segunda-feira, 25 de julho de 2011

OUTUBRO DE DANIEL E DIEGO VEGA










OCTUBRE ESPANHA-VENEZUELA-PERU/2010 83MIN.
DRAMA

ELENCO:
BRUNO ODAR
GABRIELA VELASQUEZ
CARLOS GASOLS

Esse ótimo drama dos irmãos Vega recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes de 2010. Ele se desenrola em torno de pessoas marginalizadas na sociedade peruana, que vivem pobremente na capital, Lima, sem a proteção de um governo sério. Tudo se desenvolve com a proximidade do mês de Outubro, quando as grandes procissões de Nosso Senhor dos Milagres tomam conta da cidade, com milhares de pessoas acompanhando seu andor, fervorosamente contando com ajuda divina. São indivíduos, que andam literalmente colados uns aos outros, rezando em contrição. O protagonista da história está bem longe desse perfil: um homem da mais absoluta solidão voluntária, filho de agiota e ele mesmo sendo outro. Vivendo em uma casa modesta e severa, dorme só, trabalha com seus clientes em casa, só, sem expressar nenhum pesar e janta só. Uma jarra de água, uma garrafa térmica, um copo e um prato com pão recheado com um ovo cozido. E isso lhe basta. Sexualmente é mal resolvido, procurando sempre a mesma prostituta, a quem se recusa a olhar, e a abandona o mais rápido possível. Um dia chega a casa e encontra em seu quarto uma sacola de palha que se mexe. Aproximando-se com cautela, descobre dentro dela um bebê, que é sua filha com uma meretriz mais jovem. Desnorteado não exibe suas emoções e põe-se a campo, a procura da mãe para livrar-se da criança o mais breve possível. Isso não acontece, mas uma vizinha, curiosa com o choro, põe-se a seu dispor para cuidar da menina. Ela também solitária vê ai uma chance para ser um pouco mais feliz e simular uma família. Mulher mais madura e devota dá o seu melhor para conviver com Clemente, que apesar do nome não tem nada disso. A comida na casa melhora substancialmente e o bebê segue com muita saúde. Entretanto, mesmo quando estava sozinho não maltratava a filha, segurando-a quando emprestava seu dinheiro a juros escorchantes e assim, em um descuido, recebe uma nota falsa; passá-la adiante será a sua meta. Seu pai tem uma namorada idosa e inconsciente, em um hospital, e não podendo levá-la para casa, pois não tem uma, a visita todos os dias arquitetando um plano de seqüestro e partida de Lima. Suas economias estão nas mãos do filho nada confiável, capaz de prejudicá-lo a qualquer momento. A interpretação de Bruno Odar é impecável, como também a de Gabriela Velásquez e o desdobramento dessa história passada em ruas descuidadas, entre pessoas carentes, enganadas, prostíbulos e bares decadentes vai exigir mudanças interiores muito sutis e até inesperadas. É um belo filme sobre as necessidades e possibilidades humanas. Em entrevista ao Estado de São Paulo, Caderno 2, os irmãos citam um trecho do poema homônimo de Nei Nuclós – “Lento e bruto, eu mudo/Sei que vem outubro.” E baseado nisso, temos esse ótimo filme, que passou por vários festivais e estreou nos Estados Unidos, Japão e Europa.

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