armas e drogas no Paraguai. Perseguido pela polícia brasileira, refugia-se na casa da mãe, mas já com outros planos. Com uma imaginação genial, desembarca de helicóptero em um luxuoso resort de Porto de Galinhas para o Carnaval, disfarçado de filho do dono da companhia aérea Gol. Sempre desfrutando de mordomias e não sendo pego em flagrante torna-se seguro, acreditando na troca de personalidade. No camarote VIP é bem recebido por atores e empresários. Contudo uma das frequentadoras do hotel havia estudado com o verdadeiro Henrique e, ao ser entrevistado por Amauri Jr. em uma reportagem para televisão, ela desvenda o embuste. Mesmo assim, consegue pegar o jato particular da milionária e voar para o Rio de Janeiro, onde a polícia o esperava. Durante o terço final do filme, já na prisão por 9 meses, aproveita-se de um motim dizendo ser o comandante do PCC paulista. É uma situação instigante, pois ao dialogar com a polícia, através de um orifício, pede ao comandante para olhar bem em seu olho e ver se toda a verdade não estaria bem estampada nele. Wagner Moura mostrou-se, mais uma vez, excelente ator na caracterização do personagem marginal portador de distúrbios psicológicos. No filme “Sem Limites” em cartaz, o protagonista muda de perfil ao ingerir uma droga que potencializa 100% seu cérebro (Bradley Cooper), entretanto Wagner sai-se melhor em seu papel.

terça-feira, 15 de março de 2011

RESTREPO DE TIM HETHERINGTON, SEBASTIAN JUNGER













RESTREPO, EUA, 2010 documentário, 107 min.


Restrepo era como se chamava um soldado médico americano, que morreu na Guerra do Afeganistão, e seu nome virou a designação do lugar onde se passa o documentário. Ele focaliza o posicionamento de um pelotão de 15 soldados norte-americanos em missão no Afeganistão. Essa era a área mais perigosa da região pela facilidade das enormes montanhas que escondiam seus habitantes e soldados. O primeiro pelotão já havia partido sem sucesso. No filme não vemos declarações de oficiais, políticos ou batalhas em campo aberto. Focaliza somente o sofrimento e a conduta desses jovens que, longe de seus lares, estão em condições talvez nunca imaginadas por seus familiares e amigos. Esse grupo de “meninos” parece sair para uma aventura bem longe de casa, sem poderem imaginar o que os aguarda. As impressões de cada um são tomadas pelos diretores revelando suas dificuldades de encarar, com tão pouca experiência, uma guerra sem rostos. Mostra-nos o absurdo das guerras, com conseqüências gravíssimas nas vidas dos soldados em combate. Nesse lugar belíssimo, temos as enormes montanhas afegãs e as pequenas casas incrustadas nas rochas. O assentamento não passa de um buraco, coberto com lona, onde deverão decidir combates individuais e o futuro do país. É como se fosse uma coisa impessoal, cuja causa não se tem noção do que se trata. Os depoimentos desses rostos juvenis em contraposição com os dos anciões das aldeias, com suas barbas pintadas e olhos claros, são a única coisa importante para o enredo desse belo filme. Muito bom.

EM UM MUNDO MELHOR DE SUSANNE BIER
















HAEVEN (VINGANÇA) Dinamarca /Suécia, 2010
Oscar de melhor filme estrangeiro
ELENCO:
Mikael Persbrandt – Anton
Ulrich Thomsen – Claus
William Johnk Nielsen – Christian
Markus Rygaard - Elias




Este drama dinamarquês é o melhor filme em cartaz da semana, merecendo sem dúvida o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Não se trata de uma epopéia ou uma tragédia, mas de um drama sobre assuntos bastante devastadores da atualidade. A VINGANÇA, tradução do título original, a PUNIÇÃO, a dificuldade de relacionamento entre povos e a absoluta dificuldade atual de uma coisa bem simples – o PERDÃO é discutido em diversos vieses. Temos duas famílias em dificuldades que formam o enredo do filme. Um casal de médicos suecos em processo de divórcio e outra família dinamarquesa, que mora em Londres, cujo filho perde a mãe vitimada pelo câncer. É preciso reforçar que a diretora e os escritores da história não têm como finalidade fazer juízo de valores. Nas primeiras cenas vemos um acampamento africano de refugiados de uma guerra civil, com sua precariedade, e uma caminhonete chegando e trazendo uma equipe de médicos e enfermeiros que atuam na região. A cena inicial é muito bonita, montanhas verdes circundando um vale cheio de areia e alguma terra vermelha. Crianças correm atrás da caminhonete a fim de receber o médico sueco Anton (ótimo Mikael Persbrandt) que lhes sorri e joga uma bola para brincarem. Ele convive com os horrores da guerra, fazendo cirurgias sob uma tenda rudimentar. Nesse momento, uma maioria de jovens grávidas é esfaqueada por um tirano, The Big One, que abre o útero dessas mulheres para ganhar apostas sobre o sexo das crianças! A maioria não sobrevive e o clima é de revolta entre os aldeões. No mesmo instante, em Londres, um menino de 12 anos despede-se da mãe que morrera vitimada pelo câncer generalizado. O pai está presente, mas é ele quem faz as honras do enterro, não derramando uma lágrima e portando-se como homem. Eles partem para a terra natal, Dinamarca, onde mora a avó e lá viverá com ela em uma bela casa. Na escola um garoto de 10 anos, Elias, é vítima de um grupo de meninos maiores muito violentos que o espancam por sua origem sueca e por sua fragilidade. Christian, o recém órfão apesar de ser também menor do que os que praticavam bullying , mas com um temperamento totalmente diferente, resolve protegê-lo e espancar o molestador com a bomba de sua bicicleta. Isso se torna um problema da escola e da polícia. Os meninos têm problemas familiares diferentes, mas igualmente importantes. Elias está fragilizado pelo iminente divorcio dos pais médicos, pois os amava e não queria que se separassem dele e do irmão. A educação dada por seu pai, Anton, é de pacifismo, encarando a vida com serenidade e compaixão, visto as dificuldades atuais em termos religiosos e de extremismos em todos os campos da vida humana. Ter um amigo que transgride as regras foi, para Elias, uma surpresa muito grande e valiosa, mas que porá a vida e amizade entre eles em jogo. Christian não gosta do pai, pois o julga responsável pela morte de sua mãe, reagindo de maneira contundente e inesperada. Na verdade, é um garoto fragilizado que amava a mãe, mas não consegue por isso em palavras e parte para a ação demolidora. O filme tem uma dinâmica muito viva que não perde um momento em imagens desnecessárias e nos conduz por uma história de vida surpreendente, onde não existe mais harmonia ou compreensão, seja na África subdesenvolvida ou na Dinamarca desenvolvida e supostamente tranqüila e equilibrada. A diretora atua nesses dois campos, descrevendo histórias diferentes, mas que no seu âmago são da mesma natureza incisiva. Tem um roteiro original, eletrizante, apesar de muitas cenas em lugares belos e calmos. A explosão de bombas, a morte de vítimas inocentes e a atitude desesperada de Christian, quase um The Litlle One, é que dá a tônica do filme. A intervenção dos pais será decisiva para o amadurecimento emocional dos meninos. A interpretação dos dois jovens é impressionante. Imperdível. A diretora Susanne Bier faz um trabalho espetacular.