sábado, 7 de março de 2009

FROST/NIXON de Ron Howard
















Este é um drama denso e ótimo. Com interpretações magníficas de Michael Sheen (Frost) e Frank Langella (Nixon), que nos esclarecem a principal entrevista concedida por Nixon ao repórter David Frost, três anos após sua renúncia como residente dos Estados Unidos. A película começa em 1974 com vozes gravadas e noticiários de toda mídia nos momentos que precederam a renúncia de Nixon. Este se despede da Casa Branca, através de uma declaração apresentada na televisão, onde se sai muito bem, sem dizer o motivo real de sua renúncia e tampouco pedidos de desculpas. De lá vai imediatamente para um hospital após um ataque, ficando vários dias internado em uma UTI. Em seguida à recuperação viaja para sua Vila, à beira-mar, na Califórnia. No exato momento de sua renúncia, um entrevistador britânico, que fora forçado a ir trabalhar na Austrália, apresenta um show de variedades e fica fascinado com o que vê no noticiário. Decidido que isso seria uma ótima matéria, embarca na missão de entrevistar Richard Nixon e conseguir arrancar dele uma confissão e um pedido de desculpas para o povo americano. Em 1977 seu empresário não acredita no sucesso desse trabalho, mas o acompanha na viagem para os estados Unidos, a fim de que obtenham o consentimento do ex-presidente e patrocínio para tal entrevista, pois, obviamente ela não seria dada sem pagamento. Durante as manobras para que ela se realize, podemos ver o pragmatismo de Nixon para obter o valor mais alto possível desta situação. Aceitando-a, ele se renova, pois odiava jogar golfe, o esporte oficial dos aposentados. Era um homem que precisava de desafios, embates e objetivos, coisas que não mais possuía. Por outro lado, David Frost, obstinado e atuante, embarcando para os Estados Unidos, conhece no avião uma moça, Caroline, por quem se apaixona e a qual o seguirá durante todo esse percurso. O acordo entre as partes é feito, sendo que Nixon, ardilosamente, embolsa o primeiro cheque de 200 mil dólares e não seu agente. Nenhuma estação de televisão está disponível para desembolsar o valor pedido pela entrevista e as despesas correntes, mas isso não é motivo para que o contumaz David Frost a cancela. Cerca-se de dois jovens e honestos repórteres que vinham investigando o caso há muito tempo, que, com relutância, se dispõem a auxiliá-lo. Essa dupla possuía grande número de informações que poderiam levar Nixon talvez ao mais obscuro destino, mas a televisão era um meio mais rápido e eficaz para desmascará-lo. Ocorre que eles não acreditavam na competência, base profissional e investigativa de David. Mesmo assim o plano prossegue. A condução do diretor, Howard, para nos mostrar a vida dos dois personagens principais ante essa situação é muito eficiente. Nixon era um homem muito bem centrado, carismático e ambicioso, tendo desejado ficar para a posteridade. David um jovem também ambicioso, charmoso e desesperado por ir à Nova York e ganhar grande prestigio profissional. Digamos que a ambição pelo sucesso era a mola propulsora deles. Uma casa é alugada para que as filmagens sejam feitas por alguns dias e depois editadas. A chegada de Frost causa frisson na mídia americana, mas a de Richard Nixon é digna de um grande imperador! Chega acompanhado de vários carros batedores e de um aparato sem igual. Isso causa certa perplexidade entre esses jovens, que queriam denunciá-lo. Sua altura, sua segurança e competência fora intimidadora. A voz e a figura do presidente foram feitas para o rádio, pois transpirava demais e tinha que aparar as grossas sobrancelhas, ao passo que Frost fora feito para trabalhar na televisão. Era loiro de olhos azuis com belíssimos dentes, sempre mostrados em um sorriso que não saia de sua face. Os termos da entrevista são ajustados entre as duas equipes e o Watergate seria a última parte a ser discutida. Mas, os jovens mudam as regras e começam pelo fim, entretanto Nixon, raposa velha e astuta, facilmente distorce as perguntas passando por reminiscências de sua vida, que julga serem muito interessantes e assépticas. As primeiras gravações acabam sendo tão favoráveis a ele que volta a ser presidenciável! A equipe de Frost está desolada com sua condução e os possíveis patrocinadores evaporam. O débito é enorme, mas o fator principal para o desagrado de Howard é a demissão que sofre na emissora da Austrália e Inglaterra. Está falido. Nesse possível momento de derrota, David recebe o telefonema (que não sabemos se foi verdadeiro) de um embriagado Nixon, admitindo que seria um oponente letal, onde só ele seria iluminado pela luz do holofote. Poderia ter se tornado verdade, não fosse pelo fato dele fazer um desabafo do peso que carregava desde sua renúncia. Sabedor que os bem-nascidos e ricos de berço caçoavam e não aceitam os homens trabalhadores e combatentes como ele e David Frost, garante-lhe que só um se saíra bem e esse era ele próprio. Frost passa a encarar sua missão de modo muito diferente, passando a noite toda pesquisando com afinco as fitas que provavam o comprometimento gravíssimo de Nixon com a corrupção e vários erros políticos. No dia fatídico vemos um Nixon não cordial, que não cumprimenta seu entrevistador, arrogante e certo da vitória. Mas David não está intimidado, municiado com muitos fatos relevantes contra o ex-presidente. Sem sequer se encostar no sofá, a conselho de seus auxiliares, ataca veementemente não deixando uma brecha sequer para qualquer argumentação ou distorção de suas perguntas. Cansado, Richard Nixon rebate que ser presidente é muito difícil e implica várias táticas, inclusive atos ilegais, que passam a não sê-los quando feitos por um presidente. Nesse momento todos se silenciam e o assessor de Nixon interrompe a gravação, pedindo-lhe que não cometa nenhuma indiscrição, pois isso custaria sua reputação perante o mundo. Em sua volta, Frost prossegue do exato ponto de onde fora interrompido e consegue que esse homem, agigantado por sua personalidade e presença física, faça um mea-culpa, confessando que, realmente, cometera erros gravíssimos e tivera atitudes corruptas. Sabia que comprometera as novas gerações de políticos, que acreditariam, a partir daquele instante, somente na corrupção e não mais na política em si. Frost o induz a pedir desculpas ao povo americano, que estava angustiado há tanto tempo sem saber qual era verdade. São momentos muito dramáticos em que esses grandes intérpretes passam a ser, realmente, o repórter e o ex-presidente. As desculpas são feitas e aceitas, mas ele está livre, pois o presidente Ford havia lhe concedido o perdão. Richard Nixon morreu em 1994 de um derrame e Frost continua na televisão, muito rico e tendo sido capa de revistas americanas muito importantes por cinco vezes. Essa é a mais famosa de todas as entrevistas sobre o Watergate. Com Kevin Bacon, Rebecca Hall e Tody Jones. Sheen e Langella interpretaram esses personagens por 18 meses nos palcos, tendo feito um trabalho minucioso sobre seus personagens. Durante as gravações os outros atores eram obrigados a chamar Langella de “Senhor Presidente”. Todos esses fatores e a ótima direção resultaram em grande credibilidade para o filme. É possível encontrar no Google essa famosa entrevista.

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